segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

PENSAMENTOS CANTAROLANTES

Obax anafisa.


“Nesta vida, deparamos com diversos fatos e coisas que parecem obstáculos. Mas, na verdade, não o são, pois Deus não criou nem um obstáculo real. Tudo neste mundo é bênção, tudo contribui para a nossa educação espiritual”¹.


- Professor bom é aquele que é bravo. – Diz Joaquim.

- Cê acha? Cê besta. Minha professora Arlete só usava a mesma ropa e a gente pegava no pé dela. – Responde Clarice.

- Valéria, minha professora tinha a voz baixa, mas quando falava até na última carteira ouvia tudo, de tão clara que era.

- Rarrá! Nas aula d’Arlete e também na do Beto a gente fazia de tudo. Até já empilhamos as carteira.

- É? Valéria era muito brava. Qualquer barulhinho mandava para a diretoria.

Imagine, por gentileza, as expressões faciais de Joaquim e Clarice. Que feições ele assume ao ouvir os comentários da colega de trabalho e a cara de bobo alegre dela.

- Rarrá! A gente fazia de tudo intudo quiera aula. Só faltou botar fogo.

- Huuum... No primeiro dia de aula de Valéria ela pegou o livro que a escola definiu, olhou os tópicos e nunca mais o abriu. Falava de Vargas, de como eram as coisas naquela época. Contava para nós o que ela tinha vivido.

- Quinteressa a vida dela? Num ensinou nada. Mazeu fiz muita bagunça e me diverti muito na escola.

- É, eu também me divertia. Tive bons colegas. Íamos a muitas festas, excursões em museus, Caraça, Ouro Preto, discoteca.

- Discoteca? Cê é veio, eim Joaquim! Se bem que não deviam ser chatas as aulas da sua professora. Fofoca das boas eu gosto.

- Com o professor Ícaro aprendi a estudar. Ele nunca nos dava perguntas, mas nos fazia criar nossas perguntas referentes à matéria e a respondê-las segundo os livros ou através das conversas que mantinha conosco.

Fim do intervalo. Ele caminha pensativo para sua sala e ela cantarolando rebola para a recepção.


Ofereço como presente de aniversário à

Contreiras Santos, Graciela M. Figueroa, Elcio F. Oliveira, Emerilda H. Pereira, Marlene Brum, Mª Regina Leonetti, Rosane R. Dias.

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Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas.
O cronto é minha flor para você

e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

Escrita entre 24 e 30 de janeiro de 2012.

¹ TANIGUCHI, Masaharu – A Verdade em Orações, vol. 02:

Oração para que as almas nascidas na Terra alcancem níveis elevados.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

TRIÂNGULO DE AÇO

Obax anafisa.


Tenho vinte e sete anos e por oito trabalhei sem carteira assinada como chapa, mas caiu peso sobre os meus pés. E assim fiquei com esse machucado aqui, ó – mostra, mas fecho os olhos. Que mania desagradável de alguns quererem nos mostrar perebas. Quem gosta de ver isso não é normal. Ou talvez seja... – Tão vendo? Poisentão. O médico do SUS está tratando eu de graça – “de graça?”, pensei meio que rindo. E os impostos que pagamos? – e disse quessó daquiasseis mês poderei calçar botina. Eu recebia R$90,00 por dia – o salário mais alto que tive foi R$1.000,00 por mês. Isso sem contar os descontos para INSS e etc. –, mas nada mais tenho além desse pacotim dibala qu’em desespero vim pedirajuda a cadaum docês. Ajuda não em troca dessas bala porque elas nuntêm preço. Vim porque preciso. Tenho treis filho e a Igreja Católica ficô dimemandar cesta básica semana quevêm. – Alguém que ouvia disse: “Procure a Pastora M...” e ele respondeu – Procurei a Pastora M... também, mas quem tem fome tem pressa. – “Quem tem fome tem pressa”. Já ouvi esse bordão em algum lugar. Acho que num período quaresmal atrás – Preciso completar dinheiro para comprar cesta básica e a mais barata, no B... custa R$35,00. Quem pode miajudá? Esse aqui medeu cinco real. Esse medeu R$2,00. Esse medeu R$1,00. Podem pegarasbala. É muita burocracia conseguir cesta básica. Tem que cadastrar, depois esperar. Podem pegarasbala. Não sacanhem. Elas nuntêm preço. Cesvão meajudá cunquantu? Ah! Esse medeudeiz. Esse medeu quatru e esse, cincu, esse, treis, esse deu cincu. E ocê? E ocê? – e por aí foi recolhendo e eu copiando seu discurso. Que voz clara, alta. Que texto bem elaborado... Até nos, segundo a gramática oficial, “erros”de português. Acho que ele estudou teatro. – Obrigado, gente! Muito obrigado! Agora vou indo comprar comida prosmeusmininu. – Sai e volta – Mas espere, eu quero dar uma palavrinha. São dez segundo: Pai, Filho e Espírito Santo, aleluia. São Miguel, abra as portas da solução dos problemas profissionais, salariais, financeiros, conjugais, matrimoniais, sexuais, familiares, sociais, de saúde de todos vocês – Engraçado, onde foi parar a pronúncia carregada de antes? – e as trevas se afastem por graça da Luz da Cruz de Cristo que envia Seus anjos para desancarem o maligno que desandava os passos de vocês, irmãos. Aleluia. – Alguns disseram “Aleluia”, outros “Amém, Jesus”. Eu pensei “Aleluia, irmão. Saravá, meu Pai. Ponte que partiu”.

Depois dessa, só mesmo indo a uma apresentação artística para me limpar. Huuum, deixa-me ver... Adê vai apresentar hoje.


Só, não se chega a lugar nenhum.

Por do sol à beira mar

Ainda que o verão acabe, Ogum,

Meu amor não se põe ao sol.

É instrumento da vontade de ser mais que um

Em mil e novecentos que se perdem em dois mil.

Nos barcos de papel comum

Viaja meu coração acrônico e cromático

Cantando feito mutum

Para meu maior amor, sublime amor.

Cantando feito mutum

Para estar à altura de vocês, meu povo.


Verso inspirado no músico Adê Araújo, no Triângulo de Aço Show.

Prosa embasada num discurso que ouvi no MTE (Ministério do Trabalho e Emprego).

Ambos escritos entre 18 e 23 de janeiro de 2012.

Ofereço como presente de aniversário à

Ivone Pilo, Thaís L.M. Almeida, Moritoshi Hiramine, Alexandre dos Reis, Carolina C. Lima.

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Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas.
O texto é minhas flores para você

e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

CAM, A CORUJA

Obax anafisa.


Pensando “Não, não! Não, não faça isso. Científico é uma coisa programada. Criação é uma coisa que nasce. Nasce pra gente, nasce com as nossas dores, nasce com as nossas... neuroses, com as nossas... os nossos sorrisos. Não, não, não, não! Criação é uma coisa muito importante. O científico também é. Só que... científico é científico, né... Ou não?”¹ observa as cinzas do incenso a cair sobre os livros enquanto reza. Já se sentiu irritado com isso e hoje vê beleza nelas. Talvez pela sua paz, ontem foi profusamente elogiado pelas palavras por ele ditas. Em outro momento da manhã ganhou uma coruja de pano. Aquela que achou mais bonita. A grande poeta Nena de Castro a batizou dizendo “Você, corujinha, é Cam e recebeu o nome de uma cadelinha muito gente boa que já partiu, mas ficou na memória”. Os nóia da rua gritam “Não me bata!” – “Por que está batendo em nós?” – “Cequié fracassado.” – anuviando-lhe o coração. Então se esforça em ver a dança da fumaça e sentir o aroma do incenso até o sol renascer.


Escrita na manhã de 16 de janeiro de 2012.

Ofereço como presente de aniversário à

Nanda Abrahão, Marrione Warley, minha sobrinha Mariana Cheloni Leite e Douglas Brasil.

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Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas.
O cronto é minhas flores para você

e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.


¹ Maysa Figueira Monjardim, mais conhecida por Maysa Matarazzo ou simplesmente Maysa. 1936 1.977 ó Ver http://www.youtube.com/watch?v=lIrEewDVEhQ&feature=share

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

POMBA GIRA

Obax anafisa.


Hoje eu vi uma pomba gira.

Mas a primeira estória que quero contar é

O rapaz não matou o monstro que lhe devorou o pai porque se sentiu condoído, mas assassinou o jovem que queria eliminar o monstro por ter destroçado seu pai. O rapaz admirou, surpreso e confuso, suas mãos sujas e, por extensão, a faca sangrenta. Seus olhos sinalizavam descrença no que fizera e espanto pelo cadáver à frente. Seus pensamentos naqueles segundos voaram para a religião. Lembrou da pregação dos Padres. Ouviu os dizeres dos pastores. Fez o que aprendera, agiu como os religiosos e os políticos faziam e sorriu para o monstro. No fim sobrou o monstro que comeu a todos.

Hoje eu vi uma pomba gira. Bem, pelo menos o bichinho não parava de rodopiar...

Mas a segunda estória que quero contar é

Passeávamos pela avenida, à sombra das tamarindeiras, quando o jovem, aquele que foi sangrado na primeira estória, viu uma antiga professora. Aproximou-se e a senhora se assustou e o mandou embora. Sem entender, quis ficar para ajudar, mas quanto mais insistia, mais ela tremia. Então fomos embora. Olhando para trás a vimos no celular convocando força policial. O jovem correu e eu o segui, claro. Se não como poderia contar sua estória que não demora a ter o fim que vimos acima? Mas pode se tranquilizar. Os policiais e a aposentada perceberam que tudo não passara de uma confusão. O jovem não era pobre. Ficando tudo como dantes no castelo de Abrantes.

Hoje eu vi uma pomba gira. Bem, pelo menos o bichinho não parava de rodopiar cortejando a fêmea. A terceira estória é só isso mesmo. Se bem que me veio à cabeça uma curiosidade. Por que cortejar uma garota e cortejo fúnebre tem a mesma palavra chave?


Escrita entre 05 e 09 de janeiro de 2012.

Ofereço como presente de aniversário à

Eliene Braga, Paola Peralta, Ênio M. Hara, José Pedro, Paulla, Cireno Carneiro, Rafael Francis.

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Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas.
O cronto é minhas flores para você

e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

E DEPOIS, O SILÊNCIO

Obax anafisa.


Estou deitado na madrugada e no teto a lâmpada apagada parece piscar. Eu... Eu já vi isso antes e nunca de um jeito que pareça se acender. Apenas um brilho insignificante. Viro para o outro lado. Não há de ser nada. Cochilo. Abro o olho e de novo a Lâmpada pisca. Será ilusão de ótica? Deixa-me ver se faz de novo? Não! Está apagada mesmo. Esquisito ela fazer isso de vez em quando. Mudo de posição e tiro outra soneca. Acordo, olho para a lâmpada e nada. Vou voltar ao sono e ela dispara seu discreto flesh.

Estou sendo vigiado. Será que estão me filmando? Não, é só fotografia. Mas por que eu? Sou apenas um artista. Se bem que a arte é perigosa... Quem está me vigiando? O Governo? Ou será “USA, abusa e depois lambuza”? É só a mim? Ou o mundo está sendo controlado? Meu Deus, è as mulheres que trouxe para cá... Viram tudo que fizemos? E meus trabalhos... será que... Ai meu Deus! O quê que eu faço?

Calma, Benito, calma! Isso é só imaginação sua. Não fique neurótico. Respira... Isso... De novo... É só imaginação. Não tem nada acontecendo. Viu? Nada lá fora. Agora saia da janela, volte para a cama, acenda o abajur e continue a ler até dormir de novo. Onde parei mesmo? Ah, aqui! “Deixo essas linhas magras e outras tantas palavras mortas para que o vento num futuro próximo cole-as na minha amarga cova”¹. Meu Deus, a lâmpada piscou de novo... O que será que eu fiz? O livro... tem algum perigo em seu conteúdo? Não quero ser preso. Não quero morreeer. Uuuunf... Uuuunf... Inspira, espira. Uuuunf... Uuuunf... Não é nada. Vou ligar para alguém. Para quem? Tiago. Tiago Costa.

Atende, viado!

Tiago!? Estamos sendo vigiados... Não, caralho! Eu não disse que sou viado e sim que estamos vigiados. Como assim, já sabe? Não liguei para abri nenhum armário. Estou falando que tem alguém, o Governo ou sei lá quem, observando a gente, espionando. Não, anta, não estou saindo com nenhum Fernando. Adeus!

Que coisa! Não é a toa que desisti de celular. Paga-se caro por um serviço porco. Calma! Calma! Vou tentar de novo. No facebook. Vou escrever o que estou pensando no estatus. “Estamos sendo vigiados. Tem alguém, o Governo ou sei lá quem, observando a gente, espionando. Veja as lâmpadas”. Agora é esperar quantos curtirão e quantos comentarão. Vou pegar outro livro. “CLASSIFICADO: ‘Troco futuro do País por cesta básica. Entrega após eleição (mas só se eu ganhar)’²”. Ah! Um comentário. De... Vera Helena Saad Rossi. Que chique, uma escritora. “Na minha casa também já vi isso. Não há de ser nada. Só algum problema na fiação. Volte a dormir e finja que nada está acontecendo. Será melhor para você. Acredite em mim, será melhor para você deixar de perceber as coisas. Repito, é só um problema na fiação”.

Quê?! Quem bate na porta a esta hora... Quem é? Como você está destrancando a porta? Por quê? Sai da cama, rapaz, e fuja. Na área de serviço ouço o barulho da porta batendo na parede.


Escrito entre a madrugada de 27 de dezembro de 2011 e a madrugada de 02 de janeiro de 2012.

Ofereço como presente de aniversário à

Maria da Graça, Áurea Arruda, Marilélia Rocha, Ana L. S. Souza, Alex M. Vidica, Tony Brizzante, Adriana G. Lizondo, Elton L. Macedo e Bete, Wagner Moura, Giuliano Maciel, Suedy F. Santos e Pé de Cabra Coletivo.

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Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas.
O cronto é minhas flores para você

e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

¹ DELARTE, Willian – Sentimento do Fim do Mundo – São Paulo: editora Patuá, 2011, pág. 100

² ROSSATTO, Edson – Cem Toques Cravados – São Paulo: Andross, 2010, pág. 99

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

VOZES

Obax anafisa

e que seu Ano Novo seja mais cultural que comercial.


Meus pais e eu olhamos uma casa velha em uma cidade... Histórica? Em se tratando de Minas, é provável que sim. É um terreno grande, com um casarão todo caindo aos pedaços. Nenhuma porta ou janela nos lugares. Exceto onde a velhinha que mora lá, empregada dos donos, dorme. E nos observa. Devia ter sido lindo, mas agora... só desmanchando para fazer outra. Gostaria de ficar com a casa. Não sabemos se vale a pena então voltamos para Ipatinga.

Nãnãni pum finfim toque toque toque coque. Nãnãni nãnã nãnãni. – É como meu cérebro entende a música árabe instrumental no Tuffik Cozinha Árabe, no bairro Novo Cruzeiro. Vou assistir uma apresentação de dança do ventre com as artistas Meyre Amaral, Karla Cristina, Cleide Ribeiro, Melissa Rodrigues, Fernanda Cabral, Débora Santiago e Diana Priscila. Espero lendo O Outro Gume da Faca, de Fernando Sabino. Pedi um quibe de frango e, porque nunca experimentei, outro de carneiro. Depois de alguns minutos Vera me entrega dizendo uma prece árabe ao servir refeição “Que este alimento te faça tão bem quantas são as sementes da romã”. Explicou-me ela que alimento na mesa é fundamental para tal cultura. São lindas, tanto a cultura como a prece. Assisto as dançarinas com uma leve sensação e um forte sentimento. Leve ereção e forte prazer artístico. Então aprecio os quibes, o livro, a dança e depois vou para casa.

Olhando bem nos seus olhos – Os seus, de você que está aí me lendo. – percebo sua curiosidade se arrefecer. Afinal, onde está o conflito que afirmam não poder faltar? Como poderei atraí-la de novo?

Durmo. Acordo. Saio.

Atravesso o camelódromo, passo pela Praça Primeiro de Maio e um mendigo louco que não lembro de já ter visto alguma vez me chama. Ignoro. Não quero papo com doido que deve, ainda, estar fedendo. O maluco grita meu nome acompanhado por incontáveis desaforos. Ignoro. Não quero nem saber como ele me conhece. Fui onde deveria e de novo atravesso o camelódromo. O cara ainda está lá, xingando-me. Finjo não vê e o homem continua lançando seus impropérios. Penso então que isso só acabará se eu for até sujeito. Estanco, dou meio volta e ficamos cara a cara.

Pele achocolatada bonita apesar da falta de banho, parece ter uns trinta anos, baixo, quase anão, cabelos rastafári imundos, cabeça comprida, estreita. Veste jaqueta dins sobre camisa verde musgo, calça dins, sandálias sobre pés imundos e perebentos. Ele realmente fede. Meu rosto está sério, mas não bravo. Olho bem nos seus olhos e ele levanta a cabeça segurando os meus e sorri. Belo sorriso.

E se vai deixando-me ao por do sol pensando “Comprando a casa para onde irá a velhinha que nos olhava apreensiva?”. E esse mendigo-pessoa que quer reconhecimento... Quem é ele e o que lhe sucederá?

Escrevo e minha voz não se faz ouvir. Ou fará!? Falo, falo, falo e ninguém me ouve. O mundo só pensa, de um modo ou de outro, em falo. Seja o seu poder representado pela moeda ou literalmente. O que eu quero? Natais não comerciais, mas culturais... Um Ano com tudo de novo: sabedoria, amor, vida, provisão, alegria e harmonia. Não apenas bebelança, comilança, festança enquanto o outro... dança. Se ainda fosse arte-dança. Mas esta dança está mais para matança. O que eu quero e espero é Natal e Ano Novo de sabedoria, amor, vida, provisão, alegria e harmonia.


Escrito entre a madrugada de 23 e 26 de dezembro de 2011.

Ofereço como presente de aniversário à

Éderson Caldas, Sérgio Poeta, Ana P. Amorim, Prosperidade do Brasil (Seicho-No-Ie), Seicho-No-Ie Español, Jorge Machado, Joaquim T. Bill, Nathy Costa, Adriano A. Duarte, Francisco J.R. Cabal, Lucas Oliveira e Gilberto Weber Neto.

Cada uma das pessoas acima é muitíssimo querida por mim.

Mas ofereço o cronto ainda mais especialmente para minha mãe que aniversaria dia 26.

Felicidades Maria Ettiene Weber Leite.

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Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas.
O cronto é minhas flores para você

e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

MANHÃ DE SÁBADO

Obax anafisa.


“Orientar o olhar para as pedagogias diferenciadas ou cooperativas significa compreender que elas só têm força se provocarem, no espírito do aluno e no dos professores uma outra construção de sentido. O sentido do trabalho, dos saberes, das situações e das aprendizagens escolares é algo construído com base num conjunto de valores e representações e numa situação de troca de interações”¹.

“a prática real da sala de aula nos coloca diante de um cenário no qual ritmos de aprendizagem são diferentes, experiências de vida são distintas, perfis cognitivos e conhecimentos são diversos”¹.


Sábado de manhã, muito de manhã, uma vaquinha, minha vaquinha branca com manchas pretas anda pelas ruas do Centro de Ipatinga. Um estouro de carro a assusta e ela entra na empresa Linnet, na frente de um trator que, surpreso, a persegue. Entre risos consigo salvá-la.
Mas
O humano é um ser vário. Cada qual com sua posição no mundo, que lhe permite ver de um modo único. Cada qual com sua história pessoal que lhe permite contar estórias pessoais. Cada qual com uma educação\formação diferenciada moldando-lhe de modo exclusivo. Portanto, o modo de ensinar não pode ser único para todos. Por mais parecidas que sejam duas pessoas sempre há distinções entre elas.
Assim, eu, enquanto artista-educador, entendo que o aluno (seja da educação formal ou alguma outra) não pode assistir aulas sem modificar algo em si e muito menos possa encerrar o ano letivo do mesmo modo que começou. E minha referência a mudar não é apenas conhecer melhor a gramática, ortografia ou técnicas de redação (no caso do português, por exemplo). É desenvolver-se enquanto ser em paralelo aos conhecimentos da matéria\disciplina. Assim eu faço. E entre minhas formas de trabalhar (dou aulas de iniciação teatral para adolescentes) ministro jogos e exercícios que desenvolvem os sentidos, as emoções, as sensações; que proporcionam a reflexão e discussão. O que chamo de jogo é um diálogo com o outro e exercício é uma conversa consigo mesmo; já as sensações são as percepções mais físicas, e emoções são as percepções sentimentais.
Por que os “monólogos corporais” (exercícios)? Porque o auto conhecimento e a auto aceitação são a chave para uma vida mais feliz, mais construtiva. Quem não se conhece nem se aceita não se abrirá para o outro, para o diferente. Por que os “diálogos corporais” (jogos)? Porque é a saída da teoria da convivência ou da aceitação do diferente (de como é outro) para a prática lúdica das mesmas.
Mesmo dando aulas de iniciação teatral nada me impede de trabalhar outras formas de perceber o mundo e de como se expressar. Por exemplo, ensinei haicai e colhi resultados agradáveis. Primeiro, ensinei as técnicas; depois fiz com que olhassem a paisagem (fomos para um pequeno parque próximo de onde dou as aulas) e se deixassem levar pelas emoções\sensações; por fim criassem o haicai. Abaixo, compartilho uma mostra do que criaram.

Sombra é vazia
Corrente para esconder
Vive no vazio
(Luan Luna).

Lago grande largo
Sensação de liberdade
Faz-me refletir.
(Mariana Oliveira).

Encerro nosso diálogo afirmando que toda disciplina escolar não deve ser vista em separado das demais. É preciso que o professor reconheça e aceite isso para poder ensinar os alunos como conectar uma informação com outra. Vejo que nossos jovens não sabem fazer isso. E nem são preparados a pensar... Apenas guardam, para depois perder, informações vazias e inúteis. Exemplo: quando ministrei aula sobre haicai nenhum dos adolescentes tinha a mais vaga lembrança do que eram sílabas tônicas e átonas. Foi preciso um esforço extra para entenderem o que eram e como usar tal informação. Ao perceber que eram sílabas “fortes” e “fracas” conseguiram transformá-las em informações ricas de possibilidades e úteis para uma criação artística. Também é preciso que os alunos não esperem que o professor os ensine, que o mundo os salve. É preciso que sejam ativos, que decidam fazer a diferença. Que vão e vençam!
Entre risos consigo salvar a vaquinha e a levo para casa. Na verdade, um apartamento. Subimos a escada. Vou para meu quarto e ela para a área transformada em curral. E você pergunta o que é isso? Que texto sem sentido é esse, com vaca e arte-educação? Desculpe. É como estou depois de um semestre na faculdade. Confuso e doido.


Escrito entre 13 e 19 de dezembro de 2011.

Ofereço como presente de aniversário à
Luciana A. Dalenda, Mayron Engel, Alison W. Martins, Dulce Araújo, Vander L. Devidé, Izauro T. Amorim.

Ofereço também à equipe sub-17 do Clube Atlético Mineiro que conquistou dia 17 de dezembro de 2011 o tricampeonato “Future Chanpions”.

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Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas.
O cronto e a ilustração são nossas flores para você
e fazemos votos de que encontre neles pedras preciosas.

¹ ANDRÉ, Marli (Org.) – Pedagogia das Diferenças na Sala de Aula – Campinas, SP: Papirus, 1999 – (série prática pedagógica) – capítulo: O Projeto Pedagógico e as Práticas Diferenciadas: o sentido da troca e da colaboração, da pedagoga Laurizete F. Passos, páginas 108 e 110.