segunda-feira, 27 de outubro de 2014

OS DOIS TEXTÍCULOS

Obax nafisa.


1

Há sangue em minhas mãos
Minha pele branca manchada
Pelo vermelho da pele negra
Há sangue em minhas mãos
Mais bruta que machadada
Fui com a pernilonga desregra


2

- Tem copo na casa da vizinha?
- Tê, tinha.
- E na sua, tem copo lá?
- Tem!
- Pega, por favor.
- Está aqui. Pode por, Raí.


Ofereço como presente de aniversário aos queridos
Guilherme Augusto (Guîîhh), Diane Mazzoni, Eremita G. Fernandes, Danuse Costa, Nena de Castro (Marilene M.V. Castro), Marcello E. Rodrigues, Carol Ribeiro, Sara Souza e Cristina Abreu.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.


O texto 1 foi escrito na manhã de 15 de abril de 2014 e o texto 2 foi escrito na tarde de 03 de abril de 2014. E ambos remexidos entre os dias 24 e 27 de outubro de 2014.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

SAFADA

Serviço de Atendimento Familiar, Diagnóstico e Ambulatório


Obax anafisa

Ofereço à Maura G. Veiga em agradecimento à
sua relevante participação em diversas questões municipais de Ipatinga..


Nas cadeiras atrás de mim no SAFADA:
- Veja aquele cartaz: H♂MEM que se cuida não perde o melhor da vida: câncer de próstata hipertensão tabagismo diabetes alcoolismo cirrose.
- Brincadeira?
- Não! Não tenho dúvida que as doenças citadas se referem à importância de se cuidar, mas a disposição delas no cartaz parece dizer outra coisa. Uarrarrá!
Duas cadeiras à direita:
- Está veno aquele homem ali? Aquele barrigudo lá fora de calça preta e camisa branca?
- ...
- Sim, ele mesmo. Seu nome é Jorge e tem um mês que’stá aqui. Diz que tá acompanhano um paciente. Mas tá nada não. Está é sem lugá pra dormi, tomá banho e comê. Fiquei sabeno que tá vendeno suas coisa e ino embora.
- Uai! E o paciente sabe?
- Sabe, menina! Foi ele que pediu que o acompanhasse. Mas o barrigudo fica um tempinho, sai pro jardim fumá. Volta e assim fica a tarde toda, mais as noite. Só de manhã que sai daqui.
- E vamo deixar? Temo que denunciá.
- Num sei, menina. Acho mió aquietarmo o facho e deixá a coisa rolá.
- Desde que num sobre pra gente...
- Desde que num sobre pra gente. Masieu num sei de nada não. Cê sabe de algo?
- De quê?
E ambas riem. E eu também.


Recomendo a leitura dos livros:
O Livro do Antes, de Thiago Domingues ( www.facebook.com/thiagodomingues ou thiagocdomingues@gmail.com ); e
Cravos da Noite, de Willian Delarte (pela editora Patuá: www.editorapatua.com.br ou 11-2911-8156)

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.


Escrito entre os dias 04 de fevereiro e 20 de outubro de 2014.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

ROSICLER

Obax anafisa.




Nuvens vermelhas entre nuvens cinza
Nos últimos escuros da madrugada.
Inspiradora visão para cidadão sem razão:
A vista de minha varandícula, em geral, não é bonita.
Como não é bonito o Centro da cidade.
Veem-se apenas feios telhados
Poucas copas de árvores.
Mas galos cantam evocando o sol
E os vampiros da noite se horrorizam com o arrebol
E os vampiros da noite se vaporizam com o arrebol.
Alguém me quer?
Pergunta-me Rosicler segurando uma rosa
Nasceu em Açucena
Filha de Geni Buarque de Holanda
E do guerreiro comandante.
Nasceu com a cor ardente do crepúsculo
Mas é a cor suave da aurora.
Invertida curtida divertida.



Ofereço como presente de aniversario a:
Karla Suelen, Leticia Pereira, Shirley Maclane, Edmar Pereira, Marcos Pinto, Igino de Oliveira, Hércules Malta, Mary Cordeiro, Flavia Frazão, José A.M. Soares, Warlisson Rodrigues, Joana S. Jackson, Leila Cunha, Lucimar Inácia, Ricardo Viotti, William Salgado, Paulo Valério, Laudemir Alves e Geidson K. Almeida.

Recomendo a leitura dos textos:
Sopro, de Bispo Filho:
Poeta, eu era, de Mailson Furtado:
Trago x Trazido, de Marcelo Garbine:

Escrito entre 01 de março e 13 de outubro de 2014.

HOLANDA, Chico Buarque de. Geni e o Zeppelin. http://letras.mus.br/chico-buarque/77259/


Foto: Rosa 02, de Rubem Leite.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

LUA INQUIETA

Obax nafisa.


Céu escuro da madrugada
Alma vã e alma pedrada
E ainda assim surge o sol
O mundo em arrebol

Cielo oscuro delante de la mañana
Alma piedra y alma vana
Y todavía el sol es brillo
El mundo en destello


Escrito na manhã de 05 de outubro de 2014.

Título sugerido por Helena Leitão.
Foto: Lua Cheia Entre Nuvens 02, de Rubem Leite

Recomendo a leitura dos textos:
Velocidade, de Thiago Domingues
Canoeiro, de Bispo Filho


Em banto, obax nafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

POEMAS PARA

Obax anafisa.


O silêncio envolve
um recorte de rosto
projetado pelo abajur.
COMITTI


As nuvens cinza esperam o sol para serem tingidas.
As nuvens sobre as flores coloridas
E os pássaros cantores
Para as borboletas dançarem
E as pessoas sorrirem
Ou então escreverem poemas
Para a vida
Ou pessoas que sejam flores.


Las nubes grises a espera del sol para ser teñidas.
Las nubes sobre las flores coloridas
Y los pájaros cantantes
Para las mariposas bailaren
Y las personas sonrieren
O entonces escribieren poemas
Para la vida
O personas que sean flores.


Ofereço aos aniversariantes
Ranna Maia, Rodrigo O. Poeta, José C. Mateus, Agnaldo Bicalho, Michaela Jussara, Margarida Tisquinha, Efigenia Silva, Jésus Guimaraes, Victor S. Montenegro, Mayara Ferreira, Erica Fernandes, Nei Gomes, Vera Miranda, Felipe Ávlis, Nilmar Lage, Gustavo Espeschit, Yasmine Pimenta, Thaís Sthepany, Luciano G. Botelho e Anna L. Rodrigues.

Recomendo a leitura dos textos:
Poema sobre a passagem do tempo, de Thiago Domingues – http://palavrasegavetas.blogspot.com.br/2014/09/poema-sobre-passagem-do-tempo.html
Entreleta: Sonia Bischain, de Willian Delarte – http://williandelarte.blogspot.com.br/2014/09/entreletra-sonia-bischain.html

Escrito entre os dias 14 de março e 29 de setembro de 2014.

COMITTI, Leonardo. Desolação. Na página Movimento da Imagem, facebook. Postado na madrugada de 13-5-2014.


Em banto, obax nafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

BRUTA MINA ENTRE OS CASCALHOS VELA

Obax anafisa.
Viva a árvore! Vivam, árvores!

- My English is not strenaght. But in Portuguese I destroy.
- How can someone think that? But many do so. Pains me! I love Portuguese.


Debaixo de árvores e sentados nas flores de sibipiruna caídas sobre a grama olhamos os carros, as pessoas e os pássaros.
- Para meu curso, engenharia de materiais, acho importante eu conhecer inglês, francês e, talvez o espanhol. Então, Benito, eu pretendo falar os três idiomas.
- Perdoe-me, mas não se esqueça de falar a mais importante delas. Lembrou-se de três, mas se esqueceu da essencial. Primeiro o Português; e no seu caso: inglês em segundo lugar, depois o francês e por fim o espanhol.
- Kkkk. Português, a mais chata por sinal.
- Pelo contrário, é a mais bela. A última flor do Lácio. Não acredita em mim? Imagine um pomar. Com mangas, goiabas, laranjas, cajus, caquis, bananas, mexericas e etc. Hoje você pode comer uma fruta, amanhã outra e ainda pode misturá-las à vontade. Manga, por exemplo, pode comer manguita, manga espada, manga rosa, manga coco e muitas outras.
- Legal!
- Em inglês você tem Why and bicause para se expressar. Em português você tem por quê, por que, porque e porquê. Só as duas do inglês dão conta para perguntar e responder? Dão, mas limita muito as possibilidades. Perguntando, por exemplo, em português eu posso dizer: Por que você se chama Zé das Couves? E posso dizer: Você se chama Zé das Couves. Por quê? Agora, fale em voz audível as duas perguntas.
- Por que você se chama Zé das Couves? – Pausa. – Você se chama Zé das Couves. Por quê?
- Viu que na segunda existe uma ênfase na indagação? É como se na primeira fosse apenas curiosidade, mas na segunda há uma exigência.
- Mas bastam duas, para que quatro?
- Repito, duas formas bastariam, mas limitariam as possibilidades. Porque existem diferenças na intensidade da intenção da pergunta. Sacou? Então a língua portuguesa possibilita mais nuances e sutilezas.
- Nuuh!
- O que permite mais beleza e mais clareza na comunicação.
- E é por isso que é a mais cabulosa.
- Sim, mas é mais bela. O inglês é como um corpo de homem. Tem sua beleza, não podemos negar. Mas é reto, grosso, duro, sem flexibilidade ou fluidez. E o português mais o espanhol são como mulheres com corpo de violão... Há delicadeza sem ter fragilidade. E são fluidos, suaves, curvilíneos, cheios de reentrâncias, possibilidades e nuances.
Sob a sombra, encostamo-nos à árvore de sibipiruna. Continuamos a ver os carros, pessoas e pássaros.
- Por quê?
- O quê?
- Cê sabe! ... Por que não fica?
- Porque quero ser grande.
Sob a sibipiruna continuamos a ver os carros e as pessoas. Mas passamos a escutar os pássaros.


Ofereço como presente de aniversário:
Érikis M. Sena, Jaqueline Carla, Daniela V. Aleixo, Samuel Fernandes, Edvania Oliveira, João Gabriel, Maria jany, Devon Pendleton, Jadallah Safa, Flávia V. Paravidino e Wesley V. Nogueira.

E ofereço ao escritor Marcelo Garbine Mingau Ácido por gostar do que escrevo.

Escrito na manhã de 22 de março de 2014, mas mexida e remexida entre os dias 16 e 22 de setembro do mesmo ano.


O título é o quarto verso da primeira estrofe do soneto Língua Portuguesa, de Olavo Bilac.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

CONTA DE PRANTOS

Obax nafisa.


Oh, é tanto!
Que não dou conta.
Seguro um pranto
Não solto as pontas.

Com a quadra penso na vida que estou levando. Dois irmãos com câncer. Trabalhando muito, recebendo pouco. Sub emprego com sub salário. O sol e a lua no céu e o carro de meu contratante debaixo e entre os dois.
- Bôache nôichete!
Cumprimenta-me com voz pastosa. Olhos vermelhos, corpo bambo, fedor de cachaça com falta de banho. De agora em diante não vou mais fazer onomatopeia, mas, por favor, não se esqueçam de como é fala do caboclo.
- Minha muié tá ali na prefeitura e tâmu quereno ...
Parei com a onomatopeia, mas conservo o português não padrão do sujeito.
- ... comprá dois marmitéquisse. Cada um no supermercado custa R$6.50. A gente tâmu precisano de dois real.
- Ieu quero é cachaça, isso sim. – Diz baixinho um colega dele que não se aproximou.
- Poisantão, podemo contá cum sinhô? É dois real.
- Não!
- Num intendi.
- Não, não vou lhe dar nenhum dinheiro.
- I einquê cê vai ficá mais rico inundá? Eim? Eim?
- A riqueza é minha, não é sua. Não te interessa.
- Num intendi. A riqueza é sua, num é minha, numinteressa?
Entre o espanto e a lamentação do sujeito bocejo vistosamente.
- Ocê vai é morrê a míngua, seu...
O contratante sai do banco, entra no carro, dá meu pagamento, traz-me à minha casa e se vai sem olhar a lua nem o sol.


Ofereço como presente de aniversário a
Willian Garcia, Whêsdras Henrique, Alessandro Castro, Carol Campos, Creuza Melo, Claudio Miranda, Wenderson Godoi, Mateus T. Sousa, Francisco P. Araújo, Wolmer Ezequiel e Thiago Domingues.

Escrito em 23 de agosto de 2014. Mexido e remexido entre 12 e 15 de setembro de 2014.