domingo, 16 de agosto de 2020

VENTO NA JANELA

  

Ipatinga, 16 de agosto de 2020

 

Caro João,

 

Como você está? Espero que, ao contrário de mim, esteja bem.

Às vezes me vejo balançando preguiçosamente em uma corda numa formosa árvore. Mas isso não vai acontecer.

A cada nascer de sol a noite parece demorar mais pra chegar. O descanso fica sempre para mais depois. E as pessoas não parecem mais humanas. Mas a noite há de vir com lua e estrelas.

Lembro-me de um filme; uma versão do Conde Drácula. O monstro deu a definição de como passou a ser seus sentimentos ao tornar-se vampiro. Era a descrição da depressão. Não a chamou assim: depressão! Disse como as emoções se desvanecem nesse estado. Assim é comigo. E com muitos, se não com todos.

E no meu caso ainda há uma incapacidade de respirar mesmo tendo ar nos pulmões. É a ansiedade; coisa extremamente angustiante.

Ao contrário do que muitos pensam, depressão não é mera tristeza; está mais para ausência de sentimentos ou emoções. É... vazio! E ansiedade não é o contrário de depressão, pois não é necessidade de agir sem parar ou simples preocupações. Há um pouco disso, mas, em contrapartida, há momentos em que se pode sentir extremamente relaxado; uma deliciosa sensação de tranquilidade... São os momentos em que o coração vai diminuindo as batidas, parando em um delicioso convite...

Mas a noite há de vir com lua e estrelas. Aí sentirei o vento na janela. Um dia deixarei de sentir para ser vento, mas por enquanto tenho muito o que ver ao nascer do sol. Tenho o que fazer; não há desejo, mas não se vive por vontades.

 

Abraços!

 

Pedro.

 

 

 

En español:

 

VIENTO EN LA VENTANA

 

 

Ipatinga, 16 de agosto de 2020

 

Mi querida amiga Juana,

 

¿Cómo vos encontrás? Espero que, distinto de mí, estés bien.

Hay ratos que me veo bamboleando perezosamente en una cuerda en un hermoso árbol. Pero eso no ocurrirá.

A cada nacer del sol la noche parece demorar más para llegar. El descanso se queda siempre para después. Y las personas no parecen más humanas. Pero la noche hay de venir con luna y estrellas.

Me recuerdo de una peli: una versión del Conde Drácula. El monstruo dio la definición de cómo se volvieron sus sentimientos cuando se convirtió en vampiro. Era la descripción de la depresión. No la llamó así: ¡depresión! Dijo como las emociones se desvanecen en ese estado. Así es conmigo. Y con muchos, se no con todos.

Y en mi caso todavía hay una incapacidad de respirar mismo teniendo aire en los pulmones. Es la ansiedad: cosa extremamente angustiante.

Muchos piensan que depresión es pura tristeza. No es verdad. Es una ausencia de sentimientos o emociones. Es… ¡vacío! Y ansiedad no es el contrario de depresión, pues no es necesidad de actuar sin parar ni solo preocupaciones. Hay un poco de eso, pero, en contrapartida, hay ratos en que se puede sentirse relajado; una rica sensación de tranquilidad… son los momentos en que le corazón va disminuyendo los latidos, parando en una deliciosa invitación…

Sin embargo, la noche hay de venir con la luna y estrellas. Ay sentiré el viento en la ventana. Un día dejaré de sentir para ser viento, pero por en cuanto tengo mucho que ver al nacer del sol. Tengo lo que hacer; no hay deseo, pero no se vive por voluntades.

 

¡Abrazos!

 

De tu amiga Consuelo.

 

 

Ofereço como presente aos aniversariantes:

Denise Mª Silva, Marilda Lyra, Rômulo Gomes, John Alexander, Hugo Victor, Magali Ramos e Voaré Sirion.

 

Recomendo a leitura de:

“Onanismo Sociolinguístico ou punheta idiomática”, de Javier Villanueva:

http://javiervillanuevahistoria.blogspot.com/2020/08/onanismo-sociolinguistico-ou-punheta.html

“Veemente Atitude”, de António MR Martins:

http://poesia-avulsa.blogspot.com/2020/08/veemente-atitude.html

“Em tudo: em mim”, de Eraldo Maia:

http://eraldomaia.blogspot.com/2020/08/em-tudo-em-mim.html

“Imprima-se” e “O pato que queria ser galo”, ambos de Glaussim:

https://www.recantodasletras.com.br/minicontos/7024025

https://www.recantodasletras.com.br/fabulas/7004460

 

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.

 É professor de Português, Literatura, Espanhol e  Artes.

 É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”.

Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”.

Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

Imagens:

Da lua e estrelas: https://vintage.portaldoastronomo.org/npod.php?id=122

Do autor pelo autor.

Escrito em diversos tardes de 2020. Trabalhado para formar um único texto até ser postado em 16 de agosto de 2020.

Um comentário:

Glaussim disse...

Nós drackularianos, vemos motivos pra sentir-se apáticos a cada noticiário, e ansiosos por alguma vitae de esperança, poetizamos ou cantamos como Cazuza em "Brasil Mostra Sua Cara!", ou Plebe Rude em "Até Quando Esperar?" ou mesmo na saudosa Elis Regina em "O Bêbado e o Equilibrista"... Mas dizem que o veneno, em dose diária, vira alimento. Espero que sim!