Obax anafisa.
Estava feliz. Sorria toda contente pela aceitação. Ninguém mais se importava com suas sardas, gordurinhas, cabelos loiros e aparelhos ortodônticos. Não se importavam também com seu baixo intelecto. Todos riam para ela “Cacacacacacá”. Todos se divertiam por ela cantar Ilariê, da Xuxa. “Rarrarrarrá”. Estava, era aceita. Finalmente. A baixa autoestima se elevou. Os olhos brilhavam. “Canta mais. Canta de novo. Canta”. Aclamavam. Toda sorriso. Mas outras pessoas têm que apresentar na escola. Tudo bem. Amigos iriam nascer dali.
Na segunda seguinte no recreio. Pediram-lhe “Canta de novo. Canta”. Ela se empertigou, feliz. Abriu a boca
- Parem com isso. – Ordena a Diretora. – Ninguém mais vai zombar dela. – E continua a falar.
A menina de olhos arregalados se viu sardenta, aparelhada, gorda, loira, burra. Infeliz. Eu vi a crueldade dos adolescentes, das crianças.
Eu vi a diretora matar a menina com sua misericórdia. Eu me vi sem saber o que fazer. Apenas olhando. Não sei se alheio. Mas nem eu nem ninguém interveio.
Escrita entre a tarde de 21 de setembro e a madrugada de 04 de outubro de 2011.
Ofereço como presente de aniversário ainda aos meus queridos:
Cleyde Yáconis (Grupo de teatro), Agnaldo Bicalho, Felipe F. Nascimento, Nilmar Lage, Jésus Guimarães, Felipe Avlis, Luciano Botelho.
Ofereço também a todos os meus seguidores, em especial
Matheus Miranda, Mayron Angel, M, Ana K. Bucciarelli (onze palavras).
Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas.
O cronto é minha flor para você
e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.
Um comentário:
Rubem, gostei muito do conto!
Esse gênero é muito interessante, pois é um texto condensado de poesias várias...
E esse conto me atingiu nessa perspectiva. Disse pouco, em número de palavras, e muito em reflexão...
Uma prosa verdadeiramente poética e é assim que tem que ser.
Um bom escritor não enfeita muito,não diz mais que o necessário, mas a sua técnica é que revela seu potencial de organizar as palavras para tocar o leitor... Aprendi isso com a obra de Graciliano...
Abs,
Luciana Carvalho de Aguiar
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