ou O ROSTO DE QUEM NÃO FALA NADA
Em português:
Deixei de trabalhar porque este corpo não vale nada. Não
vale nada! Não tenho irmãos. A única morreu de câncer. – Fala pra si e de
costas a quem quer que seja.
“Quem é ele e do que fala”. Talvez pergunte, no
entanto te respondo apenas que tem a fisionomia daqueles que nada dizem.
Contudo, em seus olhos há chamas cujo crepitar pode-se ouvir.
Mas ele não é visto nem ouvido e todavia lhe gritam:
“Você é o lixo imundo da escória”.
Lixo por ser preto; imundo por ser gay; e escória por
ser professor.
O que importa se em suas aulas ele diz que não há
estabilidade na Literatura, pois há modismos que incentivam a ler, contudo não
produz o amargo do pensar a fundo. Diz mais: São felizes os que não pensam a
fundo. Possuem a tranquilidade dos gatos e as brincadeiras dos cães.
Proclama e se cala.
Mas o pensador – aquele que reflexiona e filosofa – é
uma pitanga. Há quem rirá disso. E quem ri está preso ao desapreço à própria
língua. Linda língua a portuguesa. Acharia elegante se fosse em inglês ou
francês. Os que pensam a fundo, porém, sabem que a leitura – a verdadeira
leitura – começa doce e termina amarga. Deleita-se com sua beleza e padece com
os pensamentos que produz. Dois sabores em momentos distintos; como a pitanga.
Pensa e se cala.
E sua fisionomia calada sai da sala de aula para a
sala dos professores. Mas tão esgotado está que geme ainda no corredor; bem em
frente ao ipê frondoso, mas não amarelamente florido.
- Meus livros são em vão em sala de aula. Meus planos
de aula pesam. – Até pareço Fedra. – pensa e ri amargo enquanto sente sua força
cair. Senta no corredor.
- Tá se sentido bem, professor? – Pergunta um idoso
encarregado da limpeza.
- A luz do sol me cega. Mas estou bem. – Diz e se
levanta com esforço. – Obrigado! – O senhor da limpeza se preocupa um pouco. –
O senhor deveria estar em casa; aposentado. Mas esse governo... – O senhor da
limpeza se entristece um pouco com o que ouve, mas volta ao trabalho.
O professor termina o trajeto sabendo ser observado...
E ainda assim caminha.
En español:
OIGA EL CREPITAR DE LAS LLAMAS EN EL MIRAR
o EL ROSTRO DE QUIEN NO HABLA NADA
No más trabajo porque este cuerpo no
vale nada. No tiene ningún valor. No tengo hermanos. La única se murió de
cáncer. – Platica para sí mismo y de espaldas a los demás.
¿Quién es él y de que habla?, tal vez
pregunte. Y te contesto: él tiene la fisionomía de aquellos que nada dicen.
Todavía, sus ojos llevan las llamas cuyo crepitar se puede oír.
Sin embargo, él no es visto ni oído,
pero le gritan: “Sos la basura inmunda de la escoria”. Basura por ser indio;
inmundo por ser maricón; y escoria por ser maestro.
Él dijo en sus clases: no hay
estabilidad en la Literatura, pues hay una moda pasajera que incentiva a leer,
pero no produce el amargo del reflexionar. Dijo más: Son felices los que no
reflexionan. Tienen la tranquilidad de los gatos y los juegos de los perros.
Habla y se calla.
Sin embargo, el pensador que medita
con detenimiento es una pitanga. Hay quien reirá de eso. Y quien reí esta
desposado al desaprecio a propia lengua. Creería elegante se fuera francés o
mismo inglés. Pero, quien filosofa sabe que la lectura – la verdadera lectura –
empieza dulce y termina amarga. Se encanta con su belleza y padece con los
pensamientos que produce. Dos sabores en momentos distintos; como la pitanga.
Piensa y se calla.
Y su fisionomía callada sale de aula y
camina a la sala de los maestros. Están tan agotado que gime aún en el pasillo;
frente al lapacho frondoso, todavía no amarillamente florido.
- Mis libros son en vano en aulas.
Mis planes de clases pesan. Hasta parezco Fedra. – Piensa e reí amargo mientras
siente sus fuerzas cayeren. Se sienta en el pasillo.
- ¿Se sientes bien, maestro? – Pregunta
un anciano encargado de limpiar la escuela.
- La luz del sol me ciega. Pero estoy
bien. – Platica y se levanta con esfuerzo. – ¡Gracias! – El señor de la
limpieza se preocupa por un rato. – Usted debería estar en su casa; jubilado.
Pero ese gobierno… – Por un rato el señor de la limpieza se entristece con que
oye, pero vuelve al trabajo.
El maestro termina el trayecto
sabiendo ser observado…
Y aún así camina.
Ofereço como presente aos aniversariantes:
Cida Lima, Paulo G.C. Pimenta, Pablo Figueroa, Alex Pontes
e Sarah Lombello.
Recomendo a leitura de:
“Fé para Encontrar Paz”, de Glaussim:
“Novos tempos e muitas vacilações” e “Dramas Escolhidos”,
ambos de António MR Martins:
FAGUET, Émile. A
Arte de Ler. [Trad. Adriana Lisboa]. Rio de Janeiro: Casa da Palavra. 2009.
P. 42 e 48.
Rubem Leite é escritor,
poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA
aRTEIRO.
É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes.
É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do
Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua
Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”.
Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente
em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em
Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte
da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”.
Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG
(representando a Literatura).
Imagens: fotos do autor.
Escrito primeiro no dia 24 de fevereiro de 2019;
acrescentado no dia 22 de abril; digitado no dia 20 de maio; e trabalhado entre
os dias 08 e 12 de julho de 2020.
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