domingo, 28 de abril de 2019

FAZER POESIA DA VERDADE NUA



Feliz aniversário, Ipatinga! Amo-te!
E espero que consiga sair viva da cova que cavastes.
Para isso, aja: “Não trocarei minha dignidade por minha liberdade”. (Lula, 26/4/19).


Névoa? Líquido? A atmosfera do sonho é algo que não sei nomear. Pelo menos os dos meus sonhos e este em especial.
Leio em chinês – língua que desconheço – uma frase. Modifico sua poesia e faço a aldravia:
permeio
encanto
fino
entre
as
escritas
Do sonho me despertam meus cães para que os deixe sair. Após o esforço e sem vontade saio da cama sem ainda ver o sol alienado ao horário de verão. Horário este que o senhor Presidente Boçalnato decretou a morte. Quem diria que alguma coisa quase boa ele faria... Mas como dizia, decretou a morte, não o fim do horário de verão, pois dele só o extermínio...
Depois do banheiro a padaria. Na rua, alaranjadas nuvens de sol cobrem com falhas o horizonte ainda suavemente escuro. Emoção instantânea.
- Psiu! Psiu! Oi! Psiu! Oi! Psiu! Psiu!
A paralela avenida que leva ao Pq. Ipanema está às escuras; não sei a causa. Nela um vulto me chama. Queria ignorar, mas talvez seja alguém que me importa.
- Psiu! Psiu! Oi! – Pisca o isqueiro várias vezes. – Oi! Psiu! Psiu!
Espero até o vulto tomar forma. Homem alterado não sei por qual substância.
- Do que você gosta?
Conheço os possíveis significados, mas me faço de ingênuo.
- Dos meus cães.
- Só dos cães? – Uns segundos de pausa. – E de meter?
Rosto bonito, corpo interessante, mente ruim.
- Não, obrigado!
Dou as costas para as nuvens de luz e para o homem a ignorá-las.



- Você é muito pudico, Benito. – Ouço do ar.

Em casa, tomando café, ouço pedaços da entrevista do ex-Presidente Lula. Tanto ele disse.
“Obsessão de juntar um trilhão à custa dos aposentados... Para juntar um trilhão coloque o povo no orçamento da união, gere emprego, gere crédito para as pessoas; tire todos os ‘penduricalhos’ e o povo paga apenas o principal no banco. Aí as pessoas voltam a poder comprar. Um pais que não gera emprego, não gera salário, não gera consumo, não gera renda!?! Quer pegar do aposentado e do velhinho um trilhão?!?”.
“Quando sair daqui estarei com o pé na estrada pra junto com esse povo levantar a cabeça e não deixar entregar o Brasil aos americanos; acabar com esse complexo de vira-lata.  Nunca vi um presidente bater continência para bandeira americana. Nunca vi um presidente ficar dizendo ‘eu amo os Estados Unidos’. Ame a sua mãe, ame o seu país. Alguém acha que os Estados Unidos vai favorecer o Brasil? Americano pensa em americano em primeiro lugar, pensa em americano em segunda lugar, pensa em americano em terceiro lugar, pensa em americano em quinto e se sobrar tempo pensa em americano. E fica os lacaio brasileiro achando que os americanos vão fazer alguma coisa por nós. Quem tem que fazer alguma coisa por nós somos nós. Acabar com o complexo de vira-lata, levantar a cabeça. A solução dos problemas do Brasil está dentro do Brasil.”.
Entretanto, a única coisa que Boçalnato replicou, de tudo que o Lula falou, foi justamente a mais irrelevante.
“O que não pode é esse país estar governado por esse bando de maluco. O país não merece isso e, sobretudo, o povo não merece isso.”, disse Lula. E a resposta: “Pelo menos não é um bando de cachaceiro. O Lula, primeiro, não deveria falar. Ele falou besteira.”.
Termino o café e converso com o autor.
- A população deveria ser resistência e não apenas repetir esse refrão – “Somos resistência”. Lutar contra uma versão tupiniquim de algum nazifascismo ou uma versão aprimorada e piorada da Ditadura de 1964 a 1985.
- Você e eu somos insignificantes e, por isso, invisíveis. Então talvez a nossa resistência pouco valha...
- Mas ainda assim lutamos. Não só passivamente resistindo, mas ativamente a lutar.
- Duas pessoas apenas o mundo não vê, mas uma multidão...

Saímos para a rua e a cada rosto que olhamos a gente vê o cotidiano alheamento popular. Os brasileiros parecem narcotizados; envoltos em alguma atmosfera inominável. Há que descobrir o que se desconhece e fazer poesia da verdade nua.


Ofereço como presente aos aniversariantes:
José C. Neto, Térsio Greguol, Deusdeth J. Amorim e Mariana Porto.

Recomendo a leitura de:
“Moderação Carnal”, de António MR Martins:

Sobre o discurso do ex-Presidente Lula:

 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Imagens:
Nuvens do amanhecer – foto do autor.
Rubem – foto de Vinícius Siman.

Manuscrito e digitado na manhã de 18 de janeiro de 2019; trabalhado entre os dias 16 e 28 de abril do mesmo ano.

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