terça-feira, 9 de março de 2010

GATOS

Rubem Leite

Madrugada de 08-3-10


Ofereço a todos os meus leitores sem exceção,

em especial, claro, minhas leitoras. Parabéns pelo seu dia.

Ofereço também a todas as gatas, às cachorras e a seus donos...

Sinto saudades de minha Cam. Ela é que era cachorra de verdade.


O gato preto chega a sua casa. Silencioso. Manco. Olho rasgado (não furado). Cortes perto do rabo, na barriga. O sangue pinga. Mia. Deita no seu cantinho preferido. Triste. As fêmeas não o quiseram. Nenhuma. O malhado venceu. Nele, alguns lanhos no pescoço, na bunda. Só. Mia. Dorme.

O gato malhado continua na rua com muito a fazer. Nem sente dor. Contente.

O gato preto dorme. Mia. Dorme.

- Bichim. Bichim. Bichim.

O gato preto mia. Dorme.

- Que foi Mimado? Recusando comida? Mãããe!

O menino o pega assustado.

O veterinário lucra.

Alguns dias de mimo para o Mimado.

E o gato preto dorme. Mia. Dorme. Come. Dorme. Persegue. Dorme.

Os mimos se foram.

E o gato preto dorme. Mia. Dorme. Come. Dorme. Persegue os pardais. Dorme. Come. Dorme. Persegue ratos. Dorme.

Miauuuuuuuuu!

Miauuuuuuuuuuuuuuuu!

Firche!

Firche!

Miauuuuuu. Firche.

Miauuuuuu. Firche.

Silêncio.

Festa.

Tristeza.


O céu está claro e de onde estou não vejo nenhuma nuvem.

O que vejo entre as janelas de meu quarto e o céu azul são verdes galhos de árvores emoldurados pelos arcos de minha varanda.

Lindo!

O fundo deste quadro vivo é o azul do céu e sobrepostos vejo o verdor vivo, os arcos e as janelas.

Sinto algo agradável tocar meu coração.

E tudo servindo apenas de detalhes para o centro de meu coração.


Recebi condolências de vários amigos. Muito obrigado a todos e da grande poeta Nena de Castro: “Ô Rubão! A Cam está latindo e correndo nos campos celestiais, buscando a bola para o futebol dos anjos! Cadela amiga, melhor que muito amigo ‘cadelo’ que a gente vê por aí! Beijos, Nena”.

Mesmo sendo apenas um animal, gosto dela. E mesmo sendo dolorido a sua partida valeu tê-la conhecido...

II Conferencia Nacional de Cultura

Olás meus queridos!
É chegada a hora!
Como ja é de conhecimento dos senhores(as), de 11 a 14 de março, acontece em Brasília/DF, a II Conferencia Nacional de Cultura. Estarei presente representando o Vale do Aço, como delegado da sociedade civil, eleito na Conferencia Estadual, que aconteceu em dezembro de 2009, em Belo Horizonte. Sinto me honrado e consciente de minha responsabilidade.
Muitos delegados de estados como São Paulo e Rio de Janeiro, estão com sérios problemas para comparecer à Conferencia pois, seus indigníssimos governadores estão tratando com imenso descaso este tão importante evento. Providencias estão sendo tomadas para triblar este tipo de embargo.
Em Minas, a Secretaria de Cultura do Estado está se responsabilizando pelas passagens e o MINC pela hospedagen e alimentação.

Deixo link com toda programação da Conferencia: http://blogs.cultura.gov.br/cnc/programacao/

Na proxíma reunião do Movimento Cultural do vale do Aço, estendo a todos as novidades deste encontro.
No mais um grande Abraço.

Didi Peres

sexta-feira, 5 de março de 2010

ADÁGIO PARA CORDAS DE SOL MENOR

Rubem Leite

05-3-10


De início ela me olhou desconfiada. Por causa do meu cachorro se achegou devagar. Dois, três dias depois aceitou meus carinhos. Não demorou e morou comigo. Foi gostando até chegar ao amor. Onde eu ia lá ela ia.

Cinco anos.

Seus peitos foram inchando. Nódoas pelo corpo. Pele irritada, ferida. Sem dinheiro para consultas. Uma perna se imobilizou, parou. Sua fome continuou. Parou. Sem dinheiro para clínica. Gemidos de dor. Com comida na boca seu olhar ia longe, esquecendo mastigar. Com gritinhos de dor tentava me atacar, arranhar, morder. Gritos. Olhava-me tranqüila, confiante, súplice. Gemidos. Sua dor não podendo mais chamei um especialistas. Eutanásia.


Eu sou mesmo cômico

A dor pelos animais

É muito ridícula

Mas ela é a minha dor.

Oceano rosto.

quinta-feira, 4 de março de 2010

PAISAGEM INCOMPLETA

Rubem Leite


Escrevo entre 02 e 04 de março de 2010.

E ouvindo Caetano Veloso.

E inspirado na palestra do Curador Jacopo Criveli

e mais ainda no livro A Dançarina de Izu, de Yasunari Kawata.


, a idéia de paisagem é ultrapassada.

Diz-me Benito. Foi a única coisa que ouvi. Estou mais indo de mim para

Sua voz parece estrangeira. Seus dedos longos, finos, pontudos numa mão clara de um pulso branco argentinamente algemado. Sua sinistra está encoleirada por aro aurum numa das fincas que prende e repreende a destra que não se aquieta indo para seu peito, seu pênis, sua perna, seu pé.

, suas palavras emergem da neblina.

Parece que Benito continua me dizendo algo. Mas não o continuo

Ele porta um livro fechado adormecendo suas personagens matando a estória em mim forçando suas idéias numa trilha sonora de martelos descansando sobre o prego que bateu retratando inconseqüente as montanhas mineiras.

, sempre um constante sonhar longe.

Aceno afirmativamente para nem sei o quê.

Ele é um todo poderoso que se presta a arbítrios excessivos ou então me abre a visão para o novo.

, sentado envolto por cartas que nunca lhe serviram para nada.

- É! – Não vou ficar pensando em quem não devo. – Benito! Cara, deixa-me copiar o haicai que você fez

- Ah! Tá! Deixa ver onde está... Achei. Pode copiar

Dois planetas água

Olhos oceanos no rosto

Sistema solar.

quarta-feira, 3 de março de 2010

TRÂNSITO CRUEL

É vídeo de um conhecido meu.

http://www.youtube.com/watch?v=6wIMDhYN5gQ

A BORBOLETA AMARELA

Rubem Leite

13 a 28 de fevereiro de 2010


A borboleta amarela entrou pela janela do quarto de dormir onde também coloco meus livros e minhas bagunças se acomodam e não me incomodam.

A borboleta conheceu o dia, experimentou a tarde e passou a noite.

Minha cadelinha viu a borboleta e a perseguiu, mas apesar de sua cabecinha de borboleta ela subiu para o alto da estante e ficou lendo passando o tempo e descobrindo o mundo. A aranha viu a borboleta e a convidou para sua teia, mas apesar de sua cabecinha de borboleta ela é obediente e antenada (aprendeu quando lagarta a não aceitar qualquer convite, com os livros da estante ficou mais inteligente e atravessando os dias foi ficando cada vez mais sábia).

De manhã levantei, rezei, estudei e tomei café. Um borrão amarelo vi na camisa verde que vesti para sair. Mexi e abanei o braço e o borrão ficou. Olhei e vi a borboleta com apetite na camisa verde. Cheguei à janela e ela não voou. Com minha mão direita dentro da manga sacudi forte até ela sair e pousar no lampião florido. Trocamos olhares e entrei.

terça-feira, 2 de março de 2010

COMPANHEIROS DE UMA NOITE

Rubem Leite

27-28 de fevereiro de 2010

Escrevo ouvindo Uakti – Águas da Amazônia – Metamorphosis


- Mulher ingrata. Dei-lhe tudo e só me deu um não atrás do outro.

Olho para o estranho no alto do prédio às três da manhã. Desinteresse.

- Emprego desgraçado. Quanto te amaldiçôo. E agora nem você eu tenho.

Olho para o estranho no alto do prédio às três da manhã.

- E agora! Até minha saúde se foi. Hepatite! Hepatite b...

Olho para o estranho no alto do prédio.

- Ô vida ruim. Não me quer? Também não te quero.

O homem olha para as sombras onde estou. Não me vê, mas sente o perigo.

- Não tente me deter!

- Não vou.

- Eu quero morrer.

- Como queira.

- Vou morrer!

- Pule!

- Ah?

Sob as sombras da noite no canto escuro do prédio quase o ignoro outra vez.

- Minha saúde se vai. Meu emprego de merda nem existe mais. Nem mulher tenho. Minha vida é uma desgraça. Vou morrer.

- O que já fez de útil para alguém?

- Quê?

- Não repito falas. Responde.

- Ah! É! Nada... Não sei...

- Quer ser útil? – Falo saindo das sombras e me deixando ver com toda minha beleza viril.

- Ah... Sim!

- Quer morrer e quero viver. Sua vida é uma desgraça. Melhor realmente morrer. Estou faminto. – Pego em seus ombros. Ele fecha os olhos com sensação boa perto das coxas, nos quadris.

- !!??

- Morra com utilidade. Inúteis não têm boa vida lá. – Cheiro seus cabelos com meu peito em suas costas e abraçando-o. – Dando sua vida para uma boa causa: o fim da fome. Ganhando como prêmio uma vida feliz, saudável, próspera... lá.

- Ahhhh! – Geme com o prazer e a delícia de me saciar.