quinta-feira, 19 de novembro de 2009

HISTÓRIA

Rubem Leite – 29/6 à 19/11 de 2009

Louvada e honrada seja a Bandeira do Brasil e que ela nos ensine a respeitar a Pátria.

E o que é Pátria senão a população.

População voltada para um centro e com um centro “alimentando” a população.

É uma bela praça. O sol está para se por num dia parado numa avenida cheia. Muitas árvores e até passarinhos cantam. Canta também um pneu.

- Benito! Como vai?

- Sou soldado de uma guerra particular. Carrego minha bandeira. E como queria aliados. Mas sou homem. E cada qual nasce sozinho. E morre sozinho. Sendo homem nasci de um ser estranho, diferente. Nasci de uma mulher. As meninas nascem de uma igual, de um ser conhecido.

- O que cê tá falando?

- Eu era religioso e bom. Ou qualquer coisa assim. Estou com vocês fazendo o bem. Eu. Eu era qualquer coisa.

- Ce não tá passando bem, né?

- E o que temos em comum? O que unifica o homem e a mulher? O pai. Se uma mulher nasce de uma igual. Se um homem nasce de um ser estranho. Ambos têm em comum o pai, que é homem. O pai é diferente da filha. O pai é igual ao filho. Mas a participação paterna é mínima em relação à materna.

- Ce tá me assustando.

- Que Deus não nos castigue. É. Vocês não serão maltratados. Nem eu. E, qualquer coisa, estou aqui para vocês e por Deus. E depois, estou com o espelho que filma seres da qualidade de vocês.

- Ah! Você me dá licença, mas tenho um compromisso, tá.

- Sou soldado. Carrego minha bandeira. Sou minha própria porta bandeira e meu próprio mestre sala. Sou soldado e me vejo com Letítia. Tentamos ser felizes, mas não consegui. Sempre a vi com seu marido, um meu igual. Sempre me via traindo meu companheiro. Um meu igual por uma estranha. Não a satisfiz; não que eu fosse incompetente. Não me satisfiz; não que fosse impotente. A gente se afastou e tornei-me sórdido com o tempo. Mas não vou dizer que foi a vida. Não! Sempre que ouço isso penso que é desculpa. Sei que é. Eu não sou covarde. Assumo o que sou e o que faço. Ontem, ou será anteontem? Bem, ela me viu. Acenou para mim. Rindo. Conversamos e ela não quis a minha cama. Séria. Eu vejo. Como poderia ser. Seria assim. Não seria assim. Seria. Não seria. Vejo-me agindo assim. É assim que a gente age ou deveria agir quando trocados ou relegados. Decepções, mágoas, vidas encontradas, risos, dores. Vivendo.

Sentei num banco. Atrás de um mim um pássaro alçou vôo. Minha vista está enevoada, detrás de um véu. Nada vejo além de Letítia; nada ouço além de nossas palavras. Caminho pela praça sem nada me deter.

Vou para casa. Minha dor é minha e ninguém se interessa por ela. E quando se interessam quantos pensam em mim e quantos mais se interessam pelo mórbido? Vou para casa. A vida continua. Doa a quem doer, a vida continua.

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