- O Quim tá querendo te pegar depois da aula.
- Eu! Por quê?
- Disse que você pegou o “pleistêicho” dele.
- Eu não! Por que você tá falando isso?
- Eu não, Gê. É o que ele está dizendo.
- ...
- Tá com medo?
- Nã-não. Claro que não, Bê.
Dentro da zoeira do recreio conversamos.
- Medo não queu sou homem. Só tô um pouco assustado.
- Ele é enorme, Gê. Eu estaria assustado também.
- Você tem que me ajudar.
- Eu? Como?
- Sei lá... Fala com ele.
- Eu...
- Você não vai me deixar na mão, né? Somos amigos. Como você sempre diz “Para o que der e vier”.
- Tá, mas o que você quer que eu faça?
- Fala com ele. Você fala tão bem. Quem sabe pode fazer ele entender que eu não mexi no “pleistêicho”.
- E não foi você mesmo não?
- Claro que não... Está bem. Brinquei sim. Estava dando sopa e não resisti.
- ...
- Ora, Benito, não fiz nada de mais. Deixei do jeito que peguei...
- Ele disse que está estragado.
- Ô, Bê, vai, me ajuda. Cê é gente boa. Não me deixa só nessa roubada. Vem comigo... conversa coele.
Quinta aula, Matemática. Vinte minutos: 35x.3y=7x²-9y e outros exercícios piores que esse. Quarenta e cinco minutos e respondi quase tudo só não sei se estão certos. Bêêêm.
Dentro da zoeira da saída, Gê, eu e do outro lado da rua, Quim. Vermelho, cabelo crespíssimo, testa imensa, orelhas de abano, olhos miúdos, beiços escuros, atarracado. Aproximo com... Cadê o Ge? Não vi a roda se formando. Só vi do sofá da sala da diretora muitos minutos depois a chegada de meu pai. E não sei se vou querer ver algum dia o Gê.
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