Obax nafisa.
If you desire
to hear someone, just hear the birds!
Todos os dias, às cinco horas da
manhã, ou um pouco antes ou depois, na segunda árvore à direita na avenida sem
casas, indústrias ou lojas que passa entre o bairro Novo Cruzeiro e o
kartódromo, um passarinho. Seu canto não é o mais bonito que meus ouvidos
escutaram, mas encanta até os cantos mais remotos de me coração.
Hoje, porém, ele não cantou.
Estaquei-me! Não como das outras
vezes que apenas paro, sutilmente, por alguns segundos para ouvi-lo. Mas de
espanto triste. Olhei para a copa da árvore e como sempre não consegui vê-lo,
mas também não o escutei como das outras vezes. Com esperança e temor falei
- Oi! Você está aí? Que aconteceu?
E nada. Som, só da Indústria.
- Tá com preguicinha? Onde você está?
- Piu. Piu...
Sorri enquanto ele, imagino, esticou
as asinhas e alongou o corpinho. Em seguida se pôs a cantar longa e
barulhentamente. Seu canto não é o mais bonito, más como é formoso. O mais
lindo para meu coração.
E o dia prossegue e na biblioteca
pública:
- Bom dia! Pode me explicar como está
a organização dos livros agora?
- Muito simples. Existe uma tabela
numérica. Basta você conhecê-la de cor e salteado. Então, de acordo com a
primeira letra do sobrenome do autor, o gênero literário e outros dados você
fica sabendo onde está a obra procurada.
- Não acho simples não.
- Como não? Você nunca esteve na
universidade?
- Esto...
- Então! Qualquer um que já fez ou
está cursando universidade é obrigado a saber isso.
- Não sabemos assim. Estudamos
segundo as normas bibliográficas; não por esses códigos.
- Não acredito. Quem está na
universidade necessita saber tudo.
- Huuum. Estou com dor no joelho. O
que tenho e qual remédio devo tomar?
- Heim? Sei essas coisas não.
- Uai! Não acabou de dizer que temos
que conhecer tudo?
- Coisas ligadas ao curso.
- Ah! Agora o discurso é outro. Pois
bem. Faço Letras e você é bibliotecônoma. Quem foi a primeira pessoa a escrever
e publicar um dicionário em língua portuguesa?
- Como vou saber?
- Uai! Você não é a bibliotecônoma
dona de todos os saberes? Foi o brasileiro Antônio de Morais e Silva residente
em Portugal no ano de 1813.
- Antes, quando aqui não havia
bibliotecônoma, qualquer regra de catalogação servia. Mas agora que estou aqui
tenho que seguir as normas vigentes no país.
- Então antes era melhor.
- Olha que mando te autuar por
infligir o artigo 331...
- Infringir, não infligir.
- ... Por infringir o código de
desacato ao servidor público.
- Falta de argumento resulta em
ameaças. Chama! Vai ser bom porque vou investir na sua demissão.
Ela não chamou. E o dia prosseguiu e
se substituiu pela noite. E na manhã seguinte ouvirei os pássaros. Se é para
dar ouvidos a alguém que sejam os pássaros.
Ofereço aos aniversariantes
Patrícia Dias, Denise
Oliveira, Aline Nunes, Maíto Quintela, Antonio Pirralho, Roniara Domingues, Vera
H.S. Rossi, Magali Santos (Linda), Louise Santanaa, Carla Santos, Lúcio Braga, Luiz
Felipe, Pedro Paullo, Leopoldo Comitti e Rosane Dias.
No Mato
Grosso do Sul igrejas cristãs incendeiam templos indígenas. Na Síria criança
levanta as mãos em sinal de rendição quando um fotógrafo lhe aponta uma máquina
fotográfica. E eu, o que faço? Resisto escrevendo.
Recomendo a
leitura de
De Quando
Pranteei por Aquela Flor, de Ely Monteiro; e A Herberto Helder, de Márcio
Simões; respectivamente:
Em banto,
obax nafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para
você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.
Escrito entre 03 de junho de
2014 e 30 de março de 2015.
2 comentários:
Texto inteligente. Humor sarcástico. Muito bom amigo Rubem Leite. Parabéns.
Esse é o Rubem. Ali, bate leve. Precisa de sutileza pra saber que apanhou. Amei.
Postar um comentário