segunda-feira, 8 de julho de 2013

UM CÍRCULO



Obax anafisa.


Quais os seres humanos que não repassam o que receberam? Poucos!
No curta Vida Maria, cada Maria é um sujeito ativo e também passivo, mas nunca senhora de si. Submete-se aos mais fortes e submete os mais fracos. Uma Maria repete com outra, o que fizeram com ela. Passivamente não estudou, casou, teve seus filhos na seca. Único momento ativo é impedindo uma criança de estudar.
Vemos em Memórias Póstumas de Brás Cubas um liberto que comprou um escravo e nele montava de cavalinho, repetindo em uma catarse tardia as humilhações sofridas no passado.
Tal escravo podia ter feito diferente? Ser generoso com seu escravo ou maduramente não ter nenhum por saber quão horrível é o cativeiro? Linda imagem. Linda história. Mas não foi o que aconteceu. Guardar presa a sete chaves as agruras não é para qualquer um e dizer que assim deveria ser é fácil. Difícil é viver. Esquecemos mui facilmente as ofensas dadas e raramente abandonamos as ofensas sofridas. Cada qual tem o direito de odiar os maus, mas para se livrar dos males é preciso coragem de abrir mão de tais direitos.
Já no capítulo sete d’A Revolução dos Bichos há uma tentativa de rebelião quando as galinhas foram obrigadas a entregarem inclusive os ovos que garantiriam futuras ninhadas. Segundo o “poder público” as nove que morreram foram de doença. As que sobreviveram capitularam. Foram covardes por não morrerem de fome como as outras? Eu nunca passei fome; somente fiz jejum por motivos religiosos ou de saúde. Fome é apetite sem esperança, disse alguém.
Em junho de 2013 inúmeras cidades do Brasil promoveram uma semana de diversos protestos, desde o aumento da passagem de ônibus à corrupção deslavada nas três esferas do poder público. No ano anterior a classe artística de Ipatinga realizou uma semana de luto pela morte da cultura no município. Dentre as muitas atividades realizamos pelas ruas do Centro um féretro com um cênico caixão. No salão da Câmara dos Vereadores e, principalmente, na porta da sala do prefeito foram realizadas as “cerimônias” fúnebres. E porque os agentes culturais do município perseveram em revitalizá-la, nos próximos dias 12 e 13 de julho (2013) haverá a 4ª Conferência Municipal de Cultura em Ipatinga, com o tema “Uma política de Estado para a cultura: Desafios do Sistema Nacional de Cultura”.
Do lado A, nossa necessidade e vontade de melhorar. Do lado B, o outro que impede. Quem vencerá?
Em suma:
O importante é aprendermos a transformar pedras em poemas e não ficarmos apenas parados com a pedra no meio do caminho. A vida é um círculo, mas é também coragem. É resiliência.


Ofereço como presente de aniversário:
Cínara Viana, Tânia Ribas, Rosangela Santos, Otávio Zoroastro e Eliane Abreu.

Estou contente! Em breve o ebook bilingue (espanhol-português) de poemas URDIDUMBRE – URDUME, pela editora Círculo de Artes. Espero que adquira e creio que vai gostar.

ASSIS, Machado. Livro Memórias Póstumas de Brás Cubas.
ORWELL, George. Livro A Revolução dos Bichos
RAMOS, Márcio. Animação Vida Maria. Patrocinado pela Secretaria de Cultura do Ceará, Brasil.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

Escrito para um artigo de opinião, trabalho da disciplina Competências Linguísticas e Midiáticas, UnB (Universidade de Brasília), professoras Janaína A. Ferraz e Aya (Ormezinda Mª Ribeiro), tutora Rosa Mª Olimpio. Junho\julho de 2013.

REDAÇÃO DE OPINIÃO:
a) Após a leitura de vários pontos de vista, anote num papel os argumentos que achou melhor, eles podem ser úteis para fundamentar o ponto de vista que você irá desenvolver.
b) Ao compor seu texto, leve em consideração o interlocutor: quem irá ler sua produção. A linguagem deve ser adequada ao gênero e ao perfil do público leitor.
c) Escolha os argumentos, entre os que anotou, que podem fundamentar a ideia principal do texto de modo mais consciente e desenvolva-os.
d) Pense num enunciado capaz de expressar a ideia principal que pretende defender.
e) Pense na melhor forma possível de concluir seu texto: retome o que foi exposto, ou confirme a ideia principal, ou faça uma citação de algum escritor ou alguém importante na área relativa ao tema debatido.
f) Crie um título que desperte o interesse e a curiosidade do leitor.
g) Formate seu texto em colunas e coloque entre elas uma chamada (um importante e pequeno trecho do seu texto).
h) Após o término, releia o texto observando se nele você se posiciona claramente sobre o tema; se a ideia é fundamentada em argumentos fortes e se estão bem desenvolvidos; se a linguagem está adequada ao gênero; se o texto apresenta título e se é convidativo e, por fim, observe se o texto como um todo é persuasivo. Reescreva-o se necessário.

FERRAZ, Janaína de Aquino & RIBEIRO, Ormezinda Maria (Aya). Oficina de produção de textos: Competências linguísticas e midiáticas. UnB (Universidade de Brasília).

5 comentários:

rosadaserra disse...

Rubem,

Arteiro das palavras que brincam em sua cabeça e dançam no papel.
Textos de profundidade e de leveza que se atraem e nos atrai.Nos convida a bailar no pensamento e no coração.

Meu afeto, meu respeito.
Rosa Maria

Unknown disse...

Oi Rubem,

Como sempre seu texto nos leva de um extremo ao outro nos fazendo refletir sobre as várias esferas da sociedade.
Gostei muito das intertextualizações que fez especialmente com Machado de Assis.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Aya Ribeiro disse...

Oi Rubem,

Tenho acompanhado seu Blog desde que fui a Ipatinga, por isso não me surpreendi com a riqueza do texto que produziu para a disciplina. É uma bela e profunda reflexão que extrapola os objetivos pedagógicos. É mais do que uma artigo. É literatura!
Um grande abraço!
Aya