domingo, 6 de dezembro de 2020

SÓ TENTO APLICAR AS LEIS... ou

 

NÃO SOU EU QUEM COLOCA AS NORMAS E REGRAS,

SÓ TENTO EXPLICAR E ESCLARECER AS DÚVIDAS.

 

 

“Seguindo as orientações recebidas, alguns minutos depois, Madeleine achava-se em uma sala cheia de gente, onde vários grupos de advogados, revestidos de toga, conversavam animadamente.

É sempre coisa que aperta o coração ver esses grupos de homens vestidos de preto murmurando em voz baixa às portas das salas de audiência. É muito que em todas essas palavras haja um pouquinho de caridade e comiseração. O que transpiram mais comumente são condenações antecipadamente resolvidas. Todos esses grupos se mostram, ao observador que passa, como sombrias colmeias onde certos espíritos, zumbindo, constroem toda espécie de edifícios tenebrosos”.¹

 

“... as tiradas ordeiras da imprensa livre, naturalmente interessada em conservar privilégios, fontes de chantagem, e pouco disposta a esclarecimentos perigosos”.²

 

Dos mujeres cometieron infanticidio en una misma semana.

Caso uno.

La sala de juzgamiento tenía el aire oscuro, pesado, ruidoso. Y allá:

Meyry Pháttyma Háwrea da Silva, veinte años, negra, soltera. Natural de Ipatinga. Nascida en el día 13 de mayo de 2000. Residente en el barrio Game, madre de Khayo da Silva.

Meyry estudió con notas insignificantes en escuelas públicas y abandonó los estudios al terminar la primaria. Su comida siempre fuera arroz, poroto, carne casi nunca y, principalmente, biscochos, nocivos para la salud pero ricos e baratos.

Su madre, Ivoneth da Silva, ya amargada y cansada de la vida, no tenía paciencia para orientar bien a su hija, ni conocimiento para ayudarla en las tareas escolares. Salía de casa para trabajar a seis de la mañana y volvía después de once de la noche. Ni tiempo adecuado para comer o ir al baño tendría.

En 2015 Meyry no volvió a escuela. Necesitaba trabajar. Así como su madre salía a seis de la mañana y volvía después de las once de la noche. En ese tiempo era mucama en una casa, vendedora en un hipermercado y por la noche vendía drogas junto con su cuerpo.

Creció teniendo muchos padres y uno de ellos, a los doce años, fue el primer hombre que conoció. Su tercer padre es también el padre del hijo de Meyry.

Mientras embarazada empezó a oír voces y ver cosas.

Caso dos.

La sala del juzgamiento era silenciosa e con luz blanda; casi agradable; y allá:

María del Rosario Patricia Brasil de Veracruz, treinta años, blanca, rubia. Natural de Ipatinga. Nacida en el día 15 de noviembre de 1990. Residente en barrio Ciudad Noble, madre de Carlos Brasil de Veracruz, de siete años.]

Patricia estudió con notas mediana, casi altas, en la más cara escuela privada de la ciudad. Su madre contrataba todo año cinco maestros particulares. Uno para ayudarla en el piano, otro en las matemáticas, el tercero en español, el siguiente en inglés y el último en las demás asignaturas.

La chica jamás trabajo. Salió de la universidad para el matrimonio.

Patricia crecerá con uno solo padre pero con muchos tíos y uno de ellos fue el primer hombre que conoció cuando tenía catorce años. El segundo fue su marido.

Ricardo Veracruz es un ciudadano de bien. Elector del Bozalnato. Defensor de la familia tradicional. Por eso exigía casarse con una virgen para procrearen y fuesen vistos en las solemnidades. Sus placeres sexuales eran, de acuerdo con su óptica, limpios, pues la mujer si tener orgasmos, es una ofensa a los pudores femeninos. Eso significa que es tan desatento a los placeres femeninos que ni percibió que Patricia no era virgen.

A los veintiocho años Patricia pasó a oír voces e ver cosas. A los treinta…

Caso uno.

La negra Meyry fue a la prisión y solamente conoció el abogado en el día del juzgamiento. Considerada culpada hasta por su defensor. Fue condenada en menos de dos horas.

La prensa notició con morbo el caso; con requintes de detalles sórdidos reales e inventados.

Caso dos.

La rubia Patricia tuvo prisión domiciliar gracias al abogado que no encontrara ninguna resistencia del promotor ni del juez.

La prensa mal notició el caso; y, cuando lo hacía, era siempre sin detalles y de modo suave.

Caso uno.

El pueblo pide la muerte de Meyry. Y difícilmente saldrá viva de la prisión. Las iglesias no saben quién ella es.

Caso dos.

Patricia está en casa, con tobillera electrónica. Saliendo solamente para sus obras de caridad y para la iglesia, que alabanza la generosidad de Patricia. El pueblo no sabe quién es ella.

 

Fala a verdade, o dia está bonito. É porque o sol não está nem aí para o que acontece conosco. O sistema solar, a via láctea, o universo e seja o que for além disso não se importam com o ser humano. Aliás, gente, bicho e planta são a mesma coisa ao olhar do cosmo.

Em Ipatinga houve dois julgamentos numa mesma semana de 2020. 


Duas mulheres cometeram infanticídio. É comoção geral na cidade e no país. Ambas mataram os próprios filhos. As duas alegam ouvirem vozes e verem coisas.

Caso um.

A sala do julgamento tinha o clima escuro, pesado, ruidoso. E lá:

Meyry Pháttyma Háwrea da Silva, vinte anos, negra, solteira. Natural de Ipatinga. Nascida no dia 13 de maio de 2000. Residente no bairro Game, mãe de Khayo da Silva, de dois meses.

Meyry estudou com notas insignificantes em escolas públicas até completar o ensino fundamental. Sua comida era simples: arroz, feijão, de vez em quando carne de segunda, Fandango e etc. Frutas só na escola, mas raramente as comia. Verduras e legumes também na escola; se não tivesse como separar do que lhe interessava.

Sua mãe, Ivoneth da Silva, já amargada e cansada da vida, não tinha paciência para orientar a filha nem conhecimento para ajudá-la nos deveres escolares. Saía de casa bem cedo e de sete as onze trabalhava numa casa no bairro Cariru. Ao meio-dia pegava serviço no Bretas e lá ficava até as dez da noite. Horário para almoço?!? Só não rio porque é triste.

Meyry ia para a escola de manhã. Ao chegar em casa jogava a mochila na cama, trocava a camisa escolar que teria que conservar, mesmo que encardida, até o fim do ano, fazia o almoço, lavava as roupas, arrumava a casa. Não tinha motivo para fazer os deveres.

Mas em 2015 Meyry não entrou pra escola. Tinha que trabalhar e conseguiu seu primeiro emprego como vendedora no Bretas; sua jornada ia de meio dia às seis da tarde (afinal, era “de menor” e por isso “trabalhava pouco”) e depois aumentou sua “renda” vendendo Avon nas horas vagas.

E igual à mãe, trabalhava de manhã numa casa, de tarde no hipermercado e de noite na BR vendendo drogas e a si mesmo.

Cresceu com vários pais e um deles, aos doze anos, foi o primeiro homem que conheceu. Depois conheceu outros dois pais e este último era também o pai de seu filho.

Quando grávida começou a ouvir as vozes e ver coisas. 


Caso dois.

A sala do julgamento era silenciosa e com luz branda; quase agradável. E lá:

Maria do Rosário Patrícia Brasil de Veracruz, trinta anos, branca, loura. Natural de Ipatinga. Nascida no dia 15 de novembro de 1990. Residente no bairro Cidade Nobre, mãe de Carlos Brasil de Veracruz, de sete anos.

Patrícia estudou com notas medianas, quase altas, no São Francisco todo o ensino básico. Sua mãe contratava todo ano cinco professores particulares. Um para ajudá-la no piano, outro na matemática, o terceiro no português, o seguinte no inglês e o último nas demais matérias.

Em 2009 cursou contabilidade – nas federais que tentou nunca conseguira sequer a média necessária para ingressar –; então foi para uma faculdade privada. Formou-se com mediadas notas; mas nunca saberemos se as conseguira por mérito ou se para a faculdade proclamar sua “capacidade de bem ensinar seus universitários”. O importante, porém, é que Patrícia nunca exercera qualquer trabalho, pois seu casamento aconteceu três meses após sua formatura; com um engenheiro que a preferia em casa.

Sua alimentação enquanto solteira era equilibrada e depois de casada ficou mais controlada pelo nutricionista contratado pelo marido: arroz, feijão, legumes, verduras, frutas, carne branca; cem gramas de chocolate uma vez na semana e outros doces podiam ser uma colher duas vezes na semana: “Mulher tem que ser esbelta e cordata.”.

Patrícia crescera com apenas um pai e vários tios e um deles foi o primeiro homem que conheceu, aos quatorze anos de idade. O segundo homem foi o marido; casaram-se em 2013.

Ricardo Veracruz é um cidadão de bem. Eleitor do Boçalnato, do Zemagogo e do Gugudadá. Defensor da família tradicional. E por isso exigia casar-se com uma virgem para procriarem e aparecerem perante a sociedade. Seus prazeres sexuais eram, segundo sua ótica, limpos, pois a mulher ter orgasmo é um desrespeito ao pudor feminino. Isso significa que é tão desatento aos prazeres femininos que nem percebeu que Patrícia não era virgem.

Aos vinte e oito anos Patrícia começou a ouvir vozes e ver coisas. Aos trinta...

Caso um.

A preta Meyry foi presa no CERESP e lá mantida; viu o advogado pela primeira vez no julgamento e este já a considerava culpada. Mal foi ouvida e teve sua prisão garantida em menos de duas horas. O juiz e o promotor fizeram poucos esforços para condená-la assim como o advogado trabalhou pouco para defendê-la.

A imprensa noticiou escancaradamente o caso; com requintes de detalhes sórdidos reais e inventados.

Caso dois.

A loira Patrícia teve prisão domiciliar graças ao advogado contratado pelos pais. Foi ouvida, tão bem ouvida que o julgamento levou dois dias, pois, o juiz e o promotor fizeram muitos esforços para libertá-la assim como o advogado trabalhou muito para defendê-la: 


- Na entrada deste tribunal tem um busto de Vito Gaggiato onde consta a célebre máxima de Maomé: “A verdadeira riqueza do homem está no bem que ele faz ao mundo”. – Diz o Advogado que à semelhança de quase todos os profissionais do Direito não tem doutorado, mas exigem serem chamados de Doutores. – E Maria do Rosário Patrícia Brasil é uma alma caridosa, temente a Deus, atuante na RCC. Está sempre na igreja pregando o Evangelho e espalhando o amor de Cristo em seus atos de caridade. E continuou esta e outras explanações por longas horas; quase sem interferência do promotor que parecia corroborar cada palavra do advogado.

A imprensa mal noticiou o caso; e quando a fazia era sempre sem detalhes e de modo suavizado.

Caso um.

O povo pede a morte de Meyre. E dificilmente sairá viva da prisão.

As Igrejas não sabem que ela é.

Caso dois.

Patrícia está em casa, com tornozeleira. Saindo apenas para suas obras de caridade e para a igreja.

As Igrejas louvam a generosidade de Patrícia. O povo não sabe quem ela é.

 

 

Ofereço como presente aos aniversariantes:

Ronnaldo Andrade, Lizardo de Assis, Carlyle Assis, Cleiser Coura e Welington G. Silva..

 


Recomendo a leitura de:

A antologia VERSOS ÁCIDOS DO VALE DO AÇO:

 São dez os autores e um deles é este macróbio que vos fala.

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 ¹ HUGO, Victor. O viajante, chegando ao seu destino, toma precauções para voltar. O caso Champmathieu. Fantine. Os Miseráveis. [Trad. Frederico Ozanan Pessoa de Barros]. São Paulo: Penguin Classics Companhias das Letras, 2017. Tomo I. P. 373.

² RAMOS, Graciliano. Parte I, cap. IX. Memórias do Cárcere. 51ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2020. P. 55.

 

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.

É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes.

É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”.

Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”.

Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

 

Andrés Garcia é artesão e artista de rua. Concluiu o quinto semestre do curso de Licenciatura Filosofia na Colômbia e é revisor da parte em espanhol do presente cronto.

 

Imagens:

Fotos do Fórum de Ipatinga, pelo autor

Versos Ácidos, pelo autor.

 

Escrito e trabalhado entre os dias 28 de agosto e 06 de dezembro de 2020.

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