domingo, 12 de janeiro de 2020

O QUE DÓI



- A gente não devia, mas se acostuma a tudo. Outro dia li um conto de Giovani Martins¹ que dizia algo parecido. Que a gente se acostuma com cada coisa de dar medo que dó pelos outros é algo que não dura muito. – Girvany de Morais pega seu copo de cerveja para beber um pouco e aproveita para olhar peitos que passam. Acompanho seu olhar e também gosto do que vemos. Já Gabriel Miguel prefere olhar as bundas. – Essa madrugada mesmo. Tinha umas noiadas gritando tanto. Uma xingava a outra. Todas a pedir pedra. Por pouco não senti dó. Virei na cama e quase dormi. Fiquei olhando o escuro para ver se via algo. Quando estava quase dormindo quase vi a escuridão.
- Tal vez la manera de no se aconstubrar sea el movimiento del pensar. Fala Pablo²Quiero decir: el movimiento del pensar es utilizarse del abstracto para irse a las partes del todo y al concreto. Así se puede ver las personas en la situación donde está.
- Pois é… Acho que é… Não sei se entendi direito. – Gabriel reflete – Só se pode entender alguém observando a sua vida?
- La realidad de uno solo es posible ser conocida al conocer esto uno. Así, la realidad objetiva no cambia al variar su percepción. Sin embargo, la realidad de esa situación no se pierde.
- O poeta Vinícius Siman diz que esta vida é como uma xícara de chá e se lhe perguntam o porquê ele responde dando de ombros: “então não é”. Acho parecidas a sua fala e a do Siman. – Gabriel retorna a falar. Mesmo quando se cala o silêncio ainda foge de tanto barulho no local. Ficamos a ouvir a música, a beber e a pensar.
Mas como dói pensar.




¹ MARTINS, Giovani. A história do periquito e do macaco. O Sol na Cabeça. São Paulo: Companhia das Letras. 2018.
² FREIRE, Paulo. Pedagogía del Oprimido. [Trad. Jorge Mellando]. 3ª ed. Buenos Ayres: Siglo Veintiuno Editores Argentina, 2000. P. 121.

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.
É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes.
É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”.
Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”.
Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Imagens:
Ipê - foto do autor.
Autor - foto do autor.

Manuscrito em 11 de junho de 2019; trabalhado no dia 11 de janeiro de 2020 e concluído no dia seguinte.

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