quinta-feira, 15 de abril de 2010

COLIBRI

Rubem Leite – 14-15\4\10


- Usa! Usa! Usa! Usa!

- Uga! Usa!

- Uga! Usausa!

Discutem escondidos os três guerreiros apontando a mulher com o casal de adolescente buscando água na fonte. No ataque

- Bra! Bra!

- Afro al!

- Afro as.

- Alas asal.

Os guerreiros prendem os irmãos enquanto a mulher foge desesperada. Arrastam os acorrentados por três dias. Doze são os prisioneiros mais os quatro os guerreiros que se juntaram aos nossos conhecidos. Totalizando – entre guerreiros, escravos e oferendas – quarenta e nove.

Gargalhadas. Piadas. Zombarias. Ofensas. Tapas. Fome. Sede. Cansaço. Desesperança.

Barulho de passos e gritos de guerra chegam de repente assustando.

Trezentas e tantas cabeças armadas até os dentes com pedras e lanças chegam para salvar os dois irmãos.

Gritos. Gritos. Sangue. Sangue. Sangue. Choro. Choro. Dor. Medo. Angústia.

Voltam para casa os trezentos e tantos guerreiros levando os dois irmãos e quinze escravos e oferendas.


E ainda hoje isso se repete nas empresas, nas ongs, nas nações.

E eu? O que ainda estou fazendo aqui?

Corpo verde, azul, amarelo e vermelho, barriga amarela, cada pena do rabo é amarela, verde e vermelha. Um beija-flor. O beija-flor atravessa o pó da Via Láctea osculando cada estrela, polenizando cada orbe. Tudo num átimo no íntimo do meu olho direito. Perfazendo o mesmo na íris esquerda. Moral da estória? Sei lá. Diga-me você. Apenas viajo.


Semente lançada não encontrou o solo. Perdeu-se.

Persisto.

Semente lançada encontrou o solo. Venceu.

Flor em flor germinam em frutos.

Sementes germinam novas flores.

Vejo ao longe um jardim.


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