sábado, 14 de novembro de 2020

NÃO SEI COMO VIVER

  

En un charco de agua en la acera un hombre se lava las manos, se lava la cara, bebe el agua.

 

Tal vez hasta me amen, pero no creo que me quieran y no espero eso. Más, sé que soy visto como embaucado por casi la totalidad de las personas. Sé que muchos que vivieron en mi casa solo desfrutaban de las comodidades.

De todos los que vinieron y de todos los que todavía vendrán me es indiferente los sentimientos de ellos por mí y los recibo por fraternidad; más, es porque son artistas callejeros. Esa es la verdad. Los quiero sin buscar reciprocidad.

Acepto las diferencias de costumbres, ideas y comportamientos. Sin embargo, se son dañosos los tiro a la calle.

El deseo de este tonto es colaborar con las artes callejeras. También con los artistas; pero más que a los artistas apoyo a las artes. Pero nunca me olvido que solo existen artes por causa de los Artistas que la producen; por eso recibo y valorizo los artistas. Mismo que mi cara parezca a de un necio.

 

Un adicto me pide para fritar un paquete de chorizo. Lo frité. El olor era nauseabundo. Le di al tipo y no sé se hice mal o bien. La comida estaba podrida pero el tipo estaba hambriento. ¡Hambriento! No era apetito. No sé qué es hambre, sino el apetito sin esperanza. Qué es peor, ¿dar aquella comida o dejarlo con hambre? No consigo elegir cuál de mis acciones sería mejor: recusar o hacerlo.

 


Dentro do ônibus em Coronel Fabriciano vejo uma poça d’água na calçada. Nela um homem lava as mãos, lava o rosto e bebe sua água.

Durante o caminho até Ipatinga penso e repenso:

Não acredito que me amem e não espero isso. Mais, sei que sou visto como otário por quase a totalidade das pessoas. Sei que muitos que viveram em minha casa apenas se aproveitaram das comodidades. É-me indiferente os sentimentos deles por mim e os recebo por fraternidade e por serem artistas de rua. Gosto deles e não busco reciprocidade. Aceito as diferenças de costumes, ideias e comportamentos. Mas se são perniciosos os retiro de casa.

Este tolo só quer colaborar com as artes de rua. Também com os artistas; mas mais do que aos artistas apoio às artes. Contudo, nunca me esqueço que só existem artes por causa dos Artistas que as produzem; por isso recebo e valorizo os artistas. Mesmo que minha face pareça de um bobo.

Ao colocar a chave no portão de minha casa um usuário de crack me pediu para fritar um pacote de linguiça. Olhei para aquele pacote com uma cor horrorosa, um cheiro... Desinteressante.

Fritei a linguiça.

Meu Deus! O cheiro era insuportável; três vezes tive que ir ao banheiro para tentar vomitar. Vomitar é muito difícil para mim. Como minha garganta é estreita é muito difícil regurgitar. Além de ser uma agonia insuportável porque não consigo respirar.

A linguiça foi frita.

Levei para a pessoa. Não consigo atinar se fiz mal ou se fiz bem. Porque aquela comida estava podre, mas uma pessoa que está faminta... Faminta! Não é apetite... Nunca passei fome; não sei o que é fome.

Já fiz jejum! Mas jejum... em poucas horas se encerra. E mesmo se quiser pode-se burlá-la. Mas fome é apetite sem esperança.

Seria pior dá-lhe aquela comida que não podia estar boa em hipótese alguma ou deixa-lo com fome? Não consigo decidir o que teria sido pior. Se minha ação teria sido melhor recusando ou se foi pior fazendo.

Não consegui almoçar.

Soaram palmas no momento que peguei “Onde Aqui Rebentamos”, de Willian Delarte¹. Com o livro na destra fui ver quem me chamara. Sorrindo abri a porta e na sala-cozinha conversamos bebendo cerveja. Após as amenidades ele me diz:

- Lembro de lhe falar um dia de minha admiração pela sua escrita e sua produtividade. Confesso que não dou conta de acompanhar todo seu processo de escrita. Algumas vezes por ser muito efusiva e outras pelas muitas coisas que estou lendo e fazendo. Mas sempre que posso leio um pouco do que você produz.

Não digo nada além de levantar meu copo como num brinde e beber um gole da cerveja. E ele retoma a palavra:

- Admiro sua hospitalidade e o cuidado que tem com tantos... Praticamente estranhos em sua casa. Admiro sua generosidade. Admiro sua escrita.

- Agrada-me muito, muito mesmo, que goste do que escrevo. Quanto às pessoas que moram ou hospedam aqui não vejo generosidade alguma. Estou sendo sincero; sem nenhuma humildade, seja ela verdadeira ou falsa. Eles estão aqui porque é a forma que tenho de apoiar a arte. Para mim a arte é mais importante que o artista. Mas só existe arte porque tem artista. Então, recebendo-os estou apoiando as artes. É isso e não uma generosidade. É uma forma de colaborar com a melhoria do mundo. Não é generosidade, é divulgação da arte, ampliação da cultura. A arte e a educação são essenciais para mim. Acho que por isso trabalho com essas duas áreas: professor e artista, pois ambas são fragmentos da cultura.

Paro um pouco de falar, ambos bebemos um gole e retomo a palavra.

Minha arte é através da literatura; que apesar de serem consideradas diferentes... Dizem: “Arte é uma coisa e literatura é outra”. Mas a base das duas é o poiesis; aquilo que modifica a alma, que nos mexe. Então não vejo generosidade alguma; vejo apenas atuação! Talvez fraterna e solidária, mas não bondade e menos ainda caridade. Detesto esta palavra: caridade. Todos que dela se valem nada mais sentem que vaidade.

Minha boca silencia um pouco para nossos olhares dialogarem. Cantarolo um trecho de Sonífera Ilha “descansa meus olhos, sossega minha boca.²” e continuo:

- Vejo apenas atuação para que a arte avance e as pessoas prosperem na educação e com a literatura. É isso que trabalho.

Levanto-me da cadeira e vou a uma de minhas estantes. Pego o livro Memórias do Cárcere, busco um trecho sublinhado e o leio quando encontro:

“... emburrando as crianças. O emburramento era necessário. Sem ele, como se poderiam aguentar políticos safados e generais analfabetos”.

- Por isso escrevo e leciono. Para que não precisemos aguentar políticos safados. Amanhã será eleição municipal. E o que o povo ipatinguense escolherá? A esquerda em uma dessas pessoas: Robinson Ayres pelo número 50, Diego Arthur, pelo 21 ou João Magno, pelo 13; um desses para prefeito? Maura Gerbi, Lene Teixeira e Daniel Cristiano para vereadores?

Pego um pequeno cacho de uvas na mesinha onde estamos e entre uma e outra digo:

- Ou escolherá a direita em candidatos dos partidos apoiadores do Boçalnato, que apoiaram o fim dos direitos trabalhistas, a privatização das águas e outras mazelas: Podemos (19), Patriotas (51), PSL (17), PSDB (45), PTB (14), PSC (20), Cidadania (23), MDB (15), DEM (25), PL (22), PSD (55), Novo (30) ou PP (11)?

- A esquerda é povo. A direita é antipovo. E quem diz isso não sou eu; é a história, os fatos.

Cada um pegou um pedaço de queijo para fazer algo enquanto pensa.

- Benito, quando falo em hospitalidade e cuidado com os artistas e com as artes isso você tem. Abrir sua casa e comprometer sua liberdade, sua intimidade. Tenho uma certa hospitalidade, mas prezo demais meu espaço. Quando falo de generosidade digo cuidar do mundo, das pessoas, da arte. Você diz que não é humilde, mas tem a essência dos poetas e dos místicos. Coisas que, enquanto psicólogo, sempre estudei.

O portão se abre e pela escada sobem os outros moradores calando nossos assuntos. A conversa agora é sobre o dia que tiveram.

 

 

Ofereço como presente a aniversariante Reny Aparecida,

 

Recomendo a leitura de:

“Homenzinho”, de Glaussim:

https://www.recantodasletras.com.br/poesias-do-social/7109500?fbclid=IwAR3BHHu8Pz5g8cC2ABE_ST4Rb_Ie_TYYUBUBVjPDBIjPBBx0VjqCiYnSN10

 

¹ Mais informações sobre como adquirir o livro: https://www.facebook.com/wdelarte

² Titãs: https://www.youtube.com/watch?v=T4zkb05tkms

 

Escrito entre doze e quinze de novembro de 2020.

6 comentários:

Ana Glaicy disse...

Falta no mundo pessoas sensíveis e empáticas como você. Beijos!

Ana Glaicy disse...

Falta no mundo pessoas sensíveis e empáticas como você. Beijos!

Ana Glaicy disse...

Falta no mundo pessoas sensíveis e empáticas como você. Beijos!

Glaussim disse...

Saber viver e viver sabendo são coisas diferentes. A primeira está ligada a escolhas na vida. Escolhas não são estáticas e as vezes geram efeitos colaterais. Viver sabendo é muito parecido com validação de conhecimento. Obrigado pelo convite. Excelente dia!

Josiane Hungria disse...

Texto impecável e impactante...cheio de sensibilidade...grata pelo convite! "Resistirmos, a que será que se destina...

MM disse...

Uma pessoa humilde,empatica como você sensível com tanto amor nós precisamos muito!!OBRIGADO y ABENÇOES!!!