segunda-feira, 14 de maio de 2012

TEM OU NÃO TEM?


Obax anafisa.



- Ei! Tá lembrado de mim?
- ?
- Eu trabalho na empresa em frente de onde cê mora.
- ...
- Estou chateado, cara! Estou me separando e minha mulher veio aqui ontem e fez o maior escândalo durante o trabalho. Falou de mim para minha chefe. Eu já tava entrando no caminhão quando ela chegou e atrasou o serviço de todo mundo. Até que o caminhão saiu e eu tive que ficar, né. Estou sem tomar banho desde ontem. Não estou sujo, só suado, mas é como se não tivesse limpo, né. Cê já ficou assim?
- Eu...
- Pois é. Muito desagradável. Estou vindo hoje obrigado! Não queria. Trabalhar num sábado... e depois de uma baixaria... Porra, ninguém devia passar por uma dessa. Concorda?
- Eu...
- Pois é. E sabe por que estou me separando? Porque peguei a fulana na cama com outra mulher. Nem era cum hômi. Era cum mulher. Não dá para descer a porrada num caso assim, né. Pois era cum mulher. Mas se fosse cum hômi eu tinha baixado o sarrafo neles. Mas mulher cum mulher num tem sexo, né. Ela cum otra mulher só pude ficar bravo, decepcionado, né. Uma senvirgunhice. Concorda?
Pelo cheiro de cachaça nele, nem tentei responder. E nem daria tempo.
- Estou sem tomar banho desde ontem, cara! – Eu, Benito, penso: Ai meu Deus! Será que ele vai querer tomar banho na casa de minha mãe? – Minha chefe olhô pra mim com uma cara... E estou sem tomar banho desde ontem. – Eu penso outra vez: Ai meu Deus! Será que ele vai querer tomar banho aqui em casa? Que desculpa darei? Bem... é residência de minha mãe e tem uma tia visitando. Duas senhoras... Não dá para levar marmanjo desconhecido para lá. – Dormi na casa de um cara que nem conheço. – Penso: ... na casa de um homem... que nem conhece... dormiu... – Minha mulher largô aqui na empresa todas as minha roupa. Eu é que fui traído, e cum uma mulher, e estou sendo tratado pela bandida como se eu fosse o safado. Pode uma coisa dessas?
De novo, mantenho o silêncio.
- Num sei o que fazê. Você que é um hômi instruído, um escritô, será que pode me dar uma luz? – Eu? Penso. E como ele sabe que escrevo? É, artista é observado mesmo sem perceber. Algumas vezes tudo bem, mas outras... O rapaz continua: Passei a noite numa casa estranha, deixei lá todas as minhas roupa. Que garantia terei de encontrá-las no fim do dia? Vim trabalhar contrariado. Olha bem pra mim e me diga o que fazê.
Olho para ele. Tem um rosto masculinamente bonito, mas dentes feios, separados. Que poderei lhe falar? Mas eis que sou salvo pelo gongo: chega um colega dele. Esse eu conheço.
- Chegaqui, Ernani! – Ernani, convocado pelo rapaz, tenta passar direto, porém volta. Não sei se por solidariedade. E o infeliz conta tudo outra vez. Na primeira brecha que encontro, aproveitando a presença de Ernani, me despeço deixando-os. Tenho pão para comprar.



Ofereço como presente de aniversário à
Elisangela Guilherme, Roseny A.M. Souza, Rosangela F. Sulidade.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

Escrito entre 05 e 14 de maio de 2012.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que delícia de texto...
Parabéns!