Rubem Leite – 15-16\11\09
Ver o conto "O Grande Dia".
Escrevo ouvindo Ronda Alla Turca, de Mozart; e outras músicas.
- “Miriiinha! Vem para casa”. Chama dona Ringa.
- Essa menina é estranha. Parece, Deus me livre e guarde, sapatão.
- Mããe!
- Ai, filha, desculpe. Mas ela só faz coisa de homem. É correr, é pular de bicicleta, é jogar bola.
Enquanto isso, a garota perseguia um moleque de quatorze, dois anos mais velho que ela. Acabaram de trocar socos e ele perdia.
- Miriiiiinha!
Mas ela se encontrava longe e como o rapazinho conseguiu chegar
- Que isso, Mirinha? Por que está vermelha desse jeito?
- “É que corri muito”. Falou e foi direto para o quarto. Do quarto foi para o banheiro tomar um banho que não a refrescou. Algo nunca dantes sentido lhe abrasou ainda mais enquanto se ensaboava. Ofegando ela não tirou a mão. Arfando aumentou a pressão.
- Mirinha! Tudo bem?
- Ahh! Sim!
- Então que demora é essa? Quero tomar banho também. E daqui a pouco seu pai chega e também vai querer entrar.
Pela primeira vez sem comer direito ela vai deitar. O sono interrompido pelo rosto do rapaz. “É o sobrinho do Dr. Lucas que lhe serve de motorista enquanto faz a faculdade”. – A voz de uma cliente ressoa em seu crânio – “Que gatinho é o menino”. Para ela o rosto do Dr. Lucas sorri. Para ela o rapaz tira o paletó. Sem perceber Mirinha se senta enquanto o rapaz tira a camisa. Que peito lindo, mamilos vistosos, músculos fartos. A mão do Dr. Lucas acaricia os cabelos de Mirinha fazendo-a deitar outra vez. O rapaz tira os sapatos, as meias, a calça preta, a cueca branca. Que pés lindos, grandes. Ela quer ver o que os homens têm, mas só vê os pés, as mãos, os rostos, os corpos perfeitos do Dr. Lucas e – arfa e ofega – do rapaz – ouve dentro de si o 1º Movimento de Allegro, de Mozart, e sua mão explorando sua intimidade.
- “Aaai”! Grita a menina quando o sol lhe toca.
- “Que foi, filha”? Entra no quarto o pai assustado.
- Estou sangrando...
Mudo e de olhos arregalados sai o pai deixando sua mulher com a filha.
- Ora, Mirinha. Fique calma. Vai me dizer que nunca estudou sobre isso na escola?
- !!!
- “Sim. Você acabou de virar mocinha”. E têm uma longa conversa que Mirinha pouco escuta pensando nos dois homens que julga serem seus. Os homens de sua vida.
Falta a escola como um presente pelo seu importante dia. Assim que a mãe sai do quarto, Mirinha se conhece mais um pouco com o indicador e não para de ouvir Mozart. Agora é Ronda Alla Turca.
- Filha, fui à farmácia e trouxe para você.
- ???
- “Ah! Minha filhinha agora já não é mais menina”. Fala com uma lágrima e com um sorriso continua “Agora ela é uma mocinha”. Ensina Mirinha como se usa e vai cuidar dos afazeres domésticos deixando a filha ouvindo Mozart e lendo algo.
Ouvindo músicas, lendo e se conhecendo ela passa o dia.
- Não está doendo?
- Não!
- Que bom. Você é igualzinha a mim.
- Vou sair mãe.
- Para onde?
- Na praça.
- Mas vê se não demora.
Mirinha vai direto para a casa do Dr. Lucas. Tudo é um só silêncio então volta para casa. Onze horas ela sai enquanto os pais dormem. Ninguém em sua rua. Da frente da casa do médico se ouve Mozart. Mirinha sorri. Ouvindo a canção da Pantera Cor de Rosa (que Não é de Mozart), pula o muro, que não é alto, e volta a ouvir Mozart. Sobe numa árvore e vê o rapaz sem camisa e de cueca olhando para as estrelas na noite sem lua. Mirinha começa a acariciar as pequenas saliências em seu peito e movimenta os quadris no galho entre suas pernas onde está empoleirada. – Júlio! – ouve a voz do médico. O rapaz olha para trás sem sair da janela. O médico se aproxima, encosta-se nas costas do garoto que sorri. Mirinha se espanta. Dr. Lucas desliza sua mão pelo peito do garoto que fecha os olhos, faz cafuné em seus pelos e abaixa a cueca de Júlio. Da árvore Mirinha só saiu quase ao amanhecer.
- Bom dia, Dr. Lucas. Minha filha quer se consultar com o senhor.
E no quintal o cajueiro vê suas flores se converterem em frutos do mais suculento caldo.
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