terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

PENSEM ONOMATOPÉIA

Rubem Leite

07 à 10 de fevereiro 10

Pensem onomatopéia. Sons de guerra. Batalhas como dizem sempre “sangrentas”. Horas de dor e gritos. Tudo muito rápido. Muito rápido. Gritos no escuro. Sangue à luz dos fogos. Companheiros se confundindo com inimigos. Não atingir os do meu lado. Caiu um. Caiu outro.

No alto da montanha dou uma respirada. Minha companheira, minha doce Lua, pousada ao meu lado mira meu olhar. – “Vamos”! – Diz se levantando.

Meu mundo.

Homens e mulheres não são iguais. Os doze sentidos delas são muito intensos. Todas têm asas e suportam bem nosso peso. Nós temos fibras musculares fortes e leves. Temos duas caudas. A da frente encaixa em nossas mulheres dando-lhes alimento e perpetuando a espécie e a de trás, bem mais longa, perfura nossos inimigos tirando-lhes a vida. A curta, dá. A outra, tira.

Meu mundo.

Levanto e encaixo minha cauda frontal unindo nossas mentes com nossos corpos. Um. Seus sentidos são nossos. Minha força é nossa. Somos um voando. Lutando.

Onomatopéia. Sons de guerra. Batalhas sangrentas. Horas de dor e gritos. Tudo muito rápido. Gritos no escuro. Sangue à luz dos fogos. Companheiros se confundindo com inimigos. Não atingir os do meu lado. Amigos?

- Aaaaaaaaaaaaaaaaah! – Um grito de euelanós. A cauda do adversário ia me atingir Lua volteou-nos defendendo seu guerreiro. Caindo. O solo. O solo. O solo. Proteger minha Lua. Salvar sua vida é a função do guerreiro. Lua volteia-nos recebendo todo impacto.

- Aaaaaaaaaaaaaaaaah! – Um grito meu. Ela morreu. Aleijei-me. O que me segura aqui são vocês. Filho. Filha. Um homem sem sua mulher só parece vivo. O mesmo se diz da mulher sem homem.

- Não existe outra mulher, pai? – Pergunta meu filho abanando as caudas.

- Não! “Para cada homem uma só mulher. Para cada mulher um só homem”. Assim diz o Sábio.

- Preferiria mamãe a nós, papai? – Pergunta minha filha batendo as asas.

- Não! “Cuidai de sua herança. Sua herança é seu tu”. Assim diz o Sábio. Assim respiro cuidando de você. Mantendo assim sua mãe. Sua mãe sou eu.

- Ficará conosco para sempre, pai? – Pergunta meu filho e minha filha completa – Nós nunca lhe deixaremos, papai.

- Não! Quando você crescerem encontrarão seu par então terão que me deixar. É assim que ficarei feliz. Quando partirem irei para Lua. Alegrem-se comigo. Eu serei euelanós outra vez.

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