segunda-feira, 18 de maio de 2015

O BEM-TE-VI

Obax nafisa.


¿Por qué estaba tan triste su corazón? Primero pensó que era debido a que la historia había permanecido desprovista de cualquier adorno en su recuerdo. No, esa no era la razón de su estado de ánimo, pues él conservaba todas las historias desprovistas de adornos en su memoria. Al contarlas desarrollaba sus pensamientos y daba a sus relatos desnudos el vestido, el pensamiento y el ritmo adecuados. No, solo los malos narradores recuerdan de memoria las historias con todo lo que forma parte de ellas.
SCHAMI, 1989, p. 231


Só de camisa
No meu quarto só
Invejo a lua
Que nuvens alveja.

- Gostou da quadra que escrevi?
- É... Sim! Mas fico feliz por saber que você não desiste da prosa.
Olho em seus olhos.
- Sinto dizer, bem, mas é só assim que a gente melhora.
- Obrigado!
- Não há de quê.
Escolhe uma música e põe no cd. Ouço um minuto e digo: Vou sair agora.
- Aonde vai?
- Por aí.
Pela rua penso: “Vou virar chiclete dentro dessa boca loca”. Eu vi a cena. Arrepiei-me de nojo. No lugar de ouvir a... ah... música? Eu preferiria estar no Tejo com Fernando em um bote português coletivo de gente boa. Será que eu escutei realmente o cara dizer “cu de sorte” na... ah... música? Nem vou tentar decifrar o... ah... conteúdo? Meu Deus! Eu quero ser um “alfaiate recolhendo tecidos orais nos mercados”.
Chego ao Feirarte e depois de passar pelas barracas de artesanato vou até a barraca de coquetéis do Marcelo. La auto me distancio e me olho entre preocupado e curioso com o que veria. Sinto o peso do coração enquanto vejo um bem-te-vi pulsando suas asas sem sair do oiti em que está pousado. E...
- Sai fora, sai fora porque eu saí fora.
Olho para a mesa ao lado. O Feirarte ainda não está cheio. E me atento na mulher que se levanta da cadeira, vai a outra barraca, toca no ombro de um homem, alisa rápido o que o diferencia dela, pega sua mão e o leva para dançar.
Das mesas onde saíram, olhares raivosos.
- Marcelo, faz algo para mim.
- O que deseja?
- Deixo ao seu critério.
- Benito! Que bom te ver. Tudo bem?
- Oi, Cult! Bem. E com você?
- Também.
- Sente-se e me faça companhia. Marcelo, faça algo para ele também.
Entre nossa conversa amena Marcelo me traz uma bebida com cachaça, maracujá e morangos. E para Cult, algo com coco, rum e leite condensado.
- Benito, o que me destaca de outros? – Cult me pergunta após sermos interrompidos por alguém. – Há pessoas que nunca reparei e me reconhecem tempos depois...
- Estavam dando algodão doce. A meu pedido você pegou para nós dois.
- Sim, mas estamos bebendo... Pra que doce?
- Num lugar de beber, algodão doce chama atenção mesmo não fazendo nada; sendo apenas o que é.
- Benito, o que você acha da literatura africana; dos países africanos que falam português?
- Ainda tem gente que pensa que a literatura luso-africana é apêndice da literatura portuguesa. A biblioteca pública municipal de Ipatinga, por exemplo, coloca as literaturas lusófonas da África junto com as literaturas portuguesas. Já apontei isso, mas discordaram de minha indignação. A literatura portuguesa é muito boa, mas só tem em comum com as, igualmente boas, literatura brasileira e luso-africanas a língua.
- Na verdade, Benito, as literaturas da África portuguesa são um desdobramento de um literatura europeia menor. Eles vão construindo a sua cultura a duras penas, meu caro amigo. Porque a literatura de Portugal é, se comparada as praticada nos grandes centros europeus, periférica. Assim, os países de colonização lusitana tem uma literatura fruto de um literatura menor europeia. O que equivale a dizer também que a literatura brasileira é menor. Até porque só copia os franceses. Nada cria.
- A situação política brasileira até meados do século XX era desfavorável e mal vista. Por isso Machado de Assis não conseguiu reconhecimento enquanto escritor universal. Mas com a crescente evolução política, social e econômica brasileira ele passou a ser mais lido pelas grandes potências. Por isso está adquirindo reconhecimento internacional. Além dele temos João Guimarães Rosa e outros escritores valorizados mundialmente. E a escrita de Machado tem mais ligação com espanhola e inglesa. Ao contrário de seus contemporâneos brasileiros, que era francesa. Pode-se dizer que Machado de Assis foi mais influenciado por Cervantes e Shakespeare do que por Camões.
- Olha amigo, não falo isso como se houvesse ou há barreiras e estanques em termos culturais. Na verdade a cultura portuguesa, no geral, é fortemente influenciada pela Espanha, França e Inglaterra. Então o Machado não fugiu à regra. Agora, nos dias de hoje, buscamos criar um cultura nossa, menos lusa e menos europeia. Fizemos isso com a Semana de Arte Moderna de 1922. Não adianta se separar política, cultural e economicamente se ainda estamos ligados a velha Europa. Pior, a Portugal...
- Sobre a questão de copiar não se esqueça do Manifesto Antropofágico... Os seres humanos, todos, são antropófagos. E muitos são antropófagos culturais que regurgitam arte. Quem você acha que tudo cria, sendo que “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”? Oswald de Andrade e Antoine Lavoisier falaram muito bem. Shakespeare tirou de sua cabeça as maravilhosas histórias que criou? Não! Só de Romeu e Julieta existem pelo menos cinco versões de outros autores. Algumas até mais antigas que a de Shakespeare. O grande mérito do escritor inglês foi a forma como contou Romeu e Julieta e demais primores. Os Irmãos Grimm criaram de suas cabeças as maravilhosas histórias? Também não. Eles apenas registraram o que antes eram orais. Os grandes méritos deles foram o registro e a forma como escreveram os contos. Os clássicos latinos que chegaram até nós foram inspirados nos clássicos gregos. E apesar de não ter cem por cento de certeza em relação aos gregos, tenho setenta por cento da mais absoluta certeza que os gregos também copiaram o que antes já existia. O grande mérito foi serem primorosos na escrita, na forma que contaram suas histórias.
- Mas o Machado de Assis foi fruto de sua época assim como somos frutos da nossa. Em que ele inovou? Em nada! E Portugal foi e é a periferia da Europa em todos os termos.
- Antes de mais nada afirmo que amo toda literatura lusófona. Fernando Pessoa e, polêmicas à parte, Monteiro Lobato são excelentes. Lobato, por exemplo, mudou a literatura infantil no Brasil; quiçá no mundo. Apesar de ter conservado a forma da época de ver e de viver no mundo, ele inovou na forma de escrever para crianças. Fazendo-a deixar de ser pedagógica para ser arte, literatura de verdade. E Machado de Assis, assim como Shakespeare, Grimm e etc., foi um antropófago literário. Dom Casmurro, por exemplo, tem influência da tragédia shakespeariana “Otelo, o Mouro de Veneza” e enriquecida com a, digamos, pesquisa que fez sobre a psicologia. Não sei se sabe, mas ele era estudioso dos grandes pensadores, principalmente dos de sua época. E tudo o que Machado escreveu literariamente, tempos depois Jung escreveu comprovando cientificamente.
- É... talvez! Mas como você disse, Dom Casmurro foi cópia...
- Eu não disse “cópia” e sim “inspiração”. São duas coisas diferentes. Dom Casmurro não é cópia de Otelo. Não mesmo. Além de ter sido psicologicamente bem mais aprofundada, o desenrolar e o final foram distintos. Em Otelo, Desdêmona foi inocentada no final enquanto nunca saberemos se Capitu era adúltera ou não. Olha que fascinante isso, rapaz! O drama em Otelo teve um fim, mas em Dom Casmurro continuará para sempre. Arrepio-me com isso. Arrepio-me ao pensar que nossa vida nunca será conhecida integralmente pelos outros. Arrepio-me de susto e gozo.
- Estavam bons os coquetéis? – Pergunta Marcelo. – Querem outro?
- Sim! O meu, pelo menos, estava muito bom. Faça outro, por favor. De outro sabor.
- Também gostei. Mais um e diferente também.
- Bem! Que você está fazendo aqui? Por que me deixou em casa e não me chamou?
- Huuum!
Cult e eu nos entreolhamos e o bem-te-vi ri na dama da noite.


Ofereço como presente aos aniversariantes
Robinson A. Pimenta, Rosangela F. Sulidade, Carlos Alberto, Josmar D. Ferreira, Marcelo Ferreira, Guebel Stevanovich, Léo Coessens, Beto de Faria, Tiago Costa, Deivid Paula, Renato Gonçalves, Geraldo Valentim, Sinésio Bina, Adê Araújo, Alysson Jhony, Filipe Boanerges, Eloy Santos e Vinícius Cabral.

Recomendo a leitura de Dores, de Pedro Du Bois; e Pomar, de Karine Faria. Respectivamente nos endereços:

BRENMAN, Ilan. Através da Vidraça da Escola: formando novos leitores. – 2 ed. – Belo Horizonte: Aletria, 2012, p. 39.
SCHAMI, Rafik. Narradores de la Noche. Madrid: Siruela, 1999.

Em banto, obax nafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.


Escrito entre 15 de junho de 2014 e 18 de maio de 2015.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

A HISTÓRIA FICA PARA OUTRA VEZ

LA HISTORIA ES PARA OTRO MOMENTO


Obax nafisa.
Parabéns a todas as mamães, neste e noutro mundo.

- ¿Por qué te pasas la noche contando historias por tan poco de dinero?
- Por lo premio que dan los oyentes: el placer de convertir a leones adultos en niños fascinados. Ningún oro del mundo iguala la dicha de vivir eso milagro en los ojos de los oyentes.
(SCHAMI, 2012, p. 131)


Em português

galo
cantor
sol
despertou
céu
colorido

O início da manhã foi assim. Depois as árvores e o vento conversavam, as flores e as borboletas se beijavam, os pássaros e as frutas se namoravam. No entanto, do meio ao fim, a tarde foi muito chata. O sol quente não deixou ninguém quente. Se é que me entende...
Mas, em tempos passados... Tempos não muito distantes a branca Luana, uma botânica pesquisando as flores do Tocantins, se incomodava pela cultura regional está infectada pela cultura estadunidense. Depois de um curto descanso ela foi ao Rio Tocantins, em um lugar margeado por samambaias variadas e escreveu uma aldravia
rabisco
crian’sol
desperto
 brinca
colorindo
céu

Um barulho. E sentado na pedra no meio das águas estava um belíssimo índio de linda voz, de penas brancas em suas canelas, em seu quadril (escondendo o que ela queria ver), em seus pulsos e, de modo nunca visto pela botânica, em sua cabeça, tampando-a toda.
Ele sorri e Luana também.
- Meu nome é Yujaci.
- Espinho da lua?
Ele sorri, nada até a branca, sai da água impressionando-a.
- Seu… – olha a cintura y ruborizada levanta os olhos – Ah... o cocar esconde sua cabeça quase toda...
Sorrindo, estende-lhe a mão, os dois voltam à pedra e dormem. Mas, no presente ano... O sol quente não deixou ninguém quente.
lagarta
no
coração
elas
querem
asas

- ... aprendi com Dona Flor, uma raizeira e parteira, que água é a mãe da cura e...
- Professor, Yuty, que é aquilo?
- É o boto rosado!
- O que é boto?
- É a palavra brasileira para golfinho de água doce. São raros, acredite. Vê-lo é um presente que recebemos de Urupianga, o deus dos animais. E conhecer um... é uma dádiva para as mocinhas.
- Fale mais sobre o Urupianga, professor. – Pede Rosinha.
- Urupianga é um deus muito bonito, moreno, alto, de ombros largos. E os animais gostam muito de escutar sua voz, acariciar suas costas e trançar seus cabelos.
- E há um deus para as plantas, para as flores? – Pergunta Pedrinho.
- Sim, há. Ele se chama Calamantam, o deus das árvores. Ele é muito tranquilo. E sabem o grande presente que ele dá às plantas? Paciência! Paciência para viverem tranquilas e esperarem o futuro impassivelmente.
- E deus das pedras... Deus das nuvens... Deus disso... Deus daquilo… Deus de… – Perguntam Carlinho, Paulinho, Joãozinho e outros meninos. São crianças de Angola e Moçambique em excursão na Floresta Amazônica.
- Professor Yuty! Fale mais um pouco sobre o boooto, por favor. – Pede Mariazinha.
- É! Fale mais sobre o folclore brasileiro...
- Folclore não, Robinho. Mitologia! Folclore é um modo de menosprezar ou não valorizar a cultura latino-americana. Mas não hoje.
- Ah, professor! Queremos agora...
- Amanhã! Amanhã falaremos mais sobre a mitologia brasileira. Hoje vamos continuar olhando o boto antes que suma. – Passados alguns minutos o boto para de se exibir e brinca de esconde-esconde nas águas. – Ah! Vejam que linda samambaia. E olhem aquela orquídea.  – Enquanto as crianças se encantam, Yuty fecha os olhos, tira o boné, coça o furinho em sua cabeça e, em seu coração, ele vê Luana, sua mãe. Ao mesmo tempo uma chuva de flor de pequi cai sobre eles.


En español

gallo
cantante
sol
despierto
cielo
colorido

La mañana temprana fue así. Después los árboles y el viento se charlaban, las flores y las mariposas se besaban, los pájaros y las frutas se enamoraban. No obstante, la tarde, de su medio hasta al fin, se ocurrió aburrida. El sol caloroso no dejó nadie caliente. Se es que me entiende…
Pero, en años poco remotos… la blanca Luana, una botánica pesquisando las flores del Tocantins, se enfadaba por las culturas regionales brasileñas si infectaren con la cultura de Estados Unidos. En un rato de descanso fue al Río Tocantins, en un sitio marginado por helechos variados y escribió una aldravía
garabato
niño-sol
despierto
juguetea
coloriendo
cielo
Un sonido. Y sentado en una piedra en el medio de las aguas estaba un hermoso indio de linda voz, de plumas blancas en sus canillas, en su cadera (escondiendo lo que ella quería ver), en sus puños y, de modo nunca mirado por la botánica, en su cabeza, tapándola toda.
Él sonreír y Luana también.
- Mí nombre es Iuyací.
- ¿Espino de la luna?
Él sonreí, nada hasta la blanca, sale del agua impresionándola,
- Su… – mira el cuadril y ruborizada levanta los ojos –  ah… el cocar oculta casi toda su cabeza…
- Sonriendo, extiéndela la mano, los dos retornan a la piedra y duermen.
Pero, en el año presente… El sol caloroso no dejó nadie caliente.
oruga
en el
corazón
ellas
quieren
alas

- … aprendí con Dueña Flor, una curandera y partera, que agua es la madre de la cura y…
- Maestro Yuty, ¿qué es aquello?
- ¡El boto rosado!
- ¿Qué es boto?
- Es la palabra brasileña para delfín de agua dulce. Son raros. ¡Crea! Verlo es un regalo de Urupianga, el dios de los animales, para nosotros. Y conocer uno… es una dádiva para las muchachas.
- Hable más sobre Urupianga, maestro. – Pide Rosita.
- Urupianga es un dios guapo, moreno, alto, de hombros anchos. Y a los animales les encanta escuchar su voz, alisar sus espaldas y trenzar sus pelos.
- ¿Y hay un dios para las plantas, las flores? – Pregunta Paco.
- ¡Sí, hay! Él se llama Calamantán, el dios de los árboles. Es mucho sereno. ¿Y saben lo gran regalo que él dona a las plantas? ¡Paciencia! Paciencia para vivieren tranquilas y esperaren el futuro impasiblemente.
- Y dios de las piedras… Dios de las nubes… Dios de eso… Dios de aquello… Dios de… – Preguntan Carlito, Pablito, Juanito y otros niñitos. Son chicos de Uruguay y Perú en excursión en la Floresta Amazónica.
- ¡Maestro Yuty! Charle más sobre el boooto, por favor. – Pide Marietita.
- ¡Sí! Hable más sobre el folclore brasileño…
- Folclore no, Robito. ¡Mitología! Folclore es una manera de menospreciar o no valorar la cultura latinoamericana. Pero no hoy.
- ¡Ah, maestro! Queremos ahora…
- ¡Mañana! Mañana charlaremos más sobre la mitología brasileña. Hoy continuaremos mirando el boto antes que se va. – Pasado algunos minutos el boto no más se expone y juega al escondite en las aguas. – ¡Ah! Vean que lindo helecho. Y miren aquella orquídea. – Mientras los niños se encantan, Yuty cierra los ojos, saca el pequeño sombrero, rasca el agujerito en su cabeza y, en su corazón, él ve Luana, su madre. Al mismo tiempo una lluvia de flor de pequí cae sobre ellos.


Ofereço aos aniversariantes
Nancy N. Maestri, Camila Rodrigues, Janete Reis, Valdir do Carmo, Railson Silva, Marilene Vitor, Rossana Alves, Elisangela Guilherme, Joneisson Araújo, Marceli Pereira e Mariana Mamede.

Recomendo a leitura de Aborto, de Karine Faria:

Em banto, obax nafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

SCHAMI, Rafic. Narradores de la Noche. 6ª ed. Madrid: Siruela, 2012.

Sobre Dona Flor:

Escrito originariamente en español y entre los días 07 de junio de 2014 y 27 de abril de 2015.

He contado con la ayuda de Luis Gonzáles. Pero como él no conoció el texto en la íntegra, se ocurrir algún error la culpa es solamente mía. Entonces, pido que perdónenmelos.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

CHEIRO DE HISTÓRIA

OLOR DE HISTORIA


Obax nafisa.


New widowed is as unripe firewood.
She cries, but she catches fire.

Em português

Você e eu estamos à sombra na barraca do Marcelo. Ao redor tem muitas árvores; umas com flores e outras só com folhas. Mas aaah! Da vegetação vem um cheiro bom de histórias... Ou talvez o perfume venha de uma laranjeira existente em minha imaginação. Todavia, na mesa seguinte, bem à nossa frente, há um homem de trinta anos. Ou mais ou menos. Camisa branca, de mangas cortadas e escrito “Fuck you White Metal”. Seus longos cabelos têm três cores naturais. Preto, marrom e louro. Não me parecem limpos, mas também não estão sem lavar a mais de três ou quatro dias, acho. No fim das contas seu semblante parece um misto de Simpsons e busto medieval da proa de navios.
Roberto quer esquecer o chefe chato que lhe disse ser dispensável. E ele não é e nem se sente inútil. E sabe fazer as coisas. Então dá o seu melhor e canta a vendedora de água de coco que bebe caipirinha. Mulher de pele marrom e falsos cabelos lisos marrons com preto e minha vizinha que perdeu o marido para a penitenciária do Ipaba (MG).
O papo dele a cativa. Arrazoam sobre músicas sertanejas (que ele “gosta”... Rerrê) e aversão ao futebol. Conversam, conversam e falam do capitalismo mais a pobreza de alguns. E falam, falam e conversam até o fim do Feirarte.
E vão para a casa dela. Sem ele saber que fora seduzido e abduzido. Mas só Deus sabe para onde e por quê.


En español

Tú y yo estamos a sombra del quiosco del Marcelo. Alrededor tiene muchos árboles. Unos con flores y otros solamente con hojas. ¡Pero aaah! De la vegetación viene un excitante olor de historias... O tal vez el olor venga de un naranjo existente en mí imaginación. Sin embargo, en la mesa prójima, a nuestra frente, hay un hombre de treinta años. O más o menos. Camisa blanca con mangas cortadas y escritas “Fuck you White Metal”. Su largo pelo tiene tres colores naturales. Negro, marrón y rubio. A mí no parece limpio, pero también no está sin lavar a más de tres o cuatro días, lo creo. En fin de cuentas, su semblante parece un misto de Simpsons y busto medieval de proa de navíos.
Roberto quiere olvidar del aburrido jefe que lo dice ser uno dispensable. Y él no lo es y ni se siente inútil y sabe hacer las cosas. Entonces él da lo mejor de sí y echa un piropo a la vendedora de agua de coco que bebe caipirinha¹. Mujer de piel marrón y falsos pelos lisos marrones con negro y mi vecina que perdió el marido para la penitenciaria de Ipaba (MG²).
La charla de él la cativa. Discuten sobre músicas sertanejas³ (que a él “le gustan”… Jejé) y aversión al fútbol. Platican, platican y hablan del capitalismo más la pobreza de algunos. Y charlan, charlan y platican hasta el fin del Feirarte.
Y se van para a casa de ella. Sin él saber que fuera seducido y abducido. Pero, solamente Dios saber para donde y por qué.


Ofereço como presente de aniversário a:
Mariana Porto, Carol Galdino, Juliano Fernandes, Geane S. Oliva, Tatiane Pereira, Vera L. Buzo, Ju Ferraz, Diogo Henrique, Anul Naull, Newton L. Gomes, Flavio Cezar, Rejane Balmant e Carlos Aldair.

Recomendo a leitura de O rubor que me causas, de Karine Faria; e O Curupira, de Bispo Filho.

¹ Caipirinha (la pronunciación es caipiriña) es una bebida brasileña hecha con aguardiente, limón y azúcar refinado.
² MG es una provincia brasileña. Su nombre es Minas Gerais y es la más rica en cultura e historia.
³ La música sertaneja es un estilo musical brasileño heredado de la “música caipira” y de las modas de violas. Se caracterizan por sus melodías sencillas y melancólicas. Puede ser relacionada con “la música country” por ser conocida como “música do interior”.

Em banto, obax nafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.


Escrito entre 06 de janeiro de 2014 e 04 de maio de 2015. E por gentileza, perdoa-me qualquer erro de espanhol.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

AS ÁRVORES NOS OLHAM CURIOSAS

LOS ÁRBOLES NOS MIRAN CURIOSOS


Obax nafisa.
Parabéns, Ipatinga, pelos seus 51 anos.

- ¿Por qué te pasas la noche contando historias por tan poco de dinero?
- Por lo premio que dan los oyentes: el placer de convertir a leones adultos en niños fascinados. Ningún oro del mundo iguala la dicha de vivir eso milagro en los ojos de los oyentes.
(SCHAMI, 2012, p. 131)


Em português

- E ela me perguntou.
- Perguntou...?
- Perguntou!
- O quê?
- O que o quê?
- O que perguntou?
- Quem?
- Ela!
- Que tem ela?
- O que ela perguntou?
Em um minuto silencioso olho as árvores no Feirarte. Está meio cheio e penso... Penso e digo:
- O coração e a língua são da mesma carne¹.
Interrompo nossa conversa quando um homem põe amendoim em nossa mesa. É para comprarmos depois. Diante da gente, a uns dez metros, Leo e Banda cantam músicas de diversos estilos.
- Mas... O que ela disse? Depois destas palavras tão bonitas ela tem que ter falado algo.
- Não...
- Por quê?
- Bem... Na verdade ela me disse algo que até hoje guardei só pra mim.
- Por quê?
- Porque coração e língua são da mesma carne...
Outro minuto silencioso. Mas a música continua e as árvores nos olham curiosas.
- Mas sinto que hoje não posso ficar calado.
Escuto a música, mas não a ouço. Viajo até meu coração para dar força a minha língua.
- Enquanto eu puder ver, quero meus olhos em você².
Eu sorri com lágrimas nos olhos. Mas não as deixei sair. Somente meus lábios deixei que ela visse.
Meu amor e eu estávamos, igual eu e você hoje, na barraca do Marcelo no Feirarte. Bebíamos o que ele preparava para a gente. Foi um delicioso coquetel de coco com pimenta suave e outro de tangerina com a mesma pimenta.
- Amor! Fale mais. Suas palavras são como as gotas de água e eu sou como terra sedenta³. – Disse sorrindo. – Então contei uma história e até cantei... Que Leo me perdoe. Rirri. Beijei seus lábios. Ela sorriu e fechou seus olhos. E chorei!


En español

- E ella me preguntó.
- ¿Preguntó…?
- ¡Preguntó!
- ¿Lo qué?
- ¿Lo qué o qué?
- ¿Qué preguntó?
- ¿Quién?
- ¡Ella!
- ¿Que tiene ella?
- ¿Qué ella preguntó?
En un rato silencioso miro los árboles en el Feirarte. Está medio lleno y pienso… Pienso y hablo:
- El corazón y la lengua son de la misma carne¹.
Interrumpo nuestra charla cuando un hombre pone maní en nuestra mesa. Es para comprarle después. Delante nosotros, a unos diez metros, Leo y Banda cantan músicas de diversos estilos.
- Pero… ¿Qué dices ella? Después de estas palabras tan bellas ella debe tenerte hablado algo.
- No…
- ¿Por qué?
- Bien… En verdad ella me dice algo que hasta hoy he guardado solo para mí.
- ¿Por qué?
- Porque corazón y lengua son de la misma carne…
Otro rato silencioso. Pero la música continúa y los árboles nos miran curiosos.
- Pero siento que hoy no puedo callarme.
Escucho la música, pero no la oigo. Viajo hasta mí corazón para dar fuerza a mí lengua.
- Mientras yo pueda ver, quiero mis ojos con tú².
Yo sonreía con lágrimas en los ojos. Pero no las dejaba salir. Solamente mis labios la permitía mirar.
Mi amor y yo estábamos, hecho yo y tú hoy, en el quiosco de Marcelo en el Feirarte. Bebíamos lo que él nos preparaba. Fue un exquisito cóctel de coco con pimienta suave y otro de tangerina con la misma pimienta.
- ¡Cariño! Hable más. Tus palabras son como las gotas de agua y yo soy la tierra sedienta³. – Charló sonriéndome. – Entonces conté una historia y hasta canté… Que Leo perdóname. ¡Jejé! Besé sus labios. Ella me sonrió y cerró sus ojos. ¡Y lloré!


Ofereço aos aniversariantes
Jorge Horta, Ana L. Guimaraes, Andre Andrade, Térsio Greguol, Jamille H. Salles, Marconio Souza, Deusdeth J. Amorim, Cristianne de Sá, Fernando Viana, Grace Saavedra (in memorian), Patrícia P. Cruz e Luís Yuner.

Recomendo a leitura
Elefante de Menta – tem gente que lê...; e Alquimia Lilás, de Ely Monteiro.
Nos endereços

Em banto, obax nafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

Escrito originariamente en español entre las mañanas de los días 26 y 27 de abril de 2015. Cualquier error de español, ¡perdóname!


SHAMI, Rafic. Narradores de la Noche. 6ª ed. Madrid: Siruela, 2012. Páginas: ¹ 159, ² 135, ³ 139.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

CASO SÉRIO

Obax nafisa.


- Ai, Jisuis! Vou dá a lúiz!
- Ai, minha Nossa Senhora! Ai, meu São José!
- Châmu táquis.
- Vô chamá. Pega os trem, quiá criança invém. Onde tá, meu Deus!
- Tá li. Châmu táquis.
- Já chamei.
- Ai, Jisuis, qui chegô a min’hora. Cadê us troço?
- Taqui.
- Châmu táquis.
- Já chegô. Vâmu, entra todo mundo.
- Num cábi.
- Então, vai eu, vai ocê, ocê e ocê.
- Mas e a grávida?
- Ah é! Ocê fica e vai ela.
No hospital. Duas horas de internação.
- Alarme falso, gente. Alarme falso.
- Chama o táxi.
- Estou indo.
No táxi, quase em casa.
- Ai, Jisuis! Que vô dá a lúiz.
- Ai, minha Nossa Senhora! Ai, meu São José! Volte, motorista, volte.
Na porta do hospital
- Alarme falso, gente. Alarme falso.
- Volte, motorista. Darré que aindapé.
- No meio da caminho
- Ai, Jisuis! Que vô dá a lúiz.
- Volta, motô, volta!
O carro fez o contorno
- Alarme falso, gente. Alarme falso.
...


Ofereço aos aniversariantes
Silvia Gonçalves, Othon Valgas, Luzia di Resende, Valdete Val, Michael Cobain, Antonio Carlos, Isabella Ribeiro, Bispo Filho, Marcone Sousa, Kênia Nicácio, Yuri G. Rodrigues, Meirilene Oliveira, André Graciano, Daniel Bastos, Luzineth F. Alves.

Recomendo a leitura de Dissonância Medieval, de Maurílio Montanher:

Em banto, obax nafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.


Escrito entre 06 de junho de 2014 e 20 de abril de 2015.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

NARRADORES DA NOITE

Sometimes I wanted to be stone, but I’m poet.

Obax nafisa.


- Oi, pessoas! – Cumprimenta Benito aos amigos que já se encontravam no “Sarau de Arak”, no restaurante Tuffik Cozinha Árabe, sempre nas segundas segundas-feiras: Nena de Castro, Goretti Freitas, Vera Tufik e tantos outros. – Vejam as quadras do Rubem que acabei de ler:

Em lágrimas de delícia
Li Olhos Vegetais.
Se Nininha se foi, o Landi se tornou canoa.
Palavras amaciando atos brutais.

Amor muda o natural
Gato que só pensa na lua
Segue sua dona por toda rua
Sorrindo vão a dona e seu animal

Tarde quente e triste
Sumiu meu coraçãozinho
Não há algo que não se finde
Voltou meu cãozinho

- Rosinha, Minha Canoa, de José Mauro de Vasconcelos é tudo de bom. – Diz Goretti e Vera completa: Vale a pena ler ou reler.
- Não tenho dom para poesia, só leio literal e essas quadras não me dizem nada... Aliás, o que uma tem a ver com as outras?
- Se não lhe disse nada é porque lhe disse muito. E são quadras diferentes, sem ligação entre si. Apenas as achei interessantes.
- Bom, realmente pensei em montes de coisas, lugares e transformações, tentando associar tudo isso, mas não cheguei a conclusão nenhuma. Se por esse lado é legal... foi legal...
- Uai! E por que tem que chegar a alguma conclusão? Apenas saboreie. Sinta. Cérebro é bom. Coração também.
- Rirri. Não senti nada no fim, porque não entendi, mas nem reparei na jornada... Se enquanto eu estava lendo eu sentia algo... Não posso dizer se apreciei.
Enquanto Benito e Frâncis discutem Nancy Maestri pensa “O que Frâncis está fazendo em um sarau se não gosta de poesia?”. Porém não diz nada, só observa.
- Estou tomando um chá de hortelã com boldo. Dá um contraste... Deve ser interessante concluir algo disso. Mas, no caso, prefiro só saborear. Busque o livro “Rosinha, Minha Canoa” e leia.
- Tá doido, não me aventuro nessas coisas.
- Por quê? Tenha medo do que é bão não.
- Não é medo, creio já de antemão que não vou apreciar nada... Mas consigo apreciar qualquer leitura ficcional sem metáforas demais.
- Então vai gostar do livro. Não é rico em metáforas. São simplesmente belas histórias. As quadras que não gostou são do Rubem, não do José Mauro de Vasconcelos. O livro é bom, pode ler.
- Metáforas para mim são como ver flores de caramelo... Realmente não passaram disso. Rirri.
- Flor de caramelo?
- Rirri. Um exemplo tosco, me dizer como é algo, alguém ou sentido, usando formas metafóricas, elas serão literais para mim... Isso é engraçado... que minha imaginação é fértil demais para imaginar essas coisas. Mas o sentido passa tão despercebido que mesmo se jogasse na ponta do meu nariz eu iria estar observando essas coisas literais obstruindo o campo de visão... Mas é para ter algum sentido as quadras?
- Sim, é para ter algum sentido. O seu. O que eu e o autor quisemos dizer tá lá, direitinho. O que você entender...
- Bom, Olhos Vegetais é um livro? Agora, não entendi a parada da Nininha e Landi.
- É o capítulo três de Rosinha, Minha Canoa. Nininha é uma árvore e Landi e outra. Landi sonhava em se transformar canoa porque esta é a árvore que os índios fazem canoas.
- Hum... Agora faz sentido.
E Nena pensa “Poesia... Como muitos não entendem a poesia e... e como é dura a missão do professor que tem explicar o literário...”
Desconhecendo o que se passa em nossas cabeças, Frâncis insiste:
- Afinal, Benito, para que serve a poesia? Qual é a utilidade dos contos, das crônicas, dos romances, das novelas?
- Acho que a primeira coisa que a literatura e todas as artes nos dão é o prazer. – Diz Goretti e Nena continua: A segunda coisa que elas nos proporcionam é fazer passar mais depressa o tempo que enfrentamos os problemas.
Francismar Vasconcelos conta um causo e paramos para ouvi-lo. Após os aplausos Nancy fala:
- A literatura estimula a imaginação e nossa capacidade de abstração, metafísica e simbólica.
- Entendo também que as artes ampliam nossos conhecimentos e oferecem... oferecem, acho, materiais para relacionar o que enfrentamos no dia a dia com o que lemos. – Vera dá sua opinião – E assim, conseguir consolo e até, quem sabe, força para superar os dissabores?
- E você, Benito, não vai falar mais nada?
- No silêncio eu sinto o sabor das vozes.
Fora do restaurante a noite está nublada. Um carro e outro passam e pedestres olham para o movimento aqui dentro. Quem se adentra?


Ofereço aos aniversariantes:
Mayra Loures, Cleiton Zambianchi, Demetrios Nunes, Simone Távila, Mariana Dias, Thayná Macedo, Alessandro Lages, Grasielle Severo, Maxwel Lopes, Scida Souza e Joana Sousa.

Recomendo a leitura de Análise, de Ely Monteiro

Em banto, obax nafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

SCHAMI, Rafic. Narradores de la Noche. 6ª ed. Madrid: Siruela, 2012.

Escrito entre 05 de maio de 2014 e 13 de abril de 2015.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

PÁGINAS

Obax nafisa.

Sometimes I wanted to be stone, but I’m poet.


É uma sibipiruna florida. E pássaros cantam sobre ela. Benito e seus amigos José Silva (morto algumas semanas depois do diálogo e algumas semanas antes da publicação do cronto)¹ e Eva conversam sob a árvore.
- Vejam a aldravia de Rubem:
cristãos
comemoram
morte
divertem-se
com
sofrimento
- É! É triste, mas é verdade. – Fala José e Eva continua:
- Sei não... Se fôssemos comemorar a morte mataríamos alguém. Abram os olhos e viva Cristo.
- Como disse Cristo: “Seus pais mataram e os filhos fizeram o túmulo”. – Responde Benito. – Significa que concordam... Não sou cristão. Gosto muito de Cristo...
- Então por que fala estas coisas? Acredita que coelho bota ovo e você fica se divertindo com chocolate. – Retruca Eva. – Sacrifício não é sinônimo de amor, Benito. Sinônimo de amor é gentileza.
- Eva, está difícil entender o que diz. Parece que me perguntou se acredito em coelhinho da páscoa ou se em Cristo. Não acredito em coelho da páscoa, mas acredito em Cristo. Não acredito é em cristão.
- Não se comemora a morte e sim a Ressurreição, a vida nova. É essa a alegria do momento. Antes disso, apenas reflexão sobre a Paixão e Morte de Jesus.
- As pessoas, querido amigo Benito, não enxergam Cristo como um ícone de libertação, mas como um objeto de sacrifício e mazelas. Eu O vejo como um Iluminado que veio ao mundo para pregar, não uma religião ou um dogma religioso, mas sim a bondade construída sobre os alicerces do amor.
Eva olha para uma flor de sibipiruna no solo, próxima ao seu pé direito, e diz: Se Ele não tivesse se sacrificado nós nem existiríamos. Então me diga a razão de vocês estarem vivos.
- Eu lhe diria, Eva, que há controvérsias a esse respeito. A verdadeira história está encoberta sob um véu... E para muitos deve continuar assim. A verdade tem muitas faces nesse caso. Eu diria que cada um carrega a sua.
- Ora, José! Então quem morreu por você? Quem sacrificou a vida dele por você, Benito? Eim?
- Ninguém! Acho que há muitas inverdades nisso tudo. Acredito em Cristo e que Ele veio até nós para nos deixar seu legado de amor, não de morte, tragédia e sacrifício. Desculpa! Mas é minha opinião.
- Então você acredita que nossos antepassados são macacos! Não fiquem magoados comigo... É uma discussão, não uma briga.
- Não nos ofendemos. – Diz Benito e José continua: Na verdade, acredito na lei de Darwin, na evolução das espécies.
- Mas se foi a evolução das espécies... Quem foi Deus para você? Um animal!
- Deus para mim é energia pura.
- Mas para você, como Ele surgiu?
- Estou vendo que você tem muito conhecimento, Eva. E é muito inteligente. Um pouquinho imatura, mas não é tola.
Momentos antes chegaram Dândi e Dôni. Após os cumprimentos de praxe eles se sentam, observando-nos em silêncio se interam do assunto.
- Eu e Dôni estávamos lendo hoje um poemeto de Willian Delarte. Vejam que interessante: “PAIXÃO NO ALEMÃO: Chora Terezinha... Chora Terezinha Maria... O filho Eduardo... O menino Eduardo... Eduardo de Jesus não ressuscitará no terceiro dia”². Creio que não seja uma comemoração ou divertimento. Através do sacrifício de Jesus muitas pessoas se integram ao verdadeiro sentido da vida, remindo seus pecados no Amor de Deus. Jesus morreu, mas Cristo venceu a morte e está vivo. Prestes a resgatar àqueles que clamam o santo nome. Não há inverdade nem várias verdades, mas existe fé. Contudo, Deus é Amor e para enxergamos o Amor temos que reconhecê-lo. Cristo morreu por nós e para opinarmos corretamente temos que nos pautar em fatos.
 - Só mesmo a poesia para nos ajudar. – Diz Dôni e em um minuto de silêncio olhamos para as flores amarelas na árvore, para as pessoas que passam por nós e para o vento. – Estou meio doído esta semana, mas foi maravilhoso perceber que mesmo com os cristãos se divertindo ou justificando sofrimentos, Cristo ainda dá esperança. Então, mesmo que eu veja tanta desordem, mesmo que “os fundamentos do mundo se abalem”, eu prossigo feliz. Divirto e creio que Ele me ajuda a fazer alguma diferença.
- Já eu – diz Benito – me encanto com as flores da sibipiruna acima de nós. Mas ao mesmo tempo vejo crianças sírias se rendendo diante de uma máquina fotográfica pensando que é uma arma. Vejo a polícia brasileira matando crianças de dez anos. Vejo a preferência de muitos e muitos em punir crianças e adolescentes no lugar de investirem em escolas, bibliotecas, arte, cultura. Vejo templos indígenas sendo queimados em nome de Cristo. Cachorros sendo abandonados. Vereadores indo para lindas cidades costeiras dizendo que vão se aprimorar. Políticos e religiosos pregando o ódio. – Pausa para um suspiro. – Estou tão descrente. Quase tenho vontade de nem sei.
E pássaros cantam na sibipiruna florida enquanto o vento brinca com nossos cabelos e com as páginas dos livros que levamos. E os amigos se levantam e vão.
Um pássaro no telhado marrom
Tem atrás nuvem vermelha
Por cima o céu está azul-cinza
Abaixo a grama verdeja.


Ofereço aos aniversariantes
Roberta Bragança, Mithswillian Paiva, Delsyn Carvalhais, Marcone Alvarenga, Carlos Passos, Malu Ricardo, Mel de Faria, Sadd Nunes, Nívea Paula, Carmen L. Souza, Lída Mª F. da Cruz, Arlete Santos, Marcos Inter, Tamara Oliveira, Cleria E. Dutra, Ricardo Tulio e ao casal Bruno Grossi e Diane Mazzoni em suas bodas de lã.

² Willian  Delarte – facebook – 03-4-2015.

Em banto, obax nafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.


Escrito entre 17 de abril de 2014 e 06 de abril de 2015.