terça-feira, 27 de setembro de 2011

E TUDO CONTINUA COMO DANTES...


Obax anafisa.

O encontro entre duas massas corpóreas no mesmo espaço de algum tempo atrás, a confusão dos olhares vendo o mesmo lugar, porem em outro estado. Por instantes tudo volta a ser como antes, mas que antes era esse? O peso faz da leveza um instante entre velhas palavras”.

(Mayron Engel, Deja vu, no faceboock)


Atravessando a praça que poucos sabem o nome vi no chão uma colagem. Paro para, talvez, me encantar. Um senhor olhando-me a ver desvia seus olhos para a figura, meio segundo e diz “bixzucgi demônio”, sem parar continua o caminho. Acho graça. E mais do que isso não ligo.

Ando lentamente, sentido o ar na pele; não o percebo em meus pulmões. Ainda na pele sinto o sol e o perfume acariciando minhas narinas. Vou para a Prefeitura, mais precisamente à Secretaria de Cultura. Ano passado foi lançado edital de propostas de projetos de arte-cultura. Os aprovados receberiam recurso em março. Agosto, ainda sem sinal, mas garantido sua saída em quinze de setembro. Foi dezenove que narro o primeiro e o segundo parágrafos. Nenhuma informação. Dia vinte alguns tiveram assinados os convênios. Outros foram chamados no dia vinte e um. Dia vinte e dois de setembro, nada de voltar para a população o que ela entregou ao Governo. Ando lentamente, sentido o ar na pele; não o percebo em meus pulmões. Ainda na pele sinto o sol e o colorido das flores acariciando minha visão. Volto para casa e no caminho me encontro com Isaias e dialogamos.

- Não entendo o ego e o egoísmo dos artistas. Ou será tibieza? – Digo e Isaias continua.

- Muito me assusta como as pessoas são dominadas pelo “capetalismo selvagem”, como que o “eu” supera o “todos”. É triste saber que o ser humano só pensa no seu umbigo. Parte dos quarenta projetos aprovados na Lei de Incentivo a Cultura receberam a esmola, exatamente no dia que estava marcado a manifestação para as 14:00h.

- Os interessados não apareceram na manifestação que lhes beneficiaria e os demais, por solidariedade, poderiam ou deveriam comparecer.

- Todos tinham certeza que a prefeitura havia feito o deposito de todos os projetos? Só apareceram três e outras três justificaram sua ausência por motivo de trabalho ou viagem. As demais pessoas não quiseram nem saber; pois foi feito o deposito em suas contas, o resto é que se dane. O interessante é que nem aqueles cujo deposito ainda não foram realizados não apareceram, com exceção de um.

- Alguns disseram pela internete “que linda a manifestação”, mas dá a cara mesmo que é bom... Um artista se manifestando poderá ser prejudicado, mas “Todos juntos somos fortes \ Somos flecha e somos arco \ Todos nós no mesmo barco \ Não há nada pra temer \ - ao meu lado há um amigo \ Que é preciso proteger \ Todos juntos somos fortes \ Não há nada pra temer”¹.

- Onde Está a solidariedade para com o outro? Será que as pessoas estão realmente preocupadas em realizar projetos culturais e disponibilizarem para a sociedade mostrando como esta sendo aplicado os seus impostos ou estão apenas com interesse “Capetalista” de pegar o recurso “disponível” para sua sobrevivência?

Olho para a flor rompendo a calçada e nos afastamos com o sol às nossas costas. Em casa deito, durmo e sonho. Era uma sala de reuniões, comum. Num estremo da mesa, o prefeito, os secretários de cultura, da fazenda, o procurador geral e mais um tanto. Do outro, os artistas, os agentes culturais e os proponentes de projetos. Número pequeno para a sua quantidade. Conversa vai, conversa vem. Ânimos exaltados do lado de cá. Singeleza do lado de lá. (Uarrarrá!) E a reunião escoa. Encerra-se com o prefeito dizendo “Eu sou amigo dos artistas”, com ar de santo coloca uma coroa de estrelas do mais puro ouro e pedrarias. “Que nada” – Diz Alexander Silcaveira – “Eu é que sou o amigo dos artistas” – surgindo uma coroa de espinhos do mais puro ouro sobre um ar de martírio e vai para a porta, arrastando-se vai até a saída e sob o olhar de todos, volta-se quando os demais políticos presente emitem “ssssssssss” com suas estreitas línguas de duas pontas. E os artistas, vítimas ou algozes?


Escrito entre 14 e 27 de setembro de 2011.

Ofereço como presente a todos os nascentes e aniversariantes

de 25 de setembro de 2011.

Ofereço como presente de aniversário aos nascentes e aniversariantes

de outros dias da semana, em especial:

Whillner G. Capecci, Wesley V. Nogueira, Luís Tolonei, Felipe F. Nascimento.

Ofereço ainda a todos os meus seguidores, aqui no aRTISTA e aRTEIRO, em especial:

Felipe F. Nascimento (outra vez, uarrarrá!), Cínara Aline, André Graciano, Caroline Galdino, Ricardo Evangelista, Tatiana Brandão, Maxwel Lopes, Ton Xavier,

Marcelo (!), Juliano, Álax Nazário, Otávio Silva, BarmyGraf, Willian Delarte.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas.
O cronto e a ilustração são nossas flores para você

e fazemos votos de que encontre neles pedras preciosas.

¹ Todos Juntos, de Chico Buarque.

A flor do cacto é uma imagem que recebi posteriormente do Mayron.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

EU SOU EU, MÃE

Obax anafisa.


- Eu sou eu, mãe.

- Não! Respeite o nome de seu pai.

- Eu sou eu, mãe.

- Seja o que dizemos ter que ser.

- Eu sou eu, mãe.

- Então não seja você.

- Eu sou eu, mãe.

- Então eu lhe peço, seja você longe de mim.

Hugo é obediente e aos vinte anos ele foi ser longe de casa.

Ainda sem nome conheceu Carlão que batia muito, pegava todo o dinheiro conseguido e o gastava com roupas e mulheres. Mas teve um lado bom, o Carlão. Foi ele que lhe deu o nome Macabéia. Não que alguma vez na vida Carlão tivesse lido Clarice. Mas uma mulher que ele pegou numa noite lhe falou do livro e como o som o agradou decretou a morte de Hugo e o nascimento de Macabéia dizendo:

- Você é meretriz, Hugo, filho de ninguém que o queira. Por isso eu lhe digo: Você é Macabéia, e sobre o suor dos machos que atender eu comerei o meu pão, comprarei meu linho e sairei com as mulheres que quiser.

Macabéia é obediente e aos vinte anos apaixonada se sujeitou. Até os vinte e dois viveu vinte anos e cansou.

- Você é nada, Carlão, filho sem pai. Mas não por isso eu lhe digo: Você é ninguém e sobre o meu suor não mais terá seu pão nem seu linho. Porque mulher, sou eu.

Fazendo o que sabe viveu mais trinta anos: costurando roupas e figurinos para as amigas: colegas de classe, irmãs da vida. E noite sim, noite não ia sem falta à Boite Boi, de sua amiga Sulidade. Lá conheceu Geraldo. Noite sim, noite não iam, Geraldo e Macabéia, para a casa de Zevaristo. Bom homem que acolhera Geraldo, o amigo desvalido de seu filho, que morreu sem encontrar o pai¹.

A casa dos dois era simples. Com o gosto de Macabéia e a praticidade de Geraldo. Uma sala separada da cozinha por uma cortina de bambu e pedras cristal e turmalina preta, um quarto para os dois e outro de costura. O banheiro sempre limpo e um quintal tão sem tamanho, mas tão querido para ver o sol nascer que era raro perdê-lo. E quanto amor. Quem me dera encontrar alguém assim. Na pouca terra disponível, alecrim, alfavaca, boldo, hortelã, manjericão, salsinha, cebolinha e mais nada cabia além da rosa branca que fica na frente com a arruda, o comigo-ninguém-pode e a guiné. Tomavam o café olhando o sol que os via se olhando. Geraldo se levantava da muretinha, deixava o copo no tanque e se ia com um beijo para uma nova casa construir. Macabéia ficava limpando o lar e para cuidar das plantinhas, costurar, cozinhar, esperar o marido, lavar as vasilhas, costurar, fazer o jantar, ler alguma coisa de Clarice. Não lia mais nada, mas sabia praticamente de cor tudo que ela escreveu. Às vezes pensava “eu sou mais Lóri, mas até gosto da Macabéia”. Com o marido jantava e iam duas noites para a Boite Boi, duas para casa de Zevaristo, duas ficavam em casa se curtindo e uma para a igreja que os acolheu, o Candomblé. Às vezes variavam, para não virar rotina. Mas quase sempre eram assim suas noites.

Aos quase cinquenta e três morreu.

Geraldo foi à casa de Mariana, mãe de Hugo, que não foi ao enterro de Macabéia. Mas não tem problema. Sulidade foi e foram Zevaristo, Tônia Mimi, Thiago Brutt, Lúcia Luz del Fuego, Gênia Coutt, Silaseth Milk, Maxwellen Nunes, Raphaela Paixão, André Bucciarelli, Tia Gô, Léti Duns, Bruna Begê e todas as suas amigas da noite e de costura.

Foi velório e foi enterro, mas não foram feios nem tristes. Foram bonitos e alegres, mesmo com lágrimas saudosas.


Escrita entre 22 de junho e vinte de setembro de 2011.

Ofereço como presente de aniversário ao Antônio Ademir.

E como presente para meus seguidores aqui no aRTISTA e aRTEIRO:

Thiago, Lúcia, Efigênia Coutinho, Silas Leite, Maxwell Antunes,

Raphael Amoroso, Ana Bucciarelli, Tiago Costa e Letícia, Bruno Grossi.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas.
O cronto e a ilustração são nossas flores para você

e fazemos votos de que encontre neles pedras preciosas.

¹ Para entender o parágrafo, ver o cronto A Vida É Frô, na coluna CRONISTA DE 5ª, em www.notaindependente.com.br

terça-feira, 13 de setembro de 2011

ANTROPOFAGIA

Obax anafisa.


São nove horas e a lua está linda. Pedro e Maria Flor sentados no sofá gasto demonstram toda sua tristeza. Rico e Cátia sentados no tapete empoeirado tentam murmurar Bolero, de Ravel. Ambos igualmente tristes. Wagner, só, olha para a porta sem vê-la. Lá fora, a lua e o vento.

- Parem! – Reclama Maria Flor.

- Não é momento para música. – Pedro completa.

Rico e Cátia se calam desanimados para brigar. Wagner nada fala. Nem ouviu.

A porta se abre e Beto entra sorrindo como sempre. Wagner chora com a entrada do amigo. Uma lágrima silenciosa.

- Que isso, rapaziada. Finalmente depois do temporal de ontem e anteontem finalmente o dia, quero dizer, a noite está linda e vocês com essa cara de enterro. Vamos fazer uma fogueira e contar umas estórias de terror. Vamos!

Bate palmas exortando o grupo a se levantar e ir para fora. Entreolham-se e Wagner se põe de pé. Os demais também se erguem e o seguem para fora.

A fogueira gostosa os espera, mas não lhes reflete o íntimo e nem eles a ela. Beto se senta e Wagner de ombros caídos se posta ao lado e os outros quatro se sentam.

- Que isso, gente! Que coisa. Deixa que eu começo. Conheço uma bem legal. Li num livro chamado “Histórias mal-assombradas em volta do fogão de lenha”. Era uma vez em uma cidade onde vez ou outra os seus moradores escutavam sempre às três horas da madrugada os sons de um cortejo fúnebre – fala tremeluzindo a voz –. Todos tinham medo de ver o que era, pois poderia ser uma procissão das almas. Sabem o que é uma procissão das almas? – Ninguém responde. Fingindo não perceber o desinteresse dos amigos e empenhado em levantar a moral de todos, continua –, mas naquele dia, naquela hora, um carro chega e pára espantado pensando “e isso são horas de procissão”, mas fica esperando eles passarem. Nisso uma mulher sai do cortejo, dá-lhe uma vela e volta para seu lugar na fila. O homem, espantando e sem jeito, por não ser religioso segura a vela até todos sumirem de vista e quando vai apagá-la percebe que é um osso. Osso humano. – Fala de modo assustador. – Bem, gente que isso. Vamos! Alguém conte outra estória. Wagner?

Sem graça Wagner começa: O pai de Pedro morreu 19 anos atrás, mas todos agiam como se ele estivesse vivo todo esse tempo. Mas e as outras coisas? O gato que lhe odeia, procura, persegue e ataca numa inteligência humana. Uns olhos vermelhos. Uns miados roucos, de garganta não usada e dentro de uma caixa... Eram assim os miados. E as vespas? Em seus ninhos marrons avermelhados, disformes como se fosse obra cubista, fora de casa logo acima da janela da sala e quase do meu tamanho. Ferrão duas vezes maior que elas. Na derradeira noite a porta do quarto trancada, janela fechada e a lua entrando por ela enquanto escrevia “a quem possa interessar”. Uma vespa, duas, na janela. O gato na gameleira. Cinco, sete, dez vespas na janela. O gato mia no galho da gameleira. Quase metade da janela com vespas. Seus ferrões no vidro. Quíqui. Quíqui. Quíqui. O quarto escurecendo. O gato mia no galho quase encostado à janela com mais da metade coberta de vespas. Quíqui. Quíqui. Quíqui. O rapaz acende a lâmpada. O gato olha para ele entre os centímetros ainda não cobertos do vidro. Quíqui. Quíqui. Miado. Quíqui. Tásqui. A luz se apaga. Miado. Quíqui. Tásqui. Outro rachado no vidro: Tásqui. Batida na porta. “Filho”! Miado. O vidro se quebra. Seu pai arromba a porta...

Ninguém mais conta ou fala nada enquanto a noite passa entre a amargura de todos. Até Beto se silencia. O sol surge e com os primeiros raios de sol Beto desvanece.

- Hoje, enterro o corpo. – Diz Wagner. Não vou mais esperar quem nos tire daqui.

Rico e Pedro concordam com aceno. Cátia se levanta para preparar algo para comerem. Wagner procura algo para abrir a terra. Lágrimas. Maria Flor pensa ser castigo pelo pecado de Wagner e Beto. Pedro toca solidário o ombro do amigo. Os demais apenas olham o corpo vendo suas próprias dores.


Escrita entre 20 de agosto e 13 de setembro de 2011.

O cronto acima é contundente prova de que sou antropófago.

O que peço a Deus é que ele seja não simples merda e

sim adubo da imaginação, informação, prazer.

Ofereço como presente de aniversário aos queridos

Jéferson Santos, Willian Delarte, Sandro Assunção e Cláudio M. Miranda.

E ofereço aos meus seguidores aqui no aRTISTA e aRTEIRO:

Luiz Yuner, Patrícia Cruz, Fátima L.W. Macedo, Hermita,

Thiago Fabiano, Laudemir Silva, Camila Souza,

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas.
O cronto é minha flor para você

e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

MESSIAS, Adriano – Histórias mal-assombradas em volta do fogão de lenha – editora Biruta.

http://artedoartista.blogspot.com/2010/08/meu-pai-o-gato-e-as-vespas.html

domingo, 11 de setembro de 2011

Willian Delarte

Pensativamente.

Cresce o cacto atrás da j’nela

Viv’ativamente.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

ORQUÍDEAS BRANCAS

Obax anafisa.


É meio da manhã e olho uma orquídea branca no Parque Ipanema. Uma doida se aproxima e me diz coisas loucas “Aids não tem cura. Ainda bem que não uso silicone”. Sem nada entender e sem muito esforço meu para compreender vejo na orquídea uma possibilidade de presente, não aquela, mas outra, de floricultura. Espero que meu amigo Eddi goste. Domingo foi aniversário do cara. E hoje, dia que posto o cronto da semana, ele está em Juiz de Fora a trabalho. Então volto para casa, enfrento o dia, durmo, acordo, estudo e saio com meus cachorrinhos. Têm alguns poucos meses que o quarteirão onde moro virou hotel de... pensei em vagabundos, mas receio dizer algo pesado, pejorativo e sem necessidade. Dá licença que vou ver nos meus dicionários o que seja, realmente, vagabundo.

Fui.

Voltei.

E, segundo entendi, vai do inconstante e errante ao vadio e sem importância, do nômade ao reles. Voltando ao cronto. O quarteirão onde resido da rua Uberaba, no Centro de Ipatinga, se transformou recentemente em hotel de mendigos usuários de craque. Virei à esquerda da rua Ituiutaba e entrei na rua João Napoleão Cruz, que tem outra placa dizendo que se chama Carlos Gomes. Lentamente surge de trás de mim uma radiopatrulha e me aborda. Não me incomodou. Primeiro porque não foram ríspidos Depois porque não tinha que ficar constrangido por estranhos me ver já que era madrugada. E digam o que disserem às pessoas, ao ver alguém ser abordado, sempre pensam que “deve ter alguma culpa no cartório”. Terceiro, estou num lugar onde trafica e consome muita droga e há outras formas de violência. É claro que um cara barbudo, de bermuda, camisa de mangas compridas às cinco horas da madrugada numa sociedade de aparências é meio esquisito, né. Ainda a abordagem é um meio de observar se tudo está bem e consequentemente de proteger os cidadãos. É como disse Sílvia Silva no Curso de Educação em Direitos Humanos, promovido pela UFOP, a polícia que nos agride é também a que nos protege. Não sei se você reparou ou se na sua cidade tem, mas aqui em Ipatinga é comum ver nas casas uma placa da Polícia Militar dizendo “Rede de Vizinhos Protegido” e tem o eslogam “Você está sendo vigiado”. Assustador, opressor, não? O indivíduo, a família paga à polícia para cumprir o que já recebe do Estado para fazer, que seria proteger os cidadãos. E eu que não tenho uma placa dessas não estou protegido, ou estou menos protegido? São tantas as questões. Mas voltemos à abordagem. Com aquelas chamativérrimas luzes vermelhas no teto do carro me impedindo de ver a cara deles, perguntaram:

- Oncemora?

- Na rua de trás.

- Questazendo?

- Passeando com meus cachorrinhos.

- Aessora?

- Depois de cinco e meia tem trânsito.

Rindo: Tem transto? – E fala algo que não entendo.

- Não entendi, poderia repetir, por favor.

- Num tem medo dissê assaltado?

- Não. Eles quando vêm os cãezinhos não me incomodam.

Rindo: Você estruge neles.

Surpreendo-me com tal palavra. Não me lembro de já tê-la ouvido antes, mas me parece significar mandar atacar. Horas depois olhei no dicionário e vi que significa fazer barulho. Mas respondi aos três policiais na radiopatrulha: Não! Eles são muito pequenos para realmente assustar, mas como também não me envolvo com eles, não se aproximam.

- Cê trabalha?

- Sim! Sou artista.

Riu da minha profissão. Deboche ou amizade, o riso? Penso numa resposta, mas qual é a sua?

- Levantô aessora papassiá conscachorro?

- Levantei para estudar. Faço faculdade. Já estudei e agora saí.

- Estudaessora?

- Sim.

- Estúdadi madrugada, trabáia didia. Cê num dorme?

- Durmo à noite.

- Faz facudade? É? Ondi?

- Pela UnB. Universidade de Brasília. – Imaginando que eles estranhariam eu fazer em Ipatinga uma faculdade de outro estado e estando acordado a essa hora – Tem um pólo dela aqui. Fica no Bom Retiro.

- Ok! Tenhum bom dia e cuidado, viu. Aquié perigôs.

Saem e continuo o passeio. No correr do dia esqueço que existe polícia. Lembrar para quê? Temos tantas coisas boas. Reflito no quanto Vale do Aço está ruim de político. Há algum lugar onde tem político bom ou do bem? Ipatinga teve um entra e sai de prefeitos. E o que a governa hoje obedece a Alequissander Silcaveira. Timóteo está pior, pelo menos no entra e sai de prefeito. Domingo o prefeito de Cel. Fabriciano foi vaiado e até lhe atiraram restos de comida e latas de cerveja ainda cheias... Que desperdício! Frisco Limões respondeu: “Tão achando quistão em Ipatinga ou Timóteo? Eu erro, mas sou macho prassumi. Vão tomar no ‘wonderful’ seus filhos da truta”. Analisando bem, pensar em polícia e político é o “wonderful da truta”. Então hoje comprarei orquídea e mandarei entregar.


Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas.
O cronto é minha flor para você – orquídeas brancas – e

faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

Ofereço como presente de aniversário aos meus queridos

Didi Peres, Edmar S. Peres, Chrika de Oliveira, Lourenço Godoi,

Marcone M. Melo, Jamilboali Mattar, Willian Delarte, Silvania W. Paula e Vera Almeida.

São tantos aniversariantes e cada um único em meu coração.

Escrita entre 16 de agosto a 06 de setembro de 2011.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

DIA QUINZE VEM AÍ

Obax anafisa.


Cinco horas da manhã saio parar passear com Haicai, Decidido e Vitório e na porta de casa já me esperavam Ouro e Elvira Lata, os cachorrinhos de rua que alimento, mas que não fico pela absoluta falta de espaço em meu apartamento unida aos três cachorrinhos que já tenho e às três pessoas que moram comigo. Penso no que ouvi na reunião¹ que o Prefeito, sr. Robson, marcou com o Conselho Municipal de Cultura e proponentes de projetos aprovados pela CMIC². Creio sem sombra de dúvidas que a frase que define toda a reunião foi dita pelo Procurador Geral Heyder Torre: “Eu não estou sendo político. Estou sendo verdadeiro”. O problema é acreditar se ele e os demais estão sendo verdadeiros ou se estão sendo políticos. Enquanto penso sou interrompido por um rapaz baixinho, levemente gordinho, não difícil de ser visto por não ser feio sem ser bonito. Ele surge da esquina, não vindo em minha direção se aproxima.

- Senhor!

Olho.

- Senhor, poço fazer uma pergunta? Não é dinheiro, não.

Aproxima-se de mim uma vez que não me afastei.

- Não é dinheiro não. – Movimenta as mãos de um modo desordenado, afeminado. E pelo que vi em outras ocasiões, não acho que ele seja guei. Penso, não sei, que o craque atingiu-lhe a coordenação motora. Entre as muitas mulheres afetadas pela pedra, ele é o segundo homem que vejo descoordenado – Pode me arranjar comida? O senhor sabe do meu vício. A assistente social deve nos mandar para outro lugar hoje. Pode me arranjar comida? Por favor, pão não. Comida mesmo. Eu e minha mulher estamos precisando de comida. Precisa nem esquentar não. Pode ser fria mesmo. Se puder arranjar leite para minha mulher. É para desintoxicar. Ela está grávida.

- Espere um instantinho.

Subo pensando se a promessa do prefeito de liberar integralmente o dinheiro no dia quinze de setembro vai se cumprir. O homem convidou o Conselho Municipal de Cultura para uma discussão onde propôs descontar vinte e cinco por cento (depois mudou para quase vinte por cento) de cada projeto para repassar esse valor para o Festival Roda Viva. É claro que o Conselho discordou. Aliás, o Roda Viva também. Ficando claro para nós – Conselho e Roda Vida – que foi, é um meio de nos colocar um contra o outro. Luzia de Resende disse “Aceitar isso é ser conivente com desvio de dinheiro, uma vez que dinheiro tem; só não se sabe onde eles o colocaram”. Refletindo assim pego arroz e esquento com macarrão, as únicas coisas que temos a essa hora da manhã, enquanto ponho leite para os cachorrinhos. Lavo uma vasilha, de sorvete, ponho a comida para os dois, leite num copo descartável e café com leite em outro. Desço com o leite para a mulher e a comida para os dois. Volto e desço com café com leite para o rapaz e leite para os cachorrinhos de rua que alimento. Medito no que está sendo falado a boca pequena: a Secretaria de Cultura vai chamar os proponentes dos projetos aprovados, um por um, dizendo que vai liberar apenas oitenta por cento do valor para repassar a diferença para o Festival. Ficando claro, também, que é um meio de nos desarticular. Elvira está a minha espera perto do casal. Não sorrio para eles, tento, mas não consigo sorrir para a miséria. Eles não são a miséria, mas são o rosto dela que vejo hoje. Tento. Não consigo. A mulher fala com voz fraca de sono e fome “É muito ruim querer e não poder comer”. Respondo “Imagino que sim” pensando “Não consigo saber”. Elvira terminou o leite, pego a vasilha, peço licença aos dois e vou para casa tendo na cabeça, além do casal, a ideia de nos articularmos assim: dia 31 de agosto o Conselho irá se reunir, mais três proponentes, com os “órgãos competentes” da prefeitura, e no dia dois de setembro. Sexta-feira, todos os proponentes entregarão a readequação do seu projeto ao mesmo tempo, às dezessete horas (02/9 às 17h).

Com todas essas coisas na cabeça me arrumo para o dia.


Escrita entre a madrugada de 08 a 30 de agosto de 2011.

Ofereço como presente de aniversário à

Luana Rodrigues, João M. Ferrabbiamo, Matisael Lima e Cleverton Nunes.

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Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas.
O cronto é minha flor para você

e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

¹ Reunião marcada pelo próprio Prefeito para 10h de dez de agosto de dois mil e onze (10-8-2011) e que ficamos esperando para ser atendidos até quase 13:30h.

O resultado é que foi definido que dia quinze de setembro sairá o dinheiro dos Projetos que deveria ter saído em fevereiro.

² CMIC = Comissão Municipal de Incentivo à Cultura.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

MSN


Obax anafisa.





Pensamentos de semanas atrás: Na feijoada beneficente eu trabalhava voluntariamente num mundo de dinheiro e no momento procurava apressado à presidente da ong. “Oi, Anício!”. Olho e levo segundos para reconhecer a voz e seu dono, grisalho agora. “Olá, Hélder” – falo olhando para a cozinha. Precisava urgente dela para uma decisão e, atento ao movimento nas panelas, continuo – “Que bons ventos lhe trazem?”. – Não encontro a mulher na cozinha e sem esperar resposta vou para a portaria procurá-la, não estando, volto. “Tempos que a gente não se vê” – diz o homem. – “Sim. Como ficou sabendo da feijoada?”. “Moro perto do GASP*”. Minha atenção está na cozinha “Legal, que bom que veio. Com licença acho que encontrei a pessoa que procurava”. Saio sem esperar resposta.
Diálogo hoje:
- Oi! Eu sou Willian. Vc?
- Eu me chamava Anício Pereira. E como você vê na fotinha eu era branco, magro, cabelos e olhos castanhos. Não era feio e tinha 1,70m.
- A gt c conhece?
- Não!
- Lgl gent c conhec. Fale d vc?
- Eu estava na cidade de Governador Valadares e eu fui fazer... O que eu fui fazer lá? Que dia era? Eu só me lembro que era noite e queria voltar para casa. E que estava pensando na feijoada beneficente e na urgência que tinha. Na verdade pensava mais no Hélder. No sorriso que ele tinha ao falar comigo e que na hora não reparei. Sorriso irônico? Sardônico? Não sei se sincero, acho que não. Não vindo dele. Sorria como se duvidasse que eu não o tivesse visto ou como se achasse que eu tivesse ido para vê-lo, mas fingia que não. Pensando nisso fui à rodoviária. Era estranha. Era outra. Comprei a passagem. O cara do guichê era gordo de cabelos e barba loiros, que me explicou que só tinha ônibus para São Paulo, mas se eu conversasse com o motorista ele poderia me deixar em algum lugar na estrada. Aceitei, claro. Queria era voltar para casa. Comprei algo para comer e o vendedor era gordo de cabelos e barba loiros. O varredor, os vigilantes eram gordos de barba e cabelos loiros. Todos os trabalhadores eram exatamente do mesmo modo, a mesma cara, o mesmo corpo. Como se fossem gêmeos. Sei lá. Não, espere! Havia um que era gordo, cabelos loiros, mas de barba preta. Finalmente chegou o ônibus, embarquei, não demorou e saiu. O motorista era gordo de cabelos e barbas loiros. O trocador também. Os passageiros... Não consigo me lembrar de como eram. Exceto de uma, que conversarmos na viagem. Loira de uns cinquenta anos. Depois de dois terços da viagem entramos numa floresta. Mas não mais existem florestas no Vale do Aço. Então, então como... Não conseguia entender. Na estrada uma mulher de branco. Vestido longo, como desses filmes de época, um lenço ou um véu na cabeça. O ônibus parou e a mulher entrou. Loira como os outros. Mas eu a conhecia. Estava tão confuso. A gente se cumprimentou e a passageira e ela conversaram. Fiquei só ouvindo. Mas não diziam nada interessante ou esclarecedor então perguntei
- Qual é seu nome? – Falei para a recém chegada, que se voltou para mim. – Você está vindo a pé de Valadares?
- Livre Sereno Diamantino é meu nome. E venho de lá.
- Por que está vindo a pé?
- Não sabia que ainda tinha ônibus.
- Como assim? Não era mais para ter ônibus?
- Ela nada responde e as duas mulheres se olham. Todos os passageiros me olham. Agora eu sei como eram. O ônibus pára. Os passageiros se levantam. Mas o que importa é que eu me chamo Lindo Sol Delirante. Eu sou gordo de cabelos e barba loiros. Meus olhos são azuis e tenho 1,80m. Vejo pela foto que você ainda é negro.
Na casa de Willian batem na porta.
Olho para outro canto da tela e vejo bem os seus olhos. Os seus, que está me lendo agora, logo será na sua que baterão na porta.




Escrita entre a madrugada de 29 de julho e 23 de agosto de 2011.

Ofereço como presente de aniversário à
Grah Ferreira, Carlos G. D. Dias e Marlene C. Rodrigues.

Gente! Mudando de assunto, mas ainda na arte cultura, NÃO PERCA O ENARTCi. É tudo de bão.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas.
O cronto é minha flor para você
e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

* GASP = Grupo de Apoio aos SoroPositivos.