domingo, 2 de fevereiro de 2020

SABORES


Larôyê Exu! Exu é Mojubá! A vós, Mensageiro Exu, meus respeitos! Eu te peço, Exu:
Mensageiro dos Orixás e do próprio Olorum, proteja-me da inveja e do olho gordo; mantenha meus caminhos abertos no amor e nas finanças; oriente minhas palavras escritas e faladas. Larôiê Exu! A vós, Santo Antônio, meus respeitos!

Esta história aconteceu há séculos e séculos. Em um período onde ainda não existiam as férias escolares. E começou no que futuramente poderia vir a ser o primeiro domingo de fevereiro.
Adão e Eva já tinham experimentado todas as frutas, verduras, legumes. Mas não comiam carne; foram os primeiros veganos. Experimentaram todos os vegetais, menos os dois que o Criador ainda não fizera.
E num espírito brincalhão – ao contrário do que dizem, com Deus se brinca sim. Ou então Ele fica:

Mas como dizia, em um momento de diversão Olorum falou para Adão e a Eva descobrirem o nome de duas frutas até então não saboreadas.
Adão recebeu uma fruta que ficaria vermelha, arredonda, macia e suculenta quando madura. Eva recebeu uma fruta que ficaria amarela, comprida, macia e deliciosa quando madura.
Detalhe, as frutas ainda estavam verde e por isso só poderiam experimentá-la após descoberto o nome; ou seja, só ficariam consumíveis ao fim do jogo.
Na parte de fora do Paraíso, em frente ao portão trancado e vigiado por um anjo de espada flamejante para que não voltassem, Adão seguiu pela direita e Eva, pela esquerda. (Realmente, mulher muitas vezes é mais experta, quase sempre prefere seguir pela esquerda enquanto os homens costumam ser os pobres de direita… É claro que toda regra tem exceção. Eu mesmo, o autor dessa “lenda” por mim inventada, sou de esquerda. Posso ser pobre, mas não sou um burro ‘pobre de direita’… Rerrê.).
Adão perguntou a um jabuti o que é isso daqui? E o jabuti disse “ca ca ca” e não era risada, mas sim a primeira sílaba.
Eva perguntou a um mico leão dourado o que é isso que seguro ao meu lado? E o miquinho respondeu: ba ba ba. E não era desdém, mas sim a primeira sílaba.
Adão indagou a uma capivara que fruta era aquela que dava em varas. E o lindo roedor respondeu sem horror e com fervor: qui qui qui. Também não dera risada, apenas dissera a última sílaba.
Eva questionou a uma arara que fruta é esta, que é cheirosa, não apesta. E famosa ave nacional a ela disse “nana nana nana”. Nada negava, apenas falara as duas últimas sílabas da bela palavra.
Após divertida empreitada retornaram ao ponto que fora de partida e agora, de chegada. E Deus, com sua voz atroante, disse:
- Eva, qual o nome da fruta?
- Banana.
E Deus, com sua voz troante, disse:
- Muito bem. Muito bem. Eva, pode experimentar. Veja que está madura.
Eva olhou, cheirou, alisou, lambeu, chupou e engoliu por inteiro a banana. Ao fim do desfrute outra fruta semelhante aparecera.
E Deus, com sua voz tronante, disse:
- Adão, qual o nome da fruta?
- Caqui.
E Deus com sua voz atroadora, continuou:
- Muito bom. Muito bom. Adão, pode saborear. Veja que está madura.
Adão olhou, cheirou, alisou, lambeu e mordeu o caqui. Que sem lamento se abriu em doce sumo a escorrer pela boca e entre os dedos. Quando terminou de desfrutá-la surgira outra fruta igual.
E os dois degustaram: “Nada melhor”, disseram os dois.
- Posso experimentar a banana que desfruta? – Adão perguntou a Eva. Com a permissão do Senhor, foi assim que Adão descobrira a curtição nas frutas fálicas.
- Posso experimentar o caqui ao qual você se dá o desfrute? – Eva perguntou a Adão. Com a permissão do Altíssimo, foi assim que Eva descobrira o gozo nas deliciosas frutas aquosas.
E mesmo fora do Jardim do Éden o primeiro casal conheceu que a vida dura tem suas compensações e os amores não tem pudores nem despudores, só sabores.


Ofereço como presente aos aniversariantes Marco Vaz e Aparecida Leite.

Recomendo a leitura de:
“No Escadão”, de Menezes Silva:
https://milagulhas.blogspot.com/2020/01/no-escadao.html
“Sobre Artesania e Inspiração”, de Caio Riter:
http://caioriter.blogspot.com/2020/01/sobre-artesania-e-inspiracao.html
“Crônicas de Uma Noite Alucinante”, de Glaussim:
https://www.recantodasletras.com.br/cronicas/6854103?fbclid=IwAR3iYYyg64gQh1kZo8-yLTbInnvWBxfbQoDuFyQqg0CpBO4pVHvE2HTuv-8


Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.
É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes.
É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”.
Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”.
Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Imagens:
Um Sábado Qualquer. 650 – Em homenagem aos fanáticos que sempre me dizem por e-amail que… . Disponível em https://www.umsabadoqualquer.com/650-em-homenagem-a-alguns-fanaticos-que-sempre-me-dizem-por-e-mail-que/ Acesso 02-02-2020.
Foto do autor pelo próprio autor.

Escrito no início da manhã de 02-02-2020. Partindo de um sonho meu nesta madrugada.

3 comentários:

Socos e Alívios disse...

Lindo, lindo, lindo!

Menezes disse...

Fabulosa fábula, genial.

Fernanda disse...

muito gostosa a leitura!