Potira itapitanga.
- Gual! Gual, gual, guaaaal! Gual! – Don
Perro de La Mancha late para uma folha voando ao vento, investe-se contra ela e
depois deita ao lado de Edgar Allan Cat que observa lúgubre uma pomba pousada
no busto de Vito Gaggiato diante do Tribunal do Júri do fórum de Ipatinga, e
lhe diz: “Miaumore!”. Ao mesmo tempo, eu e meus irmãos, os grandes e bem verdes
oitis e damas da noite, abrigamos aqueles que vestem camisas rosa, amarela,
branca e de futebol enquanto bebem cervejas e olham as mulheres que passam ou as
que estão nas mesas vizinhas. Em nossa sombra os dois bichinhos observam tudo.
E eu também. E te convido a observar conosco o que Rubem registrou em cronto.
“Deixa rolar. Com medo nada dá certo”.
“Mas é dela que gosto.” ... “Te liguei, rapaz, porque estava sentindo falta de
nossos papos.” ... “Mas é a sua mulher que não gosta da minha”. “Elas que se
fodam”. “Nós que a fodamos”. “Rarrarrá!” ... “E a merda do jogo?”. “Merda
procê. Pra mim foi ótimo”. “Vá a puta que pariu”. “Rerrê”.
Don Perro de La Mancha é um cachorro
de porte médio, pelos longos e pretos com cinco manchas brancas, duas marrons e
uma amarela nas costas. Edgar Allan Cat é um gatão preto.
- Veja, Perro, o nosso humano
arreganha a boca e taca um colherão de feijão tropeiro. Engole um pouco, depois
de rápidas mastigadas e...
- Benito!
Adê Araújo retira os bichinhos das
mesmas observações que eu e meus irmãos fazíamos às mesas ao redor.
- Oi, Adê. E os shows?
- Vão indo.
- Vi que Kátia te deu folga hoje.
- Pois é. Vim tocar, mas ela ficou em
casa. Está cansada de tanto que trabalhou ontem no salão.
- E aquele lugar que você tocava...
Não te vejo mais lá.
- Agora não tenho mais exclusividade.
Quando me querem para um evento, eu vou.
- E que horas vai cantar?
- Vai demorar um pouco. Cheguei cedo
para preparar o palco.
- Quem quiser te contratar, como faz?
Conversam mais um pouco, o músico se
vai e vem outro alguém. As árvores observam e os bichinhos também. Uai! Até fiz
rima. De mim brotam poemas em ramas, folhas e flores; e palavras.
- O que você pensa sobre os direitos
humanos, Benito?
- Penso que somos todos humanos,
portanto todos temos direitos... e deveres!
- É que vejo tanta discussão sobre
gênero. Sabe! Racismo e gênero não são coisas que precisam ser discutidas... Afinal,
menino nasce menino e menina nasce menina. Nem temos que discutir racismo; pois
hoje isso não é mais problema.
- É... Talvez! Não sei quem falou,
mas li em algum lugar que “nenhuma pessoa branca que vive hoje é culpada pela
escravidão. Mas todos os brancos vivos de hoje colhem os frutos da escravidão
assim como todos os negros que vivem hoje ainda carregam as cicatrizes dela”. E
sobre sexo da criança... Sexo é uma coisa, sexualidade é outra. E gênero é uma
coisa, ou muitas... Generalizar é outra coisa.
- Pode ser, mas acho uma cachorrada
nos quererem impor a ideologia de gênero e... Ai, que isso. Sai, cachorro. Sai!
Don Perro e Edgar avançam no sujeito
que xingou os cães... Benito ri, mas manda seus amigos sossegarem e voltarem
para debaixo de nós que tudo espiamos. Os dois deitam, o insano sai. Não tarda
e chegam ao Feirarte, Maura Gerbi, Robinson Ayres, Wenderson Godoi e Vinícius
Siman. Agora o Feirarte vai ficar bom demais da conta, sô. E Maura proclama: “Há
pessoas de pequeno tamanho e outras de baixa estatura”. E só temos que
concordar; ou pensar! Mas o que sei eu? Apenas broto folhas, flores e poemas.
Ofereço aos aniversariantes
Gláu Tomaz, Luís F. Rezende,
Raquel A. Oliveira, Luciana M. Silva, Samuel Costa, Cris Duarte, Carla
Paoliello, Rita de Cássia, Cleverton Nunes, Didi Peres, Chrika de Oliveira, Fernando
Fernandes, Tamirys Fernandes e Heloísa Martins.
Recomendo a leitura de
Destino, de Karine Farias; ..., de Mailson Furtado; Espermograma, de Willian
Delarte; Sou Poesia Solta, de Ely Monteiro:
Potira itapitanga são duas
palavras que vem do tupi e significam “flor” e “pedra vermelha” (rubi). É meu
desejo que cada leitor encontre em meus textos flores e pedras preciosas.
Sem registro de quando
manuscrito, mas transcrito na manhã de 24 de setembro de 2014. E mexido entre
os dias 22 de julho e 31 de agosto de 2015.
2 comentários:
tô ligadão Rubem Leite em teus contos,às vezes, regados com poesias explicativas ou não, mas que fazem a alegria deste leitor, que sempre é iluminado por tuas ideias.Quaaaaaaaaaaaal, qual os personagens desta história narrada no conto. Parabéns mandou muito bem, como sempre. Que Deus lhe bendiga e te ilumine sempre. Abraços e linda semana.
Muito bom!!
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