quarta-feira, 20 de outubro de 2010

PROCESSOS CRIATIVOS

Rubem Leite – 18 a 20 de outubro de 2010

Em algumas de minhas mexidas estou ouvindo diversas músicas em saxofone e bebendo vinho seco merlot (até parece que sou algum entendido e não um mero apreciador. Uarrarrá!).

Ofereço como homenagem aos poetas e como presente de aniversário à percussionista Lucimara Nunes.

Aconteceu a Oficina “Processos Criativos – estudos e criações de cena”, ministrada por Rita Clemente, de BH-MG. E “desaconteceu” o espetáculo “Histórias de Chocar – ensaios de amor”, pois deu pane na aparelhagem do Teatro Zélia Olguim, recém inaugurado.

Ambos entre 13 a 17 de outubro de 2010.


Está difícil levantar. Acordo às 04:15h, mas com o horário de verão está duro sair no que, na verdade, são 03:15 horas. Uma hora depois – Cinco no relógio, quatro na verdade – saio com Haicai, Decidido e Vitório. Enquanto abro o portão uma viatura faz sua ronda. Os cachorros saem desembestados. Sigo para minha direita e na Ituiutaba vou também para a direita. Ao virar percebo à esquerda dois rapazes.

- Q c qué?

Um me pergunta agressivo, finjo não ouvir e mostrando não ser nenhum perigo me agacho e chamo “til, til, til, til, til, til”. Vitório e Decidido, que estavam perto deles, vêm até mim. Haicai, que ainda estava na Uberaba, minha rua, também vem sorrindo. Uberaba é uma rua feia. Mas é nela que tenho minha casa minúscula e com quatro pessoas mais três cachorros, mas própria. Estou contente.

Não entrei ainda na rua João Napoleão da Cruz, que fica atrás (ou na frente... de qualquer maneira é paralela) da Uberaba, e a viatura passa outra vez. Dá para vê-la passar pelos garotos que notoriamente fumam craque então ela pára, continua enquanto eu passeio. Quando retorno minutos depois vejo os rapazes no fim da rua e a viatura passa outra vez, não sei para quê, se não faz nada. Entro em casa. Passa o dia e a noite vou para a oficina que falei acima. Entre outras coisas Rita fala “A arte está muito ligada ao conceito que o artista tem dela”.

O vinho acabou, mas não porei mais no cálice. Entretanto o saxofone continua. Será que você está pensando “Mas já?”. Bem! Escrever toma tempo e coordenar idéias, mais tempo ainda. Por isso “Não tem mais vinho”.

Amanheço com dificuldade, passeio com os cachorros, oro, saio, vivo o dia e na Câmara dos Vereadores me encontro com Luiz Ribeiro, artista da dança muito jovem. A gente cumprimenta e se despede. Depois se esbarra de novo, conversa e se despede. E uma terceira vez no dia nos topamos, conversamos, levo-o para casa para falarmos sobre a Lei Municipal de Incentivo à Cultura e nos despedimos marcando para 6ªfeira o início do Projeto que ele quer propor. Vou para Oficina e Rita diz “Não se faz teatro porque se tem um grande ator. Antes do ator há o espaço (o metafórico e o físico)”.

Volto para casa, durmo e acordo com um pouco menos de dificuldade. Estudo um livro que me inspira uma estória. O livro é “Para Realizar o Amor e a Oração”, do Prof. Seicho Taniguchi. Muito bom!

Era uma vez uma caneta, dessas comuns. Sua tinta preta copiava Palavras da Verdade ou ajudava a destacar os profundos Ensinamentos até que uma bela manhã a mão que a movia se irritou com muitas coisas, inclusive com dificuldade da caneta em trabalhar aquele dia, a quebrou no meio e depois se arrependeu. Pedindo perdão a colou com fita adesiva. A caneta machucada na alma ficou mais difícil de trabalhar com aquela mão. Sabe! Uma vez uma boca disse para a mão que o problema do mundo é que inventaram a palavra “desculpa”. Não é uma verdade absoluta, mas tem seu significado... Uma bela tarde outra mão movimentou a caneta e ela registrou palavras culturais. Então a primeira mão deixou-a ir com a nova mão. Sentiu um apertinho dentro de si, mas deixou-a seguir seu caminho. Uma bela noite recebeu um bilhete carinhoso da caneta, entendeu então que estava perdoado e que a harmonia conduz cada um a quem lhe é mais adequado, mais parecido, afastando os opostos e unindo os semelhantes. E foram felizes para sempre sabendo que o para sempre nem sempre acaba.

Na garoinha saio com os cachorros e penso nas palavras de Rita “No teatro, tudo precisa ‘ser’ significado”, penso no acidente com o ônibus da APAE. Nas bandeiras a meio mastro da Polícia Militar e da Prefeitura Municipal de Ipatinga. Nena de Castro, minha amiga, falou para mim que apesar da Prefeitura não ter feito mais que sua obrigação ao cuidar das vítimas e suas famílias a fez com tanto desvelo e atenção que a emocionou. Não agiu como sendo apenas uma obrigação, mas sentido dor pelo acontecido. Ela, poeta e cronista, falando sobre a tragédia escreveu ontem em sua coluna num dos jornais local palavras que encachoeiraram meus olhos (sou mineiro, portando meus olhos não marejam, eles se encachoeiram ou enlagoam), penso em um ex-aluno de teatro, que continua a seguir a carreira artística e que elogiou meu severo método pedagógico. “Nenhum outro professor de teatro que tive me ensinou o que aprendi com você”. Vaidades à parte, fiquei contente, claro. Pensei tudo isso enquanto escutava uma voz de mulher cantando alto “Meu coração é só de Jesus. Ei, psiu. Beijo me liga eu to curtindo a noite. Te encontro na saída! Minha alegria é a Santa Cruz. Volta logo pra São Paulo ou eu vou pra Madri”. Volto para casa, termino o texto e continuo o dia.

sábado, 9 de outubro de 2010

QUANDO ESCREVO PRA VOCÊ É COMO SE ESCREVESSE PRA MIM MESMO*

06 a 09 de outubro de 2010

Ofereço como presente de aniversário a

Shirley Maclane e Hércules Malta.


Pela retina.

Uma madrugada quente. Depois passeio com os cachorros. Ida ao Centro Cultural Usiminas para Oficina Ator Criador e descubro que não era as 09 e sim as 19 horas. Devolução de livros na biblioteca. Volta para casa. Um filhote de sabiá aprende a voar na rua deixando uma mulher preocupada “e se um carro passar nele”. Um homem tenta pegá-lo para jogá-lo no telhado sob o protesto nervoso e impotente dos pais do sabiazinho. Pega-o e o tira do perigo. Alívio na mulher, no homem, nos transeuntes. Eu sourrio. Em casa. Almoço. Escrever e mexer textos. Cochilar. Escrever projeto. Lanche. Banho. Ida à outra biblioteca devolver e pegar livro. Ir à Oficina Ator Criador. Autoapresentações. Eu sou Cláudio, da Cia. Luna Lunera e o processo que vamos experimentar na oficina usamos para criar “Aqueles Dois”... Respirando. Locomover pelo espaço. Olhando nos olhos. Ir para o chão. Pular. Andar. Mais rápido. Massagem. Tocar o outro e se deixar tocar. Deitar e ser rolado pelo chão. Rolar pelo chão vendo a resistência do par. Rolamento na vertical tendo o parceiro como suporte/base um do outro. Mais rolamento e mais. Maxuel é meu companheiro. Eu dele. Descoberta sobre os limites e entrega do outro. autoabertura para o jogo e para o parceiro. Tocar o outro e se deixar tocar. Ouvindo, ou tentando, o oficineiro. Respirando. A grande experiência de todos: entregar e receber. Diálogo. Acaba. Volto para casa. Banho. Dormir. Acordar na madrugada. Rezar. Ler à luz de velas. Apagar velas. Encantar com a beleza da fumaça. Observar que a brasa no pavio desaparece de baixo para cima. Seu último ponto vermelho é a ponta. Ir ao banheiro. Sair com cachorros. Tomar café com leite. Comer pão. Ler. Escrever. Ler. Sair. Voltar. Ler. Almoçar. Escrever. Ler. Continuar a escrever Projeto para Lei Estadual. Oficina. Alongar. Andar pelo espaço. Olho no olho. Seguir alguém. Seguir dois alguéns. Pegar alguém pelo olhar. Formar dupla com ele. Meu par Wadson. Eu dele. Massagem em pé, mantendo sempre bastante toque. Tocar. Cansaço. Tocar de todas as formas. Tocar em quase todos os lugares tocáveis. Reciprocidade. Separar. Nunca perder. Voltar. Aniversário de Felipe (Marcos é só para a mãe). Receber certificado. Ir embora. Dormir. Acordar na madrugada. Sair com os cachorros. Ver, hoje, uma mulher da madrugada andando leeeentamente, cansada, escorar-se no muro, respirar, abaixar, contar um, subir, respirar, abaixar, contar dois, subir, pegando algo, abaixar, contar três, subir. Nisso já virei a esquina. Volto, tomo café. E a vida continua.

Impura rotina.


CIDADE POSSÍVEL

A Banca Design promoveu na 6ª feira, dia 08 de outubro de 2010 o Recital Cidade Possível. O editorial do opúsculo, de Carla Paoliello e Bruna Roque, diz assim:

Cinco escritores foram convidados para escrever sobre uma cidade possível, resultado do viver e do sonhar em Ipatinga/Minas Gerais. Seus textos, histórias e fábulas estão nesta pequena revista. Apresentamos o passado, o presente e o futuro, conectamos o real e o irreal, para reordenar a vida. Boa leitura!

Foi oferecido aos presentes jabuticabas, bolo de banana, um chá de cogumelo... digo, de laranja. Uarrarrá! Brincadeira. Era um delicioso e, para mim, novidade chá de laranja. Foi oferecido muito carinho e atenção. O público presente era composto, entre jovens e adultos, por artistas, agentes culturais, estudantes, professores e nem sei mais o quê. Pessoas que acreditam numa Ipatinga possível e acessível. Se não hoje, ainda assim possível e acessível. Pensei durante o recital, mas não falei, portanto digo agora a frase de Tiradentes que nunca me sai da cabeça “Se todos quiséssemos poderíamos fazer desse país uma grande nação”.

Vejamos um pouco do que escreveram os escritores:

Nivaldo Resende – “Hoje, mais do que enorme orgulho

que, como tanto outros, eu carrego de ter ajudado a construir esta história, sempre sinto uma enorme satisfação em sair de Ipatinga para viajar. Não porque adore viajar, e eu adoro... não porque busque novidades, ou queira novos ares, mas unicamente para ter o inenarrável prazer de poder voltar para Ipatinga”.

NOS BRAÇOS DE MORPHEUS

Nena de Castro – “Diz que me ama e eu te faço um verso,

te dou um limão de cheiro, um canto de sabiá, uma canção formosa, um dedo de prosa... \ Pois no seu seio me aqueço e me encontro, raio de sol, rima incontida, eu te amo, cidade querida! \ Feliz aniversário, Pouso de Água Limpa, amada Ipatinga de todos nós!”.

RECADO DE AMOR PRA UMA CIDADE

Nena também escreveu e se encontra no livreto:

MINHA CIDADE, NOSSA IPATINGA...

Roberto Sôlha – “Uma das principais diferenças entre a

vida no interior e nas grandes metrópoles é a sensação de conhecer as ruas e bairros mais a fundo. Essa sensação, claro, é mais perceptível a quem mora nas cidades pequenas, onde fica mais fácil delimitar seu tamanho. Ao mesmo tempo, uma cidade de médio porte de Ipatinga pode revelar lugares e caminhos nunca antes vistos ou imaginados por moradores que vivem aqui a décadas.

CONTRASTES, DESCOBERTAS E SINGULARIDADES

Rubem Leite “Olho para a mulher, pego os biscoitos,

levanto-me e vou embora para outro ponto de ônibus. À cada passo que aproxima do novo destino a afasta de meus ouvidos, aproxima-a de meu coração e a afasta de minha cabeça. Na 28 de Abril dois homens e um menininho. Um ao celular, o outro na porta do banco, o menininho com o pintinho de fora faz xixi andando para trás deixando uma linha tortuosa na calçada. O estranho no celular sorri, o pai ri, eu me animo e o menino nem aí. Vou para o ponto de ônibus, sento, espero, pego o ônibus”.

A PROCURADA=

>25 DE SETEMBRO

“Hoje acordei sorrindo. \ Hoje os passarinhos da manhã cantaram mais. Mais tempo, mais alegre e mais bonito. \ Hoje até os políticos, com suas propagandas volantes, nos violentaram menos. \ Hoje dormi sorrindo”.

Ricardo Alves – “O dia mal clareava e os programas de

entregavam o sábado. O cheiro de naftalina da manhã úmida trazia à cabeça uma sensação gostosa de gavetas limpas. E se confundia com o cheiro de café com leite que vinha da cozinha. Depois de fartos pedaços de bolo, rua. Afinal, sábado também era dia de feira”.

MEMÓRIAS DE NAFTALINA

Voltando à Banca Design. Carla conta que tem tempo que está tentando levar a banca para a praça. Seu objetivo não é a venda de seus produtos – e eu acredito – e sim tornar mais acessível a população o acesso e contato com diversas manifestações culturais. Mas a Secretaria Municipal de Planejamento tem barrado. Permitiria se fosse para chaveiro, engraxate, banca de revista (De minha parte, nada contra eles. Mas por que não para a cultura?). Poderia pensar em liberar se as costas da Banca Design ficassem para a praça e sua frente para a rua. Mas por quê se é justamente para interação entre a praça, as manifestações culturais e o pessoal na banca?

Nena, como contadora de estórias, iniciou o recital. Depois cada um leu seu texto. Na ordem acima. Cada qual com sua peculiaridade. Nivaldo, entre grave e humorado. Nena, com seus trejeitos de professora e contadora de estórias. Roberto com seu modo de jornalista. Eu, como ator. Ricardo, com as mãos. Foi tudo muito legal. Rico. Gosto de nossas diferenças. A poeta Magali recitou um de seus poemas. O professor Beto, nosso “mediador”, mostrando as ligações entre nossas estórias e os fatos de nossa história. Eu, como contador de estórias, encerrei o recital. E depois conversando fomos nos dispersando com gosto de quero mais.


Banca Design – Av. Castelo Branco, 433 – Horto – Ipatinga MG.

www.bandadesign.com


* Caio Fernando Abreu

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

RECOMENDO - quadros de Tiago Costa

Olá Pessoal, td bem?
Já faz um tempo que não apresento novas produções aqui no Blog, atualmente estou fazendo um curso de Animação Clássica (Fantastique) na Melies -Escola de Cinema, 3D e Animação e está bem corrido, mas quero dizer que a produção está em alta.
As obras acima fazem parte de uma série de quadros que estou produzindo chamada:"Pássaros".

se vc tem interesse em adquirir uma dessas obras, envie um e-mail para:
ilustraeprop@hotmail.com

Neste e-mail poderei dar mais informações sobre, valores, dimensões, técnica etc.

Obs: Foi feita apenas uma peça exclusiva de cada obra, por isso corra e adquira já a sua.


Muito Obrigado.


Grande Abraço a Todos.


Até Breve.



Tiago Costa

FLORES NO JARDIM – A GRANDE HARMONIA

05:00h do sábado de 11 de setembro de 2010 a

05:23h de 5ª feira de 27 de setembro de 2010.


Na parte final do período de criação ouvi em duas versões

Adágio para Cordas em Sol Menor, de Albinoni.


Ofereço como presente de aniversário

a Keli Del Pozzo, ao músico Luis Tolonei e ao Rodrigo Quintino.


Reconcilia-te com todas as coisas do céu e da terra. Quando todo o Universo se tornar teu amigo, coisa alguma do Universo poderá causar-te dano. Reconciliar-se com todas as coisas do Universo significa agradecer a todas as coisas do Universo. A reconciliação verdadeira será consolidada quando houver recíproco agradecer. Se queres chamar-Me, reconcilia-te com todas as coisas do céu e da terra e chama por Mim. Porque sou Amor, ao te reconciliares com todas as coisas do céu e da terra, aí, então, Me revelarei. Reflexiona e reconcilia-te”.

(Trechos da Revelação Divina da Grande Harmonia – Seicho-No-Ie)


O Sol ainda nem surgiu, claro. Como vemos acima estamos entre cinco e cinco e meia. Mas o dia promete. Todo dia 25 de setembro é sempre, no mínimo, bonito. Acho que é um presente que recebo dos Céus... Penso que Keli concorda comigo e que Luís e Rodrigo acreditam que seja dia 30 de setembro ou 1º de outubro. Quem sabe?

Sentado ou talvez mais corretamente dizendo escorado num muro um vulto no escuro da madrugada que se prepara para ir embora. Sobre sua cabeça a palavra “maciço”, a sua frente uma pequena e mirrada árvore, dessas que mesmo adultas têm o tronco quebradiço, florzinhas branco-arroxeadas, com três galhos que surgem quase na raiz, logo acima do solo. O que será ele? Talvez um exemplar masculino ou então um exemplar feminino. Não dá para saber. Talvez nem seja uma pessoa exemplar. Ou sim. Olho meio disfarçadamente, para não constranger, por quase um minuto, pensando se daria alguma estória... Então prossigo em meu passeio matinal com meus cachorrinhos como volta e mexe falo aqui no aRTISTA e aRTEIRO.

Então um rapaz desconhecido e que não tinha visto até agora me diz “Bom dia, irmão”!

- Ah! Bom dia! – Respondo sorrindo.

- Como está passando?

- Bem! Obrigado! E você, como vai?

- Não posso dizer que estou saltando foguetes – pausa. Enquanto isso penso “Ainda bem! Foguetes fazem muito barulho. São muito chatos e incomodam todo mundo” e ele continua – mas também não tenho motivos para nenhuma cerimônia fúnebre.

- Ainda bem, né.

- Pois é. – Pausa – Vão-se os dedos, mas ficam os anéis.

Começo a dizer, em voz baixa, meio indeciso se devo calar ou falar “Não seria o contrário?”, mas ele talvez ouvindo, mas acho que não, continua

- Quero dizer, vão-se os anéis...

A conversa não é desinteressante, principalmente porque gosto de situações assim, que dão estórias curiosas, mas estou meio querendo ficar a sós com meus pensamentos e com meus cachorros. Chegamos ao entroncamento que me permite ir para minha casa

- ... mas ficam-se os dedos. – Diz aumentando a voz enquanto nos afastamos.

De volta vejo a mesma figura do início de nossa conversa, aquela no segundo parágrafo, no mesmo lugar fazendo a mesma coisa (o mesmo nada de antes) e sobre a sua cabeça a palavra “maciço” e à sua frente a arvorezinha que promete flores branco-arroxeadas.. Dobro a esquina e vou para casa.

Nos últimos momentos do escuro da madrugada alimento o corpo e com os primeiros raios do sol alimento a alma. Então com a manhã saio e ainda com ela volto. Minha mãe me diz

- Alguém telefonou para você. Pela voz era mulher. Acho que jovem.

- Quem era? Deixou recado?

Segundo minha mãe, não se identificou. Foi assim:

- Oi! O Rubem está?

- Não! Ele não se encontra no momento.

- Você poderia dar um recado?

- Sim, claro! Você é quem?

- Ah! Não precisa dizer meu nome não. Só queria dizer que acho as roupas dele feias e que não gosto do jeito que se veste.

- Ah! Obrigada! Então vou desligar. Com licença, adeus.

Depois da cena engraçada acima coisas mais alegres me aconteceram. Mas antes, permita-me esclarecer uma coisa. Alguns perguntam quando peço para não divulgarem meu aniversário se não gosto ser parabenizado. Mas é claro que gosto, só que acho que, exceções à parte, quem se importa se lembra e forçar os demais a me dar o parabéns é constrangedor ou no mínimo inconveniente. Eu gosto que lembrem, parabenizem-me, dêem presentes (Uarrarrá!) ou cartões e, muito importante para mim, orem por minha bem-aventurança. Mas partamos para exemplos de coisas felizes: Eddy e eu, sob a noite de meu aniversário, comemos queijo e tomamos uma garrafa de “suco de uva” de R$22,00 sobre o laguinho no Pq. Ipanema; no dia seguinte eu e minha família saboreamos bacalhoada e salada de frutas em minha casa; Selma Barros deu-me presentes e, o que mais gosto, um cartão; outros me deram presentes; muitos se lembraram e me parabenizaram; Nena de Castro comentou sobre meu aniversário no rodapé de sua coluna semanal no jornal Diário do Aço e me disse num desses dias que acontece o nosso bate-papo algo que transformo em versos e ofereço a todos os aniversariantes.

No meu jardim íntimo

Belo espaço você mora

Bem ensolarado

Entr’escumilha florida

E o grã limoeiro

Basto, florido e frutido

A gente conversa

E lê enquanto a Cam corre.

Flores no jardim.


Para quem não sabe, Cam é o nome da minha cadelinha

que retornou ao mundo espiritual alguns meses atrás.

Mas comigo continuam Haicai, Decidido e Vitório.

São muitas alegrias. Deus, muitíssimo obrigado!

sábado, 18 de setembro de 2010

TUM ... TUM

18 de setembro de 2010.

Ofereço como presente de aniversário aos queridos

Marisa Alija, Maraiana Sanches, Clênio Magalhães e Antônio Ademir da Silva.


Tum. – Tum. – Tum. – Tum. – Tum. – Tum. – Tum. – Tum. – Tum. – Tum.

Estávamos, minha mãe e eu, no estacionamento do hipermercado e enquanto falávamos e escutava a espaços regulares o som “tum” que foi se ampliando de volume ou melhor, foi se aproximando. A compra já foi feita e agora só no próximo mês. Na automática curiosidade olhei e vi um homem batendo com uma lata na cabeça de um menino de uns treze anos enquanto iam embora. O garoto não reagia. Simplesmente andava de cabeça erguida, o que, a meu ver, facilitava o ataque. E o homem, mais ou menos da minha idade, quarenta e dois, nada falava. Só batia.

Vi os dois se aproximando. Vimos os dois passando por nós. Vimos os dois se afastando e sempre com o “tum ... tum”. Eu imóvel olho a cena. Boquiabertos os vemos se afastar. Para que se envolver? Quantas vezes já vi na fila do caixa rápido um e outro abrir um bombom e o comer deixando o papel na prateleira. Ou tomar um iogurte enquanto faz a compra e deixar a embalagem numa gôndola qualquer. Afinal por que não fazer? Para que se envolver? Somos uma nação cristã.

Mas eu não sou cristão. Tenho muito amor a Cristo para ser um.

- Ei! Ei!

E os dois andam com o “tum”.

- Ei homem!

Eles finalmente param. O homem olha para mim. O garoto só olha para frente.

- O que você quer?

- Para com isso.

- Cuida da sua vida.

- Cuido mesmo. Pode parar agora, por favor.

- Ah! Vai te catar. – E voltam a andar.

- POLÍCIA. POLÍCIA. POLÍCIA. POLÍCIA. POLÍCIA. POLÍCIA.

E o garoto só olha para frente.

Finalmente a polícia chega. Se inteira da confusão. Cuida dos dois e volto para casa trêmulo de nervoso. Ambos, minha mãe e eu, assustados.

Compra do mês seguinte.

Após a compra paramos na lanchonete elegante do hipermercado. Sentados tomamos um refrigerante e comemos algo.

- Com licença!

Olhamos. É o homem. Começo a me sentir nervoso. Raiva e acuado.

- Escutei o nome da senhora. – Fala para minha mãe e continua – E me lembrei dos dois. – Olho desconfortável. Parte por receio e parte maior pelo atrevimento do sujeito. Ele conclui – Quando era adolescente meu pai me batia muito e nos deixava com fome por um ou dois dias. Uma tarde, após três dias sem comer a senhora me deu comida. Nunca comi tanto quanto naquele dia. Nunca me senti tão grato quanto naquele dia. Por isso fiquei calado... e não vou fazer nada. Adeus.

Diz e se afasta. E eu não soube o que dizer, nem sequer falar. Então me calo.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

ENARTCI – EMERGÊNCIA

AS PARTES DO TODO e CONVERSA PÚBLICA

Texto Rubem Leite

Imagem arquivo Híbridus.

ENARTCi 2010 aconteceu entre os dias 04 a 07 de setembro.

8º encontro de dança contemporânea de Ipatinga MG.

Dança + performance + conversa.

Promovido pelo Híbridus Dança.

Ofereço como presente aos aniversariantes Bruno Faccini, Cláudio Miranda, Wenderson Godoi.


Troco meus cabelos por pão.

Cabeça mal raspada gemendo na areia seca ao som de águas que não chegam

Promessas

Promessas não cumpridas

Um corpo solitário se move em círculos na ilha de areia

Areia seca

Penas compridas

E os corpos incontáveis amontoados dentro de um só corpo

Prisão

Prisão de vários

A prisão, a falta de liberdade é uma loucura

A luz circunda, mas é fora,

Alumia, mas não é própria

Não pertence

E mesmo essa luz esvanece

E se vai

Deixando todos os corpos imóveis em um.

A artista da dança Patrícia Cruz, de Recife PE, criou com Daniela Santos (RJ\RJ) um trabalho solo representando as emoções sentidas na Casa da Cultura, que já foi Casa de Detenção. Daniel Silva trabalhou como músico e Black Escobar dirigiu. Patrícia e Daniela não procuraram explicar ou mostrar os acontecidos e sim as “sensações”. Então acima minhas sensações e emoções durante o espetáculo “As Partes do Todo”.

Já na conversa

O espaço público é de todos, mas não é privado. Portanto, uma vez que invadimos um lugar que já é normalmente ocupado e os artistas quase dizem, ou melhor, quase gritam “Ei! Olhe-nos aqui!” surge a pergunta: um trabalho na rua é autoritário? Alguém tem a resposta para tal indagação? Não precisa ser uma resposta definitiva. Pode ser a sua resposta. A que você tem hoje. Meu email, para quem quiser compartilhar comigo a resposta, se encontra logo abaixo.

O Híbridus publicou também o “II Caderno ENARTCi – Emergência”. Uma publicação luxuosa, instrutiva e, melhor, saborosa de se ler. Com textos de diversos artistas e agente culturais. O referido caderno é fruto do ENARTCi do ano passado e foi organizado por Cláudio Letro e Wenderson Godoi. Um dos muitos trechos que me encantaram foi “... a construção de novos saberes por intermédio das artes, especialmente as do corpo”. Deixo para você, que me lê, a interpretação da fala do Godoi e se não for pedir muito que, por gentileza, compartilhe comigo a sua análise ou o seu entendimento.

O meu email é arterubemleite@gmail.com