segunda-feira, 23 de julho de 2012

A LUA SOBRE A ROSA


Obax anafisa.



Bamboleio meu corpo e escrevo de olhos fechados o que você lê e consigo acertar a ortografia. Virginia Rodriguez canta no computador, alguém dança na rua e todos interpretamos na vida.
A mulher que mais desejei também desejava. Eu só queria seu coração, mas não recusava seu corpo. Ela só queria o que eu não podia lhe comprar, mas não recusava o que eu podia lhe dar.
Lá fora, em algum lugar longe ou talvez noutro mundo, não sei, a lua brilha solitária sobre uma só rosa branca. Deitando minha cabeça no travesseiro revivo o dia. Da Biblioteca Zumbi dos Palmares sentei na praça diante do Banco do Brasil, de costa para os mototaxistas e de frente para o canteiro seco. Abro ao acaso o livro A Borboleta Amarela e leio “Não posso escrever sobre outra coisa. E não devia escrever nada hoje. Penso um instante no que sentirão os leitores: essa coisa que me emociona de maneira tão profunda, o sonho que ainda me dói no corpo e na alma, será para eles uma história vulgar; pior ainda, precisarei escrever com muito cuidado, para que esse instante de infinita pureza que eu vivi não pareça a outrem, apenas um pequeno trecho de literatura barata”¹. Lendo isso meus olhos se levantam para o céu sujo, como que espelhando o estado que se encontra Ipatinga – Ai! O descaso do Poder Público. – e desvio-os de lá... Não, na verdade cerrei minhas pálpebras e Diana me veio serrar a carteira. Abro-os assustado. É melhor pensar em coisas boas.
- Oi, Benito! O pessoal tem me pedido para você não postar mais nada. É que o assunto do grupo é outro, não literatura.
- Ok! Numa boa.
- Não se ofenda, cara!
- Por que me ofenderia? Você não foi grosseiro.
Curioso e interessado em saber se estou agradando, questiono a cada contato se deseja que eu continue. A maioria responde que sim, que eu não pare.
- Espero que não fique chateado.
- Claro que não. Cada coisa no seu lugar.
É como realmente acredito. E me sinto. Huuum. Melhorou, mas ainda não estão de todo agradáveis minhas reflexões. Sorrindo me levanto com o livro nas mãos. Saio da praça e vou ao trabalho.
E de noite imagino a lua brilhando solitária sobre uma só rosa branca e uma borboleta entre as duas. Dormi assim, sonhando.



Ofereço como presente de aniversário à
Eduardo Barbosa, Richardson Jhones, Ana Pinto, Sandra Gargalhada, Anilton Reis, Márcia Meireles, Almir Napoleão, Pablo R. Kühl, Miee Aoki.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

Escrito entre 19 e 23 de julho de 2012.

¹ BRAGA, Rubem – A Borboleta Amarela – 7ª edição – Rio de Janeiro, RJ: Record, 1984 – crônica Um Sonho.

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