Pai meu
que está no Céu, santificado é só o meu nome. Venha a mim o meu reino (e para
de enrolar, seu va-ga-bun-do). Seja feita a minha vontade assim na terra plana
como no Céu. O pão meu de cada dia (pão nada, que isso é coisa de pobre; só
comida cara) me dá agora (que não sou obrigado a esperar). Nada tenho que ser
perdoado, mas perdoo Jesus, o comunista. E não perdoo quem me ofende. Não me
deixeis cair na tentação de amar meu próximo e empurrai aos demais pros
infernos.
Armem.
Os dias são domingo e depois segunda,
terça, quarta, quinta, sexta, sábado, domingo, segunda, terça, quarta, quinta,
sexta, sábado, domingo, segunda terça, quarta, quinta, sexta, sábado...
O dia e a noite, o dia e a noite, o dia e a
noite... Se fazem madrugada, manhã, tarde, noite, madrugada, manhã, tarde,
noite, madrugada, manhã, tarde, noite...
Estamos em junho que se seguirá por julho,
agosto, setembro, outubro, novembro, dezembro, janeiro, fevereiro, março,
abril, maio, junho, julho, agosto, setembro...
Milênios antes da Via-Láctea, milênios com
Via-Láctea, milênios depois da Via-Láctea... Milênio de formação da Terra,
milênios antes dos sapiens, milênios com os sapiens e milênios após.
Ouvi num vídeo da atriz Denise Fraga que me
tirou lágrima. Ela se encontrara com uma amiga de baixa instrução que chorava a
morte do irmão morto pelo covid. Essa pessoa comentou com a atriz:
- Meu irmão morreu de covid porque estava
com a impunidade baixa.
A atriz, naquele momento de dor da amiga, decidiu
não corrigir o erro: não é impunidade; é imunidade. Mas ela teve vontade de dizer:
- O seu irmão não morreu de impunidade
baixa. Ele morreu de covid por causa da impunidade alta.
O Pazuello foi castigado com uma pensão vitalícia. – Dou uma triste risada. – E todas
essas pessoas que cometem os mais bárbaros crimes contra os mais fracos nada
lhes acontecerá porque sua impunidade é altíssima. Nada vai lhes acontecer.
Denise Fraga fala da ironia que o problema não foi a baixa imunidade do rapaz e
sim a alta impunidade... – não da elite porque isso exigiria elevado teor
intelectual entre outras coisas. – Alta impunidade de quem está no poder.
Um gemido ou arfar desalentado escapa de
meu peito.
Não deveríamos permitir que pessoas como os
prefeitos de Coronel Fabriciano, Ipatinga e Timóteo, policiais, militares,
empresários, vereadores, deputados, senadores, governadores, presidentes saiam
impunes.
- A ética tinha que ser uma realidade. –
Diz um inteligente amigo. – Não importa quem deveria ser julgado segundo as
leis e comprovado o crime, condenado. O essencial é a educação. Educação é a
chave de tudo.
- Não há como dizer que educação... – Não
consigo completar a relevância da educação. Há muita amargura em meu corpo para
a lógica sair com facilidade. – Temos que educar as crianças, educar os pais,
educar os políticos, educar os policiais, educar os sacerdotes de todos os
credos, educar os médicos, os advogados, quem varre rua, quem caminha pelas
ruas, quem está vendendo, quem está comprando. Sem educação nada funciona. Mas quem
educará? Quarta-feira fui a um advogado e vi pela tela de seu computador a
página de watzap. Um dos grupos que ele segue é “somos todos Boçalnato”. Precisamos
educar sobretudo aos professores. Mas quem seria os educadores? Faz tempos e
tempos que digo que os professores deveriam ser a elite intelectual dos
municípios. E só a escola onde trabalho grande parte foi eleitora do Boçalnato.
Vê-se que eles não têm nenhum intelecto. O que estão ensinando? Se só conseguem
dizer “petêêê, Luladrão! Miiiito!”. Mas eu concordo com o senhor, educação é...
O que não consigo ver é quem educará.
- Essa CPI – Diz uma amiga igualmente
inteligente – só desperta angústia, ódio... Na Praça Primeiro de Maio, no
Centro de Ipatinga tem uma barraca buscando filiação para o partido do
Boçalnato. Parece que eles existem para despertar empatia. Mas como ter empatia
com gente assim? Se eles exterminam os índios; fizeram dois homens perderem um
de seus olhos; ameaçaram estuprar uma criança de cinco anos por ser filha de
uma importante política da esquerda. Gostaria poder confrontar essa gente, mas
me sinto com medo. Não sei o que dizer-lhes.
- Confrontar, comentar como? Dizer o que
para eles? Boçalnato, antes de ser eleito, já se declarava corrupto, que
sonegava impostos; que ia tirar até o último centímetro de terra dos indígenas;
que negro se pesa em arroba. E aí vai... Não há como confrontar uma pessoa que
não se importa com nada disso. Não há como discutir. Ouvi uma história:
Um burro
e um tigre discutiam sobre a cor da mata. O burro zurrava que era azul e o
tigre bramia que era verde. Depois de tanto discutirem decidiram conversar com
o rei leão.
O burro
azurrou enfaticamente que a mata era azul e que o tigre deveria ser punido por espalhar
“fêiqui nius”.
O rei
leão declarou:
- Tudo
bem, senhor burro. O tigre terá como punição a obrigação de ficar calado por
quatro anos.
O burro
saiu todo contente a ornejar sua sapiência e o merecido castigo do tigre
mentiroso.
- Rei
leão, por que vossa majestade concordou com o burro e me castigou se sabe que a
mata é verde?
-
Puni a vossa alteza porque nunca se discute com burros. Eles são incapazes de
compreender a verdade. Espero que o senhor nunca mais perca seu tempo com os
imbecis.
E a verdade é que estamos indo para quatro
anos sofrendo os males causados pela récua nacional. Eu mesmo discuti com esses
imbecis, mas foi em vão. Já foi dito, não me lembro por quem, que os idiotas
vencerão o mundo não pela capacidade, mas pela quantidade.
E por que não me calo? Porque sou cigarra a
gritar até estourar-me... Esta é minha natureza. Ou talvez até ser devorado
pelas formigas milicianas. Essa é a natureza humana.
- Precisamos da Luz de Buda, de Cristo, de
Olorum. Precisamos de Luz divina para trilhar sem nos perdemos.
- Precisamos de luz sim. Mas me lembro
daquela música:
Diz
que Deus dará, diz que Deus dará, mas se Deus não der, ó nega, como é que vai
ficar?
- Realmente não podemos transferir a conta
para Deus. O problema é nosso. – Uma pausa. – Mas minha esperança é que essas
cobras se engulam.
Os dias são domingo e depois segunda, terça,
quarta, quinta, sexta, sábado...
Ofereço como presente aos aniversariantes:
Adinagruber C. Lima, Éder Rodrigues, Neusa Silva, Luciano A. Maciel, Edney Costa e Claudiane Dias.
Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”. Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Imagens: fotos do autor.
Escrito entre os dias 04 e 06 de junho de 2021.
4 comentários:
Triste... E de tristeza em tristeza a farmácia enche o caixa vendendo felicidades sintéticas...
Sinto as dores de sair da caverna,os que existem lá, existem como se vida não houvesse fora dela.Cansei de discutir,mas não me canso de sofrer!
Sinto as dores de sair da caverna,os que existem lá, existem como se vida não houvesse fora dela.Cansei de discutir,mas não me canso de sofrer!
Acredito que nestes momentos só Jesus nos salvará de TUDO, Ele é a luz do mundo.Também acredito que a chave do TOdo é a educação. Gostei do trabalho do Rubem.
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