sexta-feira, 29 de agosto de 2008

A Rainha das Flores

Rubem Leite – 28-8-08 - arterubemleite@gmail.com
Inspirada em Nári, que espera Maria Flor.
Assim, eu ofereço a fábula à Maria Flor, Nári e João Carlos.


1ª versão (ato de criação):
O Sol fecundou a Noite com seu sorriso. E a Noite gera a Rainha das Flores que breve nascerá fazendo arte para alegrar o mundo.
Uma raposa mafiosa desde já detesta a menina por não querer a alegria do mundo, mas o Galo não permitirá e desde já proclama cantando as más intenções da raposa.
Então a raposa atacou o Galo que subiu para o alto de uma árvore e cantou ainda mais alto avisando o Sol e depois expulsou a raposa com seus bicos e esporas.

2ª versão (1ª modificação):
O Sol Fecundou a Noite com seu sorriso.
E a noite gera a Rainha das Flores.
Que breve nascerá fazendo arte para alegrar o mundo.
Mas nem tudo serão flores para a Rainha das Flores.
Uma raposa mafiosa detesta a menina ainda não nascida.
Detesta, pois ela trará alegria para seus súditos.
Trará prosperidade para o Reino.
E harmonia para o mundo.
A raposa, Bambi é seu nome, tem um plano.
Planeja atacá-la ainda recém nascida.
A babá vai levá-la ao jardim.
Todas as manhãs seu pai lhe dará energia.
Sempre entre oito e dez horas.
Todos já sabem disso.
Depois vai levá-la para a sombra de uma árvore, sua avó.
Acalantada pela mãe da Noite dormirá mais um pouco.
E vai atacá-la quando dorme nos galhos da velha árvore.
Eis o plano da Bambi.
Mas o Galo não deixará.
E desde já proclama com seu canto as más intenções da raposa.
Então a raposa invejosa e má atacou o Galo.
E ele subiu para o alto de uma árvore.
Lá ele cantou e cantou.
E o Sol escutou e se armou.
E o Galo expulsou a raposa com seu bico e suas esporas.
E a Rainha das Flores está salva.
Pronta para nascer, crescer e fazer da Terra o Mundo Ideal.

Fim.
Observação: A DATA NA GRAVURA FOI EM BH.
EM IPATINGA, AS DATAS SEGUEM ABAIXO:

oficina malarrumada em Ipatinga - Criação e teatro de rua.

Dias 30 e 31 de agosto

Nete Sábado as 14:00
Domingo ás 16:30
no Parque Ipanema
Ipatinga
Direção de Eduardo Moreira

Proxima Edição Espreme que sai Sangue.

Abraços

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

5 coisas boas



abaixo email's enviado para meu endereço na revista cultural Nota Independente:


nome: José Estanislau Filho>> mensagem: Seguinte: Clevane Pessoa está antenada nos eventos culturais e > divulgou notaindependente. Parabéns! Também rabisco versos e prosas.Nota > 10 procês. J. Estanislau Filho


-----------------------------------------------------------------


Junior SqL>> mensagem: Opa !! navegando pela internet achei o site de vcs e achei um > maximo,um espaço bacana para produçoes independentes..eu faço parte de um > grupo de videos insanos..coisa que nao é tao normal e raro no > Brasil,queria divulgar os nossos videos aqui se vcs quiserem é claronossos > videos estao em nosso blogsitewww.inutilvideos.blogspot.comdesde ja > obrigado pela atençaoabraço


-----------------------------------------------------------------


Thiago Carvalho>> mensagem: Boa Tarde, sou da acessoria de imprensa da Festa Literária de > Uberlândia, e gostaríamos de fazer a divulgação de nosso evento em sua > agenda. Aí vão os dados:FLU - FESTA LITERÁRIA DE UBERLÂNDIAData: 27 à 31 > de AgostoLocal: Praça Coronel CarneiroMunicípio: UberlândiaOrganização: > Contorno Projetos e AçõesTelefone: (34)3216-2666 / 9996-3087E-mail: > http://www.blogger.com/eb site: http://www.festaliteraria.comno/ site, tem uma > área chamada "Sala de Imprensa", onde há um press release detalhado e > imagens.Aguardo contato.Atenciosamente,Equipe FLU - Festa Literária de > Uberlândia

terça-feira, 19 de agosto de 2008

A VOLTA DA MULHER BARBUDA

Fazia uma luminosa manhã.
Foi assim de repente, tão de repente que não deu tempo de passar na tevê, montada em um cavalo de asas ela surgiu de trás das nuvens e planou no azul do céu como se fosse um disco voador. Todo mundo viu e acreditou. Até mesmo os jornalistas que duvidam de tudo, mas que por motivos etílicos e profissionais vivem à caça de notícias pagas - estes já tinham até a manchete da capa:
A VOLTA DA MULHER BARBUDA
Era branco o seu cavalo. Negra, a cor da mulher; sua pele negra e sedosa era tão linda como a pérola negra do Oceano Índico. E que bunda!
Ninguém duvidaria de tamanha beleza. Finalmente, havia chegado o dia. Mas, o que será que pretendia aquela Deusa Negra e peluda, ao pousar, assim, vestida como veio ao mundo, feito Eva no terreiro de Adão?
No centro da cidade, o povo, abestalhado de tanto apreciar os desfiles de carroças puxadas por pangarés, contratados para fazer a propaganda política do governo de Sucupira, a tudo assistia, estupefato.
Ela desceu do cavalo. Os dedos finos de seus pés tocaram o chão negro do asfalto.
Longas madeixas tapavam-lhe os faróis dos seios túrgidos, e dos pelos de sua gruta lúbrica, à medida que ela avançava pela Avenida Vinte e Oito de Abril, ouviam-se gemidos de "Ui, Ui, Ui". Perfume de gardênia. Suas pernas eram esguias, pernas de amazonas.
Puxando o quadrúpede pelas rédeas, a cavaleira negra dirigiu-se a um menino que vendia ovos cozidos. Chegando à praça primeiro de maio, o populacho fez um círculo ao seu redor. Tem de quê, ela perguntou.
__ Codorna, pata, ornitorrinco, jacaré, galinha e avestruz.
__ E de cobra-coral? Não tem ovo de cobra coral? Pelas barbas do profeta Daniel, que cidade mais atrasada!
__ Não - respondeu o pirralho, tirando a cara de dentro da caixa de isopor e dando de testa com a testa cabeluda daquele mundão de mulher. Por mais que ele se esforçasse, o menino, ele não conseguia desviar os olhos dos olhos penetrantes da esfinge barbuda:
"Como é que eu vou contar para os meus amigos que eu vi uma mulher pelada bem na minha frente e não tive coragem de olhar para os peitos dela?".
E que peitos!
Nua, o corpo negro da mulher, a todos hipnotizava. Mas ninguém saberia dar detalhes de sua beleza, de tão bonita que era a disgramada. Nunca se vira beleza tão estonteante, nem nas revistas masculinas de mulher pelada, nem debaixo das cobertas do Big Brother. Os curiosos não conseguiam tirar os olhos do olhar misterioso da negra desnuda, atraídos pelo brilho de sua beleza interior.
Quem ousaria enxergar a beleza interior de uma mulher nua? E fita-la por dentro, sem maldade, desviando os olhos do pecado, como fazem os fotógrafos da Playboy? Oh, Glória! Por fora toda mulher é igual: bocas, peitos, pernas mãos e xota. Mas por dentro, seria ela uma anja? Ou quem sabe a filha do Cão?
Formou-se um rebuliço; carros paravam, pessoas desciam dos escritórios, lojas e bancos fecharam as portas e em pouco tempo a notícia paralisou toda a cidade; até a sessão da Câmara dos Vereadores foi interrompida, justo no dia em que os edis votavam o projeto que concedia o título de cidadão honorário para o diabo.
De onde veio essa mulher?
É gravação de novela?
O que está acontecendo? Nó, que cavalão! E o bicho tem asas! Será que ele voa?
Se voa?! Eu vi na hora que ela desceu montada nele! Olha lá!, olha lá!, o bicho vai mijar! NÓ!, que é aquilo, Jesus!!! Que piruzão!
Acho que é propaganda de banco.
Não, é a mulher jabuticaba.
Deve ser comercial de aparelho de barba. Cruz em credo! Eu nunca vi tanto cabelo, será que ela é irmã do Toni Ramos?
Que tumulto é este? – perguntavam-se as pessoas.
Alguém saiu correndo, de celular na orelha, gritando "Prefeito, prefeito, a mulher barbuda chegou!".
A polícia apareceu, mas os meganhas, extasiados diante da beleza pura da mulher negra, caíram na farra, misturando-se ao povaréu.
No centro da praça, a deusa de ébano tirou um ovo da axila. Depois, levantou-o com a mão direita, enquanto que com a mão esquerda tapava os pelos negros daquela palavra cabeluda que aflorava bem no meio de suas coxas. Ato contínuo, olhando para o céu ela pronunciou estas palavras:
"Eis o ovo gerador da vida. Quem conservar este ovo, será conservado. Quem desprezar o ovo, pelo voto popular será desprezado".
A claque gritava, pulava e aplaudia:
POVO! POVO! POVO! MEU VOTO NÃO É OVO!
POVO! POVO! POVO! MEU VOTO NÃO É OVO!
"Quem babar neste ovo terá direito a um babador, ganhará um cargo público e poderá contratar todos os seus parentes, e pela baba coletiva será bem recompensado. Quem gorar o ovo, pelo voto do povo será enganado".
Tomando de uma grande frigideira (que ela fez aparecer com um estalar de dedos), avental, escumadeira, touca de cabelo, óleo de cozinha e um fogão, e dançando como uma lamparina no Lago dos Cisnes, ela quebrou o ovo em um prato e pôs-se a preparar uma omelete para cinco mil pessoas.
O povo gritava, maravilhado, antegozando as delícias do aroma que exalava da rica iguaria:
POVO! POVO! POVO! MEU VOTO NÃO É OVO!
POVO! POVO! POVO! MEU VOTO NÃO É OVO!
Ao fim do ato, preparado o repasto, alguém apareceu com dez mil litros de chope em um caminhão pipa. E ela então ordenou que fossem organizadas dez filas de quinhentas pessoas. Depois, num gesto suave, a mulher tirou o avental e a touca de cabelo, ficando novamente nua em pelo, e agradeceu pelo alimento, orando assim:
"Ovai, ovei, ovemos todos nós. Ovo para o pai, ovo para a mãe, ovo para o filho, Ovo para a tia e ovo para João e Maria. Quem de vós seríeis capaz de pronunciar a palavra OVO de trás pra frente em sete idiomas? Ovo no café da manhã. Ovo no almoço e ovo no jantar. Povo, vós não sois galinhas poedeiras! Aves condenadas a viver em gaiolas, comendo qualquer porcaria, a luz da televisão acesa noite e dia em suas cabeças, para serem abatidas aos quarenta e cinco dias? Atentais que o povo não foi feito para o ovo, e sim o ovo é que foi feito para o povo. Por que do ovo viemos, para o ovo em pó voltaremos, e pelo voto do povo renasceremos. É impossível fazer pizza sem quebrar o ovo! Pois eu vim para acabar com este Tempo em que a mentira é servida sem sal, pelo preço módico de um real. Hoje, os políticos não valem um ovo podre na cara. Muitos serão os candidatos, mas poucos terminarão o mandato sem manchas na cueca, graças à Polícia Federal. Irmãos, quantos pintinhos inocentes deixaram de nascer, assassinados ainda na casca do ovo, para matar a fome dos homens? Tenho dito: é chegado o Tempo em que será mais fácil nascer cabelo em ovo do que um candidato a prefeito ser aceito à mesa no Restaurante dos Ratos".
Alguém gritou no meio da multidão:
Vamo pará com este papo furado que eu tô com fome!
POVO! POVO! POVO! SEU VOTO VALE UM OVO!
POVO! POVO! POVO! SEU VOTO VALE UM OVO!
JT PALHARES
jtpalhares

LIBERDADE LIBERTINAGEM

“... eu costuma ter um jeito de sacudir os cabelos para trás que significava exatamente isso: uma tentativa de libertação. Hoje felizmente não preciso mais do gesto. Não, às vezes preciso”.
(Clarice Lispector – A Descoberta do Mundo – Editora Rocco)

Eu não sou livre. Quem o é?
Tenho muitos momentos de liberdade. O que é bom.
Mas é o verbo ter e não o verbo ser que eu conjugo na liberdade. Não quero ser assim. Não.

Sinto-me livre. O que é verdade. Sou livre de verdade?
Alguém disse que todos são prisioneiros de algo ou alguém. Mas todos são prisioneiros, o que muda é a prisão. Se é verdade, sou meu próprio carcereiro. Ninguém mais e se um dia alguém segurou ou vai segurar as chaves é porque eu as dei.
Nunca fui preso numa cadeia. Não sei como é “morar” lá. Então, deixa-me ver quais são minhas experiências...
Quando eu era menino fui com uma tia na cadeia levar alimentos. Não sei porquê. As paredes mostravam os tijolos. Acho que algumas tinham reboco e talvez até tinta. Mas todas tinham mofo ou umidade.
Os homens, seminus com ar de cansados. Alguns, amargos. Nunca entendi a falta de camisa em todos e porque as bermudas rasgadas, os cobertores imundos, os corpos encardidos pela sujeira e as bocas desdentadas. Mas era assim que todos estavam. E eu com frio. As frutas e o bolo... Creio ser tolice dizer que fizeram a alegria deles naquele momento. O mais certo, talvez, seja que saciaram por alguns minutos a fome da barriga com a sensualidade da boca. E eles pegaram com ânsia, desespero e agradecendo... Nunca soube se eles estavam gratos de verdade e de quê sorriam.
Havia mulheres? Acho que sim. Se aquilo pudesse ser mulher, ou melhor, gente. Tal era a sua aparência andrógena pela imundície e dor na cela. Só. Nada melhor que imundície e dor, principalmente a dor, para androgenizar as pessoas.
Grades marrons avermelhadas pela ferrugem. Na época eram, assim me pareceu, mais grossas que meu pinto. Por que pensei em pinto? Sei lá. Eu acho que nos meus sete ou oito anos eu já tinha alguma tara. Que horror. Eu tão religioso.
Lembro que poucos anos depois eu vi uns desenhos animados da Bete Boope. Já viram que ela só se veste de cinta-liga e outras roupas eróticas? Num desenho, ela fez campanha política ou algo assim e uma de suas propostas era punir motoristas que passando a toda sobre poças d’água molhassem os pedestres acorrentando-os numa banheira repletas de pedras de gelo. Aquilo me deixou excitado por semanas e ainda hoje quando eu me lembro sinto alguma coisa...
Mas onde estou? A gente não estava falando sobre liberdade?
Bem! Então... Não acho que ser livre é fazer o que quiser sem dar a mínima para os outros. Será liberdade atravessar a rua com o sinal fechado? Acho que isso é burrice e não liberdade. Liberdade, penso, é fazer aquilo que vim fazer no mundo. Alguns podem pensar que ser livre é levar uma vida desregrada: gula, luxúria, preguiça, ira. “Pois essa é a tendência natural do corpo”. Ora a tendência natural da faca é enferrujar. Será um “respeito à sua liberdade” deixá-la se perder? A valorização dela e do corpo humano não é se deixar levar, mas sim conduzir ao aperfeiçoamento. Que acha?
Ta conseguindo me acompanhar? Estou falando tantas coisas entrecortadas. Mas...
Seja o que for que me excitaram na cadeia e no desenho animado não me conduzem. E minha prisão não são as taras. Minhas prisões, volto a ponderar, se é verdade que somos todos prisioneiros, são outras. O sexo não é meu motor nem meu combustível. A propósito, dinheiro também não. Falo isso, porque gosto dele. Gosto de sexo também, mas no nosso “mundo, vasto mundo” sou mais movido pela arte que por outras coisas. Por exemplo: A sensualidade me move bem mais. Como disse Caetano “Gosto de sentir a língua de Camões roçar na minha”. Gosto de sentir o que meus olhos percebem. Gosto de sentir o que meus demais sentidos percebem. Creio que quanto mais sinto e percebo o mundo, mais eu tenho material para me expressar. Assim escrevo. Assim interpreto papeis artísticos. Assim conto estórias. Assim a gente conversa.
Liberdade! Tara! Sexo e sensualidade! Tantos cortes. Eu estou assim mesmo. Confuso. E você me acompanha?