quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

ONDE CÊ TÁ?

- O Quim tá querendo te pegar depois da aula.

- Eu! Por quê?

- Disse que você pegou o “pleistêicho” dele.

- Eu não! Por que você tá falando isso?

- Eu não, Gê. É o que ele está dizendo.

- ...

- Tá com medo?

- Nã-não. Claro que não, Bê.

Dentro da zoeira do recreio conversamos.

- Medo não queu sou homem. Só tô um pouco assustado.

- Ele é enorme, Gê. Eu estaria assustado também.

- Você tem que me ajudar.

- Eu? Como?

- Sei lá... Fala com ele.

- Eu...

- Você não vai me deixar na mão, né? Somos amigos. Como você sempre diz “Para o que der e vier”.

- Tá, mas o que você quer que eu faça?

- Fala com ele. Você fala tão bem. Quem sabe pode fazer ele entender que eu não mexi no “pleistêicho”.

- E não foi você mesmo não?

- Claro que não... Está bem. Brinquei sim. Estava dando sopa e não resisti.

- ...

- Ora, Benito, não fiz nada de mais. Deixei do jeito que peguei...

- Ele disse que está estragado.

- Ô, Bê, vai, me ajuda. Cê é gente boa. Não me deixa só nessa roubada. Vem comigo... conversa coele.

Quinta aula, Matemática. Vinte minutos: 35x.3y=7x²-9y e outros exercícios piores que esse. Quarenta e cinco minutos e respondi quase tudo só não sei se estão certos. Bêêêm.

Dentro da zoeira da saída, Gê, eu e do outro lado da rua, Quim. Vermelho, cabelo crespíssimo, testa imensa, orelhas de abano, olhos miúdos, beiços escuros, atarracado. Aproximo com... Cadê o Ge? Não vi a roda se formando. Só vi do sofá da sala da diretora muitos minutos depois a chegada de meu pai. E não sei se vou querer ver algum dia o Gê.

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