Obax anafisa.
In memorian Manoel de Barros.
Brasil era
roubado e explorado por Portugal, mas ai o povo brasileiro lutou por sua
independência e provou que consegue se roubar sozinho. Seria cômico, se não
fosse verdade.
Paulo
Bonfá.
Uma manhã em uma praça.
Debaixo de uma árvore, olhando os canteiros floridos, pensando. Chega um cidadão
e falamos sobre falos, falas e viragos. Até que lhe pergunto:
- Oi! Vamos à Feira do
Livro?
- Fazer o quê?
- Ver, comprar, ler...
- Pra quê?
- Pelo prazer de le...
- Pra que vou
desperdiçar dinheiro com livro? Papel por papel vale mais o higiênico. Se é pra
gastar que seja com o mais útil. Melhor que comprar livro é comprar papel
higiênico.
- Realmente! Para quê?
O que sua cabeça produz se distribui pelo fiofó.
À sombra de uma árvore
olho os canteiros floridos. Penso enquanto o cidadão se vai e me chega outro. E
nossa fala é sobre viragos, falos e falácias. Até que muda de tema e me pergunta:
- Oi, Benito, tudo bem?
- Sim, graças a Deus.
Estudando muito, trabalhando bastante, lendo igualmente. Rerrê. E você, tudo
firme e forte?
- Tô nada! Sei lá... Cada
dia minha vida tá de um jeito.
- Cara! Profunda e
sinceramente torço para que não perca a consistência. Que avance resoluto; não
importando as pedras do caminho, que você vá e vença!
- Também quero isso
mais não tá fácil. Tem horas que penso em desistir de tudo.
- Conhece o “Poeminha
do Contra”, de Mário Quintana? Pense sempre nesse poema: “Todos estes que aí
estão atravancando meu caminho. Eles passarão, eu passarinho”. Assim, entendo
sua vontade porque às vezes, e não são poucas, tenho o mesmo desejo. Mas
persisto porque não vou dar a ninguém o direito sobre minha vida e, mais
importante, porque eu sou filho de Deus.
- Ah... Se fosse fácil
assim.
- Veja o blog do Rubem Leite
e leia “Lua Inquieta” e “Poemas Para”.
- Ah se fosse fácil
assim. Agora, vou indo. Abraços!
- Rerrê. Coragem, cara!
Coragem
- Vou tentar. Se não me
ver mais aqui é porque desisti de viver até um dia. Beijos...
- Espero que persevere.
Para um dia de beleza e de harmonia, ouça Bachianas Brasileiras número 5.
- Vou tentar, cara. Vou
tentar.
Ele se vai sem si e eu
fico olhando a praça. Uma borboleta branca e preta pousa numa flor. Outra
amarela voa por mim e não sei porquê crio em inglês e canto:
Butterfly sings in air
Men shout in clod
My heart tries to be fair
My eyes are in cloud.
- Senhor! Compra um
lanche pra mim?
Olho para o andrajo ao
sol e vejo sua mão estendida para um terno à sombra.
- Quer comer? Vá
roubar! Que é o que vocês fazem.
O andrajo perde a voz e
o terno se vai.
- Quer um lanche? Vamos
àquele bar.
Seu sorriso me segue
até eu diminuir meu ritmo para ficarmos lado a lado. Conta-me de onde é, diz por
que está aqui e me fala de sua esposa e filhinho. Mas não quero conversar e
saber sua história; real ou falsa. Só não me interessa que ele tenha o que
nunca tive. Fome.
Ofereço
aos aniversariantes
Chicão
Fidideus, Andreia Lima, Daniel S. Morais, Savio Tarso, Nary Farias, João V.
Barros, Helon Tavares.
Ofereço
ao Grupo Pagojean, Livro Etc. e Hibridus Dança.
Lua Inquieta e Poemas
Para:
Aproveito
para convidar a ler também:
Poema
para Manuel de Barros (em ocasião de seu encontro com as estrelas), de Thiago
Domingos
Não
é só uma carta de amor, de Karine Danielly
Em
banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas
flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.
Escrito
entre os dias 23 de abril e 17 de novembro de 2014.
2 comentários:
Arrasou amigo Rubem Leite. Sou fan...
Eita mundo malvado, não, Rubem? Na mosca!
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