quarta-feira, 26 de maio de 2010

ELEIÇÃO

Rubem Leite – 26-5-10

A presente estória me invadiu a mente quando ia de minha casa para meu trabalho e ouvia a cada vinte ou trinta metros carros berrando “dingous” políticos.


Era uma vez um Chapéu, uma Ferramenta e um Diploma. Um dia os três começaram a discutir com outros dois e cada um falava assim:

- Eu sou o melhor.

- O melhor sou eu.

- Sou eu o melhor.

- Mentira! Eu sou o melhor.

- Falsa! O melhor sou eu.

- Blasfêmia! Sou eu o melhor.

- Mentira! Você não presta! Eu sou o melhor.

- Falsa! Você não presta! Eu sou o melhor.

- Blasfêmia! Você não presta! Eu sou o melhor.

E assim ficaram discutindo sem parar e acrescentaram:

- Eu sou o melhor porque sou Diploma, a inteligência. E ainda faço caridade.

- O melhor sou eu porque sou Ferramenta, quem trabalha.

- Sou eu o melhor porque sou Chapéu – junta as mãozinhas como em prece – Sou do Alto.

E assim discutiram, discutiram e discutiram sem parar e não contentes, acrescentaram:

Façamos assim: Vamos fazer uma eleição!

Com a concordância de todos mobilizaram mais de cento e setenta mil Cédulas para escolherem o preferido. O Chapéu sendo preterido ficou indignado, moveu as forças de Baixo fez um escarcéu e convocou o Martelo da Justiça, que com três marteladas mais ou menos inutilizou cento e setenta mil Cédulas inocentes. O Diploma ficou na dele, só olhando. O Chapéu e a Ferramenta chiaram, gemeram e choraram no Vale do Aço transformando-o em vale de lágrimas. Então o Martelo cantou “Se gritar pega ladrão \ Não fica um meu irmão \ Se gritar pega ladrão \ Não, não fica um \ Se gritar pega \ ladrão \ Não fica um meu irmão \ Se gritar pega ladrão \ Não, não fica um...”¹. Essas palavras mágicas fizeram todos correrem. Mas só o tempinho de se organizarem deixando confusão e gemidos agonizantes no céu.

Ainda insatisfeitos, esses e outros, expulsaram Panfletos que queriam trabalhar honestamente obrigando-os a mendigarem pelas ruas superpulacionado a cidade com seus maltrapilhos, feios e sujos aspectos.

E agora, meu Deus? E agora?

Agora é esperar o fim do ciclo para uma nova era começar de fartura, paz e sem políticos.


¹"Reunião de Bacana" foi composta por Ary do Cavaco (Ary Alves de Souza) em parceria com Bebeto di São João (Carlos Alberto dos Santos), e lançada em 1980 pelo conjunto ExportaSamba, no festival MPB-80, alcançando, desde então, grande sucesso. O disco do Exporta Samba foi produzido por Gabriel O'Meara, guitarrista, ex-integrante da banda de rock O Peso. O Muçum dos Trapalhões tocava e cantava n'Os Originais do Samba. Essa música foi também gravada pelo conjunto Exporta Samba, no início da década de 1980.


terça-feira, 25 de maio de 2010

NOS BRAÇOS DESSA VIOLA

Ipatinga, 25 de maio de 2010


Caríssimo Bruno


Gostei muito, como já era de se esperar do seu texto. Acho correto o sentimento de gratidão com que encerra seu texto. Pois a vida é gratidão e não ingratidão... Mas não é sobre isso que gostaria de falar.

Penso que cedo ou tarde sempre temos que nos voltar para nós mesmos. Quando adolescente, eu me lembro (Isso foi ontem... Uarrarrá!). Eu sentia necessidade desesperada de ser aceito. Era como vi num desses filmes de décadas atrás do EUA (mas por incrível que pareça, tinha alguma qualidade...). Onde havia uma menina que tinha um pássaro preto de estimação. E como ela amava o passarinho. Era seu único companheiro até que foi adotada e na sua nova família conheceu outras crianças. As coleguinhas vendo o passarinho num toco começaram a jogar-lhe pedras... E a menina também. No início, só olhou. Era grande a necessidade de ser aceita. E maior foi a dor que lhe acompanhou depois... Mas o que quero dizer é que cedo ou tarde acabamos voltando para dentro de nós. Alguns no campo. Outros na religião. Mas sempre a sós com Deus. Nem que seja por algum tempinho... Hoje entendo que só se consegue estar a sós com Deus estando em paz com Ele e só ficamos em paz com Ele estando em paz conosco. Um círculo virtuoso. Nestas mal traçadas linhas reconto o que você diz no quarto parágrafo de seu texto homônimo ao meu atual (seu texto e a ilustração de Tiago Costa em meu “Cronto” é que me induziram este).

Hoje pela manhã (são agora, 13:26h) estive caminhando por uma boa hora de minha casa até o Centro da cidade e outra de lá para casa. E no retorno fiquei matutando a ilustração do Tiagão. Foram muitas as idéias que me vieram e o que compartilho com você (esse você significa Bruno, Tiago e quem estiver me lendo) são essas e não precisamente na ordem que me vieram.

Tiago conseguiu ler meu texto e o rescreveu em imagem não repetindo o que eu disse, e sim criando sua própria estória. Tendo o cuidado de não deturpar (ou seja, destruir, estragar) o que eu fiz e sim recriando. Pois é isso que, acredito, o artista faz – Devora e regurgita –. Não repetindo minhas “imagens”, mas utilizando as suas próprias “palavras”. Por exemplo: No texto conto entre outras coisas o aniversário de um menino que questiona o livro e o seu valor... (para entender o que quero dizer com valor recomendo a leitura do referido texto). Pois bem, Tiago teve a sensibilidade de não simplesmente “desenhar” um bolinho e um menino ganhando presentes ou algo assim, e sim retratar o vôo, a leveza, o “suspense” que são os livros na vida de alguém. Eu não sabia o que poderia vir a sair e ele superou minhas expectativas. Senti-me enlevado.


Para ver a ilustração de Tiago Costa e ler meu Cronto (ambos na coluna Cronista de 5ª da semana passada) assim como o texto de Bruno Grossi (na coluna Na Prancheta de hoje) acesse www.notaindependente.com.br

Rubem Leite.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Tiago Costa

Espero que goste do presente.


Do céu chove livros

Guarda-chuva apara arte

’mizade não para.


SEMELHANTES

Rubem Leite – madrugada de 21-5-10

Ofereço como presente de aniversário aos meus queridos

Sinésio Bina, Raquel Fraccaroli, Rodrigo Davila, Júnior Pinheiro.


- Bom dia, Cam. Veio me visitar?

Em cima das revistas, na prateleira de baixo, é um dos lugares que ela gosta de se aninhar. Com seu pêlo cor de hábito carmelita ela olha para mim e com seu focinho esbranquiçado me sorri. Não sei... Dizem que o homem é o único animal que sorri, mas para mim têm alguns outros que parecem sorrir... Cam é a que mais gosta de me acompanhar. Ir sempre para onde vou. A única que sempre faz questão de dormir no meu quarto. E a única que parece sorrir sapeca quando lhe chamo a atenção e, quando não me derreto, sua cabecinha miúda (para seu corpo grande) abaixa triste. Enquanto falo tudo isso e antes de terminar minhas palavras Cam sai do ninho improvisado e sobe na minha cama, bem onde ficariam meus pés. Pressiona o lugar onde está e com seu peso médio inexistente de cão-fantasma afofa o local. Seu calorzinho agradável inexistente de cão-fantasma me aquece. Ela se torna invisível. Mas sinto seu olhar amorosamente apaixonado e seu sorriso sapeca para mim.

Ando pelas ruas remoendo certo pseudo agente cultural que grita feito “louca no cio” por não ter nada a dizer e se passando por “engajado”. Tão absorto que nem presto atenção ao caminhão que em alta velocidade passa raspando ao meio fio da esquina onde eu já tinha um pé no asfalto quando algo me puxa para trás.

- O quê?

Assustado, olho para o caminhão que se afasta.

Espantado, olho para quem me puxara e nada vejo. Ouço latido no nada.

Penso um instante que é verdade que mente atribulada atrai tribulações. Relaxo-me então respirando fundo visualizando uma luz dourada me preenchendo e formando uma dourada aura suave como a lua cheia e só então volto a andar, mais tranqüilo dessa vez.

- Mãe! A Cam me ajudou hoje e...

- Isso é coisa do demônio, Benito. Vou chamar o “Pasdre” para exorcizar.

- Pelo amor de Deus, mãe! Tudo é o diabo? Só mesmo a Regressão Antipática Caquética para ficar adorando-o.

- Respeite a Igreja! São essas suas poesias que te fazem blasfemo. Arte é coisa malig...

- Tá, mãe! Obrigado! Vou sair.

- Únfi!

O sol já ia embora, talvez para se recolher no seu sono de beleza... Estamos, eu e você, andando pela Avenida Itália, no bairro Cariru. Ela tem um grande pedaço margeado por uma mata ladeada pelo Rio Doce e com vista para a Zona da Mata. Tem postes que se alimentam de sol durante o dia e à noite iluminam a pista utilizada por pedestres corredores. Reflito sobre minha mãe. Por que ela tanto briga comigo? Será verdade que semelhante atrai semelhante? Acho que sim... Afinal toda vez que me deixo levar pela raiva, e somente nas ocasiões em que me deixo irritar, a pele de minha mão direita começa a coçar, avermelhar e doer aproximadamente uma ou duas horas depois. Então... Minhas reflexões são interrompidas

- Parado aí! É um assalto. – Fala um rapaz. Mais ou menos da minha idade.

- Quê?

- Passa logo o que tem. – Completa o outro jovem. Fala me dando um empurrão.

Um rosnado esganiçado e um grito do primeiro garoto. Ambos olham assustados para a minha surpresa. Agora ouvimos o latido fino da Cam. O rapaz que foi mordido chama o colega pedindo para irem embora

– Tem estranho nele. Ele deve ter parte com Deus ou com o diabo. Simbora.

Sorrindo, volto para a casa. Realmente, “existem mais coisas entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia”.


terça-feira, 18 de maio de 2010

ÍNTIMO

Rubem Leite

14-18/5/10

Escrevendo ora ouvindo o cd Lual, de Nando Reis & Os Infernais,

e ora sob o silêncio

eu ofereço aos aniversariantes:

Neuili Mª Macedo Leite, Rosangela Sulidade,

Maxtenios Cara e Léo Coessens.


A camisa velha tinha o vermelho virado rosa com desenho de um imenso R xadrez descascando. Sua saia verde na moda de anos atrás. – “Dispensar por que, se moda vai e volta?”. – Bonita, apesar de assalariada. Mais um pouco e seria mendiga. Ou deveria dizer um pouco menos? Depois de horas escolheu o que podia. Era um dia especial.

Seguindo um recurso literário talvez em moda – como saber, se moda vem a vai? – comecei a estória pelo meio e agora vou para o início.

Era meio de uma tarde fria para os consumidores. Para os trabalhadores do shopping já era dois terços de um turno. E para um segurança, um deles em especial, um turno infernal (É! Só assim para um trabalhador qualquer ser alguém especial... Quando o dia está, na melhor das hipóteses, apenas um inferno). Beth, nossa protagonista, desceu de sua bicicleta, prendeu a coisinha branca, suja, arranhada na portaria número três quando chegou o segurança, nosso antagonista, impedindo furiosamente educado para não fazer. Discussão. Junto com público mais dois seguranças que arrancam educadamente a bicicleta do lugar e a levam para outro canto, afastado dos ricos olhos consumidores. Enquanto ela não entra, eles não se vão. Calada Beth entra. Sai por outra portaria, vai até a bicicleta, procura alguma coisa no chão. Achou. Custou, mas achou. Por sorte ou azar, achou. Desprende a coitada e volta discretamente para onde tudo começou. Observa. Gira em torno de si e ninguém. Dá outra volta em sentido contrário e ninguém perigoso. Fixa discretamente os parafusos que tirara antes de soltar a velhinha e a prende. Entra, compra e volta. A bicicleta continua no lugar. Sorri sarcasticamente e pensa na diferença entre sarcasmo e ironia. Que isso tem a ver com a estória? Nada. Ela apenas associou algumas idéias e eu a reproduzo. Sorrindo com o presente na bolsa. Hoje é um dia especial. Sete anos! Entra no shopping procurando o segurança. Aquele que a afrontara. Chique, não? Afrontara! Pensa ironicamente “Afrontara-me... Palavra elegante utilizada” – não usada, faz o favor, u-ti-li-za-da – “por quem pode. Qual a diferença entre sarcasmo e ironia”? Volta à associação de idéias enquanto circula e circula e circula, quase desistindo, encontra o segurança na sua calça e paletó (aberto) azuis marinho, camisa azul claro e gravata azul guei, digo, celeste. Ele estava conversando com a moça do “Café Brasil é Paris”. Primeiras falas de nossa estória:

- Ei! Estava te procurando.

- Quem é a senhora.

Que ódio sentiu do descaso, mas continua – Sabe minha bicicleta? – Ele mexe discretamente – Voltei para o lugar. Quero ver o senhor tirar. – Fala desafiadora, mas a cara de raiva do segurança assusta Beth que contorna – Se não tirar lhe dou R$10,00.

- Se eu tirar lhe dou R$100,00.

- Não acredito que o senhor tenha todo esse dinheiro.

- Pois tenho. Recebo R$1.800,00.

R$1.800,00 dele contra os R$510,00 dela é muuuita coisa. Bem! É verdade que é melhor do que o de muita gente. Vão, e com as mãos arranca o parafuso. Beth perdeu, mas ganhou. Volta para casa matutando a ida ao shopping, matutando o seu dia, matutando a vida. Esquenta o jantar pensando “Hoje eu quero me regalar” e come feijão com bastante alho, farofa, rúcula – “Realmente! Yo soy chique.” –, bife e arroz. Arruma uma mesa não querendo pensar no segurança – “Mas ele até que é bonitão... E que coisa faríamos hoje... A sós... Não hoje! Hoje é o dia do meu filhinho. Sete anos.”. Leva o prato bem feito para a mesa, liga o rádio pensando no aparelho de cd que viu na loja, pega um livro, senta, come, lê, come, lê, pega seu dicionário e descobre que ironia é o contrário do que se pensa ou sente e é utilizada para criticar ou zombar alguém. Raramente pode ser usada para elogiar ou engrandecer o outro. Já sarcasmo é a zombaria mordaz, ou seja, cruel ou picante. – “Mas chega de pensar nessas coisas”.

- Demorou filhinho. Está na hora de cantarmos o parabéns, né? Não fique triste amorzinho por ninguém ter vindo. É que hoje é quinta-feira... e ... e todos estão ocupados. Mas nós dois somos o suficiente. Só eu e você. Papai não veio, mas telefonou lá para o serviço pedindo para dar-lhe o parabéns e vai mandar entregar o seu presente. – Mente. – Ele não te abandou, filhinho. Foi a mim. Não agüentava me ver sofrendo... Disse que eu estava ficando louca... Mas eu não... EU NÃO SOU LOUCA. Você curou, né filhinho? Você curou! Mas isso não é conversa para agora. ... “Parabéns pra você nesta data querida. Muitas felicidades. Muitos anos de vida”. Faz um pedido e sopra, queridinho. – Então ela sopra a velinha. – Olha o que mamãe comprou para você. – Ela rasga o embrulho – Gostou? – Vendo o olhar do filhinho – É! Custou caro, mas você merece, filhinho. Só se faz sete anos uma vez na vida. – Ela corta duas fatias do bolinho que fizera ontem e põe uma diante da cadeira à sua frente e come o outro pedaço. – Está gostoso, né?


domingo, 16 de maio de 2010

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Farroupilha - Concurso Nacional de Contos de Humor

Aqui é Didi, do Grupo Farroupilha, tudo bem?
Por aqui estamos todos bem e cheios de boas expectativas.
Estamos comemorando 15 anos de atividades artísticas e, dentre as ações comemorativas, está oConcurso Nacional de Contos de Humor. Aberto para escritores de todo o país, o concurso premiará 03 (três) contos, que também servirão de base para a criação do novo espetáculo do Farroupilha. As inscrições estão abertas até 30 de junho de 2010.

Para participar clic no link e baixe o regulamento, ficha de inscrição e liberação do autorwww.grupofarroupilha.com.br

Estamos aguardando sua participação!

Grande abraço.

Didi Peres

Cordenador de comunicação

Grupo Farroupilha

31-38235614 - 87384435

Teatro Circu-Lar Farroupilha

Av. Londrina, 180, veneza II

CEP:35164 -291- Ipatinga/MG

www.grupofarroupilha.com.br