domingo, 16 de fevereiro de 2020

ONDE HÁ PÁSSAROS CANTANDO



Epa Babá! Meu Pai Oxalá! Peço a Vós a proteção para mim, para minha família e para todos os meus leitores contra todas as maldades e contra todos os perigos deste mundo. Dai-me a luz necessária para seguir o meu caminho, conceda-me a paz, a positividade e a saúde, para cumprir a minha missão neste plano terreno.
Àquele que puder, leia ouvindo seis suítes para violoncelo de Bach, interpretadas pelo húngaro István Várdai: https://www.youtube.com/watch?v=D83cMncj_Ig . Ou ao menos a primeira delas. Não se arrependerá.


Três Vozes dialogam dentro do último quarto lunar. É a primeira madrugada de lua minguante de fevereiro de 2020.

- Ah, sol! – Declara a rouca primeira Voz. – O sol é o amor.
- Bobagem. – Clama a histriônica segunda Voz. – Há nuvens.
- Nuvens são uma ilusão; ou a paixão.
- Elas cobrem o sol…
- Mas o sol, por trás das nuvens ainda existe.
- É noite!
- Mas o sol por trás da noite ainda é.
- Cadê o sol; se só vejo nuvens na noite.
- Ouça!
Alguns segundos de silêncio e continua:
- São três horas da manhã e há pássaros cantando na Terra.
- Trés da manhã há pássaros cantando… Ainda! Mas até quando a Terra aguenta? Até quando o povo há de suportar? ¿Hasta cuándo? Until When?
Mais alguns segundos de silêncio e histriônica Voz combate a rouca:
- Ainda há pássaros a cantar. Mas cultura e autoritarismo não se mesclam. No Brasil isso se apresenta a décadas e no mundo, milênios.
- Um dos primeiros sintomas do autoritarismo que se instaura é a queima de livros. Há que distinguir bem sintoma de consequência. Censura a cultura é sinal de perigo e não resultado do mal.
Acima a fluida Voz declara e abaixo a histriônica não se cala.
- Em 1937 o governo Vargas queimou na Bahia, mais precisamente em Salvador quase dois mil livros. No período da Ditadura Civil-Militar, através do AI-5, outras quase duas mil obras artísticas nas variadas áreas foram censuradas.
- Junto a essas censuras e queimas os artistas foram presos, torturados, deportados ou mortos. – A fluida Voz grita para a Terra: ‘Quer ser diferente? Seja normal. Hoje em dia é moda ser louco’¹. A idiotice está orgulhosa e a estupidez, poderosa.
- “Antes de reduzir um país a ruínas, preocupe-se em aniquilar sua cultura”. Isso vem de um Hino Sumério – explica a rouca Voz. Contudo, apesar de essa prática ser tão antiga quanto às guerras, nem o Brasil nem o mundo aprenderam a reconhecer os sintomas e a combater o mal.
A histriônica Voz não se aguenta: Assim continuaremos?
A rouca Voz responde: Há de fazer-se algo.
A fluida voz encerra: Sente-se só? ‘Solidão é sentir-se tão cheio das coisas, das pessoas ao ponto de vomitar tudo sobre o chão do seu quarto vazio’¹. Em contrapartida, ‘abraço bom é aquele que começa na alma e termina no corpo’¹.


Ofereço como presente aos aniversariantes:
Claudina Abrantes, Rodolfo Bello, Salatiel Lucas, Margô Inácio, Mª Fátima W. Leite, Helena L. Lopes, Helena Couto, Gabriel Miguel, Dinei Gonçalves, Maximiliano J. Benítez.

Recomendo a leitura de:
blogues:
“Árvore Fluida”, deste macróbio que vos fala:
“No Escadão”, de Menezes Silva:
Livros:
“Morte de Tinta”, de Cornelia Funke; pela editora Companhia das Letras.
“Fábulas”, de Monteiro Lobato; pela editora Universo dos Livros.

¹ Poeta Gabriel Miguel.
O diálogo entre as vozes histriônica e fluida vem de uma pequena resenha do autor: KOPSCH, Daniela. Já Dizia o Poeta: “onde se queimam livros, acabam-se queimando pessoas. Revista Língua Portuguesa e Literatura. ed. 80. Escala. P. 5.

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.
 É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes.
 É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”.
 Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”.
 Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
 Foto do autor pelo próprio autor.

Escrito na madrugada da primeira sexta-feira de fevereiro de 2020; como resposta ao mal sonho que me acordou. Trabalhado no dia 15 do mesmo mês e ano.

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