segunda-feira, 1 de outubro de 2012

TERROR NO MANGUEIRAL


Obax anafisa.

 “A vida não fica mais fácil.
É você que tem que ser forte”¹.


Terra de Ninguém.
Relato de D.
Observo duas clientes em potencial passeando. Eu as conheci quando buscava moradores para Terra de Ninguém. Ambas não sabiam quem eu era, mas sei quem são.
Período eleitoral, são tantas pessoas dispostas a se venderem. Talvez não todas. Sempre escapa alguém. Que pena. Mas o importante é que é difícil dar conta. Rsss. Não era o caso delas, por isso precisavam de um empurrãozinho... Poderiam vir a ser ótimas candidatas para trabalharem conosco.  Apresentei-me como um pesquisador da origem das pequenas cidades mineiras e que ficara sabendo delas através do escritor Benito Bardo Júnior.

Mesquita. Passeando pela praça central.
Relato de D.
- No sobrado azul, azul e branco, o pacto com o D. Ele ofertou o primogênito e por vinte e um anos enriqueceu. – Disse-me uma e outra continuou:
- Até o dia que sua mulher aceitou Jesus e quebrou o D na garrafa.
- Em sete dias ela morreu. De causas dolorosas. Mais sete dias ele morreu. De causas misteriosas. No sétimo dia morreu a Oferta.
- Um tiro no ouvido direito com a mão esquerda... E hoje, por trás dos escombros azul e branco, só a gameleira sobrou.
Rs. O “D” era, sou eu. Rs. E, diga-se de passagem, sou lindo, grandão e musculoso. O sonho de consumo de todas as mulheres e de muitos homens.

Ipatinga, entre o Centro e o bairro Novo Cruzeiro.
Relato de Benito.
Buracos de luz no mangueiral. Não procuro desvendar suas origens. O medo me segura. Medo de quê? Medo, apenas medo. O mangueiral à noite me assusta com suas sombras mal assombradas. No vislumbre da árvore algo se move. Metade da altura é sua largura. Se move na árvore. Medo me dá. Tremulo por dentro e finjo por fora. Encaro a sombra. Se quer me molestar ou se quer se esconder, não sei. Torço para nunca descobrir. Encaro e sigo em frente. A... a coisa ficou para trás. Silencio, escuro, sombra. Meu coração, enfrente! Uma ilha de luz, graças a Deus. Não! Horror! Agora eu vejo com clareza. Corra, Benito! Corra! Não, finja! Passo a passo, um de cada vez. Está acabando, estou chegando. A passarela está ali. Atrás, o silêncio e as sombras. O silêncio, as sombras e
- Que você está escrevendo? Quem é você? Quem te convidou?
Assim encerro minha escrita, interrompido perdi a inspiração. Isso sim é o terror de todo escritor.



Ofereço aos aniversariantes.
Agnaldo Bicalho, Felipe F. Nascimento, Jésus Guimarães, Fábio Sales, Mayara Ferreira, Siloene de Oliveira, Erica Fernandes, André Pôncio e Felipe Ávlis.

Ofereço também às
Maria Aparecida Dionísio de Pinho e Elizeth Duarte de Carvalho. Ambas formaram pela ULBRA (Universidade Luterana do Brasil) em Licenciatura Letras na noite de 26 de setembro de 2012. Enfrentaram reveses sem conta. Como falta de local para as aulas, tendo que, a cada encontro, se reunirem na casa de um ou de outro, ou na biblioteca municipal ou de alguma escola do município. Enfrentaram falta de computadores para o curso a distância, dificuldade de recursos financeiros para as mensalidades, entre muitos outros problemas de fórum pessoal ou acadêmico e outros. Quatorze graduandos pereceram, mas ambas foram, viram e venceram.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

Escrito entre 19 de setembro a 01 de outubro de 2012.

¹ Encontrei pregado em uma lixeira no bairro Horto em um cartazinho manuscrito. Pena que o(a) autor(a) não se identificou.

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