Obax anafisa.
Tarde de Dia
das Mães no Pq. Ipanema com a boa companhia de um livro de contos ingleses. E
para brincar, um desenho da ilha.
- De quem é
essa bola? É sua?
Vozes de dois
garotos perguntam para um homem num banco que responde algo que não ouço por
preferir meu lazer. Passam-se alguns minutos, acho, e um garoto fala “que
desenho maneiro”. O outro “Eu também desenho desse jeito”. E o primeiro retruca
“Desenha nada”.
- Você
desenha bem, moço. – O mais velho fala para mim.
- Obrigado!
Mas acho que ele está certo. Deve desenhar do mesmo jeito que eu. Eu não sou
desenhista.
- Não? Por
que desenha então?
- Só por
diversão, para brincar.
- Você
desenha legal. – Fala o segundo.
- Obrigado,
mas ainda concordo com você. A gente deve desenhar do mesmo modo.
O mais velho
senta ao meu lado e o mais novo se mantém de pé, de frente para o irmão,
escorado na bicicleta. Então pergunto o nome deles e me apresento.
- Eu sou
Benito e vocês, como se chamam?
- Augusto.
Diz o mais
velho e o caçula completa.
- Guilherme.
- Posso ver?
– Augusto pergunta e deixo os dois manusearem o caderno. – Gostaria de saber
desenhar assim.
- É só sentir
prazer e fazer por brincadeira, pela diversão. Sem nenhum compromisso.
- Huuuum! Num
acho não.
Sorrio e digo
que é sim.
- Fez tudo
isso hoje?
- Não! Só o
último.
- Vai
desenhar mais?
- Não! Agora
vou voltar a ler.
- Não gosto
de ler. – Fala Guilherme.
- Talvez
porque ainda não descobriu o prazer que é a leitura.
Os garotos se
entreolham duvidando.
- Pensem só.
Vocês estão em casa, sem nada para fazer. Nada interessante na tv, lugar nenhum
para ir. Peguem uma revistinha da Turma da Mônica e se divirtam. Com o tempo
procurem também outros tipos de leitura.
- É, Mônica
eu gosto.
- Pois então.
Leia e se divirta, Augusto. Maurício de Souza te apresentará à grandes obras
brasileiras e estrangeiras. Já ouviu falar de Shakespeare?
- Não!
- Huum! Já
ouviu falar em Romeu e Julieta?
- Já!
- Viu, você
conhece algo de Shakespeare, um dos maiores escritores da humanidade. Lendo a
Turma da Mônica acabamos conhecendo muitas obras boas, né. Assim, comece lendo
Maurício e depois procure também outros tipos de leitura. Quem sabe você não
acaba gostando de livros.
Enquanto falo
vou juntando minhas coisas, eles vão se levantando e então nos despedimos.
Vejo um
sujeito se aproximar do lago, escorar sua máquina numa árvore e fotografar a
garça pescando. Vou-me embora olhando as árvores, as flores, as crianças, as
famílias e pensando, não sei por que, em pessoas que conheci. Hoje, Ricardo
Escudero. Thiago Domingues? Tem um ano já. E ambos pelo “feicebuque”. Tiago
Costa, uns três ou quatro anos e também virtualmente. Bruno Grossi, em 2004, na
Praça da Liberdade em BH. Com
sua namorada e amigos distribuía a versão impressa da revista cultural Nota Independente.
Na época voltada para o roque. E no princípio de junho Brunão aniversaria.
Nossa! Tenho uma lista imensa, graças a Deus! Para eles e em especial, como um
pedido de desculpas, por não ter citado, aos meus demais amigos virtuais:
“Essas distâncias astronômicas não são tão grandes assim: basta estenderdes o
braço e tocar no ombro do teu vizinho”¹. Dois rapazes treinam corda bamba ao pé
do morrinho do teatro de arena. Um deles, o que está no chão, pisca para mim e
sorrimos. No topo do morro os roqueiros baseiam e conversam nas arquibancadas.
Um conhecido, pessoa querida, na sua roda discute qualquer coisa. Olha para mim
sorrindo, então me aproximo. Trocamos banalidades e me despeço.
Ofereço como presente
de aniversário à
Ivone M. Andrade, Kilder
Andrade, Gabriela Macedo.
Em banto, obax anafisa
significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço
votos de que encontre nele pedras preciosas.
Escrito entre 13 e 28
de maio de 2012.
¹ QUINTANA, Mário – Para viver com poesia / Mário Quintana;
seleção e organização Márcio Vassallo. – 2ª edição – São Paulo: Globo, 2010.
Um comentário:
sensacional!lendo e aprendo!
Postar um comentário