O ensino Não é “venda parcelada” de conhecimentos.
Quem recebe aprendizagem precisa ter a postura mental de devoção ao estudo e
cultivar o sentimento de respeito à pessoa que transmite o ensinamento.¹
¿De dónde vino esa historia
llamada “realidad”? Ha venido de doña Olinda que no tiene fama para contarla.
Where did that story called “reality” come from? It came from Miss. Olinda, who has no fame to tell it.
Where did that story called “reality” come from? It came from Miss. Olinda, who has no fame to tell it.
Várias árvores – oiti, goiabeira, sibipiruna, ipê, pata-de-vaca – verdejam e floreiam o pátio da escola. À porta da sala as admira como se rezasse a pedir proteção e entra. Começa e continua a última aula enquanto muitos – quase todos – alunos buscam coisas no celular ou conversam entre si.
- O til é um sinal diacrítico...
- Que é isso, professor?
- É o nome dos sinais gráficos; ou seja, o nome dos
sinais de acento e de outros sinais que, digamos, mudam o som de uma letra.
A sorrir pela aluna, o professor olha para a
goiabeira no pátio, à frente da porta, antes de voltar ao assunto:
- Pois bem, Luma, o til é um sinal diacrítico que se
coloca por cima de uma única vogal; indicando que ela deve ser lida nasalmente.
Est...
- O que é “nasalmente”, professor?
- Nasal, Pedro, é pelo nariz. Pois bem, esta vogal
pode ser “-a” ou “-o”. E o til nunca fica por cima das duas ao mesmo tempo e
nem entre elas. Ou é por cima de uma ou de outra. Por exemplo – escreve no
quadro:
“Cão, coração, corações, põe, mã...”.
- NÃÃÃÃÃÃO!
Grita uma aluna ao perder no jogo do celular. O
professor suspira olhando pela janela um oiti e continua:
- Cedilha é outro sinal diacrítico. Hoje ele tem a
forma de um pequeno “C” ao contrário e muita gente pensa que seu nome “cedilha”
vem por causa da letra “C” onde ela é usada. Todavia, ela vem do espanhol
“zetilla” que quer dizer “pequeña
‘zeta’.” Quer dizer, pequeno z.
- Por quê, professor?
- É que os bons escribas espanhóis faziam a parte
superior da letra “Z” tão curvada, fazendo o resto parecer um penduricalho; ficou a cara de uma “ᴐ”. Mas como eu dizia, “Ç” indica
que o “-C” deve ser lido como o som de “-ss”: Criança, aliança, corações,
açougue, açu, cupuaçu.
- Pode ser antes de qualquer vogal, professor?
- Não, Luma. – Falando para a turma: Viram pelos exemplos que somente
antes das vogais “a, o, u” se usa o “Ç”?
- Sim! – Responderam ela e Pedro enquanto o resto continuava no celular
ou conversando entre si. E o professor explica para os dois:
- Vejam bem! – Escreve no quadro:
Ca, ce, ci, co, cu.
- Quais são os sons dessas sílabas?
- ka, sse, ssi, ko, ku...
- Cu! Vai toma no cu! – “Brincam” dois alunos
enquanto o resto ri.
- As vogais “-e, -i” já dão o som “ss”: cinco,
cenoura, doce; então não precisam da cedilha. Já as demais vogais precisam.
Para gravarem bem, quais vogais precisam acrescentar cedilha à letra “-C”?
- A, o, u!
- Exato, Pedro! Agora eu...
- Professor! – Um dos “brincalhões” me interrompe e
pergunta:
- Fiquei de recorreco²?
Olhando a goiabeira pensa por alguns segundos e
responde...
A aula termina, a manhã termina e o professor vai ao
banco negociar a dívida criada porque o Estado não paga devidamente aos
professores; profissão não prioritária segundo as palavras do Governador
Pimentil.
Cansado de e por muitos alunos. Cansado pela
negociação com o banco. Cansado pelos afazeres. Cansado pela sociedade desejosa
de retrocessos sociais. Esgotado deita cedo e dorme.
E sonha.
Na calçada do outro lado da rua, mas em frente ao seu
apartamento, uma goiabeirinha insiste em não morrer. Resiliente ela lhe diz: De onde veio essa história chamada de “realidade”?
Veio de dona Olinda que não tem fama para contá-la.
Ofereço como presente aos aniversariantes Mário Jofest, Agustina
Méndez Vargas e Gedeón Oliveira.
Recomendo a leitura de:
“Além das estrelas”, de Bispo Filho:
“La China
Morena, de la Morenada del Carnaval de Oruro. Los gays y travestis”, de Javier
Villanueva:
“Quanto mais palavras menos cérebro”, deste macróbio que
vos fala:
“Longe de tudo”, de António MR Martins:
¹ TANIGUCHI, Masaharu. Princípio
Básico da Felicidade. São Paulo: Seicho-No-Ie do Brasil, 2012. P. 54.
² “Recorreco” é um termo popular, comum em certas
comunidades, para se referir a recuperação; uma maneira de ‘adquirir’ nota
escola para poder avançar de ano estudantil.
Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve e
publica neste seu blog literário aRTISTA aRTEIRO todo domingo e colabora no Ad
Substantiam às quintas-feiras. É
professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. E em breve também
professor de História. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em
“Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”,
“Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor
dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”,
“Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua
Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do
Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões,
Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Imagens:
De los
nadie viene la realidad (fotos da goiabeirinha) – pelo autor – Rua Uberaba, Centro de Ipatinga – 23/9/2018.
Dinossauro Datilógrafo – Foto do autor – Fotógrafo
ignorado. Piquenique Dramatizado, 2015.
Manuscrito na tarde de 18 de julho de 2017; trabalhado pela
primeira vez em 22 de dezembro do mesmo ano e depois no ano de 2018 entre os
dias 26 de fevereiro e 03 de março e por fim entre 21 e 23 de setembro.
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