Vale que vale cantar
As flores da terra
As dores da argila
Uma terra que semeia alegria
E de seus filhos colhe valentia.
Vale que vale viver.
Os espinhos são muitos
Mais ainda são os meus bem querer
Os preconceitos são muitos
Mais ainda é a vontade de os vencer.
Não importa, meu Vale do Jequitinhonha,
Todas as dores e espinhos,
Sem você, eu não tenho caminho
De você, tenho carinho
Com você nunca estou sozinho.
Por fim,
Vale, eu amo você.
E que mais há para dizer
Além do meu imenso amor por você?
-------------------------------------
Não sou do Vale do Jequitinhonha, mas muito me encantei com as cidades de Araçuaí, Capelinha e Diamantina, que conheci no primeiro semestre de 2008. Principalmente a sua população, que é maravilhosa.
PERCEPÇÕES E CONCEPÇÕES DE UM ARTEIRO ARTISTA E DE UM ARTISTA CIDADÃO.
terça-feira, 30 de setembro de 2008
Traço Genético CAM

Eu herdei de meus pais o traço genético cam. Sim, pois sou GAAAAAAAAALOOOO de corpo e alma. Ser atleticano vale mais que herança material. Aliás, me perdoem se o toque doer, mas se algum Atleticano tem filho que torce por outro time é porque o adotou ou então... E se alguém de outro time tem filho Atleticano é porque houve evolução da espécie...
“O Galo é uma coisa tão especial e gostosa em nossas vidas que nem precisa ganhar, basta existir”.
(Valdoveu Vitor, citado por Eduardo de Ávila, no jornal Super Notícia, 27-3-08, pág. 02).
“Existem três seres com belo porte: o leão, o mais valente dos animais, que não recua diante de ninguém; o Galo empinado diante das galinhas; o carneiro que vai a frente do rebanho” (Provérbios 30, 20-31).
Do imaginário Católico: O Galo Proclamando o Nascimento do Menino Jesus.
O único “palavrão” de Jesus foi uma referência a Herodes: “Vão dizer a essa raposa...” (Lucas 13, 32).
“Quantas vezes eu quis reunir seus filhos, como a galinha reúne os pintinhos debaixo das asas, mas você não quis” (Lucas 13, 34). Lamento de Jesus sobre a infidelidade de Jerusalém.
E o Galo fazendo Pedro refletir, arrepender-se e voltar para Cristo: ... enquanto Pedro ainda falava o Galo cantou e ele se lembrou das palavras de Jesus “antes que o Galo cante você me negará três vezes”, daí ele chorou amargamente. (Lucas 22, 60-62).
Por isso, minha religião é o Atleticanismo.
“O Galo é uma coisa tão especial e gostosa em nossas vidas que nem precisa ganhar, basta existir”.
(Valdoveu Vitor, citado por Eduardo de Ávila, no jornal Super Notícia, 27-3-08, pág. 02).
“Existem três seres com belo porte: o leão, o mais valente dos animais, que não recua diante de ninguém; o Galo empinado diante das galinhas; o carneiro que vai a frente do rebanho” (Provérbios 30, 20-31).
Do imaginário Católico: O Galo Proclamando o Nascimento do Menino Jesus.
O único “palavrão” de Jesus foi uma referência a Herodes: “Vão dizer a essa raposa...” (Lucas 13, 32).
“Quantas vezes eu quis reunir seus filhos, como a galinha reúne os pintinhos debaixo das asas, mas você não quis” (Lucas 13, 34). Lamento de Jesus sobre a infidelidade de Jerusalém.
E o Galo fazendo Pedro refletir, arrepender-se e voltar para Cristo: ... enquanto Pedro ainda falava o Galo cantou e ele se lembrou das palavras de Jesus “antes que o Galo cante você me negará três vezes”, daí ele chorou amargamente. (Lucas 22, 60-62).
Por isso, minha religião é o Atleticanismo.
Uarrarrá!
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
Romântica
De
Delasnieve Daspet
Quando te vejo fica a pergunta: me vês, também?
Não sou assim - mas pego-me querendo compartilhar contigo
Os meus mais profundos sonhos,
As noites frias e solitárias,
O meu universo interior...
O sangue corre rápido acelerando a pulsação,
E de tanto amor - já não tenho forças para gritar,
E o meu canto se dilui em salgadas gotasQue brilham no meu olhar...
A melodia é mais um lamento do bardo
Que se esconde em seus conflitos internos
Usando-os como escudo, uma defesa, uma arma contra o desamor.
E o poeta se oferece em letras,
Pois o que ele escreve e canta é a dor de sua alma...
Porque não vens com teu olhar afagar minhas noites insones,
Tocar meu corpo,
Brincar comigo,
Sorrir meu riso,
Por quê?
Sou louca, triste, desiludida?
Sou tudo e sou nada?
Sou eu - quando busco em mim
As coisas como são ou como deveriam ser?
Cantando o maior sentimento que existe,
Sou como o sereno que cai na madrugada, Prenunciando o alvorecer...
DD_Campo Grande-MS - 15/09/08
adagio_albinoni-3.wav
----------------------------------------
Delasnieve Daspet
Quando te vejo fica a pergunta: me vês, também?
Não sou assim - mas pego-me querendo compartilhar contigo
Os meus mais profundos sonhos,
As noites frias e solitárias,
O meu universo interior...
O sangue corre rápido acelerando a pulsação,
E de tanto amor - já não tenho forças para gritar,
E o meu canto se dilui em salgadas gotasQue brilham no meu olhar...
A melodia é mais um lamento do bardo
Que se esconde em seus conflitos internos
Usando-os como escudo, uma defesa, uma arma contra o desamor.
E o poeta se oferece em letras,
Pois o que ele escreve e canta é a dor de sua alma...
Porque não vens com teu olhar afagar minhas noites insones,
Tocar meu corpo,
Brincar comigo,
Sorrir meu riso,
Por quê?
Sou louca, triste, desiludida?
Sou tudo e sou nada?
Sou eu - quando busco em mim
As coisas como são ou como deveriam ser?
Cantando o maior sentimento que existe,
Sou como o sereno que cai na madrugada, Prenunciando o alvorecer...
DD_Campo Grande-MS - 15/09/08
adagio_albinoni-3.wav
----------------------------------------
Assunto: ALERTA para o edital Klauss Vianna
ALERTA GERAL!
No edital do Premio Funarte de Dança Klauss Vianna (assim como no
Miriam Muniz para teatro) a atual administração da Funarte decidiu,
entre outros absurdos que:
3.4. É vedada a participação de produtores, grupos ou
companhias de dança contemplados, seguidamente, nas
edições de 2006 e 2007 do
Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna, inclusive aqueles
representados por entidades asssociativas.
Este alerta vem de Tiche Vianna (diretora do grupo
Barracão Teatro, de Campinas), chamando a atenção do Movimento Redemoinho
para a urgência de um posicionamento. Com autorização dela, reproduzo
quase na íntegra sua análise do edital Miryam Muniz, igualmente pertinente
para o edital Klauss Vianna.
"... se todos leram o Edital Miryam Muniz se deram conta da cláusula
que diz que grupos que venceram seguidamente a concorrência nos anos
de 2006 e 2007, não podem se inscrever no edital deste
ano, que acaba de ser lançado pela FUNARTE... nos parece ser contrária a
tudo o que acreditamos e chamamos de continuidade. Entendemos que os
grupos que trabalham constantemente, dentro de princípios e
diretrizes ligadas a permanência do desenvolvimento de seus projetos, sempre
têm propostas de produção e pesquisa. Sendo assim, o Estado seria
justamente um dos meios de se viabilizar a continuidade de seus trabalhos,
desde que estes grupos apresentem resultados à altura dos
benefícios recebidos para sua execução e comprovem ao Estado, a importância
de sua permanência em ação. Da mesma forma, entendemos que se o
Estado reconhece que há uma grande produção teatral que merece
Ser contemplada, Ele e somente Ele, por ser a instituição
competente para este fim, deve buscar meios de aumentar seus recursos para
estimular e manter a existência dos benefícios trazidos à sociedade,
causados por estes produtores teatrais.
A edição do Miryam Muniz deste ano, com esta cláusula de
restrição, impede a inscrição de grupos que foram contemplados
seguidamente em 2006 e 2007 (conforme escrito no edital),
mas também restringe a inscrição aos contemplados em 2006 ou 2007,
ou seja, o edital deste ano não permite a inscrição de nenhum grupo
contemplado por este edital anteriormente.
Toda a luta do movimento e da gestão anterior da
Funarte, através de Antônio Grassi, buscou e conquistou ainda que
precariamente, o direito à continuidade de nosso trabalho, como
reconhecimento de que existem pensamentos e produtores que não se enquadram no
modo de produção mercadológico, porque acreditam em outro modo
de criar e produzir seu trabalho e não porque são incapazes de se
inserir no mercado. Neste caso, também reconhecemos que cabe ao
Estado criar
mecanismos que viabilizem a concorrência entre estes
produtores às verbas públicas.
Nossa pergunta é, qual o sentido de restringir as
inscrições? Um pensamento mesquinho que privilegia restringir ao invés de
multiplicar?
Um pensamento "populista" que privilegia pulverizar, ao
invés de fortalecer?
Esta nova regra, inviabiliza o desenvolvimento de
grupos e produtores que tenham beneficiado o uso público
da cultura, pois entendemos que os projetos contemplados têm que
comprovar sua realização e através disto fornecer parâmetros de
avaliação de sua pertinência frente ao interesse público e da
responsabilidade de quem o realiza. Ora, se um grupo ou produtor se mostra capaz e
seu projeto beneficia a sociedade ele deveria ter, pelo menos, a
possibilidade de continuar o seu desenvolvimento, não?
Fora esta questão conceitual e talvez até ideológica,
existe uma questão que talvez seja assunto da legislação. A
cláusula em questão usa o termo "seguidamente" para restringir os
anos em que houve contemplação. Consultamos a Funarte para saber se isto se
referia a produtores e grupos que foram contemplados dois anos
seguidos ou em um deles e a FUNARTE disse que em qualquer um dos dois anos,
portanto, há um erro na formulação da regra que deixa margem a dúvida
e isto pode ser legalmente questionado..."
MAIORES INFORMAÇÕES:
E nós, coletivos da dança???
-- Hibridus55 31 3821 3513 - www.hibridus.com.brhibridus.mail@gmail.com / enartci@hibridus.com.brAv. 28 de Abril, nº 621, sl. 402 - JG Shopping - CentroIpatinga/MG - BrasilCEP: 35.160-004
---------------------------------------------------------
No edital do Premio Funarte de Dança Klauss Vianna (assim como no
Miriam Muniz para teatro) a atual administração da Funarte decidiu,
entre outros absurdos que:
3.4. É vedada a participação de produtores, grupos ou
companhias de dança contemplados, seguidamente, nas
edições de 2006 e 2007 do
Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna, inclusive aqueles
representados por entidades asssociativas.
Este alerta vem de Tiche Vianna (diretora do grupo
Barracão Teatro, de Campinas), chamando a atenção do Movimento Redemoinho
para a urgência de um posicionamento. Com autorização dela, reproduzo
quase na íntegra sua análise do edital Miryam Muniz, igualmente pertinente
para o edital Klauss Vianna.
"... se todos leram o Edital Miryam Muniz se deram conta da cláusula
que diz que grupos que venceram seguidamente a concorrência nos anos
de 2006 e 2007, não podem se inscrever no edital deste
ano, que acaba de ser lançado pela FUNARTE... nos parece ser contrária a
tudo o que acreditamos e chamamos de continuidade. Entendemos que os
grupos que trabalham constantemente, dentro de princípios e
diretrizes ligadas a permanência do desenvolvimento de seus projetos, sempre
têm propostas de produção e pesquisa. Sendo assim, o Estado seria
justamente um dos meios de se viabilizar a continuidade de seus trabalhos,
desde que estes grupos apresentem resultados à altura dos
benefícios recebidos para sua execução e comprovem ao Estado, a importância
de sua permanência em ação. Da mesma forma, entendemos que se o
Estado reconhece que há uma grande produção teatral que merece
Ser contemplada, Ele e somente Ele, por ser a instituição
competente para este fim, deve buscar meios de aumentar seus recursos para
estimular e manter a existência dos benefícios trazidos à sociedade,
causados por estes produtores teatrais.
A edição do Miryam Muniz deste ano, com esta cláusula de
restrição, impede a inscrição de grupos que foram contemplados
seguidamente em 2006 e 2007 (conforme escrito no edital),
mas também restringe a inscrição aos contemplados em 2006 ou 2007,
ou seja, o edital deste ano não permite a inscrição de nenhum grupo
contemplado por este edital anteriormente.
Toda a luta do movimento e da gestão anterior da
Funarte, através de Antônio Grassi, buscou e conquistou ainda que
precariamente, o direito à continuidade de nosso trabalho, como
reconhecimento de que existem pensamentos e produtores que não se enquadram no
modo de produção mercadológico, porque acreditam em outro modo
de criar e produzir seu trabalho e não porque são incapazes de se
inserir no mercado. Neste caso, também reconhecemos que cabe ao
Estado criar
mecanismos que viabilizem a concorrência entre estes
produtores às verbas públicas.
Nossa pergunta é, qual o sentido de restringir as
inscrições? Um pensamento mesquinho que privilegia restringir ao invés de
multiplicar?
Um pensamento "populista" que privilegia pulverizar, ao
invés de fortalecer?
Esta nova regra, inviabiliza o desenvolvimento de
grupos e produtores que tenham beneficiado o uso público
da cultura, pois entendemos que os projetos contemplados têm que
comprovar sua realização e através disto fornecer parâmetros de
avaliação de sua pertinência frente ao interesse público e da
responsabilidade de quem o realiza. Ora, se um grupo ou produtor se mostra capaz e
seu projeto beneficia a sociedade ele deveria ter, pelo menos, a
possibilidade de continuar o seu desenvolvimento, não?
Fora esta questão conceitual e talvez até ideológica,
existe uma questão que talvez seja assunto da legislação. A
cláusula em questão usa o termo "seguidamente" para restringir os
anos em que houve contemplação. Consultamos a Funarte para saber se isto se
referia a produtores e grupos que foram contemplados dois anos
seguidos ou em um deles e a FUNARTE disse que em qualquer um dos dois anos,
portanto, há um erro na formulação da regra que deixa margem a dúvida
e isto pode ser legalmente questionado..."
MAIORES INFORMAÇÕES:
E nós, coletivos da dança???
-- Hibridus55 31 3821 3513 - www.hibridus.com.brhibridus.mail@gmail.com / enartci@hibridus.com.brAv. 28 de Abril, nº 621, sl. 402 - JG Shopping - CentroIpatinga/MG - BrasilCEP: 35.160-004
---------------------------------------------------------
sexta-feira, 26 de setembro de 2008
25 de SETEMBRO
Hoje acordei sorrindo.
Hoje os passarinhos da manhã cantaram mais. Mais tempo, mais alegre e mais bonito. Hoje as cigarras cantaram pela primeira vez no ano.
Hoje desabrochou um botão de uma planta que ainda não havia visto em meu jardim.
Hoje o Sol sorriu para mim e voltou a dormir.
Hoje os transeuntes sorriram mais.
Hoje recebi duas lindas mensagens em meu celular.
Hoje ganhei uma camisa e um dvd.
Hoje fizeram canjiquinha especialmente para mim.
Hoje o Prefeito da nossa indigestão política disse “para mim é Deus no Céu e você debaixo da terra, mas só depois que votar em mim...”.
Hoje até os políticos, com suas propagandas volantes, nos violentaram menos.
Hoje dialoguei com vários pensantes.
Hoje jantei com alguns pensantes.
Hoje dormi sorrindo.
Hoje os passarinhos da manhã cantaram mais. Mais tempo, mais alegre e mais bonito. Hoje as cigarras cantaram pela primeira vez no ano.
Hoje desabrochou um botão de uma planta que ainda não havia visto em meu jardim.
Hoje o Sol sorriu para mim e voltou a dormir.
Hoje os transeuntes sorriram mais.
Hoje recebi duas lindas mensagens em meu celular.
Hoje ganhei uma camisa e um dvd.
Hoje fizeram canjiquinha especialmente para mim.
Hoje o Prefeito da nossa indigestão política disse “para mim é Deus no Céu e você debaixo da terra, mas só depois que votar em mim...”.
Hoje até os políticos, com suas propagandas volantes, nos violentaram menos.
Hoje dialoguei com vários pensantes.
Hoje jantei com alguns pensantes.
Hoje dormi sorrindo.
------------------------------------------------------
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
terça-feira, 23 de setembro de 2008
A VIAGEM
Rubem Leite – 21-9-08
arterubemleite@gmail.com
“Não tomo bolinhas. Quero estar alerta, e por mim mesma. Fui convidada para uma festa onde na certa tomavam bolinha e fumavam maconha. Mas minha alerteza me é mais preciosa”.
(Clarice Lispector – A Descoberta do Mundo – Editora Rocco)
Acabo de sair de casa e me deparo com o pé do morro. Olho para seu tamanho e só vejo uma enorme mancha marrom. Começo a subir seus degraus. Denúncia da interferência humana. No fim da escadaria me deparo com uma árvore emplacada com a inscrição:
“... Árvore da vida! Árvore da esperança ... Visão da escada de Jacó”
Paro. Olho ao redor. Sigo.
A subida está mais íngreme. Vejo uma árvore escorrendo resina. Resignado eu oro. Até a hora de ir embora.
A subida não para. Eu escorrego caindo de joelhos. De joelho eu rezo ouvindo os gemidos das árvores fazendo amor com o vento. Continuo a subida e vejo uma linda mulher. Os mais lindos cabelos negros. Como uma noite estrelada. Paro calado. Seu olhar me faz falar. Duas luas vieram e se foram. Assim nos conhecemos. Na terceira lua nos amamos feito o vento fazendo a árvore gemer. Na quarta lua nos separamos. Volto a subir.
Cinco sóis causticantes me matavam até eu ver os restos humanos de alguém. Um ninguém. Paro medroso. Examino ou viajo? Examino.
Vespas fizeram morada nos restos. Descobri ao mexer cauteloso. Reponho com cuidado os restos à posição que estava e saio correndo. Caio sentado. Volto a correr e caio com o rosto noutra escada escavada. Desmaio.
Desperto na escuridão. É uma casa, acho. Por uma fresta vejo luz. Nada esperto vou até a luz e vejo meu salvador. Forte. Ele me olha sério e em silêncio me aponta uma cadeira à mesa. Ele se levanta enquanto eu me encaminho ao lugar indicado, põe comida num prato e me dá. Como em silêncio. Ele olha pela janela. Em silêncio nos olhamos até sua voz. Grave. Dizer seu nome. Tento falar o meu, mas não me recordo. Perdi meu nome na escalada.
Olho sua pequena casa. Um quarto e a sala-cozinha, onde estamos. Livros. Somente livros emoldurando a porta pela qual entrei e na parede que lhe faz quina à esquerda. Armas em uma parede e na última que olho, vejo o fogão e a porta para fora.
- Posso pegar um livro?
- Pode.
Vou às estantes e demoro a escolher. Pego um de Caio Fernando Abreu.
- Leia para mim. Diz ele e atendo o seu pedido. Uma hora. Duas horas até nos cansarmos.
- Vou dormir.
- Benito.
Ele me olha.
- Lembrei meu nome. É Benito.
- Venha deitar, Benito.
E não dormimos por três luas. E não vimos três sóis. E no quarto sol, após a noite de lua, fui embora com um farnel montado por ele mais dois livros de Clarice Lispector.
Vou morro acima. Terra arenosa. Eucaliptos. Um ipê.
A subida não para até encontrar um pentagrama de troncos caídos de onde escuto um anjo profetizar a vinda do Messias.
- Ele vem com um sorriso de grandes dentes amarelos. Um chapéu na cabeça e um livro preto nas mãos. Vem montado num grande cavalo azul. Suas palavras são de promessas, promessas e mais promessas. Deixa o homem trabalhar. Conclui o anjo.
- Fuja do cavaleiro com a bandeira vermelha no cavalo preto e branco. Ele é o adversário do grande Messias velho. Diz outra voz no pentagrama.
Vou embora. O grande Messias de chapéu me assusta. Vou embora morro acima.
E vejo a grande cidade.
- Vou até ela na estrada poeirenta?
Decido seguir a trilha que já estou e ver onde vai dar. Descubro uma bifurcação.
- Sigo a estreita estrada poeirenta? Ou sigo a larga estrada cheia de pedras?
Sigo a estrada empedrada.
- Ai!
Foi um pedaço da carne de meu pé cortada por uma formiga cabeçuda monstruosa. E só vejo mais e mais formigas se aproximando. As encaro pensando no que fazer. Esmago umas e outras.
- Ai!
Esmago mais outras. Mas o que fazer? Correr é a única coisa que penso e faço. Milhares de formigas avançam até mim. Vez ou outra mais um grito até me deparar com um mar de terra, por onde elas não avançam e eu me perco.
Ouço um canto. O canto de invisíveis sereias aladas. E me sinto voando sobre a imensidão. Sinto orgasmos não sei como nem pelo que provocado. Só podem ser as sereias que anuviam meus sentidos.
Acordo muito longe de onde estava e cinco seres indefinidos lutam comigo até jorrar o líquido da vida que se perde pelo meu peito até o chão. Desfaleço. Após cansá-los com minha persistência eu me desfaleço. Quando acordo, corro dali até me chocar com um gigante amarrado que me ameaça. Suas mãos estão livres e tentam me pegar. No desespero tropeço na alavanca que prende as correntes que lhe detém e o imobilizo com dor.
Quero soltá-lo. Resisto à vontade.
- Talvez seja melhor um gigante acorrentado...
- Seu tolo. É melhor deixá-lo livre.
- Sei não. Pelo menos é o que sempre me disseram. Ele é ruim. Perigoso. Não merece estar solto.
- Ao menos volte aqui às vezes e afrouxe as correntes.
A subida pelo morro é um semi-círculo e me deixa bem diferente de como saí. Bem distante de onde parti. Acaba num nada que é tudo. E de lá volto para casa completando o percurso.
Chego ao meu lar com o canto do galo.
----------------------------------------------
Falando sério! Você acha que depois de uma viagem assim eu preciso de algum alucinógeno? Não! E eu concordo com Clarice, minha alerteza me é mais preciosa. Permite-me ver ao redor para melhor descrever através de minhas artes. Inté!
-----------------------------------------------
arterubemleite@gmail.com
“Não tomo bolinhas. Quero estar alerta, e por mim mesma. Fui convidada para uma festa onde na certa tomavam bolinha e fumavam maconha. Mas minha alerteza me é mais preciosa”.
(Clarice Lispector – A Descoberta do Mundo – Editora Rocco)
Acabo de sair de casa e me deparo com o pé do morro. Olho para seu tamanho e só vejo uma enorme mancha marrom. Começo a subir seus degraus. Denúncia da interferência humana. No fim da escadaria me deparo com uma árvore emplacada com a inscrição:
“... Árvore da vida! Árvore da esperança ... Visão da escada de Jacó”
Paro. Olho ao redor. Sigo.
A subida está mais íngreme. Vejo uma árvore escorrendo resina. Resignado eu oro. Até a hora de ir embora.
A subida não para. Eu escorrego caindo de joelhos. De joelho eu rezo ouvindo os gemidos das árvores fazendo amor com o vento. Continuo a subida e vejo uma linda mulher. Os mais lindos cabelos negros. Como uma noite estrelada. Paro calado. Seu olhar me faz falar. Duas luas vieram e se foram. Assim nos conhecemos. Na terceira lua nos amamos feito o vento fazendo a árvore gemer. Na quarta lua nos separamos. Volto a subir.
Cinco sóis causticantes me matavam até eu ver os restos humanos de alguém. Um ninguém. Paro medroso. Examino ou viajo? Examino.
Vespas fizeram morada nos restos. Descobri ao mexer cauteloso. Reponho com cuidado os restos à posição que estava e saio correndo. Caio sentado. Volto a correr e caio com o rosto noutra escada escavada. Desmaio.
Desperto na escuridão. É uma casa, acho. Por uma fresta vejo luz. Nada esperto vou até a luz e vejo meu salvador. Forte. Ele me olha sério e em silêncio me aponta uma cadeira à mesa. Ele se levanta enquanto eu me encaminho ao lugar indicado, põe comida num prato e me dá. Como em silêncio. Ele olha pela janela. Em silêncio nos olhamos até sua voz. Grave. Dizer seu nome. Tento falar o meu, mas não me recordo. Perdi meu nome na escalada.
Olho sua pequena casa. Um quarto e a sala-cozinha, onde estamos. Livros. Somente livros emoldurando a porta pela qual entrei e na parede que lhe faz quina à esquerda. Armas em uma parede e na última que olho, vejo o fogão e a porta para fora.
- Posso pegar um livro?
- Pode.
Vou às estantes e demoro a escolher. Pego um de Caio Fernando Abreu.
- Leia para mim. Diz ele e atendo o seu pedido. Uma hora. Duas horas até nos cansarmos.
- Vou dormir.
- Benito.
Ele me olha.
- Lembrei meu nome. É Benito.
- Venha deitar, Benito.
E não dormimos por três luas. E não vimos três sóis. E no quarto sol, após a noite de lua, fui embora com um farnel montado por ele mais dois livros de Clarice Lispector.
Vou morro acima. Terra arenosa. Eucaliptos. Um ipê.
A subida não para até encontrar um pentagrama de troncos caídos de onde escuto um anjo profetizar a vinda do Messias.
- Ele vem com um sorriso de grandes dentes amarelos. Um chapéu na cabeça e um livro preto nas mãos. Vem montado num grande cavalo azul. Suas palavras são de promessas, promessas e mais promessas. Deixa o homem trabalhar. Conclui o anjo.
- Fuja do cavaleiro com a bandeira vermelha no cavalo preto e branco. Ele é o adversário do grande Messias velho. Diz outra voz no pentagrama.
Vou embora. O grande Messias de chapéu me assusta. Vou embora morro acima.
E vejo a grande cidade.
- Vou até ela na estrada poeirenta?
Decido seguir a trilha que já estou e ver onde vai dar. Descubro uma bifurcação.
- Sigo a estreita estrada poeirenta? Ou sigo a larga estrada cheia de pedras?
Sigo a estrada empedrada.
- Ai!
Foi um pedaço da carne de meu pé cortada por uma formiga cabeçuda monstruosa. E só vejo mais e mais formigas se aproximando. As encaro pensando no que fazer. Esmago umas e outras.
- Ai!
Esmago mais outras. Mas o que fazer? Correr é a única coisa que penso e faço. Milhares de formigas avançam até mim. Vez ou outra mais um grito até me deparar com um mar de terra, por onde elas não avançam e eu me perco.
Ouço um canto. O canto de invisíveis sereias aladas. E me sinto voando sobre a imensidão. Sinto orgasmos não sei como nem pelo que provocado. Só podem ser as sereias que anuviam meus sentidos.
Acordo muito longe de onde estava e cinco seres indefinidos lutam comigo até jorrar o líquido da vida que se perde pelo meu peito até o chão. Desfaleço. Após cansá-los com minha persistência eu me desfaleço. Quando acordo, corro dali até me chocar com um gigante amarrado que me ameaça. Suas mãos estão livres e tentam me pegar. No desespero tropeço na alavanca que prende as correntes que lhe detém e o imobilizo com dor.
Quero soltá-lo. Resisto à vontade.
- Talvez seja melhor um gigante acorrentado...
- Seu tolo. É melhor deixá-lo livre.
- Sei não. Pelo menos é o que sempre me disseram. Ele é ruim. Perigoso. Não merece estar solto.
- Ao menos volte aqui às vezes e afrouxe as correntes.
A subida pelo morro é um semi-círculo e me deixa bem diferente de como saí. Bem distante de onde parti. Acaba num nada que é tudo. E de lá volto para casa completando o percurso.
Chego ao meu lar com o canto do galo.
----------------------------------------------
Falando sério! Você acha que depois de uma viagem assim eu preciso de algum alucinógeno? Não! E eu concordo com Clarice, minha alerteza me é mais preciosa. Permite-me ver ao redor para melhor descrever através de minhas artes. Inté!
-----------------------------------------------
Assinar:
Postagens (Atom)