segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

É DESANIMADOR!

Obax anafisa


Época de frio na América do Sul. Na verdade, não importa se faz frio ou calor. O clima não facilita nem complica conseguir andar certo nem o encontro dos que amam. Assim pensam os amigos Benito, Érikis e Marquim. E não só sobre isso conversam.
- Perder Registro Geral, CPF, Certidão de Nascimento. Ter que ir à cidade vizinha tirar segunda via de RG porque Prefeita e Vereadores de seu município não percebem importância em oferecer tal serviço. – Diz Benito entre um gole de cerveja e outro. = Precisar Certidão Nascimento para tirar 2ª via do RG e não o ter.
- Uai! Para que impressão digital? – Érikis filosofa botecamente e Benito continua:
- Precisar saber qual cartório foi registrado para solicitar cópia da certidão; coisa fácil de descobrir em BH. Gastar R$25,00 para 2ª via do RG. Gastar passagem de ônibus para outra cidade. E tudo isso por um documento não benéfico para o cidadão, mas utilizável para sua incriminação. Sim, por que se fosse o inverso, as impressões digitais serviram para outra via e não apenas para provar que o sujeito cometeu algum crime.
- É para isso que servem os documentos, para incriminar. – Conclui Érikis e Marquim muda de assunto:
- Numa madrugada escura nas ruas desertas da ditadura uruguaia, um jovem vem sorrindo da casa da namorada. Clique, clique e uma arma em sua testa. Dois policiais revistam a paz dos enamorados.  De tão assustado o rapaz molha a mão do guarda com a água que escorre em sua calça lhe rendendo dois tabefes no rosto.
- Que papo é esse? Aconteceu mesmo? – Espanta Érikis, Marquim explica e Benito filosofa e poetiza.
- Isso é que molhar a mão do guarda. Uarrarrá!
- Aconteceu com meu amigo Luís Gonzáles nos seus tempos de “muchachito” no Uruguai. Hoje é um brasiguaio lá de Belzonte.
- Eu quero ir embora. Como diz Rita Lee “... o mundo cruel é tão chatinho”. Mas
gota
poesia
pinga
cabeça
nas
nuvens
- Legal! É do ebook Urdume, autor do cronto?
- Não! Urdume é bom, mas a Aldravia é minha.
- E aí, bando de vida mansa! – Cumprimenta-nos Carlos que chega duas cervejas atrasado.
- Vida mansa é ocê, viado. – Brinca Benito. – Fica fazendo ora no serviço e depois tem que ficar até depois da hora.
- Viram o estado da Biblioteca Pública? Está caindo aos pedaços. E tirando dois funcionários o resto não tá nem aí para o público. Até parecem querer que o prédio desabe mesmo.
Horrível! Lamentável! Vergonhoso! – Responderam respectivamente os amigos.
E um minuto de silêncio se fez.
- Eu fui à casa de Chrika e uma libélula estava presa no vão entre os dois vidros da janela da cozinha. Ela escutou o barulho das asas batendo, tirou-a de lá pra soltar. E eu olhando. – Diz Érikis. – A bichinha ainda ficou um tempo na mão, conferiu as asas, deu uma volta por todos os dedos e costas da mão e depois voou, pousou em mim. Então me aproximei da janela e ela se foi por este “mundo, mundo, vasto mundo”¹.
A cervejinha gelada, as mandiocas fritas, o bate-papo com amigos e o sol se pondo “botam a gente comovido como o diabo”¹.


Ofereço como presente de aniversario a:
Fernanda de Lima, Alessandra de Cássia, Katia Macedo, Susilene Justino, Edinaldo Felipe, Helena L. Lopes, Orlando Júnior, Luzmara Gonçalves, Eduardo A.M. Almeida, Lilian Ferreira, Breno Guerra, Matheus F. Xavier, Alex de Sá e Imperatriz B.W. Leite.
Em especial para minha irmã preferida, Mª Fátima W. Leite Macedo.

URDUME é um ebook de poesias para exorcizar lamentos de amor, raiva e dor exacerbada através de sentimentos apurados e de um posicionamento significativo no mundo.
Obra bilíngüe (português e espanhol) de Rubem Leite; publicada pela editora CÍRCULO DAS ARTES. Ilustração de Bruno Grossi. Revisão de Cida Pinho e Lilian Ferreira.

Escrito entre 15 de dezembro de 2013 e 17 de fevereiro de 2014.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

CARVALHO, Roberto de e LEE, Rita. Vírus do Amor. http://letras.mus.br/rita-lee/48521/ Acesso em 19 Dez. 2013.

¹ ANDRADE, Carlos Drummond de. Poema de Sete Faces.

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