sexta-feira, 9 de abril de 2010

SOL E LUA

Escrevo na manhã de 09 de maio de 2010

ouvindo “Inveja”, na voz de Cauby Peixoto

e músicas místicas de Reiki e Numerologia.


Ofereço aos aniversariantes:

Carlos Passos, Mª Arlete Santos, Fabrício Borges, Rubem G.W. Leite, Luiz Magalhães


É uma manhã de Páscoa, não o primeiro domingo, mas uma sexta-feira na choupana de um amigo morador de Antônio Dias.

Cara! Juro que não entendo. Se eu fosse o prefeito do lugar investiria muito em turismo. O nome da cidade é uma homenagem ao seu fundador, o mesmo homem que fundou Ouro Preto. Tem um casarão que pertenceu a um membro “menor” da Família Imperial, mas ainda da família, se é que me entende... E mais importante, investir em ecoturismo: tem cachoeiras, matas belíssimas e outras possibilidades.

Aliás, é às margens de uma de suas cachoeiras cercada por uma mata lindíssima que estou hospedado. Levantei antes do Sol, que quando acordou bocejou preguiçoso. Levantei antes do Rei e fui para a prainha realizar uma prática contemplativa chamada Meditação Shinsokan. Assim que Sua Majestade despontou iniciei a prece. E só então fui preparar o café: café, leite, pão integral e frutas do lugar. Voltei para a praia e ouvindo a música da cachoeira comecei a ler. Será que não é o canto das águas que as pessoas dizem ser o canto da Iara? Lendo, escrevendo, cochilando ora à sombra, ora ao sol passei a manhã. Preparei meu almoço: feijão, arroz, legumes crus e, do local, queijo, goiabada cascão (claro) e frutas.

Volto a praia, debaixo de um ipê amarelo e dormi, li, escrevi, li, escrevi, li, dormi. Acordei com os últimos raios de sol e com o sorriso da lua

Acordo com o pio de uma coruja olhando para mim ao quase fim do dia, ao quase início da noite. E quando abri os olhos ela fez assim com a cabeça (Sabe como é, né: balançou-a sem mexer o pescoço). Bonita corujinha marrom com manchas brancas nas asas e pretas na cabeça e nas costas. Levantei devagar para não assustá-la. Mas não se mostrou necessário tal cuidado, pois a menina não estava nem um pouco preocupada. Cumprimentei-a e fui para casa levando o livro e o caderno que usei. Seu olhar me seguiu até adentrar na choupana, que é pequena e confortável. De pedra e madeira. Fácil de limpar, graças a Deus. Varanda ampla, sala-cozinha, um quarto e o banheiro fora, com teto de vidro para ver as estrelas... Bem, foi assim que Percival, meu amigo dono da casa, me falou.

Na choupana preparo um jantar frugal para mim. Creio que você já sacou que estou sozinho, né. Perdi um grande amigo por culpa minha, estou sem namorar faz um tempinho e estava querendo desencontrar com gente. Exceto a mim. Pão, queijo minas, vinho tinto seco, frutas. Acendo umas velas e vou bem agasalhado para a varanda. Ponho tudo numa mesinha, sento na cadeira de balanço e vou namorar Iaci Acauã, a Lua Cheia. A coruja ainda está olhando para mim quando abriu as asas vou para cima e desceu crescendo até virar uma jovem vestida de marrom com os mais lindos cabelos negros que se possa imaginar indo até o meio das costas e um xale branco ou algo assim cobrindo os ombros e braços. Ela se encaminha até mim, procurando olhar nos meus olhos. Seus olhos! Era noite e seus olhos refletem Iaci como Iaci reflete o Sol. Que olhar lindo! Parou diante da escada de três degraus para a varanda.

Sou Benito Bardo Junior, artista da palavra e das cenas. Sou Benito Bardo e conheço muitos seres míticos: Caiçuara, o Curupira, Ikunataí, a Iara. Mas ainda não conhecia Matinta Perê ou Matinta Pereira. Sou Benito, não me assusto.

- Entre!

- Você não está com medo?

- Seja bem vinda!

- Ainda ontem, a léguas daqui, no Ipaneminha, em Ipatinga, visitei um homem e ele rezou o Credo, o Pai-Nosso, a Ave-Maria e me chamou de amaldiçoada por simplesmente ouvir suas preces sem me assustar. Parecia pensar que eu desconhecia Deus.

Sorrio!

- Você é Matinta Perê?

- Você é Benito? Já ouvi os Curupiras e Caiporas falarem de você.

Sorrindo aceno com a cabeça e ela continua

- Sou um ser Matinta Perê. Sou Amana Acauã, de nome.

- Nome indígena? Você não me parece índia.

- Sou índia euro-africana. Sou brasileira.

- Mas entre. Sente-se e coma comigo.

Ela entrou, sentou, comemos. Peguei suas mãos entre as minhas e ficamos nos olhando nos olhos. Vi um fogo que me abrasou. Entramos. Deitamos. A noite foi avançando ela foi se envelhecendo acarinhando-me cada vez melhor. A manhã foi aproximando ela foi se remoçando renovando minhas forças.

Antes do Sol nascer preparamos um café: café, leite, queijo, pão, mel e frutas. Alimentados fomos para a praia. Enquanto assentava e assumia posição de prece ela, coruja, alçou vôo para os braços de Iaci Acauã que se ia. Diante do Astro-Rei contemplei a Imagem Verdadeira adorando Deus em mim, venerando-O em tudo e em todos.


A propósito, já que contei uma estória sobre um ser sobrenatural, recomendo a leitura do livro “Histórias mal-assombradas em volta do fogão de lenha”, de Adriano Messias. Editora Biruta. Que me foi emprestado pela grande poeta e cronista Nena de Castro. A obra é muito interessante. É contada tendo como protagonista um adolescente. Se quiser falar pessoalmente com o autor, esteja à vontade: adrianojornalista@yahoo.com.br

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