quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Onde vamos...?

Você nunca ouviu falar da mulher do algodão, quando você estudava na escola primária?
Toda vez que a gente pedia a Tia para ir ao banheiro, ainda mais se fôssemos sozinhos, os colegas nos assustavam: "cuidado com a mulher do algodão!".
Acho que era a Velha do Algodão. Uma mulher morta, talvez com algodão nas narinas, que dizem aparecia nos banheiros e fazia os moleques mijar de medo.

Era puro terror!

Será que a lenda da mulher do algodão não existe mais nas escolas públicas?

Deus..., onde vamos parar sem lendas e sem medos, sem pique-esconde, sem amarelinha, sem andoleta e "caí no poço"?

Salve,

Carlos Peixoto

terça-feira, 9 de setembro de 2008

aRTISTA e aRTEIRO

Rubem Leite – 05 a 09 de setembro de 2008

arterubemleite@gmail.com


“De repente – não, não de repente, nada é de repente nela, tudo parece uma continuação do silêncio”.

“E meus dedos não são frágeis. Eu tenho uma força, eu sei. E minha força está na suavidade de meus dedos frágeis e delicados”.

“Há um grande silêncio dentro de mim. E esse silêncio tem sido a fonte de minhas palavras. E do silêncio tem vindo o que é mais precioso que tudo: o próprio silêncio”.
(Clarice Lispector – A Descoberta do Mundo – Editora Rocco)


Benito. Ingênuo Benito. Que quer ser artista. Que pensar ser poeta.
Com sua mochilinha de lado, roupas largas, cabelos grandes, barba.
Olhando. Vendo. Escutando. Ouvindo. Pensando. Sentindo. Sentindo. Sente indo.
Lendo, Escrevendo. Escrevendo. Lendo. Escrevendo. Escrevendo. Lendo.

- Você gosta de poesia?
- Gosto!
- Para que serve a poesia?
- ...
- Vai encher sua barriga? Pagar suas contas?
- Ah, não!
- Daí se percebe o quanto ela é inútil.
- Ah, não!
- Como não?
- ...

Na conversa entre o intelectolóide e o vigia da faculdade chega o nosso Benito.

- Concordo que a poesia é inútil.
- Você concorda Benito?
- Sim, Uálassi. Concordo. E digo mais. Nenhuma arte é útil. Todas as manifestações artísticas são inúteis.
- Também as acho fúteis.
- Dá lincença que vou voltar pro trabalho.
- Uai! Pensava que você gostasse de poesia.
- Particularmente, não conheço nada mais útil que uma privada. Mas fútil nenhuma arte é... Por que que toda vez que entra um Governo Ditatorial a primeira coisa que faz é eliminar ou limitar as manifestações culturais?
- ...
- Porque arte e cultura formam e informam.
- Ah! Sabia que de você, um zero a esquerda...
- Zero de esquerda, faça o favor.
- ... de um zero não poderia sair coisa que presta. Sai da minha frente que vou embora.
- Bem Benito, eu gosto de poesia.
Somente sorrisos sem nenhuma palavra.




Com sua mochilinha de lado, roupas largas, cabelos grandes, barba.
Lendo, Escrevendo. Escrevendo. Lendo. Escrevendo. Escrevendo. Lendo.

- Bom dia, mãe! Bênça!
- Bom dia? Bom dia? Que Mane bom dia!
- ...
- Onde você vai, menino?
- Encontrar uns amigos.
- Fazer o quê?
- Ler uns livros. Estudar.
- Ler! Ler! Ler! Vai trabalhar, vagabundo!
- Estou trabalhando mãe. Estou escrevendo um livro. Montando uma peça...
Ela entra pra dentro deixando Benito falando só e volta:
- Procura aqui! Vamos! Procura aqui. – Joga um montão de jornais velhos no chão. – Vamos ver se acha emprego para poeta? Mostre onde tem trabalho. Ta ouvindo? Trabalho que dê dinheiro. Que encha a barriga. Que pague as contas para artista.



Olhando. Vendo. Escutando. Ouvindo. Pensando. Sentindo. Sentindo. Sente indo.
Benito. Ingênuo Benito. Que quer ser artista. Que pensar ser poeta.


- Benito? Bom dia!
- Bom dia, Géraldi! A ligação ta ruim.
- É o seguinte. A Kaísha Coconômica está precisando de artista para um trabalho teatral. Aí eu indiquei você.
- Legal, cara. Obrigado!
- Marquei um encontro para você hoje às 16h. Dá procê ir?
- É claro que dá.
- Então até.
- Inté!

Depois de um trabalhão montando seu currículo em páuer pôinti...

- Boa tarde!
- Boa tarde!
- Você é Zé Malandrim? O Géraldi me mandou procurá-lo.
- Sim sou eu.
- Eu trouxe meu currículo – entrega o cd – trouxe uma proposta de trabalho, mas preciso saber exatamente o que a Caixa precisa.
- A Escola Recreação Recreativa quer que a gente conte a história do dinheiro. Daí pensamos em convidar um artista para brincar com eles.
- Interessante.
- Queremos que você vá de segunda a sexta, de manhã, de tarde e de noite.
- Você quer uma estória ou uma apresentação teatral? Porque se for uma estória é só a mim que terá que pagar. Agora se for uma apresentação teatral, penso em mais duas pessoas.
- É? Tenho que pagar? Quanto?
- Só eu? Tenho que pesquisar para criar a estória e mais quinze apresentações... R$3.500,00 no total. Agora, se quer uma apresentação com três pessoas... Deixe ver... Pesquisa, criação e apresentações: R$10.000,00.
- ...
- Ta estranhando os valores? Você pode até encontrar gente que cobre menos, mas alguém com minha qualidade...
- É que pensamos em R$50,00 por todo o serviço...
- ??????? Bem, o meu preço é esse.
- Ah ta! Bem, vamos examinar e depois te daremos resposta.
- Então, até mais.




- Cara! É verdade o que escreveu sobre o mosquito Geraldo? É sobre o Geraldo que a gente conhece?
- Sim!
- Ele passou por tudo aquilo?
- Mais ou menos... Uma parte é ficção...
- As Moscas Zunem é ótimo!
- Ela se vingou dele mesmo?
- Não, aí foi viagem minha. Mas ele realmente é assim mesmo.
- E aí! E o teatro?
- Estou com um trabalho ótimo. Bom cachê... e o melhor. Estou falando daquilo que acredito.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

PARCERIA ARTÍSTICA em BH


Meus caros amigos:
Por motivos diversos,
sinto informá-los que a abertura da exposição
será adiada para o dia 12/10, e se extenderá até 31/10.
Peço perdão a todos pelo imprevisto.
Obrigado pela compreensão,

Esta é a primeira parceria artística entre Camila Lima e Juan Fiorini.


A exposição será no Parque Lagoa do Nado

(Rua Hermenegildo de Barros, 384, Bairro Itapoã - próximo da Av. Pedro I).


Fazemos, de maneira calorosa, o convite para que possamos compartilhar convosco aquilo de que tanto gostamos: arte.



Abraços,

Juan Fiorini

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

A BEIRA ou GERUSA LEM

Gerusa Lem.
Toda a região era assombrada.
O menino que sumiu à beira do Ipanema. Outro que sumiu à beira do Rio Doce. E quantos à beira do Santo Antônio? Sempre à beira.
O começo foi na beira do Ribeirão Ipanema. A origem do terror.
Brincava o menino. Brincavam outras crianças. Sempre só criança só.
O menino entrou na água. Saiu. Sentou na areia. As crianças corriam no pique-pega.
O menino.
E assim foram os outros.
Só um vulto. Grande. Era visto por todas as crianças. Um vulto. Adulto nunca viu. Nunca tinham adultos. Só eu vi.
E Gerusa Lem?
Quinze anos
Decidi que tinha que acabar. Sou irmã do primeiro menino. Os sumiços tinham que parar. Meu filhinho foi ao Santo Antônio. Ouvi sem me mostrar a conversa do menino com os amiguinhos. E sem me mostrar foi com eles. Eu vi um homem. Vi um cavalo. Segui o homem sem me mostrar. Ele estava tão confiante que nem me percebeu. Não percebeu a faca. Não tinha certeza de sua culpa, mas decidi matá-lo. Ele era o culpado.
Três anos e o medo continuava em todos.
Gerusa Lem.
Os africanos dizem que só uma lenda acaba com outra.
Então vou criar uma lenda. Gerusa Lem. Vi meu irmão olhando um cavalo ou era a sombra dele? Não! O vulto era um cavalo. Mas o homem, sim, tenho certeza, só pode ter sido um homem. O homem que matei, que arrastei, que joguei no rio. Tem que ser ele. Se o vulto era um cavalo colocarei Gerusa Lem como quem matou o vulto. Outras crianças voltarão ao rio. Vou com eles sem me mostrar. Gerusa vai comigo. Eu porei um peruca desgrenhada e a deixarei sanguínia. E seus gritos ecoarão nos ouvidos de todos.
Crianças no Ipanema.
Um menino entrou na água. Saiu. Sentou na areia. As crianças corriam no pique-pega. Um vulto. Grande barulho. Os meninos gritam. Empurro Gerusa Lem que corre até o vulto. Somem os dois no ribeirão. Silêncio. Quietude.
Voltam para casa.
Fomos salvos? Quem nos salvou? Foi Gerusa Lem, disse o menino da beira.
Cinco anos e os desaparecimentos se extinguiram. Bem! Vez ou outra some alguém, mas é só acidente. Agora temos uma protetora – Gerusa Lem.
Matei minha porca premiada Gerusa Lem. Mas, os africanos dizem que só uma lenda acaba com outra.

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Rubem Leite – 25-5-08
arterubemleite@gmail.com

Encontro de Dança Contemporânea apresenta espetáculos a R$ 1,99 neste final de semana em Ipatinga


A programação do ENARTCi

prevê a apresentação de um espetáculo infantil de dança contemporânea "De Esconder pra Lembrar", da Meia Ponta Cia. de Dança, (BH), no domingo (07/09) às 15h no Teatro do Centro Cultural Usiminas (Av. Pedro Linhares Gomes, 3900 – Shopping do Vale do Aço)

e a presença de Wagner Carvalho, curador do festival "Move Berlim".


Uma das novidades do ENARTCi 2008 será o lançamento do "Caderno ENARTCi", do Hibridus, que traz uma coletânea de textos sobre as edições passadas do evento, fotos, programação e ainda a opinião de alguns parceiros do grupo sobre dança.


No último dia do evento, domingo, às 16h, na Biblioteca Central de Idéias, o Hibridus propõe uma conversa pública sobre o ENARTCi e dança contemporânea com o objetivo de colher impressões e, desde já, pensar nas propostas para o próximo ano.


O ENARTCi é uma realização do Hibridus e tem o patrocínio da USIMINAS através do apoio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura.


Mais informações pelos telefones

0xx31 3821-3513 ou 8825-1771

terça-feira, 2 de setembro de 2008

CONTO FANTÁSTICO

Rubem Leite

Estou lendo desde sábado Contos Fantásticos, de Ryûnosuke Akutagawa (editora Z) e O Mensageiro da Concha, de Chitra B. Divakaruni (editora Objetivos), que estou amando mais que o primeiro e ambos são ótimos.
Talvez as aventuras dos dois livros me fizeram aventurar.
Eu, com barba feia me vejo em Istambul sem nenhum dinheiro, sem falar a língua local e com mendigas roupas ocidentais de um país tropical.
Com medo do que poderia me acontecer.
Com fome.
Querendo falar com alguém que me ouvisse e entendesse.
Querendo saber como cheguei em Istambul.
Como estava daquele jeito.
Como voltar para casa.
Andando pelas ruas tentando conversar com as pessoas nos bares (estava com fome, não apetite). Brasil, dizia, apontando para meu peito com as duas mãos. Entende minhas palavras? Em geral só olhavam para mim. Uns com cara feia. Outros, rindo. E a maioria sem expressão ou com cara de “não to entendendo nada”.
Olhava esperançoso para as comidas.
E seus olhares continuavam.
Eu com medo de pedir.
E não me olhavam mais.
Eu era ninguém.
Perambulando de rua em rua parei em bares, restaurantes e rodoviária.
Brasil, apontava para mim. Entende minhas palavras?
Uma mulher olhou para mim e apontou com a cabeça as duas funcionárias da rodoviária.
Elas me entendiam.
Deram-me uma passagem.
Puseram-me num ônibus.
Estou em Ipatinga (MG).
Vejo Nena correndo pelas ruas do Imbaúbas, descendo seus morros e se escondendo em suas casas. Os enfermeiros com camisas de força vão atrás dela. Eu também.
Ouço no vento que está louca. O vento me diz coisas.
Em seu prontuário o Atestado de Loucura começa com uns versos, seus versos. Depois vem o laudo médico. Quatro parágrafos. Em belas, empoladas, enroladas palavras dizendo sempre que ela está louca.
Eu a encontro.
Seu olhar é pânico.
Meus olhos pedem silêncio.
Penso como ela está conseguindo corre com seus pés doentes.
Escondo-me com ela numa vasta moita num jardim doméstico.
Como entramos no jardim?
Vamos descer e ir até minha casa.
Atentos.
Lentos.
Depois, eu sei, não sei como eu sei, a próxima será Cida.
E depois?
Marília? Magali? Aroldo? Romero?

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

ARANHA LASCADA

- Na minha rua tem uns tratores escavando e um deles tirou uma estaca do buraco e uma aranha saiu e falou:
- "Ê lasquera, sô!"
- E foi embora nervosa para nunca mais voltar.

Alguns meses atrás, num ônibus, tinha um menininho de uns quatro anos contando tal estória. Seu nome, perguntei-lhe, é Pablo.