segunda-feira, 13 de junho de 2011

SANTO ANTÔNIO

13 de junho de 2011

Obax anafisa.


“A pessoa reza quando adere a Deus no amor e, em certo sentido, fala com Deus de maneira familiar e devota. (...) crer em Deus não significa tanto acreditar que Ele é verdadeiro e fiel; significa sim acreditar amando”.

(Santo Antônio).


“Tudo se destrói pelo exagero”, diz Almerindo M. Castro, eminente espírita.

Eu amo Santo Antônio e me inspiro nele para ser uma boa pessoa. Quantos conselhos ele me dá. Quantas admoestações recebo. Quanto consolo e apoio dele tenho. Quanta orientação ele me provê.

Quantos devotos de Santo Antônio, de São Pedro, de São João os cultuam destrutivamente? E ao invés de apreender a profunda espiritualidade dos santos e profunda verdade contida nas religiões (e isso serve para todas as Igrejas: católica, protestante, espírita; cristã ou não cristã) transforma a Verdade pregada em coisas materiais. Com berros, cantorias, fogueiras, cachaça e outras bebidas à regalia, maldades feita aos nossos irmãos irracionais, os animais (rodeio, rinha de galo...), em romarias casamenteiras; tudo no mais triste materialismo, sem um pingo, verdadeiro, de espiritualidade.

Tive uma vizinha que me disse odiar Santo Antônio porque ela pediu para casar... e casou... Mas nenhuma vez ela pediu sua orientação para ser uma boa esposa.

Em “suas” festas, bebe-se a ponto de cair ou para anestesiar os sentidos e faz o que não se deve.

Reza com Santo Antônio para Deus com a boca que come a se fartar sem lembrar dos famintos, sem lembrar de se calar palavras duras, sem lembrar de elogiar, fortalecer, consolar, agradecer. Muitos procuram o Santo para achar algo que se perdeu ou para encontrar marido. Quantos o procuram para não fazer sumir a honra alheia? Ou seja, para se calar. Qualquer comentário, por mais insignificante, que fere a honra ou moral nunca, e friso o nunca, poderá ser desfeito. Mesmo que procure as pessoas para quem comentou será que se lembrará de todos? E as pessoas para quem eles recontaram? E darão o mesmo crédito para a retificação que deram para a maledicência?

Todo o mal será eterno.

E todo bem será eterno. Procuro o Santo para chegar a Deus. E se chega a Deus através do amor. Amor não é sexo, nem marido ou esposa, nem filhos, nem pais. Amor é o segundo atributo de Deus. Segundo a Seicho-No-Ie, dentre os incontáveis atributos Divinos, seis resumem os demais: Sabedoria, Amor, Vida, Provisão, Alegria e Harmonia. E um não existe sem os outros. Amar Santo Antônio não é fazer fogueira, não é falar para Deus sem ouvi-l’O (observe que escrevi “para” e não “com”). Nada contra as festas ou romarias. Pelo contrário. Mas que não sejam elas o ponto alto. E que a verdadeira festa seja a interior.

Anos atrás, enquanto fazia uma prece meditativa “recebi” uma oração que desde então faço diariamente e compartilho com você:

Meu Santo Antônio, querido amigo, amado irmão, rogai por mim, seu discípulo.

Oh! meu Santo Antonio, guiai-me a Deus-Pai, meu Criador, assim como levou em suas mãos Jesus Menino.

Oh! meu Santo Antonio, guiai-me a Deus-Filho, meu Amor, meu Salvador, assim como levou em suas mãos Jesus Menino.

Oh! meu Santo Antonio, guiai-me a Deus-Espírito Santo, meu Eu, meu Iluminador, meu Jisso, assim como levou em suas mãos Jesus Menino.

Meu Santo Antônio, querido amigo, amado irmão, rogai por mim, seu discípulo.


Dentro de mim festejo com Santo Antonio o aniversário de

Ana P.P. Bejar, Fernando Mendes, Ton Xavier.

E ofereço o cronto a eles como presente de aniversário.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas.

O cronto é minhas flores para você

e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

As figuras são de:

http://www.elo7.com.br/buque-de-santo-antonio/dp/FF5C8

Salvador Dali em 1946 – http://www.portaldarte.com.br/surrealismo.htm






sexta-feira, 10 de junho de 2011

URGENTE? URGENTE SÃO A ARTE E CONTAR ESTRELAS!

Obax anafisa.

No momento temos uns bicos aqui com um amigo... E estamos firmes com as ações do coletivo aqui... Mas caminhando né! Não é o que paga nossas contas! rsrsrsrs! Mas a arte é urgente e isto é fato!

Thiago Lopes – artista de circo

compartilhando comigo um pouco de seu dia a dia.

Termino sempre, contando estrelas

Aceite minha companhia para tão nobre arte

E em tão nobre arte

Contar estrelas

Marina Mazzoni

em Brasil, Bem Minas – coluna MINEIRANDO

de 27 de maio 2011, revista Nota Independente

www.notaindependente.com.br


Os cachorrinhos correm atrás de outro na rua. Vão para o lugar proibido. A parte de baixo da rua Uberaba que dá no extinto Juá. A ex-zona boêmia que hoje é boca de fumo, boca de pó, boca de pedra. Obrigando-me a ir atrás deles. Obrigando-me a ver o que não quero. Obrigando-me a posicionar no que não quero. Obrigando-me a ser questionado pela consciência.

Quatro pessoas. Uma mulher escorada num poste de placa de um modo que apenas bêbados ou leso-cerebrais conseguem. Outra escorada na parede-muro do Inmetro. Outra sentada num degrau. Outro com um porrete levantado – Pau na mão de Paulo.

- Juro que não estou com nenhum dinheiro seu, Paulo.

- Confessa! Ou eu lhe desço o cacete.

- Pelos meus filhos, eu não fiquei com dinheiro nenhum. Entreguei tudo.

- Fala, vagabunda.

- Pelos meus filhos, eu respeito sua cara, Paulo.

- Então beija meus pés.

Respondendo à consciência volto para casa furioso com Vitório e Decidido por me colocarem nesta. Então... Então tomo meu café e me preparo para enfrentar o dia. Mas os dias passam como “ventanas en las mañanas” e eu tenho que dar aula:

Do estremo canto esquerdo ao fundo do palco o elenco se encontra congelado. Então se encaminha para frente e mais próximo do centro do palco. As colegas de Breguinha a ridicularizam pelas roupas que veste, pela classe social. Ela é complexada, tímida, covarde até e não faz nada. E depois voltam à posição neutra e no extremo canto direito ao fundo do palco os demais atores que estavam congelados vão para o canto direito à frente e mais próximo do centro do palco. Aí Drog tenta namorar Gata com as mais bobas cantadas “Seu pai é mecânico?” Ela responde “Não, por quê?” “É que você é uma graxinha”. Inicialmente Gata estava interessada, mas desiste por ver que ele é um usuário de drogas, já viciado e bobo. O que o faz se drogar ainda mais. O pai do rapaz é chamado e demonstra toda a sua agressividade, mostrando a causa do vício de Drog. Ponto importante, a violência ao filho é “feita” na platéia, fazendo-a “sentir” (imaginar) o horror que é a vida de Drog. Dias depois Drog vê Breguinha numa praça e dá uma cantada “Oi! Eu me chamo Alface, mas para você eu sou Facim”. Toda eufórica cai na lábia. E vão para o altar. Em casa, Drog repassa para Breguinha toda a violência que aprendeu. Levanta a mão para bater, mas ela implora. Drog se volta para a platéia, levanta o pé e diz, “então beija”.

Para você que me ler, o que fiz é válido, levar para o palco o que presenciei, denunciando (ou tentando) a violência? Ou acha que deveria ter entrado na confusão? Melhor, como você se posicionaria? Deixe um comentário ou mande para meu email ( arterubemleite@gmail.com ). Sua opinião. Para mim, é importante.


Ofereço como presente de aniversário aos meus queridos

Elaine Cristina, Fabiane Arêdes, Claudiane Dias,

minha tia Bernadete Duarte e minha cunhada Margareth Leite.

E meus agradecimentos aos Thiago e Marina que me deram mote para o cronto.

Um viva aos namorados e namoradas. Viivaaa!

Escroto, digo, escrito entre 29 de maio a 10 de junho de 2011.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas.

O cronto é minhas flores para você

e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

BRASIL, PAÍS DA ALIANÇA DE DEUS

Obax anafisa.



Olha! Olha! Se for à Europa, com poucas exceções, só vai ver aquela branquelaiada. Se for à África, com poucas exceções, só verá aquela negaiada. Se for ao Japão ou outras nações asiáticas só, praticamente, pessoas com características orientais. Mas olha! Olha! Aqui no Brasil todo tipo de gente com variadas cores. É lindo! Lindo como o arco-íris. E o que é o arco-íris senão a aliança que Deus fez com a humanidade. Brasil é a nação arco-íris, a nação aliança Homem-Deus. Olha! Olha! Tem gente querendo matar quem ainda nem nasceu. Homem e mulher se aliaram e Deus abençoou. Como recusar a bênção de Deus? Se o meio foi ruim, monstruoso até, Deus transformou uma desgraça em graça. E seja como for, é a aliança. Mas olha! Olha! Que lindeza é o Brasil arco-íris.


Ofereço como presente atrasado de aniversário a Bruno Grossi.

domingo, 29 de maio de 2011

ARQUIVO VIVO

Obax anafisa.

Hoje a madrugada está boa. Sinto que “a oportunidade está dentro das mudanças”¹. Os quatro adolescentes de ontem, fumando craque na madrugada, já passaram. Não vou voltar atrás. Ouço um galo anunciado o nascer do sol. Ele está eufórico feito eu. Falta muito para a aurora e ele já está de prontidão. Não será pego de surpresa. Estará de asas abertas para receber o sol. Nada vai estragar meu dia. Nada! Minha mãe cantarola enquanto prepara o café. O que vou mudar? Meu corte de cabelo? Não, acho que não. Não sou mulher. Bem que ele precisa de um cortezinho. Minha barba, então. Nem se fala. Será uma mudança. Duas, na verdade. Mas acho que a mudança deve ser outra, mais profunda. Você não acha? Sonhei com bastões de incenso, pessoas conhecidas orando. Enterro do Dr. Rinaldo, ex presidente da Usiminas, ex conselheiro do Gaaalooooo! Uma cantora elitista chorando tão contrita que não acreditei que estava sentida. Estou dando aula de iniciação teatral para adolescentes num espaço cedido por uma Igreja. Assistimos uns curtas falando sobre drogas e sexualidade. Alguém da Igreja ligou para o Pastor dizendo que eram filmes pornográficos. Fiquei ofendido. Primeiro porque arte não é vulgaridade. E eu sou artista. Depois porque me chamaram de burro. Corromper adolescentes com portas abertas para todos na rua e o pedreiro que trabalhando no salão nos verem é o cúmulo da topeirice. Uma coisa que preciso mudar em mim e acho que dou conta é agradecer mais. Reclamar menos. Voltar ao que eu era antes... Não é gemendo e chorando num vale de lágrimas que as coisas vão mudar. Pelo menos para melhor. Vou passar o dia de hoje agradecendo. A tudo. A todos. Haja o que houver, agradecerei. Obrigado, obrigado, muito obrigado! Estou muito tempo sem pegar Grandes Sertões: Veredas para continuar a leitura. Guimarães vai ficar bravo comigo. E é tão bão... Por falar em João me lembrei do Jessé. Ambos são Rosa. Bom artista dos palcos. Legal vê-lo sábado no Parque Ipanema. Não aconteceu nada especial. Só o vi, panfletamos juntos a divulgação do novo espetáculo do Farroupilha. Pouco falamos além dos cumprimentos de praxe, mas foi suave vê-lo. Posso mudar mais alguma coisa? Bem! O GASP – Grupo de Apoio aos SoroPositivos – mudou de endereço. Está agora na rua Esmeralda, 15 bairro Iguaçu. Aqui em Ipatinga. Posso mudar mais alguma coisa em mim? Xovê... Ah! Está na hora de sair com meus cachorrinhos. Eles estão ansiosos. E o sol não tarda a chegar. Eu e o galo o esperamos.


Ofereço como presente de aniversário aos meus queridos

Kilder Willianker, Dom Nato, Leandro da Silva.

Escrita entre a madrugada de 25 de abril e 29 de maio de 2011.

¹ Masaharu Taniguchi.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas.

O cronto é minhas flores para você

e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

domingo, 22 de maio de 2011

CAMUFLAGENS

Obax anafisa.

Manhãs de sol na Praça Caratinga. As acácias balançam ao vento. Os canteiros elevados ricos de verde. E os sorvetes, os doces e, não posso esquecer, os livros. Minhas bonecas. As borboletas. Os bem-te-vis cantando.

Ela camufla sua covardia num suicídio. Ele, num ato de violência. Um segue o que o outro manda e todos perdem. E eu quero contar. É assim minha participação nessa estória. Ah! Quanto quero contar sem ter que ser julgada e simplesmente aceita. Mas nos calamos, os três, quando queremos dizer algo.

Eu e minhas bonecas acompanhadas por livros vemos espetáculos no Parque Ipanema.

Minha querida Letícia Duns contou-me uma estória interessante e que se parece com essa aqui. A dela é resumidamente assim. Um escritor, para pegar ideias para seu livro... Um aparte, após muita relutância estou começando a aceitar a nova ortografia. Viu que escrevi ideia sem acento? É a penalidade por estudar Letras. Tem que se conformar com bobagens, digo, com a nova ortografia. O escritor de Letícia para se inspirar se aproximou de uma garota de programa. Seduziu-a. Comprou-a. Matou-a. E assim ele se fez estória.

Que domingos bons na cachoeira. Ler e nadar ou andar pela mata ouvindo no bosque os pássaros cantando.

A nossa estória... Outro aparte. Estou aceitando, mas não tanto assim a ortografia. Ainda insisto em diferenciar história de estória. Mesmo sabendo que tanto uma como outra não passam de ficção. A nossa estória, porém, se passa tendo-me como mero fantasma das perdidas ilusões. Nossa! Que coisa mais cafona. Linda, mas cafona: “... perdidas ilusões”. Saio do aparte. Déborah é artista da dança e Ricardo é artista plástico. Eles são os nossos heróis – Rarrá – e vilões. E tinham uma irmã presa num cubículo espancada por Déborah e violada por Ricardo. Elisa não lutava mais. Já chorou, já gritou e até lutou. Agora só fica deitada. Descrever os detalhes eu me recuso. Sou o fantasma das perdidas ilusões – Rarrá – de Elisa e não um diabo para atormentar quem quer que seja, leitor, leitora ou ela. Conto a infância, o princípio da juventude. Conto onde ela se esconde para suportar. Ela que recebeu esse nome em homenagem à escritora Elisa Lispector se cala. Então eu falo.

Manhãs de sol na Praça Caratinga no Contingente. Para vocês de outra cidade, fica no fim do Centro diante da linha do trem dentro da Usiminas. As acácias balançam ao vento. É cada cacho de acácia. As palmeiras imperiais. Os canteiros elevados e o cimento para andar. É lá que eu brincava, no cimento. Às vezes nos canteiros. Entre os barulhos dos carros e da empresa. Mas tão pouca gente passava que mesmo sem outras crianças era divertido. E os sorvetes, os doces e não posso esquecer, os livros. Primeiros amigos, primeiros namorados, verdadeiros pais, verdadeiros... Talita, Keten, Clara, Mariana – minhas bonecas. Pequenas amigas. As borboletas. As comuns eram bruxas, mas tinham amarelas e brancas. Outras também apareciam. Vê-las, correr atrás. Que delícia. Os bem-te-vis gordinhos cantando. Dois eu sempre via lá. Sei que eram os mesmos. Não sei como. Apenas sei. Eu os chamava de Victor e Mateus.

As manhãs na cachoeira antes do almoço. Que domingos bons. De manhã, nadar ou andar pela mata com minhas amigas, as bonecas Mayra, Larissa, Sarah, Carol. À tarde, ler. Com meus amigos e... com meus livros entre as árvores perdidas do bosque. Vendo as formigas e outros insetos passarem. Os pássaros cantando. Meus... a gente brincava. Mas vamos lembrar de outra coisa. Não deles.

Parque Ipanema quando tinha espetáculo. Algum grupo da cidade ou de fora. Teatro, música, dança. Eu ia com uma boneca e um livro. Picolé, refrigerante e banana frita comprava lá. Bom ver A Princesa Engasgada, fragmentos de Kizomba e Terceira Idade: Encontro com a Memória. Lindos espetáculos de teatro e dança.

Os pais sempre viajando. Num domingo de sol e frio batem na porta. Quebram-na. Déborah canta “Meu coração é só de Jesus. Minha alegria é a Santa Cruz” com uma faca no peito. A voz silenciando vermelha. Ricardo fere um e outro antes de ser contido.

Sentada, sinto o frio ao sol. Mas não quero me lembrar... Prefiro: Na Praça Caratinga as acácias balançavam ao vento nos canteiros elevados ricos de verde. Eu e os livros. Que saudades deles. Acompanhada por livros no Parque Ipanema. Sinto saudades deles. Mas aqui é mais seguro. Lendo nos bosques da cachoeira eu me sentia segura. Mas não estava. Preciso voltar a sonhar. Mayra, Larissa, cachoeira, Sarah, Carol, acácias, Mateus, Victor, Talita, Keten, teatro, Clara, Mariana. Os livros. Os livros. Meus pais, meus amigos, meus namorados os livros.


Ofereço como presente de aniversário a Rodrigo Rangel.

Ofereço a todos os meus colegas de Licenciatura Letras da UnB – pólo Ipatinga. E aos novos professores e tutores do meu segundo bimestre.

Ofereço ao cartunista EDRA, de Caratinga,

que esteve em Ipatinga lançando seu livro de cartuns “SE RI EU CHORO...”.

Escrito entre 23 de abril e 22 de maio de 2011.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas.

O cronto é minhas flores para você

e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

QUEM É DE FERRO

Estou de semi luto, mas ainda lhe desejo obax anafisa.

A idéia original do cronto que escrevo é de Pedro Henrique Oliveira Santos, aluno da E.M. Márcio Andrade Guerra, no bairro Veneza II, Ipatinga MG. Em fins de março de 2011 li sua estória e do que guardei na memória reescrevo encerrando na manhã de 16 de maio de 2011.


Numa tarde bem quente de aula a professora explicava para seus vinte e cinco alunos uma de suas matérias.

- Guarde o carrinho, João. – Fala a professora e João guarda o brinquedo e expõe uma careta que a professora finge não ver. – Vamos fazer agora uma redação com no mínimo vinte e linhas e no máximo trinta. O tema é “Descobrimento do Brasil”.

- Pare de falar, João.

E o silêncio quase se instaura enquanto a garotada faz o dever.

- Volte para o lugar, João.

Enquanto isso Pedrinho, bom menino, bom aluno pensa no livrinho que, coincidência ou não, viu e leu em sua casa ontem “Carta de Caminha: A Notícia do Achamento do Brasil” e que lhe servirá para a redação de hoje. Lembra direitinho de algumas falas iniciais do texto, mesmo não tendo entendido muito bem o significado das palavras estranhas “seguimos nosso caminho, por este mar, de longo, até que, terça-feira das Oitavas de Páscoa, que foram vinte e um dias de abril, estando da dita ilha obra de...” – ai falha a memória; números não são seu forte. Mas também não interessa a distância que estavam. Mais interessante é outro ponto adiante. – “Neste dia, a hora de vésperas, houvemos vista de terra! Primeiramente dum grande monte, mui alto e redondo; e doutras serras mais baixas ao sul; e de terra chã, com grandes arvoredos: ao monte alto o capitão pôs o nome – O Monte Pascoal e à terra – A Terra da Vera Cruz”. Mais ele não lembra. Pelo menos não com as palavras do livrinho.

- João! Para de mexer com Lyz. Devolve o estojo dela, menino.

Já deu para você entender que são assim todas aulas, todos os dias.

- Sua bruxa filha de uma puta. – Falou João. Mas, para ele infelizmente, não baixinho o suficiente para não ser escutado. E como se era de se esperar a professora falou

- O – que – você – disse, – João?

Com cara lavada

- Eu não disse nada, fessora.

A professora com olhos em brasa arrematou

- Carlinho, vai chamar a diretora.

Enquanto o menino se levanta e sai

- Você agora está acabado. Não fica aqui nem mais um minuto.

E continuou falando, falando e falando. Chega a diretora, que se inteira da situação, e o resultado foi uma semana de suspensão. Enquanto isso João planejava uma vingança violenta. Colocar um sapo na bolsa da professora. Uarrarrá!

Pedrinho, sem saber da vingança, cruel numa visão infantil, e por ser um bom menino, conversa com João. Fala para ele ser mais bonzinho. Que Papai do Céu está de olho. Que se ele emendar a professora será legal e etc. João pensando nas palavras do amigo resolve seguir os conselhos dele e virar um bom menino. Pelo menos foi assim, em palavras minhas, o fim da estória que Pedro Henrique escreveu. Agora vejamos como será o final que vou dar (ainda não sei. Vou pensar. Por enquanto vou parar e só depois recomeçar a escrever. Até daqui a pouco. Só um esclarecimento, gostei da estória do autor original e quero apenas refazê-la ao meu modo e não desfazê-la).

Passa a semana e outra começa.

- Laudemirzinho! Fez a redação que pedi?

- Redação, fessora?

- É menino! A redação sobre a praia, o mar, que você está me enrolando desde semana passada.

- Sabe o que é, fess...

- Não pense que esqueci. Quero agora. Já te dei um prazo maior que o dos outros.

-

- Anda menino!

- Eu nunca fui à praia.

Não comento (preciso?) a cara da professora e de um ou outro aluno. E talvez ela tenha dito algo como “Por que não falou antes?”. E porque estou dizendo “talvez ela tenha dito”? É que deixo por sua conta a reação dela.

Mas voltemos ao João e à professora, Dna. Paula. E sem mudar muito o final que Pedro Henrique deu.

Dna. Paula, furibunda, queria a expulsão do garoto e não aceitava apenas mera suspensão. Mas como toda raiva passa com o tempo ou ao menos diminui. É como ela leu em um livro chamado O Livro dos Jovens. Nunca escreva uma carta ou discuta quando se está com raiva, pois só conseguirá tornar a situação irreversível. E foi pensando e se lembrando que, como educadora, é preciso ser firme para não condescender e ter amor para não se amofinar decidiu dar outra chance ao aluno. Foi uma decisão íntima; não compartilhada com ninguém. Ela é humana. Erra e acerta. Errou com Laudemirzinho e com a turma por exigir algo que eles não têm experiência prática – redação sobre mar em Minas Gerais? –, mas está pondo em prática o que sabe com João. Ao menos vai tentar mais uma vez. Se não der certo aí já será problema que o moleque deverá resolver por si que a vida sabe ser dura.

O dia seguinte foi o retorno de João. Que estava em dúvida.

Abro mão da vingança maligna ou sigo o conselho do Pedrinho?

A professora também estava em dúvida.

Ponho em prática o que decidi ou conservo a antipatia?

Eram dúvidas meio inconsciente; não claramente discutida. Está me entendo? Mas creio que você já sabe quais foram as decisões de ambos. Afinal, a estória é sobre isso. O difícil foi superar a antipatia mútua. João se coçava para conversar e bagunçar, mas se segurava. Sem muito êxito, claro. Porque ninguém é de ferro. Mas reduziu. A professora se coçava de aversão e conseguiu segurar a língua umas duas vezes para não destratar o pestinha, digo, menino. Enfim, o tempo foi passando. Ambos se empenhando. Fracassando e se contendo. Até o fim do ano. Talvez nunca se lembrem com saudades um do outro, mas sempre saberão que aprenderam um com o outro e com a turma.


Ofereço como presente de aniversário aos meus queridos

Rodrigo Davila, Adê Araújo e Júnior Pinheiro.

Em especial, à minha querida cunhada Neuili Mª Macedo Leite.

Ofereço também à UnB pólo Ipatinga, aos estudantes, tutores e professores

das Licenciaturas em Teatro, Música e Artes Visuais.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas.

O cronto é minhas flores para você

e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

O ENCONTRO MARCADO

Não nos aconteceu. Não! Não houve um encontro marcado entre nós – eu e o livro –. Foi por acaso que eu o ouvi, digo, o vi na mesinha dos descartados. Foi assim o nosso encontro.

Disse acima e corrigi, mas pensando melhor foi assim o nosso encontro. Primeiro eu ouvi algo. Depois ouvi um chamado; o chamado, para ser mais preciso. Olhei à procura, meio sem curiosidade, para onde achei vir o som e nada. Ouvi de novo e dessa vez acertei o som que vinha da mesinha. Era a voz não sei se do Fernando (nunca ouvi) ou se do livro (não sei se da obra ou se do exemplar) me convidando com ênfase de apaixonado.

Apaixonado! Exclamarão alguns leitores. Apaixonado? Perguntarão os engraçadinhos e completarão sarcasticamente (ou algo assim) Machos apaixonados.

Por que não?

Eu, homem – em espécie e gênero –, ele, livro.

Não vamos entrar no mérito da legalização da união estável entre pessoas do mesmo sexo nem na confusão de ontem no Senado¹. Entro no mérito que amo os livros e sou por eles amado e que minha alma se emociona com a alma – estória – dos livros e meu corpo se emociona com o corpo deles – como diz Rubem Alves no livro “O Gato que Gostava de Cenouras” –. Gosto de manuseá-los.

Agora, com licença. Vamos, eu e o livro, a um caso de amor eterno enquanto durar e mesmo quando acabar voltará à vida em outros casos de amor entre nós dois.


Escrito na manhã de 13 de maio de 2011

Ofereço como presente de aniversário aos meus queridos

Adilson Mariano, Max Tenios, Elisângela Guilherme, Rosagela Sulidade,

Fábio Neres, Roseny Macedo, Léo Coessens, Sinésio Bina e Beto de Faria.

Ofereço aos meus colegas de Licenciatura Letras da UnB – pólo Ipatinga, em especial

Reginaldo R. Gomes, Rodrigo M. C. Silva, Roseli Ap. M. Carvalho, Sandra R. Vitor, Sandra S. Lievore, Sueli M. B. Silva, Tatiana C. S. V. Brandão e Wellington P. Santos.

¹ Em 12 de maio de 2011 os Senadores Marinor Brito e Jair Bolsonaro trocam agressões físicas e verbais pela homofobia de Bolsonaro. Ele, além de servo de profundos preconceitos raciais, distribuía panfletos contendo “O governo está distribuindo nas escolas de primeiro grau uma cartilha estimulando nossas crianças a serem gays” enquanto responde a representação no Conselho de Ética da Câmara por crime de preconceito racial.