terça-feira, 23 de agosto de 2011

MSN


Obax anafisa.





Pensamentos de semanas atrás: Na feijoada beneficente eu trabalhava voluntariamente num mundo de dinheiro e no momento procurava apressado à presidente da ong. “Oi, Anício!”. Olho e levo segundos para reconhecer a voz e seu dono, grisalho agora. “Olá, Hélder” – falo olhando para a cozinha. Precisava urgente dela para uma decisão e, atento ao movimento nas panelas, continuo – “Que bons ventos lhe trazem?”. – Não encontro a mulher na cozinha e sem esperar resposta vou para a portaria procurá-la, não estando, volto. “Tempos que a gente não se vê” – diz o homem. – “Sim. Como ficou sabendo da feijoada?”. “Moro perto do GASP*”. Minha atenção está na cozinha “Legal, que bom que veio. Com licença acho que encontrei a pessoa que procurava”. Saio sem esperar resposta.
Diálogo hoje:
- Oi! Eu sou Willian. Vc?
- Eu me chamava Anício Pereira. E como você vê na fotinha eu era branco, magro, cabelos e olhos castanhos. Não era feio e tinha 1,70m.
- A gt c conhece?
- Não!
- Lgl gent c conhec. Fale d vc?
- Eu estava na cidade de Governador Valadares e eu fui fazer... O que eu fui fazer lá? Que dia era? Eu só me lembro que era noite e queria voltar para casa. E que estava pensando na feijoada beneficente e na urgência que tinha. Na verdade pensava mais no Hélder. No sorriso que ele tinha ao falar comigo e que na hora não reparei. Sorriso irônico? Sardônico? Não sei se sincero, acho que não. Não vindo dele. Sorria como se duvidasse que eu não o tivesse visto ou como se achasse que eu tivesse ido para vê-lo, mas fingia que não. Pensando nisso fui à rodoviária. Era estranha. Era outra. Comprei a passagem. O cara do guichê era gordo de cabelos e barba loiros, que me explicou que só tinha ônibus para São Paulo, mas se eu conversasse com o motorista ele poderia me deixar em algum lugar na estrada. Aceitei, claro. Queria era voltar para casa. Comprei algo para comer e o vendedor era gordo de cabelos e barba loiros. O varredor, os vigilantes eram gordos de barba e cabelos loiros. Todos os trabalhadores eram exatamente do mesmo modo, a mesma cara, o mesmo corpo. Como se fossem gêmeos. Sei lá. Não, espere! Havia um que era gordo, cabelos loiros, mas de barba preta. Finalmente chegou o ônibus, embarquei, não demorou e saiu. O motorista era gordo de cabelos e barbas loiros. O trocador também. Os passageiros... Não consigo me lembrar de como eram. Exceto de uma, que conversarmos na viagem. Loira de uns cinquenta anos. Depois de dois terços da viagem entramos numa floresta. Mas não mais existem florestas no Vale do Aço. Então, então como... Não conseguia entender. Na estrada uma mulher de branco. Vestido longo, como desses filmes de época, um lenço ou um véu na cabeça. O ônibus parou e a mulher entrou. Loira como os outros. Mas eu a conhecia. Estava tão confuso. A gente se cumprimentou e a passageira e ela conversaram. Fiquei só ouvindo. Mas não diziam nada interessante ou esclarecedor então perguntei
- Qual é seu nome? – Falei para a recém chegada, que se voltou para mim. – Você está vindo a pé de Valadares?
- Livre Sereno Diamantino é meu nome. E venho de lá.
- Por que está vindo a pé?
- Não sabia que ainda tinha ônibus.
- Como assim? Não era mais para ter ônibus?
- Ela nada responde e as duas mulheres se olham. Todos os passageiros me olham. Agora eu sei como eram. O ônibus pára. Os passageiros se levantam. Mas o que importa é que eu me chamo Lindo Sol Delirante. Eu sou gordo de cabelos e barba loiros. Meus olhos são azuis e tenho 1,80m. Vejo pela foto que você ainda é negro.
Na casa de Willian batem na porta.
Olho para outro canto da tela e vejo bem os seus olhos. Os seus, que está me lendo agora, logo será na sua que baterão na porta.




Escrita entre a madrugada de 29 de julho e 23 de agosto de 2011.

Ofereço como presente de aniversário à
Grah Ferreira, Carlos G. D. Dias e Marlene C. Rodrigues.

Gente! Mudando de assunto, mas ainda na arte cultura, NÃO PERCA O ENARTCi. É tudo de bão.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas.
O cronto é minha flor para você
e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

* GASP = Grupo de Apoio aos SoroPositivos.

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