Leitura do cronto pelo autor:
Ele sai de casa refletindo sobre sua mãe: “Trinta de
abril... Dia Nacional da Mulher. Minha mãe, grande trabalhadora, grande
batalhadora, merece o melhor; somente o melhor. E nenhum direito a menos ao
trabalhador...”. Enquanto anda pelas ruas do Areal muda aos poucos de
pensamento. Não se importa se a Prefeitura decidiu anexá-lo ao Imbaúbas. Ele
ainda sente amor ao pequeno bairro para onde foi ainda na barriga da mãe.
Orgulha-se dos nomes pátrios de suas ruas. Gosta de saber que o nome do bairro –
insiste em afirmar: bairro! – vem das areias retiradas do Rio Piracicaba e que
ali eram depositadas. Areal. A-RE-AL. Se encanta com a sonoridade da palavr...
De repente para e olha ao redor. “Estranho... O tempo
está enevoado. Nunca vi nevoa assim”. Pensa enquanto anda até a casa de um
vizinho que planta verduras e prepara temperos variados. Tudo para vender. Toca
a campainha, entra quando convidado.
- O que pretende fazer em casa?
Pergunta para saber o que oferecer ao vizinho cliente.
E este pensa nas carnes recém guardadas em casa:
- Vou fazer o lombo. Tô com vontade de comer com
feijão tropeiro.
O vizinho pega os ingredientes no quintal, leva para
perto de um aparelho eletrônico recém-comprado e, enquanto prepara os temperos para
a carne, fala sobre a máquina.
- Esta menina é uma maravilha. A gente coloca tudo
aqui – aponta para a parte de cima de um aparelho que parece uma geladeira –,
aperta aqui – pressiona uns botões – e... “voalá”. A máquina faz uns barulhos e
junta harmoniosamente a farinha, os ovos, a couve e o torresmo ao feijão.
Ele vai para casa preparar a refeição. Quando chega
vê que sua mãe retornara da casa da irmã onde passara a noite. Estava nervosa,
procurando o marido que, mais uma vez, lhe batera ontem.
- Fica sossegada, mãe. Que tá tudo bem. Ele “taqui”.
Abre o congelador horizontal e aponta para a cabeça
do pai, separada do resto do corpo, também em pedaços. Tudo pronto para uma
lauta refeição.
La fora o brilho do sol mal atravessa a estranha
névoa.
Ofereço aos aniversariantes
Ana Mª Andrade, Neia Teixeira, Deusdeth J. Amorim, Fernando
Viana, Cristianne de Sá, Patrícia P. Cruz, Carol Galdino, Mariana Porto, Maria
M. Guimarães, Tatiane Pereira, Juliano Fernandes, Renatho Portinelly, Tatiane
Melo, Vera L. Buzo, Newton Leite e Diogo Henrix.
Recomendo a leitura de “Simples Assim”, de Girvany; “Utopia”,
de Xúnior Matraga; “Grito”, de Bispo Filho; “Em Meio ao Caos”, de Sued; e “Mesóclises
e Outras Presunções”, deste macróbio que vos fala. Respectivamente:
Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve e
publica neste seu blog literário aRTISTA aRTEIRO todo domingo e colabora no Ad
Substantiam às quintas-feiras. É
professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português.
É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na
Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e
Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso
Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura
Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da
Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de
Leitura”. É Mestrando em Educação pela Universidad Europea del Atlántico. É,
por segunda gestão, Secretário da ASSABI – Associação de Amigos da Biblioteca
Pública Zumbi dos Palmares (Ipatinga MG). Foi, por duas gestões, Conselheiro
Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Sobre o bairro Areal:
Escrito partindo de um sonho na madrugada de 09 de novembro
de 2016. E trabalhado no dias 15 de janeiro e 28 a 30 de abril de 2017.
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