Armas llevan a
destrucción y muerte. ¡Libros, a reflexión y vida!
Cierro el libro y
los ojos. Veo a persona del sueño. Oigo del sueño todo que ella nunca dijera en
la realidad. Pero conocí mejores gentes y oí verdades en los libros.
Un atrueno me vuelve a
realidad. El vecino de la derecha se arrodilla de ojos muy abiertos, ancha boca
muda, corazón exponiéndose. Armas llevan a destrucción y muerte.
Diz Dona Maria Soares, aos 96 anos: “Armas levam à
destruição e morte. Livros, à reflexão e vida!”. Isso em Ipatinga (MG) durante a
manifestação nacional em protesto aos cortes orçamentais na Educação.
Armas levam à
destruição e morte. Livros, à reflexão e vida! Com isso ecoando na cabeça
caminhava de retorno a casa. Acabara de sair da praça dos três podres, digo,
três poderes e mal tocara o pé na praça José Júlio da Costa quando uma voz me
disse:
- Você consegue ver além das aparências?
- Não. No máximo consigo vislumbrar algum fragmento
interno da pessoa. Mas nunca o todo. O véu da carne, ouvi de um espírita, é
muito forte.
A voz quer continuar, mas eu não e volto a andar
enquanto penso em um poema de Rubem Leite.
Vermelho sangue
Escorra
Verde madeira
Corte
Verdade justiça
Impeça
Ver o olho
Cegue
Errados Arrependidos¹
Exclamações:
Garçom preso
Pré-adolescente denuncia
Sexo
Carro destruído
População justiceira
Complexo
Garçom solto
Menina mentira
Desconexo
Interrogações:
Justiceiros arrependidos
Garçom absolvido
Descreio
Carro novo
Respeito de novo
Alguém veio
Menina arrependida
Namoradinho sem sentido
Devaneio
Já na minha rua vejo sentados na calçada, com
cachimbos acesos, aqueles que se odeiam e são odiados.
A direita de minha casa, à porta, o vizinho me pede
dois reais. Não fala o motivo. Mas por uma quantia dessas é pedra pra fumar.
- Nunca dou dinheiro.
- Mas outra coisa cê dá...
Há coisas mais importantes que a sexualidade. Por isso
não lhe olho nem respondo. Abro o portão, subo a escada, atravesso a
sala-cozinha, entro no meu quarto, fecho a porta, subo na cama, olho pela
janela o telhado do vizinho da esquerda.
E o que vejo é o sonho que esta manhã me acordara. O
sujeito com quem sonhei estava tão arrependido que sentia que nada lhe poderia
redimir, mas sentia que a mais forte penitência seria a palavra mais pesada.
Peço perdão! Peço
perdão não porque queira ser perdoado. Peço perdão não porque mereça ser
perdoado. Peço perdão porque perdão é a palavra mais feia que conheço.
Livros levam a reflexão e vida. Finalmente deixo a janela
e me deito. Ney me diz: “Naquela época, um padre me perguntou se eu ‘fazia
saliências’ com meninas. Uma criança, incrédulo com a situação, respondi que
não. Ele perguntou, então, se eu ‘fazia saliências’ com os meninos. Aquele
episódio me marcou profundamente. Foi assim, através da Igreja, que descobri
que os meninos também eram uma possibilidade para exercitar a sexualidade.”².
Fecho o livro e os olhos. Vejo a pessoa do sonho.
Ouço do sonho o que ela nunca dissera na realidade. Mas conheci melhores gentes
e ouvi verdades nos livros.
Um estrondo me volta à realidade. O vizinho da
direita se ajoelha de olhos esbugalhados, aberta a boca muda, coração
expondo-se. Armas levam à destruição e morte.
Ofereço como presente aos aniversariantes:
Edgar Soares, Rita Eneida M. Rocha, Neide R. Azevedo e ao
Circo Massa.
Recomendo a leitura de:
Sem título, poema de Victor Hiroshi:
https://cafesegredo.blogspot.com/2020/07/tempo-vem-tempo-vai.html
“Dois minutos para a meia-noite”, de Glaussim:
https://www.recantodasletras.com.br/contosdesuspense/6986901
“Invisíveis Dores Profundas”, de António MR Martins:
Sem título, poema de Victor Hiroshi:
https://cafesegredo.blogspot.com/2020/07/tempo-vem-tempo-vai.html
“Dois minutos para a meia-noite”, de Glaussim:
https://www.recantodasletras.com.br/contosdesuspense/6986901
“Invisíveis Dores Profundas”, de António MR Martins:
¹ Caso real que recordei ao pensar em nossa sociedade tão
doente.
² MATOGROSSO, Ney. Sangue Latino. Vira-lata de raça. Ramon Nunes Mello (pesquisa, interlocução e
organização). São Paulo: Tordesilhas, 2018. P. 23.
Rubem Leite é escritor,
poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA
aRTEIRO.
É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes.
É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do
Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua
Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”.
Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente
em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em
Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte
da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”.
Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG
(representando a Literatura).
Imagens: fotos do autor.
Texto iniciado no dia 16 de maio de 2019; acrescido quatro
dias depois; e trabalhado entre 30 de junho e 05 de julho de 2020.
Um comentário:
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