quarta-feira, 14 de outubro de 2009

BESOUROS


Rubem Leite – 08/8/09 a 11/10/09

“E as sementes de sua fé foram plantadas no sangue, criaram raízes na vingança e floresceram através da morte”*.

No início da tarde meus pés desavisados esmagaram um pequeno besouro cáqui. Mais cedo meus pés se desviaram de um grande besouro preto.

Adiantando vários dias, após o ângelus:

- Olá! Aqui é da Secretaria Municipal de Cultura de Ipatinga. Com quem falo?

- Com Rubem.

- Gostaríamos de convidá-lo a assistir amanhã, às 15 horas, no sétimo andar da Prefeitura a posse dos Conselheiros do Conselho Municipal de Cultura.

- Ah! Sim! Obrigado! Estarei lá.

Passaram se alguns dias e a psicóloga Angélica com uma sombrinha que muda de cor e com flores bordadas vestiu-se de rosas para, travestida de poesia, coroar de rosas Rosemara de Mont’Alverne.

Voltando alguns dias. Conversa de conselheiros.

- Mas você não é um dos conselheiros?

- Sim!

- Como assim foi convidado a assistir?

- ...

- Acho terrível é na véspera nos convocar. Sem um tempo de remanejamentos de nossas agenda.

- Eu estava preocupado que acontecesse o mesmo que na gestão política passada onde nos convidavam e nada acontecia por própria confusão deles.

- A chamada foi assim, às pressas, devido à instabilidade política. Já pensou se o chapéu volte sem a oficialização do conselho? Seriam mais três anos nas trevas culturais.

Voltam-se alguns meses.

- Detesto escrever sobre política.

- Eu também. Confirma Marília Siqueira.

- Entristece-me não conseguir calar. Não suporto tantas coisas erradas.

- Eu escrevo pelo prazer e necessidade de escrever.

- Eu também. Mas sinto necessidade de dar minha contribuição de beija-flor.

- “O cuitelinho não gosta que o botão de rosa caia”.

Voltando ao tempo quase presente.

Até Barac Obama ganha Nobel da Paz. Na minha insignificância de beija-flor não mais terei respeito pelo Nobel assim como há muito já não prezo a ONU. Basta almejar, não precisa alcançar, justifica a comissão julgadora do Nobel. Ou, penso, dizer que almeja...

E assim caminha a humanidade. A passo de besouro sob os pés desavisados. Quem há de escapar?

* Vingança Mortal, cap. 14 – J.D. Robb = Nora Roberts, editora Bertrand Brasil – 2006 – tradução: Renato Motta.

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