segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

GRILO DE MÁRIO QUINTANA

Obax anafisa


Na pracinha da Estação Memória li o ebook Urdume, de Rubem Leite, até a hora de ser possível encontrar alguém interessante no Feirart. E lá:
Cabelos negros, lindos cacheados negros. Um fio branco, outro e mais outros brancos e negros enriquecem sua cabeça. Pequenas rugas contornam seus olhos escuros. “Para ser sincero não espero de você mais do que educação”. O canto de Pedra do Sol interrompe sem incomodar meus raciocínios no meio do domingo. Rosto branco, maquiagem simples, básica. Magra. Sorriso claro. O que não quer dizer verdadeiro. Riso raro. Menos quando quer algo. Para ser sincero espero de você capacidade de entender. Seios pequenos, firmes, um mamilo bonito, o outro não. Delta negro envolta sua ilha. Papo cabeça, pés que me fascinam, mãos que sabem o que fazer. Lábios que sabem o que dizer, verdades ou não.
Foi assim, olhando Fernanda que eu vi... que eu revi Diana. Do jeito que ela é em minhas memórias. Balancei a cabeça para me livrar do que não precisava. Conversando fizemos mútua pré seleção de um possível namoro. Sorrimos e talvez dê certo.
Ela se vai para algum lugar. Eu vou para outro, a Praça Primeiro de Maio. E meus olhos admiram a novidade quieta enquanto eu a atravesso.
- Benito! Que foi?
- Nada não. Como estão?
Meus amigos Bruno e Breno se aproximam e reatravessamos a praça. Paramos um momento olhando as folhagens, as árvores, o monumento.
- Está nervoso com algo...
- Não! Mas estou bem chateado.
- Senta e conta pra gente. – Fala Breno.
- Olho para eles e não vou falar nada.
- Nada não, obrigado!
- Então senta que vou te fazer um convite. – Diz-me Bruno – Posso?
- Sim, por favor!
Falam e não escuto nada.
- Cê vai?
- Onde?
- Não escutou nada do que dissemos?
- Não, desculpa.
- Desculpa, o carai.
- Calma, Breno. Façamos o seguinte. Depois a gente conversa. Pode ser, Benito?
- Sim, claro. Desculpe.
Não sabendo aonde ir não impeço meus pés de caminharem a esmo. Sento um momento no banco da pracícula do Banco do Brasil para olhar as folhagens no canteiro circular que atualmente são vermelhas e roxas; mais algumas verdes de flores vermelhas e roxas. Mas o sol me incomoda, então saio e no canteiro descendo o morrinho perto da escola Adventista, indo para o rio, eu dou por mim. Sento-me sob a sombra da árvore de flores rosas, encosto-me em seu tronco, saco um livro¹ da bolsa que carrego e leio algo de Goretti de Freitas.
leitura          lectura
sentida          sentida
sentidos          sentidos
aguça          afila
acorda          despierta
palavra          palavra

arvoredo          arboleda
aldravia          aldravia
sombra          sombra
amplia          amplía
alcançando         alcanzando
mundo          mundo
À sombra de uma árvore de flores rosas, fecho os olhos, adormeço e sonho. Sou um grilo.


Ofereço como presente de aniversario a:
Emília Pereira, Paulinho Manacá, Albino de la Puente, Luciano Soares Brska, Wellington P. Santos, Tadeu Vilalba, Ana Mª Guerra, Rodrigo M.C. Silva (Capa), Marivalda Lima, Claudina Abrantes, Rodolfo Bello, Saulo Almeida, Franscileine Torosca Silvestre e Zé Mário Pimental.

URDUME é um ebook de poesias para exorcizar lamentos de amor, raiva e dor exacerbada através de sentimentos apurados e de um posicionamento significativo no mundo.
Obra bilíngüe (português e espanhol) de Rubem Leite; publicada pela editora CÍRCULO DAS ARTES. Ilustração de Bruno Grossi. Revisão de Cida Pinho e Lilian Ferreira.

¹ LEAL, Andreia Donadon; BICALHO, Gabriel; FERREIRA, J.S.; LEAL, J.B. Donadon. O Livro II das Aldravias. Mariana: Aldrava Letras e Artes, 2013. Aldravias de Goretti de Freitas.

Escrito entre 15 de dezembro de 2013 e 10 de fevereiro de 2014.


Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

Um comentário:

Rodrigo M. Freire disse...

Captado com sensibilidade um momento, ele nos fisga!