segunda-feira, 12 de novembro de 2012

JEJUM DÁ FOME


Obax anafisa.

“Ser-para-como-o-outro, apesar de si, é arrancar o pão de sua boca, matar a fome do outro de meu próprio jejum, ou seja, matar a fome que meu próprio jejum tem do outro”.
(Tereza Rocha – 10º ENARTCi – 03-11-12).



Foi assim, com tantas questões, que saí de casa hoje.
Por que faço arte? Por que escrevo? Porque quero/necessito me expressar. É claro que quero ser visto, caso contrário faria no quarto. Mas é só para isso que artistas escrevem, pintam, cantam, dançam? É obvio que assim fazemos porque não conseguimos nos calar, nos imobilizar. E eu sei que tenho que oferecer – oferecer a mim em meu trabalho –, mas o que o outro fará com isso é da alçada dele.
Por volta das cinco, como todas as manhãs, passeio com Haicai, Decidido e Vitório. Rua Uberaba, rua Ituiutaba, rua João Napoleão Cruz. Parado na calçada do alojamento da Usiminas, tendo do outro lado a escola-creche e em frente a Assembléia de Deus, olho a madrugada afrontada pelos postes. Uma moto surge por trás e pára ao meu lado. Pelo visor do capacete vejo belos olhos escuros num rosto masculino.
- Oi! Você que cuida desses cachorrim?
- Sim! Eles são meus.
- Seus? – Voz descrente ou de zombaria.
- Eu sou Benito. – Estendo-lhe a mão, ele a pega, diz seu nome e pergunta: Cê fuma craque?
- Não!
- Nessora parado aqui...
- É quando costumo passear com meus bichinhos. Moro na rua de trás, a Uberaba.
- Eu trabalho ali, no Corpo de Bombeiros.
- Hum, legal!
- Cê fumoquê?
- Por quê? Você fuma craque? – Na verdade pensei em perguntar se ele vende, mas mudei a pergunta não sei por que. Ou melhor, sei...
Meio que rindo: Gordim assim? Se eu fumasse seria magrim quiném ocê.
O sujeito não é gordo, mas é o dobro de mim.
- O único vício que tenho é livro.
- Unru, sei!
- Você está querendo comprar? É só descer o morro.
- Não! Não uso drogas. Cê num tem vício nenhum mesmo?
- Meu único vício são os livros. Sou tarado por eles.
- Unru! Então inté!
- Inté!
Ele vira a esquerda e some. Os pensamentos que tive durante toda a conversa não lhe contei quase nenhum porque acho que dá para saber ou imaginar quais foram.
Voltando pelas ruas João Napoleão Cruz, Ituiutaba e Uberaba do passeio com meus cachorrinhos os olhos do rosto ocultado pelo capacete se perdem com a moto que se foi, com eles se esvaem a madrugada afrontada pelos postes e concretam-se em meu cérebro ideias.
Pessoas querem estabilidade. Isso existe? A criação, por exemplo, é abrupta e é, não querendo redundar e sim dar certa ênfase, sequência de sucessões. É o processo ou o retrocesso humano que cria? Estresse hídrico... O que cria é o estresse hídrico. É na época de seca que os ipês e outras árvores se explodem em flores.
Foi assim, com tantas questões, que voltei para casa hoje.



Ofereço aos aniversariantes
Santa Cecília Corporação Ipatinga, Juliana S. Vieira, Rita Clemente, Chicão Fidideus Olun Selen, Isac Silva, Felipe Bruno (Palhaço Pimba), Marcel A. Roque.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você que me lê e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

Escrito entre os dias 05 e 12 de novembro de 2012.

ENARTCi 2012. Encontro existente em Ipatinga MG para mostrar e discutir a arte, os artistas e suas ações e reações. Ou, como diz Wenderson Godoi, “O tema-tarefa deste 10º ENARTCi será o ‘cuidado de si’. (...) O ENARTCi assume seu papel de criar pontes, de atravessar territórios e de construir relações. (...) Nesses 10 anos comemoraremos as crises e faremos deles o assunto celebratório, buscando nelas a energia para resistir”. (ENARTCi – Encontro de Dança Contemporânea de Ipatinga. Godoi no texto “Tão precioso quanto difícil”, diria Espinosa.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

MENAS GERAIS¹


Obax anafisa.

“Não se trata, entretanto, de insuflar ainda mais o narcisismo constituinte do sujeito que se sujeita. Não se trata do ‘eu’ no si do cuidado de si. É justamente o ‘eu’ que está sob suspeita, pois ele é a razão de ser do sujeito que se sujeita. Ele se sujeita justamente para dizer ‘eu’.”
(Tereza Rocha – 10º ENARTCi – 03-11-12).



Começo do dia!
- Fala sério! O cara me paga com fone de ouvido Panassônique?
- O fone é meu, Divina Brau. É só pramintregá.
Com meus cachorrinhos e Ouro passo pelos dois. Na volta encontro o casal sentado entre as toras que os Bombeiros do Batalhão perto de onde moro cortaram e por lá deixaram. (E de lá não sei se sai). A mulher me encara. Como quase sempre faço com quem me olha, cumprimento, fui correspondido e sigo em frente.
- Ói! Ela tá grávida... Ah, não! É macho. Taé gordo mermo. – Diz para o homem e, indiferente, Haicai continua voltando para casa com os outros cachorrinhos. Debaixo de meu sorriso o pensamento: só come e dorme, caga e mija, mas a gente tolera porque ele é velhinho e muito carinhoso.
Correr da tarde!
Vejo os ipês, num estresse hídrico, se explodirem em flores.
Vejo os artistas, num estresse cíclico, se explodirem em artes.
Término da noite!
- Benito, arte ocupa um lugar na cultura, que é ampla, que contém comida e muito mais. É possível se entristecer com a situação cultural no estado e no Brasil, mas não vale a pena lamuriar. É preferível tentar soluções.
- Tá, Godô, mas o artista ou o grupo artístico necessita um corpo permanente...
- Corpo permanente... Corpo permanente? – Pondera Dutidute.
- Aquí no Brasil tiene medo que sin dinero no si cría arte. – Habla Mariña.
- Ética é processo de criação. É cuidar de si para, depois, cuidar do outro. – Fala Cloe Enes e Luxciano encerra a conversa: O ser é individualizado, mas ele está ou é singular?
Durmo para acordar buscando resposta para alguma coisa.



Ofereço aos aniversariantes
Nalva A. Rodrigues, Moisés Correia, Flora Manga, Dayane Andrade, Amauri Krus.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você que me lê e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

Escrito entre os dias 27 de outubro e 05 de novembro de 2012.

¹ Dudude Herrmann, no Café com Crise, “modificou” um pouco o nome do estado por ser assim que a classe artística estar sendo tratada pelo Governo.
ENARTCi 2012. Encontro existente em Ipatinga MG para mostrar e discutir a arte, os artistas e suas ações e reações.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A CASA


Obax anafisa.


O camelô e a Praça Primeiro de Maio estão vazios de cidadãos. Eu passo entre os cachorros abandonados e as pessoas que se vendem ou compram seus produtos. Um ônibus pára e corro para ele. Minha mãe está lá; ocupa uma parte do banco. Olhando-nos sento ao seu lado e vamos em silêncio, desatentos ou desinteressados a quem passa pelas ruas. Uma hora na barulhada de trabalhadores. Esqueci o número da casa e ligo para um amigo.
Amigo: Doze
Eu: Doze
Amigo: Três
Eu: Três
Amigo: Oitenta e sete
Criança: Cinquenta e sete. – Uma criança me vendo repetir números se intromete e inventa. Eu, em silêncio irritado, olho para os pais sorridentes dela.
- Trocador, pode me avisar quando chegar o ponto mais próximo do número 12.387?
- Sim!
Paramos. Ponto final. Casa 14.300.
- Ei, você não me avisou.
- Não tenho obrigação.
Caminhamos, eu e minha mãe, pelas casas feias na avenida indecisa se fica sem árvores ou se as tem mirradas e empoeiradas. Suados chegamos num buteco-armazem. Três atendem outros dez, agora doze.
Na minha mão, uma sacola com dinheiro. Tudo que tenho, que guardei. Um sujeito olha para mim
- Veio por causa? – Sua voz baixa e seus olhos mostram que sabe o que quero. Afirmo com um aceno.
- Ele num aceitará e nem te perdoará. – Aponta com o olhar para um magro, careca, suado e camisa aberta no balcão. – Tem certeza que quer mesmo? Então vai. Rua Maguinolita quatrocentos. Três ruas acima. Vai e não volta. Não te queremos aqui.
Saímos.
- Oi! – Somos abordados por um homem de trinta anos, roupas escuras com detalhes em prata, borda preta nos olhos. – Ele mentiu para vocês. – Olha para o interior do boteco e continua: Não gosta de gente como nós. É aqui na avenida, número 12.357. Mas não sei se adianta. A mãe é igualzinha ao porco do boteco e... e agora é tarde. Muito tarde para se aproximar.
Andamos. Minha mãe em total silêncio de amargura e eu em silêncio de arrependimento. À nossa volta, casas feias e árvores mirradas, empoeiradas, iluminadas pelos postes. Olho para a lua cheia, sua luz reconforta. À minha frente, a casa.



Ofereço aos aniversariantes
Diane Mazzoni, Ana P. Rocha, Rafael Cabral, Maria das Graças, Marcello Rodrigues, Nena de Castro, Carol Ribeiro, Cristina Abreu e Francklin Meireles.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

Embasado num sonho escrevi entre os dias 05 e 29 de outubro de 2012.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

SILÊNCIO NO VENTO


Obax anafisa.


Praça constante num lugar que não existe, do camelódromo ao Banco do Brasil. De costas para BR uma banca de revista de frente ao canteiro circular. Nele, duas touceiras de beijo rosa, abundante folhagem arroxeada e esmilinguidas palmeirinha e boldo. Na lateral direita, vastas palmeira e paineira. Na esquerda, jovens pau mulato, ipê, oiti e, quase sombreado por eles, o banco onde se passa boa parte de nossa estória.
- Instalem o aparelho. Não vou fumar aqui.
Olho para o homem que parou na minha frente. Vejo o sol no seu rosto atrapalhar a visão. A incompreensão estampada em minha face lhe faz continuar.
- Sou viciado, mas preciso do orelhão. Todos precisam dele, né? Então, em troca, não usarei para outra coisa que não seja comunicação.
- Mas porque você está me dizendo isso? Não trabalho na Oi.
- Sei lá. Acho que apenas quero conversar e vim com esse pretexto.
Penso “Escolha de palavras típicas de quem tem estudo” e continuo só olhando para o sujeito, que se senta ao meu lado. Apesar das roupas sujas ele não está fedendo, então não me incomodo.
- Ontem te vi aqui. Você e uma mulher conversavam. E depois saíram. Anteontem também te vi. Estava escrevendo algo enquanto olhava para as árvores e um policial te abordou. Escutei o que ele falou. Perguntou o que você estava manjando. Ele disse assim, manjando. Estou te chamando de você, mas não sei se posso. Tudo bem te chamar de você?
- Pode, prefiro assim.
- Qual é seu nome? O meu é Rudá.
- Benito.
- “E eu criança presa em, brinquedos de trapaças \ Quase sem história pra contar \ Você criança tão liberta me tire dessa peça, \ E assim ter história pra contar”¹. Sabe quem canta isso?
Como resposta dou um sorriso, digo “Benito di Paula” e o presenteio conforme ele me presenteou: “Rudá, Ruda!... \ Tu que secas as chuvas, \ Faz com que os ventos do oceano \ Desembestem por minha terra \ Pra que as nuvens vão-se embora \ E a minha marvada brilhe \ Limpinha e firme no céu!...”...
- “Rudá, Rudá! \ Faz com que amassem \ Todas as águas dos rios \ Pra que tu se banhando neles \ Possa brincar com o marvado \ Refletido no espelho das águas!...”². – Tomando minha palavra encerra cantando com leve mudança no texto, mas com um sorriso...
Ficamos conversando bem tempo ainda. E mesmo no restaurante popular, que ele me convidou a pagar, o assunto se manteve durante o almoço. E depois também.
- Acho que Assis escreveu bem, falando da sociedade da época, mesmo sem se comprometer se reconhecendo mulato. Afinal, o que ele podia fazer? Proclamar sua origem e não ter suas obras reconhecidas por isso? É como um fumante de maconha se expor e não ter emprego por isso.
- Curioso paralelo esse o seu, Rudá. Comparar literatura com drogas.
- Não estou comparando, mas sim dizendo que a sociedade ver com maus olhos quem ela proclama diferente ou errado.
- É! Tem sua lógica. Afinal, ela permite o uso de cigarros, cerveja, jogos lotéricos, mas impede aquilo que ela não consegue usurpar imposto de renda.
Almoçados, voltamos à praça, sentamos no banco, continuamos a conversar até o vento balançar nossos cabelos e nos silenciar. Boa parte da tarde passou assim, nós dois sentados lado a lado, em silêncio olhando o canteiro.
Pela noite saímos juntos.



Ofereço aos aniversariantes
Haras Silveira, William Salgado, Laudemir Silva.
E ofereço aos meus 77 seguidores aqui no aRTISTA e aRTEIRO.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

Escrito entre 10 e 22 de outubro de 2012.

¹ PAULA, Benito di – Amigo do Sol, Amigo da Lua – http://www.cifraclub.com.br/benito-di-paula/amigo-do-sol-amigo-da-lua-19754/
² ANDRADE, Mário de – Macunaíma – 30ª edição – Belo Horizonte: Villa Rica Editoras Reunidas Ltda., 1997 – capítulo Boiúna Luna.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

BEIJO AO VENTO


 Obax anafisa.



Praça constante num lugar que não existe, do camelódromo ao Banco do Brasil. De costas para BR uma banca de revista de frente ao canteiro circular. Nele, duas touceiras de beijo rosa, abundante folhagem arroxeada e esmilinguidas palmeirinha e boldo. Na lateral direita, vastas palmeira e paineira. Na esquerda, jovens pau mulato, ipê, oiti e, quase sombreado por eles, o banco onde se passa nossa estória.
- Hoje eu quis lhe dar meu amor, mas meu coração não lhe tem valor. Quis lhe dar meu sorriso, mas minha carteira não tem muitos valores. Quis lhe dar uma flor e meu gesto lhe foi ridículo. Quis dar meu corpo, mas não lhe sou bonito.
- Obrigada pela gentileza. Eu faço programa.
- Eu posso lhe dá estabilidade... meu nome e... e...
- Poderíamos falar da estalibidade e etc. e tal, mas nunvamu perdê tempo não, bobo.
O hotelzinho na rua três pontinhos é bem nojento, mas o beijo no canteiro balança ao vento.



Ofereço aos aniversariantes.
Igino de Oliveira, Flávia Frazão, Victor L. Macedo, Aparecido M. Soares, Warlisson Rodrigues, Lucimar Inácia e Leila Cunha.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

Escrito entre 24 de setembro e 15 de outubro de 2012.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

CANÇÕES À DERIVA


Obax anafisa.


Da biblioteca pública municipal olho a faina inicial de uma segunda-feira. Trabalhadores lavam os pontos de comércio seus ou dos patrões, transeuntes se dividem entre os que sonhadores olham vitrines e os que estão a deriva. À deriva... me lembrou do “concurso” que estamos realizando na faculdade para designar a disciplina IAD (Introdução à Análise do Discurso): IADesgraça, IADiscórdia, IADeriva...
Huuum! Acho melhor voltarmos ao cronto.
Políticos distribuem santinhos. Político e santo, tão antagônicos...
A madrugada foi muito fria e a manhã está ensolarada. Nuvens brancas no céu azul flutuam na indolência que desejo e que Macunaíma¹ descreve tão bem “Ai! que preguiça”.
- Oi! Medê dinheiro pruncafezim.
- Não!
- Eu sou Camila e faço programa. Comocê chama?
- Leo!
- Leo, eu amocê.
- Quem diz isso é a pedra.
- Quero dá procê. Quero dá, quero dá, quero dá procê. Lararilará. – Camila canta.
Uma mulher varre o lixo da rua e o vento espalha o que ela ajunta. Ela varre e ele espalha. Varre e espalha. A mulher pára, pensa e muda de direção. Varre a favor do vento, que lhe ajuda a limpar.
Vejo em um livro a faina diária da vida humana. Vejo na vida humana um livro.



Ofereço com muito carinho aos aniversariantes.
Nilmar Lage, Gustavo Espeschit, Yasmine Pimenta, Andréa Silva, Luciano G. Botelho, Karla Suelen e Shirley Maclane.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

Escrito entre 01 e 08 de outubro de 2012.

Macunaíma, de Mário de Andrade, é uma rapsódia, ou seja, é uma soma de temas tirados do povo.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

TERROR NO MANGUEIRAL


Obax anafisa.

 “A vida não fica mais fácil.
É você que tem que ser forte”¹.


Terra de Ninguém.
Relato de D.
Observo duas clientes em potencial passeando. Eu as conheci quando buscava moradores para Terra de Ninguém. Ambas não sabiam quem eu era, mas sei quem são.
Período eleitoral, são tantas pessoas dispostas a se venderem. Talvez não todas. Sempre escapa alguém. Que pena. Mas o importante é que é difícil dar conta. Rsss. Não era o caso delas, por isso precisavam de um empurrãozinho... Poderiam vir a ser ótimas candidatas para trabalharem conosco.  Apresentei-me como um pesquisador da origem das pequenas cidades mineiras e que ficara sabendo delas através do escritor Benito Bardo Júnior.

Mesquita. Passeando pela praça central.
Relato de D.
- No sobrado azul, azul e branco, o pacto com o D. Ele ofertou o primogênito e por vinte e um anos enriqueceu. – Disse-me uma e outra continuou:
- Até o dia que sua mulher aceitou Jesus e quebrou o D na garrafa.
- Em sete dias ela morreu. De causas dolorosas. Mais sete dias ele morreu. De causas misteriosas. No sétimo dia morreu a Oferta.
- Um tiro no ouvido direito com a mão esquerda... E hoje, por trás dos escombros azul e branco, só a gameleira sobrou.
Rs. O “D” era, sou eu. Rs. E, diga-se de passagem, sou lindo, grandão e musculoso. O sonho de consumo de todas as mulheres e de muitos homens.

Ipatinga, entre o Centro e o bairro Novo Cruzeiro.
Relato de Benito.
Buracos de luz no mangueiral. Não procuro desvendar suas origens. O medo me segura. Medo de quê? Medo, apenas medo. O mangueiral à noite me assusta com suas sombras mal assombradas. No vislumbre da árvore algo se move. Metade da altura é sua largura. Se move na árvore. Medo me dá. Tremulo por dentro e finjo por fora. Encaro a sombra. Se quer me molestar ou se quer se esconder, não sei. Torço para nunca descobrir. Encaro e sigo em frente. A... a coisa ficou para trás. Silencio, escuro, sombra. Meu coração, enfrente! Uma ilha de luz, graças a Deus. Não! Horror! Agora eu vejo com clareza. Corra, Benito! Corra! Não, finja! Passo a passo, um de cada vez. Está acabando, estou chegando. A passarela está ali. Atrás, o silêncio e as sombras. O silêncio, as sombras e
- Que você está escrevendo? Quem é você? Quem te convidou?
Assim encerro minha escrita, interrompido perdi a inspiração. Isso sim é o terror de todo escritor.



Ofereço aos aniversariantes.
Agnaldo Bicalho, Felipe F. Nascimento, Jésus Guimarães, Fábio Sales, Mayara Ferreira, Siloene de Oliveira, Erica Fernandes, André Pôncio e Felipe Ávlis.

Ofereço também às
Maria Aparecida Dionísio de Pinho e Elizeth Duarte de Carvalho. Ambas formaram pela ULBRA (Universidade Luterana do Brasil) em Licenciatura Letras na noite de 26 de setembro de 2012. Enfrentaram reveses sem conta. Como falta de local para as aulas, tendo que, a cada encontro, se reunirem na casa de um ou de outro, ou na biblioteca municipal ou de alguma escola do município. Enfrentaram falta de computadores para o curso a distância, dificuldade de recursos financeiros para as mensalidades, entre muitos outros problemas de fórum pessoal ou acadêmico e outros. Quatorze graduandos pereceram, mas ambas foram, viram e venceram.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

Escrito entre 19 de setembro a 01 de outubro de 2012.

¹ Encontrei pregado em uma lixeira no bairro Horto em um cartazinho manuscrito. Pena que o(a) autor(a) não se identificou.