quinta-feira, 31 de julho de 2008

O GRÃO IMASTIGÁVEL




Rubem Leite – 12-7-08
rubemleite@notaindependente.com.br



Versos inspirados pela obra homônima, de Bruno Grossi.
Como escrevi quando li as publico agora, sem o crivo de uma boa correção.
Escritas entre 27-6-07 à 02-7-07.
Hoje escreveria outra coisa, talvez melhor. Não sei. Mas o que escrevi, escrevi.
Observação: não estou comentando ou explicando o Bruno. Seus versos apenas me serviram de mote.
Que gostem ou odeiem.
Mas de você gostaria que gostasse.

Inspirado em Perecível:
Meu pênis visita seu ânus
Como o vento penetra os ouvidos
É som, tato.
Frenesi.
É amor sem dor
Ou ao menos carinho.

Inspirado em O Ecoar da Noite:
Varão massacrado pela mão que vai e vem
Um grito de gozo na solidão
O fogo da vela
Queimara uma existência
Para outra ver
Às vezes sou eu mesmo com um você.

Inspirado em Adeus:
Vai-te?
Vai-te!
Fico?
Fico!
Não volte mais
Não te procurarei?

Inspirado em Angústia:
Meu pênis chora
Antevendo um corpo
Que visitou.

Inspirado em Terror:
Com voz aguda
Ôôôôô
Ááááá
Viro-me escondendo um cara
E vejo-te com outro rosto
Nunca nos vimos
Como vemos hoje.
Sorrio e me vou.

Inspirado em Da Consciência à Traumatização:
Ah! Ih!
Aaaah! Iiiih!
Vejo no meu corpo adulto
Uma “criança feia, sorrindo e morta”.
Não corro.
Para onde?

Inspirado em Guerra dos Mundos:
1 Caos, caos
Cães, cães
A dor roda
Roda a dor
Ejaculo sangue
Mênstruo sêmem.
2 Sou homem com toque de mulher
Firme e duro,
Sensível.

Inspirado em O Caminho:
A importância do pênis
Diante da obrigação
De ser duro e invadir
Quando se quer ser firme e não ferir

Inspirado em Pétalas Negras:
Nebulosamente
Mentecapta
Olho para o espelho dos olhos
E vejo nebulosamente mãos que
Afagam escorpiões
E afogam pombinhas

Inspirado em Últimos Minutos:
- Circuncisão é cortar o prepúcio
(num sussurro envergonhado: pele que sobra no pinto)
- Cada um é doutor naquilo que faz
- (cantando):
Vida de solteiro é boa, mas a de casado é bem melhor.

Inspirado em O Sonhador:
Uarrarrá
Não sou normal.
Sou único e exclusivo.
Converso com o sol
E enamoro o vôo pesado dos jacus.
Engraçadas aves.
Sou jacu...
Uarrarrá.

Inspirado em Vermilhões:
Tuntum. Tuntum.
Bate um coração.
Ritmado respiram árvores
Fuuum. Fuuum.
Movem os galhos
Ritmados balança meu coração.

Inspirado em O Mundo Moderno:
Bicha! Sem vergonha
Retire-se com sua peste
Urre, sua ordinária.
Nunca! Não te respondo
Orgulho-me de mim

Inspirado em Inconstante:
Rirrirri!
Sou bela, linda e gostosa
Vou fisgar um peixão
Raro, bonito e caro
Vou descamá-lo
Saboreá-lo

Inspirado em Pare de chorar:
Vênus de Milo.
Só.
Só.
Estou aqui.
Só.
Faço-te viver.
Só.
Ria e sorria.

Inspirado em Fala:
Shiiii
Psiu

Inspirado em A Palavra:
Cala a boca
Não chora
E vem para a cama
Abra a perna
Fecha a boca
E finja que me ama.

Inspirado em Não se esqueça:
Quem é você?
Movimento os quadris para os lados
Movimento os quadris para frente e atrás
Quem é você!

Inspirado em O Dom:
Ó
Danço eu
Orando por você que
Morre por mim

Inspirado em Malevolência:
Respiro fundo
Arfante
Raivoso
Medroso
Crescente
Respiro fundo
Arfante.
Olho para um lado
E pra o outro
E gargalho
Saindo do quarto
De costas para
Sua surpresa.

Inspirado em Intrépido:
Rimar ar com ar, or com or
Falar. Pare de falar que quero falar.
Fujo do silêncio
Minhas entranhas me assustam

Inspirado em Desilusão:
Detesto azul
É tão nojento
O brilho do azul é tão ante povo
Foge do branco pobre
Odeia o negro
Sou mineiro
Sou branco e sou negro
Como todo brasileiro

Inspirado em O Filho:
Obscurador
Loucura do caos
Valor da verdade
É minha puta infância
Que não é puta de br
É puta Portugal

Inspirado em O Séqüito Amor:
Ó irmão das almas
Que levas aí?
Levo, ó irmão das almas
Um coração.

Inspirado em A Morte:
Ohayo,
Sayonara!

Inspirado em Evanescer:
Calor lá fora
Frio lá dentro
Luz lá fora
Sombra indo embora
E noite lá dentro
Tudo passa
Tudo passará
Calor aqui dentro
Luz aqui dentro.

Inspirado em Cactos:
Eu gosto de cactos
O ovo por cima do muro
Balança e cai
Buda diz
Que a virtude esta no meio.

Não sei que fazer
E dou água aos cactos
Não sei o que dizer
Não posso me calar
Dou cactos à água.

Inspirado em Incrédulo:
Rirrirri
Fiuuuuu
Bum dokan
Zum pá zuga
Fiuuuuuu
Fiuuuuuu
Rirrirri.

Inspirado em Sem Título e em ...:
Dorme neném
Mamãe vai te beijar
Dorme bebê
Papai vem te ver.
Canta uma mãe
Balas voam lá fora
Crianças nos prédios grandes
Chupam bala
E a mãe canta.

Lágrimas fogem dos olhos
Balas vão de encontro ao peito
Lunares olhos
Atravessam meu coração
Trafego a estrada vazia
Tráfico atravessei.

Inspirado em Escriba:
Quero um cálice de vinho tinto
Quero um cálice de vinho seco
Quero um cálice de vinho, bebo
Brindo palavras no papel
Trocamos olhares
Eu e você,
Leitor
Leitora.

Inspirado em O Grão Imastigável:
Vou deitando
Vou lendo
Tudo lento
Livro tombado
Olhos fechando
Tudo lento
Cai o livro
Faço careta
Com medo da queda
Nada é lento.

Horror

Entra mancando, o calcanhar esquerdo apoiado no chão e os dedos para cima. Anda como se estivesse com asco de si mesmo.
- Aaaii! Que nojo!
- Cocô??
- Piiooor! Pisei num santinho do Quintão.

+ ou –

Rubem Leite – noite de 30-7-08
rubemleite@notaindependente.com.br


“Duas infelicidades
não conseguem dialogar.
Uma pretende eliminar a outra”.
(Como No Céu – Carpinejar – Ed. Bertrand do Brasil).

Ao ver quem desgosto
Mais
O término de um caso
Iguala-se
A um descaso.

E

Duas felicidades
Mais do que se dialogam
Fundem-se
Não se tornam uma
Ampliam.

O que sinto ao ver quem gosto
Somado
Ao conhecer um provável caso
(nem digo amor)
Resulta
Não num só prazer
Mas em grande felicidade.

Será?

Ontem corri atrás de uma borboleta
Ela se foi eu fiquei só
Não, não fiquei só
Havia um livro comigo
– Do Masaharu Taniguchi –
Aí me lembrei de Quintana
Sentei-me num jardim
E borboletas vieram até mim.

– com – = –
+ com + = +
+ com – = >

Eu escolho meu caminho
Meu destino é meu e ninguém tasca.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

O Imperador Solta Pipa

“O imperador solta pipa em suas muralhas”
Tem um peso não alcançado por
“O magnata solta pipa em sua indústria”
E eu me estagno
Sem me atinar
Atinando
Com o por quê
Enquanto vejo os escritos de
Quintana e Linspector
Pensando nos meus.
Despejo o açúcar no caputino
Com raspas de chocolate
E um sorriso branco vai
Aos poucos se amarronzano.