ilustração feita por Tiago Costa.
Escrita na madrugada de 07 de março e mexida até dia 14 do mesmo mês em 2011
Ofereço como presente de aniversário aos meus queridos
Alexandre G. Costa, Rubens Serafim Jr, Marcelo Oliveira, Casa de Bamba.
Um semeador saiu para trabalhar. Primeiro o terreno é capinado, depois arado para ser feito covas onde serão depositadas as sementes. Adubar, aguar, esperar e confiar. Uma fileira de feijão preto e outra do carioca.
Só no Brasil existem mais de quatorze mil tipos de feijão, sendo que dez mil não são cultivados, nascendo apenas nas florestas. Dos quatro mil tipos cultivados 70% do cultivo e consumo é do carioquinha. Em segundo lugar, com 20%, é o preto (meu preferido) e os demais, juntos, dão 10% de cultivo e consumo.
Cresceram as plantinhas entre as brincadeiras de criança, filhos do fazendeiro, que é o semeador, e de seus irmãos, também donos da terra. Mas como é possível ser dono de quem nos sustenta? Mantém-nos?
Por gentileza, pense na pergunta que lhe fiz. Eu, como você pode ver por ter-lhe perguntando, também estou pensando continuamente nela. Enquanto pensa vou lhe complicar um pouquinho. Uarrarrá! Afinal, o que é fácil não tem graça... Ao comprar seu feijão tenha os seguintes cuidados: A granel: escolha os de mesmo tamanho, casca parecida, brilhantes, sem rachaduras e manchas estranhas à espécie (caso ela as tenha, claro. Uarrarrá!). Pegue um grão e aperte. Se rachar facilmente é porque está velho e não irá cozinhar direito. Se sentir necessidade pegue outro e faça a mesma experiência. Se quiser, faça mais uma vez, mas pelo amor de Deus não é necessário testar todos. Uarrarrá! Embalado: verifique a safra, a data de validade e se é tipo 1. Para armazenar escolha lugar seco e arejado e nem pense, pelo amor de Deus, em estocar para um ano ou mais. Pão durice e neurose têm limites, por favor. Uarrarrá!
Foram crescendo entre os nasceres e pores de sois. Entre o sol e a chuva. Olhando, quem diria, esse feijão é preto e aquele é carioca. Mantidos pelo solo e vivificados pelo sol, não brigam entre si e beneficiam os homens e os animais.
Ai! Quero, como disse Drummond, “Eu preparo uma canção que faça acordar os homens e adormecer as crianças”. Mas devido à minha incapacidade de cantar eu escrevo. Escrevo, todo prosa, versos. E tento ser um trovador trovejante. Mas nunca deixarei de ser um crontista.
Viva os poetas e que suas poesias e poemas sejam armas ou as flores que combatem as armas.
Um comentário:
Olá!
uma delícia o seu texto.Trouxe-me um flash da infância,quando meus irmãos e eu semeávamos os grãos para ajudar nosso pai.
Os pés descalços doíam ao pisar na terra virada às avessas, mordida pelo arado de ferro. Mesmo assim, subíamos a ladeira rindo, cantando e conversando sem parar.Éramos muito felizes.
Lembro-me de um dia em que estávamos muito apressados porque nossas avós iam chegar.Meu irmão mais levado, encheu a cova de milho para acabar logo. quando nasceu, tinha mais de vinte pés de milho na cova.Meu pai ficou uma fera. queria descobrir o culpado. Foi lá, mediu os rastros que ainda estavam na terra úmida.Já em casa, mediu nossos pés, mas não conseguiu identificar o culpado.Cada um de nós assumiu o erro na maior cara de pau para não ver Nardeli sendo castigado. Como não encontrou outra alternativa, deu uma bronca coletiva e pronto.
Depois de muitos anos ele ria e dizia: - tive vontade de fazer o culpado comer aquelas folhas verdes e tenras, uma por uma.
Ainda bem que não fez,né?
Quanto ao pretinho e o carioquinha,acredito que a humanidade deveria aprender com eles a respeitar as difernças para que todos sejam mais felizes.
Um abraço.
Goretti de Freitas
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