São agora três horas da manhã. Perdi o sono e comecei a ler um bom livro e em suas palavras me encontrei. Estou sozinho em meu quarto, mas na verdade não estou só,
PERCEPÇÕES E CONCEPÇÕES DE UM ARTEIRO ARTISTA E DE UM ARTISTA CIDADÃO.
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
terça-feira, 13 de outubro de 2009
LIBERDADE ABRE SUAS ASAS SOBRE NÓS
Rubem Leite – 11-10-09
Quando eu era menino meu irmão mais novo soltou um passarinho. Papai diz que o que ele fez foi errado. Não sabemos se o passarinho morreu ou ficou feliz. Meu irmão cresceu feliz. É um artista. Eu mantenho o meu preso até hoje.
O sol nasceu, atravessou o céu e se pôs.
Lua minguante. Lua nova. Lua crescente. Lua cheia.
Uma manhã uma sombra entrou pela porta fechada. Atravessou-a. Na sala os cães viram a sombra, ganiram e se espalharam pelos esconderijos da casa. Na cozinha o gato olhou para sombra e saiu para a rua. Ouvi e vi o gato. Ouvi e vi os cachorrinhos. Nada mais vi. Não ouvi nem o pássaro que sempre canta na gaiola pendurada na janela de meu quarto. Eu e meu pássaro vemos continuamente a aurora vestida e cotidianamente dormimos com a noite nua. Vemos as árvores trocarem de roupas e enfeites para seus diversos bailes. A sombra visitou todos os quartos? Visitou todos os banheiros, todos os cômodos, o quintal? Na rua nenhum som de carro. Nas casas vizinhas nenhum rádio, tv ou voz. Só o silêncio da sombra. Com um caju escorrendo pela boca entro pela cozinha no silêncio da casa. Aí lavo meu rosto, bebo uma água, ponho um vinho seco num cálice e vou para meu quarto. Numa cadeira de madeira que uso como criado mudo deposito o vinho tinto, aconchego em minha cama, pego um dos livros que estou lendo e passo o tempo. E o pássaro
- Bom dia! – Que voz – Vim conhecer você.
- Você é linda.
Que riso. – Você é galante. – Ela me fala estendendo a mão. – Venha comigo.
- Sim! Para onde?
- Para sua casa.
- Ah! Moro aqui.
Seu sorriso se abre. – Venha!
Levanto e sigo. Os cachorros continuam
- Espere!
Volto, fecho o livro, colocando-o na cadeira. Sorvo todo o vinho. Abro a portinha da gaiola. O pássaro em silêncio e quieto. Enquanto pego a mão da dama o pássaro voa. Saio da casa enquanto o pássaro canta.
sábado, 10 de outubro de 2009
A CRIANÇA FEIA
Rubem Leite
Escrita entre 04:05 e 04:40 horas da manhã
de 19 de setembro de 2009
segundo um sonho com o qual acordei.
Os três amigos de ternos brancos, chapéus elegantes de palha, camisas claras, gravatas listradas em vermelho e azul conversam sentados ao redor de uma mesa debaixo de uma rara árvore sob a tarde quente como sempre. O mais amarrotado pela noite anterior – nenhum se deitara ainda – levanta e corre. Os dois que ficam riem e continuam a conversa. Passando o mais rápido possível que pode pelas espaçadas árvores tenta chegar a tempo.
Duas mulheres de longas saias pretas, uma com camisa vermelha e outra com camisa azul conversam alegremente com outra de calça preta e camisa azul e vermelha. Caminhando as três com imensos e elegantes chapéus de palha riem: “Parece que o ‘Lima’ está indo para a obra”. “Torcendo as pernas daquele jeito”. E continuam levando abano carregado de frutas.
Finalmente, tentando limpar o suor com o lenço já molhado chega à aldeia. Bela, pequena, tentando ser fresca. Entra tirando as calças e a cueca numa das baias, fecha a porta e se acocora. Ao vê-lo entrar os homens e mulheres que preparam a refeição da noite riem: “O ‘Lima Duarte’ não cria modos”. “É! Não toma jeito”. “Aposto que vai sujar o terno”. “Parece menino”. “Com mais de sessenta anos e ainda chupa bico”. Rindo o ‘Lima’ nada escuta além dos barulhos que lhe escapam. Com o paletó sujo se limpa, com o terno nas mãos vai para a baia de banho e depois para a casa pensando nos doentes que vai visitar, no jantar que não sai e finalmente na cama que o espera como a melhor amante.
Passa pela criança feia. Pele encardida, imensos olhos amendoados e pretos sem a parte branca, cabeça com cabelos da cor dos olhos, imensa para seu corpo normal. Para. Olha para o menino deitado que fixa o vazio com o cabeção tombado. Admira a imensa árvore que o sombreia. Reflete. Decide. Tira o bico do bolso, põe na boca da criança feia. Nada. E... Uma sugada. Outra, outra, outra e sai deixando a criança feia com o bico quase caindo falando como se chorasse, berrasse “Quero comida”.
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
VULCÃO DE IDÉIAS
“‘Quem ama não vê defeitos. Quem odeia não vê qualidades e quem é amigo vê as duas coisas!’ Adoro as sutilezas do nosso dia-a-dia, a natureza todas as manhãs me trás uma sensação diferente se estiver aberto a elas... Estou lendo um livro sobre movimento corporal que diz que devemos prestar atenção em quem está mais próximo da gente e quem está mais próximo da gente somos nós mesmos. Agradecer às pequenas bênçãos para sim concretizar os grandes milagres. Abraços! Muito Obrigado!”.
Não sei quanto tempo atrás recebi de Mayron Angel pela internete a mensagem acima. Interessante, não? Serve-me de mote para o que a gente vai conversar. Ofereço o texto a Mayron, e aos aniversariantes João Carlos, Nilmar Laje e Luciano Botelho.
No momento em que escrevo o presente texto a noite já caiu. Estou no meu quarto com a luz apagada, mas a porta aberta permite que uma penumbra ilumine o suficiente o teclado do Honorino.
Acabo de ler o livro “Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento”, de Marina Colasanti. Alguns contos detestei e uns nada senti. De outros gostei e um me encantou: Palavras Aladas. No próximo parágrafo minha versão resumida do conto. Poucos dias atrás li, também escrito por mulheres, os livros “A História de Despereaux” (Kate diCamillo) e “Coroai-me de Rosas” (Rosemara Mont’Alverne). Nesses três livros mais uma vez mergulhei na sutil diferença da escrita masculina e da escrita feminina. Um sujeito me disse não gostar dessa diferença e por isso não lê os livros escritos por mulheres. Surpreendi-me.
Cerquei meu coração com um muro alto e o fechei com uma redoma para nenhum som entrar. Mas se não entra também não sai. E as palavras que meu coração dizia, aprisionadas foram se acumulando até não ter lugar para mais nenhum verbo. As idéias começaram a murchar sufocadas. Tudo foi ficando apertado, agoniante. Não suportando mais tanta dor marretei o muro desabando junto a redoma e numa erupção vulcânica tudo se enlameou, muitos se machucaram para sem muita demora começarem a sair flores. Algumas com espinhos. Mas todas vívidas.
Quis dizer “ejaculação vulcânica”, mas não querendo ferir a sensibilidade de alguns escrevi o jargão comum. Ejaculação! Palavra interessante, não acha? Vulgaridades a parte acho tal palavra muito fecunda... É como o homem que não gera, mas fecunda, ao contrário da mulher que gera, mas não fecunda. Qual é melhor: gerar ou fecundar? Deixa eu ver... Sem fecundar nada é gerado. Sem gerar o “ato” de fecundar é vão... Acho que não há superioridades e sim complementos. Deixa-me ver no dicionário o que é ejacular. Para isso vou acender a luz. Com licença.
Do latim ejaculare. Emitir, lançar de si. Derramar com força ou com abundância – Novo Dicionário da Língua Portuguesa – de Cândido de Figueiredo – sétima edição (publicada no 1º quarto do séc. XX).
Mediocridades à parte (acho que não sou um) gostei ainda mais da palavra ejacular. É assim que escrevo. Derramo fortes e abundantes palavras lançando minhas idéias para que você – leitor/leitora – gere suas próprias idéias, interpretações, conclusões.
Capto-percebo o máximo do que há ao redor, leio e escrevo bastante, vivo o máximo que consigo, deixo fazer parte de mim e quando amadurece deixo sair em forma de palavras-idéias. Apaguemos a luz e na penumbra, a sós e bem juntinhos, remoemos nossas idéias...
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
Divulgação: A FAMÍLIA DE ARTHUR
A FAMÍLIA DE ARTHUR
Por sorte, sobrou um são para contar esta história.
Você não pode perder essa estréia!
Adquira seu ingresso antecipado:
* AGITO Homem - mulher
Rua 15 de Novembro, 95, loja 01 - Centro - Timóteo/MG TEL: 3848-1813
* IN VISTA COMUNICAÇÃO
Rua Ficus, 161, sala 306 - Horto - Ipatinga/MG. Referência: prédio Em Frente a CAIXA ECONÔMICA FEDERAL.
TEL: 3824-5006 - tratar com Vinicius Todeschi
* Ariane Gandra
Graduanda do Curso de Psicologia - Campus I do Unileste/MG (Caladinho - Cel. Fabriciano/MG)
Bloco E - Sala 203 - 2º período - Noturno Tel: 87084844
* Alexandre Gonçalves
Graduando do curso de Engenharia de Produção - Campus I do Unileste/MG (Caladinho)
Noturno Tels: 8894-7138 e 9272-2884
E com os demais integrantes do GRUPO DE TEATRO ATEMPUS.
Tel: (31) 8872-2351
As pessoas de nome "Arthur" pagam meia entrada, basta apresentar o documento de identidade.
A VOZ MINHA VÓS ou MASSACRE DE IPATINGA – 46 ANOS
- É tudo ilusão. Ilusão como ser feliz para sempre.
- Não!
- Chore, criança. Não importa sua idade, chore.
E um choro pequeno, baixo acontecia.
- Felicidade é idiotice. Amor é estupidez. Esperança é ridícula.
E o choro crescia.
- Acha que o mundo é um conto de fadas?
- Não é?
- O mundo é um conto de terror.
E o choro acontecia.
- No mundo não existem donzelas em perigo, cavaleiros em armaduras reluzentes, príncipes encantados. No mundo o que existe são bruxas perigosas, cavalheiros em mantos negros, escravos acorrentados. O que existe é um chapéu segurando uma Bíblia montado num cavalo. Isso é tudo que existe.
E o choro, grande e alto.
Enquanto a voz de uma pessoa alta de pensamentos baixos, imensa de coração minúsculo, larga de mente estreita destilava mais trevas uma porta se abriu. Uma réstia de luz passou pelo vão atingindo parte do rosto de Benito. Acaso?
- Ah!
- Está se sentido ridículo?
- Nã-não! Estô-ou com esperança.
- Esperança? Rarrá. Pare e pense. Nada mais existe além do chapéu no cavalo. O que você sente é o ridículo.
Pela porta entra da rua o som de um canto de pássaro mudando a esperança para felicidade. Coincidência?
- Sente-se idiota, Benito?
- Nã-não! Estou bem, quase feliz.
- Feliz? Rá. O que você ouve é o chapéu falando pela Bíblia das trevas.
Benito, dando um passo para frente, tem o rosto todo preenchido pela luz transformando o bem estar em alegria e acrescentando amor à sua vida. Destino?
- Está se sentido estúpido, rapaz?
- Não! Tenho esperança. Estou feliz.
- Você é amado, Benito. O chapéu te quer. Ele está vindo a cavalo pegar você amarrando em seu sovaco uma Bíblia i-gual-zi-nha. Ouça! Está escutando um relincho? Está escutando o livro? Estou vendo a sombra do chapéu entrando pela porta. Ai! Agora é tarde. O chapéu já entrou.
- Agora é tarde, voz. Se ele entra ou não estou livre. Nunca autorizei sua presença. Se me é imposta o enfrento. Não sou donzela em perigo. Uma porta sempre se abre quando outra fecha. Príncipes encantados? Escuto a voz das aves. Se precisar de armadura reluzente, tenho a arte. Eu dou meus próprios passos. Se não puder falar, escrevo. Se não puder agir, interpreto. Se não puder ensinar, conto estórias. Se não puder aprender, leio livros.
Aproximo da porta que se escancara. Sorte? O chapéu tenta apertar minha mão enquanto passo pela porta pondo-me ao sol. A Bíblia das trevas se aproxima para me seduzir, mas o sol a abate. O cavalo tenta me coicear, mas está amarrado. Eu caminho solitário. Só. Bem longe vejo outros já livres. Ouço outros ainda se libertando. Eu caminho esperando encontrar companheiros. Vejo Rezende Junior andando. Sorrio!
Rezende Junior segue à frente de uma pequena fila. Junto-me à procissão que cresce a cada metro. Seguimos para a Praça dos Três Poderes. Circundamos a Prefeitura, a Câmara, o Fórum. Rezende, eu e Gálu paramos frente ao coreto das bandeiras. Atrás de nós três carpideiras e uma viúva. Rezende desce a Bandeira de Ipatinga e a viúva o ajuda a colocá-la no caixão. Laia levanta uma arma apontando-a para Rezende e a viúva. Corações disparam. Bocas param num “óóóó”. A multidão a cerca. Laia é covarde e corre, foge para o interior da ex-prefeitura. No alto da Catedral das Trevas o chapéu recebe Laia que entra com Unzinho Qualquer. A procissão continua.
- Se não fosse Artista aposto que você participaria. A voz diz.
- Se não fosse a Arte a procissão não aconteceria. Responde Benito.
A procissão não para. Bandeira morreu do câncer que lhe corroeu quase 30%. Outros 40% gemem e choram transformando o Vale do Aço em Vale das Lágrimas. Alguns fazem alguma coisa. Quantos? Chegamos à Senhora da Paz. Não se sabe se é antes da noite ou se é antes do dia. Tudo é penumbra.
- Que seja aurora, meu Deus. Falo para mim mesmo.
No cemitério a viúva chora. Chora. Chora. As carpideiras ajudam. Alguns fazem alguma coisa. Quantos? O quê?
- A lama que vocês irão comer é por causa dos que não me querem. Eu sou Moisés que matou um homem por Deus. Eu sou Jesus que iria salvá-los. Eu sou Deus que os destruirá. Mas não se preocupem. O câncer que destruiu a Bandeira serão os salvos.
Enquanto o chapéu discursa Laia fala para Unzinho Qualquer:
- Serão salvos até que o chapéu os devore.
Riem.
- A penumbra perdura. Estou com frio.
- Não posso acreditar, viúva.
- Três anos? Serão três anos de trevas, Benito?
- Não posso acreditar, Gálu.
O sorriso do sol? Será só esperança ou será que ao longe o sol realmente começou a brilhar? Deus! Creio que a multidão na paz e com força estará agindo.
terça-feira, 6 de outubro de 2009
EUTRO
Minhas impressões durante a oficina “Varal de Poesia”,
ministrada por Sandra Bittencourt nos dias 29-
no Centro Cultural Usiminas durante o 4º Salão do Livro do Vale do Aço.
O que põe uma coisa no jeito? É a palavra.
Muito apreendi e quase integralmente foram coisas introspectivas, como os olhares, as lágrimas, as palavras, os sorrisos dos meus colegas participantes. E os meus próprios sorrisos, lágrimas e olhares? Ah! Esses estão em meu coração. E o meu coração se faz visível em minhas escritas.
Pegue um objeto. Vamos, por favor, pegue. Qualquer um. Jogue-o no chão. Pegue-o de novo. Abra a mão. O que esse último ato lhe diz? Eu, você e todos os outros aprendemos através dos sentidos e para tanto é preciso se abrir para si, para o novo, para o mundo. Eu e você. O outro
Segundo nos foi contado por Sandra algumas tribos indígenas do Brasil e mais ainda em muitas tribos africanas quando nasce uma criança cada membro da tribo sai pela floresta ou pela tribo buscando sons e objetos para apresentar ao recém nascido. O som, imagem ou objeto que atiçar o bebê será sua matriz de vida. Não deixando nunca se perder a matriz para que toda vez que se fizer necessário à criança/jovem/homem ou mulher/idoso tem onde se refugiar por um tempo, onde se fortalecer para resistir, persistir.
Quem sou eu? Da palavra Rubem descobri que sou possessivo, individual, imperativo, acusatório, positivo e tanto mais. Eu, meu, me, um, réu, reme, bem, em, ué, buuum, bumbum, breu.
O que atrapalha uma coisa? É a palavra.
Acabou
Se não me escuta não vou te chamar
Do carnaval se desbota para 4ª feira de cinza
Acabou
Minha dor criança
Minha dor humana
Acabou
Nunca bateram à minha porta
Recomeço então o vôo da borboleta
Acabou
Voa minha alma
Oferecendo a si.
Encontrei num dia de semana
Numa manhã de sol
Uma fada vestida de cor
Com um pandeiro mágico
Ela se despiu
E me deu de si
Numa música
Num jogo de palavras
Depois se foi
Tocando seu pandeiro mágico
Deixando-me seu vestido
Sob as folhas de uma árvore
Que uma vez soltas
Voam e não voltam
Ó deficientes
Com aleijões no amor
Na audição, na visão
Não digo os surdos ou cegos
Mas os que não sabem amar
E não sabem serem amados,
Ouvir, ver, tocar, aspirar, experimentar
Acorde!
A cor é você quem dá.
Encerro nossa conversa com o ensinamento de Guimarães Rosa “Silêncio é a pessoa grande demais”.
O que mantém as coisas no seu melhor estado? É a palavra.
Palavrapalavrapalavrapalavrapalavrapalavrapalavrapalavrapalavrapalavrapalavra.