quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

GRITOS DO SILÊNCIO

Ofereço como presente de aniversário ao
artista de circo e ator Luis Yuner.

Ainda não são oito horas e pelo Parque Ipanema vou para o trabalho junto com homens e mulheres, quase todos de maior idade, fazendo sua caminhada matinal. Abraço minha mochila pesada, sua alça se foi. Pensando no Diretor Municipal de Cultura. Parece-me um vampiro. Talvez à semelhança dessas estórias de terror que suga a energia vital das pessoas. Talvez à semelhança dos morcegos que lambem sua vítima anestesiando para depois sugar seu sangue. Ontem ele sem dizer meu nome disse que sou ignorante ou possuidor de intenções escusas por não saber ou fingir que não sabe que subserviência não é o único significado da palavra servir que ele usou na pérola “O Conselho de Cultura existe para servir ao Pode Público”. Pensei até em discutir, mas desistir para não fugir ainda mais do assunto em pauta que era eleição da comissão que analisará projetos enviados para Lei Municipal de Incentivo à Cultura. E se alguém crê que me calei por cobardia fique à vontade para pensar o que quiser, mas acho que o presente texto e o cronto na minha coluna CRONISTA DE 5ª na Nota Independente afirmam o contrário. “AAAAAAAAAAAIIIIIIIIÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊ” de repente grito. É o ataque de um pássaro. Foi um susto, pois a bicada no topo de minha cabeça não passou de um toque. É um galo do campo. Bicho bravo que já vi matar um pardal que se aproximou de seu ninho. E ele ataca sempre na cabeça.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

EM TRÂNSITO

Escrito entre 20 a 23 de novembro de 2010.

Ofereço como presente de aniversário a

Nanda Sales, Coyote Wanderley Barros, Edilaine Peres.


JÚLIO

Eu sou Júlio. Estou no ponto de ônibus quando penso na frase “aquilo não era vida, não era gente, mas algo que existia apenas ‘por formalidade’.”, de Anton Tchekhov, no conto Em Serviço.

Sábado pela manhã a funcionária da ótica na rua Ouro Preto lava a calçada. Chinelinhos, calça preta até o joelho, camisa vermelha com laço na cintura e o nome da loja, branca e cabelos castanhos escuros, rabo cotó de cavalo. Ensaboa, esfrega e chega a colega, negra, mesmo uniforme, com balde d’água que despeja enxaguando. A rua vai aumentando seu fluxo. Carros, ônibus, motos, bicicletas, pedestres. Outra loja abre e a ótica continua limpeza.

- Só mais um balde, tá.

O tá é uma pergunta, uma afirmação ou uma interjeição? E isso importa? Ela continua a limpeza para abrir a loja, sorrir para os que chegam e se vão. E o fluxo na rua aumenta. Outro ponto se abre. Escuto sua porta rolante subir. O balde chega para finalizar a limpeza. Um cara passa falando no celular

- Como posso entrar se o portão tá fechado? ... Ah Tá! ... – Ri. – Menino, nem te conto. Falou isso para mim ... É!...

Desaparece. E a maioria das lojas continua fechada. O fluxo se estagna. Uma mulher alisa o cabelo andando. Calça dins preta e blusa verde abacate. Da Diamantina, no cruzamento, uma loura magrela num vestido roxo com listas verticais pretas alisa os cabelos e some. O fluxo diminui. O dia nublado está super quente. Outra funcionária – sabe-se pelo uniforme – de alguma loja caminha apressada a sua cara fechada. E as pessoas transitam. Uma senhora atravessa a rua, olha para mim e sorri.

Penso em Irene.


IRENE

Irene está feliz. Terceiro mês e seu sonho se realizando. O primeiro de sua meia dúzia de filhos. Ou mais. Júlio, seu marido, a beija sorrindo. Então ela divaga: Depois de uma viagem se conheceram quando voltavam, marcaram um encontro, dormiram juntos e agora, futuros pais.

Ele quis entrar na vida dela como entrou em seu apartamento. Irene é vizinha de um desempregado chamado Pedro, de uma atriz chamada Laura e de um escritor chamado João. Os três têm Histórias em Preto e Branco. Assim como Irene, como Júlio, como eu, como você, como. Mas eles nem nós não fazemos parte dessa estória...

Então Irene estava feliz.

Agora, 5º mês. Seu sonho se desfez com seu filho que se foi, com seu útero que se foi, com Júlio que se foi quando o bebê e o útero partiram.

Lágrimas.


JÚLIO

O fluxo aumenta. Uma garota arrasta uma bicicleta. Um garoto vai à escola. Ao sábado? Greve só serve para isso. Outra loja se abre e outra. Mais uma. Gente séria. Trabalhadores. Donas de casa, donos da vida, vidas sem donas. Caras fechadas. Rostos sem expressão. Pessoas caminham comendo. Moça de salto alto anda como modelo de passarela que quebrou um salto. Um sorriso passa por mim. Motos, carros, pedestres. Meu ônibus. Saudade da Irene. Entro no ônibus.

Júlio segue e espero que tenha gostado de viajar conosco.

sábado, 13 de novembro de 2010

MANHÃ

Os cachos de acácia após madrugada de chuva se sentem acompanhados pelos frutos do pé de jaca. Unidos, os bambuís acompanham as árvores enquanto sabiás, melros, bem-te-vis e outros entoam cânticos. E o morto segue impassível, soberano, como se não desse conta ou não se importasse com seu velório.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

ANDANDO NA CHUVA

Ofereço como presente de aniversário à

Isac Silva.


Eu, com minha sombrinha vi que

Um pião da usiminas ia para casa de bicicleta com cara de pinto na chuva.

As prostitutas no botequim olhavam tristes para a chuva.

O vendedor da banca de jornais abria desanimado na chuva.

Os idosos na fila do Banco do Brasil esperavam minguado na chuva.

O cachorro gania triste coçando a sarna debaixo da marquise na chuva.

Eu entrei no ônibus.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

POSSO

Sentado no banco diante do lago no Parque Ipanema leio “Os Mujiques”, de Anton Tchekhov. “Tu tu tu tuuuuuuuuuuuuuuuu. Iiiiiiiiiiiiiiiiiiio. Priiiiiiiiiiiiiiiiiuuuii”. Esses e outros pássaros. No píer Tai Chi Chuan. À minha direita no gramado pombos arrulham e namoram. O lago ondeia e patinhos saem para a margem esperando comida de mim, que nada levei. “Pode não, moça” grita longe a vigia para alguém que colhia erva para fazer chá. “Ainda são sete horas da manhã”, chuto. Uma avó conta estória para crianças que a temem e se encantam com o que ela diz. Tudo isso acontecendo e eu precisando de R$50,00 para me inscrever no Curso a Distância.
Sobre o curso veja
Torça por mim.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

PROCESSOS CRIATIVOS

Rubem Leite – 18 a 20 de outubro de 2010

Em algumas de minhas mexidas estou ouvindo diversas músicas em saxofone e bebendo vinho seco merlot (até parece que sou algum entendido e não um mero apreciador. Uarrarrá!).

Ofereço como homenagem aos poetas e como presente de aniversário à percussionista Lucimara Nunes.

Aconteceu a Oficina “Processos Criativos – estudos e criações de cena”, ministrada por Rita Clemente, de BH-MG. E “desaconteceu” o espetáculo “Histórias de Chocar – ensaios de amor”, pois deu pane na aparelhagem do Teatro Zélia Olguim, recém inaugurado.

Ambos entre 13 a 17 de outubro de 2010.


Está difícil levantar. Acordo às 04:15h, mas com o horário de verão está duro sair no que, na verdade, são 03:15 horas. Uma hora depois – Cinco no relógio, quatro na verdade – saio com Haicai, Decidido e Vitório. Enquanto abro o portão uma viatura faz sua ronda. Os cachorros saem desembestados. Sigo para minha direita e na Ituiutaba vou também para a direita. Ao virar percebo à esquerda dois rapazes.

- Q c qué?

Um me pergunta agressivo, finjo não ouvir e mostrando não ser nenhum perigo me agacho e chamo “til, til, til, til, til, til”. Vitório e Decidido, que estavam perto deles, vêm até mim. Haicai, que ainda estava na Uberaba, minha rua, também vem sorrindo. Uberaba é uma rua feia. Mas é nela que tenho minha casa minúscula e com quatro pessoas mais três cachorros, mas própria. Estou contente.

Não entrei ainda na rua João Napoleão da Cruz, que fica atrás (ou na frente... de qualquer maneira é paralela) da Uberaba, e a viatura passa outra vez. Dá para vê-la passar pelos garotos que notoriamente fumam craque então ela pára, continua enquanto eu passeio. Quando retorno minutos depois vejo os rapazes no fim da rua e a viatura passa outra vez, não sei para quê, se não faz nada. Entro em casa. Passa o dia e a noite vou para a oficina que falei acima. Entre outras coisas Rita fala “A arte está muito ligada ao conceito que o artista tem dela”.

O vinho acabou, mas não porei mais no cálice. Entretanto o saxofone continua. Será que você está pensando “Mas já?”. Bem! Escrever toma tempo e coordenar idéias, mais tempo ainda. Por isso “Não tem mais vinho”.

Amanheço com dificuldade, passeio com os cachorros, oro, saio, vivo o dia e na Câmara dos Vereadores me encontro com Luiz Ribeiro, artista da dança muito jovem. A gente cumprimenta e se despede. Depois se esbarra de novo, conversa e se despede. E uma terceira vez no dia nos topamos, conversamos, levo-o para casa para falarmos sobre a Lei Municipal de Incentivo à Cultura e nos despedimos marcando para 6ªfeira o início do Projeto que ele quer propor. Vou para Oficina e Rita diz “Não se faz teatro porque se tem um grande ator. Antes do ator há o espaço (o metafórico e o físico)”.

Volto para casa, durmo e acordo com um pouco menos de dificuldade. Estudo um livro que me inspira uma estória. O livro é “Para Realizar o Amor e a Oração”, do Prof. Seicho Taniguchi. Muito bom!

Era uma vez uma caneta, dessas comuns. Sua tinta preta copiava Palavras da Verdade ou ajudava a destacar os profundos Ensinamentos até que uma bela manhã a mão que a movia se irritou com muitas coisas, inclusive com dificuldade da caneta em trabalhar aquele dia, a quebrou no meio e depois se arrependeu. Pedindo perdão a colou com fita adesiva. A caneta machucada na alma ficou mais difícil de trabalhar com aquela mão. Sabe! Uma vez uma boca disse para a mão que o problema do mundo é que inventaram a palavra “desculpa”. Não é uma verdade absoluta, mas tem seu significado... Uma bela tarde outra mão movimentou a caneta e ela registrou palavras culturais. Então a primeira mão deixou-a ir com a nova mão. Sentiu um apertinho dentro de si, mas deixou-a seguir seu caminho. Uma bela noite recebeu um bilhete carinhoso da caneta, entendeu então que estava perdoado e que a harmonia conduz cada um a quem lhe é mais adequado, mais parecido, afastando os opostos e unindo os semelhantes. E foram felizes para sempre sabendo que o para sempre nem sempre acaba.

Na garoinha saio com os cachorros e penso nas palavras de Rita “No teatro, tudo precisa ‘ser’ significado”, penso no acidente com o ônibus da APAE. Nas bandeiras a meio mastro da Polícia Militar e da Prefeitura Municipal de Ipatinga. Nena de Castro, minha amiga, falou para mim que apesar da Prefeitura não ter feito mais que sua obrigação ao cuidar das vítimas e suas famílias a fez com tanto desvelo e atenção que a emocionou. Não agiu como sendo apenas uma obrigação, mas sentido dor pelo acontecido. Ela, poeta e cronista, falando sobre a tragédia escreveu ontem em sua coluna num dos jornais local palavras que encachoeiraram meus olhos (sou mineiro, portando meus olhos não marejam, eles se encachoeiram ou enlagoam), penso em um ex-aluno de teatro, que continua a seguir a carreira artística e que elogiou meu severo método pedagógico. “Nenhum outro professor de teatro que tive me ensinou o que aprendi com você”. Vaidades à parte, fiquei contente, claro. Pensei tudo isso enquanto escutava uma voz de mulher cantando alto “Meu coração é só de Jesus. Ei, psiu. Beijo me liga eu to curtindo a noite. Te encontro na saída! Minha alegria é a Santa Cruz. Volta logo pra São Paulo ou eu vou pra Madri”. Volto para casa, termino o texto e continuo o dia.

sábado, 9 de outubro de 2010

QUANDO ESCREVO PRA VOCÊ É COMO SE ESCREVESSE PRA MIM MESMO*

06 a 09 de outubro de 2010

Ofereço como presente de aniversário a

Shirley Maclane e Hércules Malta.


Pela retina.

Uma madrugada quente. Depois passeio com os cachorros. Ida ao Centro Cultural Usiminas para Oficina Ator Criador e descubro que não era as 09 e sim as 19 horas. Devolução de livros na biblioteca. Volta para casa. Um filhote de sabiá aprende a voar na rua deixando uma mulher preocupada “e se um carro passar nele”. Um homem tenta pegá-lo para jogá-lo no telhado sob o protesto nervoso e impotente dos pais do sabiazinho. Pega-o e o tira do perigo. Alívio na mulher, no homem, nos transeuntes. Eu sourrio. Em casa. Almoço. Escrever e mexer textos. Cochilar. Escrever projeto. Lanche. Banho. Ida à outra biblioteca devolver e pegar livro. Ir à Oficina Ator Criador. Autoapresentações. Eu sou Cláudio, da Cia. Luna Lunera e o processo que vamos experimentar na oficina usamos para criar “Aqueles Dois”... Respirando. Locomover pelo espaço. Olhando nos olhos. Ir para o chão. Pular. Andar. Mais rápido. Massagem. Tocar o outro e se deixar tocar. Deitar e ser rolado pelo chão. Rolar pelo chão vendo a resistência do par. Rolamento na vertical tendo o parceiro como suporte/base um do outro. Mais rolamento e mais. Maxuel é meu companheiro. Eu dele. Descoberta sobre os limites e entrega do outro. autoabertura para o jogo e para o parceiro. Tocar o outro e se deixar tocar. Ouvindo, ou tentando, o oficineiro. Respirando. A grande experiência de todos: entregar e receber. Diálogo. Acaba. Volto para casa. Banho. Dormir. Acordar na madrugada. Rezar. Ler à luz de velas. Apagar velas. Encantar com a beleza da fumaça. Observar que a brasa no pavio desaparece de baixo para cima. Seu último ponto vermelho é a ponta. Ir ao banheiro. Sair com cachorros. Tomar café com leite. Comer pão. Ler. Escrever. Ler. Sair. Voltar. Ler. Almoçar. Escrever. Ler. Continuar a escrever Projeto para Lei Estadual. Oficina. Alongar. Andar pelo espaço. Olho no olho. Seguir alguém. Seguir dois alguéns. Pegar alguém pelo olhar. Formar dupla com ele. Meu par Wadson. Eu dele. Massagem em pé, mantendo sempre bastante toque. Tocar. Cansaço. Tocar de todas as formas. Tocar em quase todos os lugares tocáveis. Reciprocidade. Separar. Nunca perder. Voltar. Aniversário de Felipe (Marcos é só para a mãe). Receber certificado. Ir embora. Dormir. Acordar na madrugada. Sair com os cachorros. Ver, hoje, uma mulher da madrugada andando leeeentamente, cansada, escorar-se no muro, respirar, abaixar, contar um, subir, respirar, abaixar, contar dois, subir, pegando algo, abaixar, contar três, subir. Nisso já virei a esquina. Volto, tomo café. E a vida continua.

Impura rotina.


CIDADE POSSÍVEL

A Banca Design promoveu na 6ª feira, dia 08 de outubro de 2010 o Recital Cidade Possível. O editorial do opúsculo, de Carla Paoliello e Bruna Roque, diz assim:

Cinco escritores foram convidados para escrever sobre uma cidade possível, resultado do viver e do sonhar em Ipatinga/Minas Gerais. Seus textos, histórias e fábulas estão nesta pequena revista. Apresentamos o passado, o presente e o futuro, conectamos o real e o irreal, para reordenar a vida. Boa leitura!

Foi oferecido aos presentes jabuticabas, bolo de banana, um chá de cogumelo... digo, de laranja. Uarrarrá! Brincadeira. Era um delicioso e, para mim, novidade chá de laranja. Foi oferecido muito carinho e atenção. O público presente era composto, entre jovens e adultos, por artistas, agentes culturais, estudantes, professores e nem sei mais o quê. Pessoas que acreditam numa Ipatinga possível e acessível. Se não hoje, ainda assim possível e acessível. Pensei durante o recital, mas não falei, portanto digo agora a frase de Tiradentes que nunca me sai da cabeça “Se todos quiséssemos poderíamos fazer desse país uma grande nação”.

Vejamos um pouco do que escreveram os escritores:

Nivaldo Resende – “Hoje, mais do que enorme orgulho

que, como tanto outros, eu carrego de ter ajudado a construir esta história, sempre sinto uma enorme satisfação em sair de Ipatinga para viajar. Não porque adore viajar, e eu adoro... não porque busque novidades, ou queira novos ares, mas unicamente para ter o inenarrável prazer de poder voltar para Ipatinga”.

NOS BRAÇOS DE MORPHEUS

Nena de Castro – “Diz que me ama e eu te faço um verso,

te dou um limão de cheiro, um canto de sabiá, uma canção formosa, um dedo de prosa... \ Pois no seu seio me aqueço e me encontro, raio de sol, rima incontida, eu te amo, cidade querida! \ Feliz aniversário, Pouso de Água Limpa, amada Ipatinga de todos nós!”.

RECADO DE AMOR PRA UMA CIDADE

Nena também escreveu e se encontra no livreto:

MINHA CIDADE, NOSSA IPATINGA...

Roberto Sôlha – “Uma das principais diferenças entre a

vida no interior e nas grandes metrópoles é a sensação de conhecer as ruas e bairros mais a fundo. Essa sensação, claro, é mais perceptível a quem mora nas cidades pequenas, onde fica mais fácil delimitar seu tamanho. Ao mesmo tempo, uma cidade de médio porte de Ipatinga pode revelar lugares e caminhos nunca antes vistos ou imaginados por moradores que vivem aqui a décadas.

CONTRASTES, DESCOBERTAS E SINGULARIDADES

Rubem Leite “Olho para a mulher, pego os biscoitos,

levanto-me e vou embora para outro ponto de ônibus. À cada passo que aproxima do novo destino a afasta de meus ouvidos, aproxima-a de meu coração e a afasta de minha cabeça. Na 28 de Abril dois homens e um menininho. Um ao celular, o outro na porta do banco, o menininho com o pintinho de fora faz xixi andando para trás deixando uma linha tortuosa na calçada. O estranho no celular sorri, o pai ri, eu me animo e o menino nem aí. Vou para o ponto de ônibus, sento, espero, pego o ônibus”.

A PROCURADA=

>25 DE SETEMBRO

“Hoje acordei sorrindo. \ Hoje os passarinhos da manhã cantaram mais. Mais tempo, mais alegre e mais bonito. \ Hoje até os políticos, com suas propagandas volantes, nos violentaram menos. \ Hoje dormi sorrindo”.

Ricardo Alves – “O dia mal clareava e os programas de

entregavam o sábado. O cheiro de naftalina da manhã úmida trazia à cabeça uma sensação gostosa de gavetas limpas. E se confundia com o cheiro de café com leite que vinha da cozinha. Depois de fartos pedaços de bolo, rua. Afinal, sábado também era dia de feira”.

MEMÓRIAS DE NAFTALINA

Voltando à Banca Design. Carla conta que tem tempo que está tentando levar a banca para a praça. Seu objetivo não é a venda de seus produtos – e eu acredito – e sim tornar mais acessível a população o acesso e contato com diversas manifestações culturais. Mas a Secretaria Municipal de Planejamento tem barrado. Permitiria se fosse para chaveiro, engraxate, banca de revista (De minha parte, nada contra eles. Mas por que não para a cultura?). Poderia pensar em liberar se as costas da Banca Design ficassem para a praça e sua frente para a rua. Mas por quê se é justamente para interação entre a praça, as manifestações culturais e o pessoal na banca?

Nena, como contadora de estórias, iniciou o recital. Depois cada um leu seu texto. Na ordem acima. Cada qual com sua peculiaridade. Nivaldo, entre grave e humorado. Nena, com seus trejeitos de professora e contadora de estórias. Roberto com seu modo de jornalista. Eu, como ator. Ricardo, com as mãos. Foi tudo muito legal. Rico. Gosto de nossas diferenças. A poeta Magali recitou um de seus poemas. O professor Beto, nosso “mediador”, mostrando as ligações entre nossas estórias e os fatos de nossa história. Eu, como contador de estórias, encerrei o recital. E depois conversando fomos nos dispersando com gosto de quero mais.


Banca Design – Av. Castelo Branco, 433 – Horto – Ipatinga MG.

www.bandadesign.com


* Caio Fernando Abreu