segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A CASA


Obax anafisa.


O camelô e a Praça Primeiro de Maio estão vazios de cidadãos. Eu passo entre os cachorros abandonados e as pessoas que se vendem ou compram seus produtos. Um ônibus pára e corro para ele. Minha mãe está lá; ocupa uma parte do banco. Olhando-nos sento ao seu lado e vamos em silêncio, desatentos ou desinteressados a quem passa pelas ruas. Uma hora na barulhada de trabalhadores. Esqueci o número da casa e ligo para um amigo.
Amigo: Doze
Eu: Doze
Amigo: Três
Eu: Três
Amigo: Oitenta e sete
Criança: Cinquenta e sete. – Uma criança me vendo repetir números se intromete e inventa. Eu, em silêncio irritado, olho para os pais sorridentes dela.
- Trocador, pode me avisar quando chegar o ponto mais próximo do número 12.387?
- Sim!
Paramos. Ponto final. Casa 14.300.
- Ei, você não me avisou.
- Não tenho obrigação.
Caminhamos, eu e minha mãe, pelas casas feias na avenida indecisa se fica sem árvores ou se as tem mirradas e empoeiradas. Suados chegamos num buteco-armazem. Três atendem outros dez, agora doze.
Na minha mão, uma sacola com dinheiro. Tudo que tenho, que guardei. Um sujeito olha para mim
- Veio por causa? – Sua voz baixa e seus olhos mostram que sabe o que quero. Afirmo com um aceno.
- Ele num aceitará e nem te perdoará. – Aponta com o olhar para um magro, careca, suado e camisa aberta no balcão. – Tem certeza que quer mesmo? Então vai. Rua Maguinolita quatrocentos. Três ruas acima. Vai e não volta. Não te queremos aqui.
Saímos.
- Oi! – Somos abordados por um homem de trinta anos, roupas escuras com detalhes em prata, borda preta nos olhos. – Ele mentiu para vocês. – Olha para o interior do boteco e continua: Não gosta de gente como nós. É aqui na avenida, número 12.357. Mas não sei se adianta. A mãe é igualzinha ao porco do boteco e... e agora é tarde. Muito tarde para se aproximar.
Andamos. Minha mãe em total silêncio de amargura e eu em silêncio de arrependimento. À nossa volta, casas feias e árvores mirradas, empoeiradas, iluminadas pelos postes. Olho para a lua cheia, sua luz reconforta. À minha frente, a casa.



Ofereço aos aniversariantes
Diane Mazzoni, Ana P. Rocha, Rafael Cabral, Maria das Graças, Marcello Rodrigues, Nena de Castro, Carol Ribeiro, Cristina Abreu e Francklin Meireles.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

Embasado num sonho escrevi entre os dias 05 e 29 de outubro de 2012.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

SILÊNCIO NO VENTO


Obax anafisa.


Praça constante num lugar que não existe, do camelódromo ao Banco do Brasil. De costas para BR uma banca de revista de frente ao canteiro circular. Nele, duas touceiras de beijo rosa, abundante folhagem arroxeada e esmilinguidas palmeirinha e boldo. Na lateral direita, vastas palmeira e paineira. Na esquerda, jovens pau mulato, ipê, oiti e, quase sombreado por eles, o banco onde se passa boa parte de nossa estória.
- Instalem o aparelho. Não vou fumar aqui.
Olho para o homem que parou na minha frente. Vejo o sol no seu rosto atrapalhar a visão. A incompreensão estampada em minha face lhe faz continuar.
- Sou viciado, mas preciso do orelhão. Todos precisam dele, né? Então, em troca, não usarei para outra coisa que não seja comunicação.
- Mas porque você está me dizendo isso? Não trabalho na Oi.
- Sei lá. Acho que apenas quero conversar e vim com esse pretexto.
Penso “Escolha de palavras típicas de quem tem estudo” e continuo só olhando para o sujeito, que se senta ao meu lado. Apesar das roupas sujas ele não está fedendo, então não me incomodo.
- Ontem te vi aqui. Você e uma mulher conversavam. E depois saíram. Anteontem também te vi. Estava escrevendo algo enquanto olhava para as árvores e um policial te abordou. Escutei o que ele falou. Perguntou o que você estava manjando. Ele disse assim, manjando. Estou te chamando de você, mas não sei se posso. Tudo bem te chamar de você?
- Pode, prefiro assim.
- Qual é seu nome? O meu é Rudá.
- Benito.
- “E eu criança presa em, brinquedos de trapaças \ Quase sem história pra contar \ Você criança tão liberta me tire dessa peça, \ E assim ter história pra contar”¹. Sabe quem canta isso?
Como resposta dou um sorriso, digo “Benito di Paula” e o presenteio conforme ele me presenteou: “Rudá, Ruda!... \ Tu que secas as chuvas, \ Faz com que os ventos do oceano \ Desembestem por minha terra \ Pra que as nuvens vão-se embora \ E a minha marvada brilhe \ Limpinha e firme no céu!...”...
- “Rudá, Rudá! \ Faz com que amassem \ Todas as águas dos rios \ Pra que tu se banhando neles \ Possa brincar com o marvado \ Refletido no espelho das águas!...”². – Tomando minha palavra encerra cantando com leve mudança no texto, mas com um sorriso...
Ficamos conversando bem tempo ainda. E mesmo no restaurante popular, que ele me convidou a pagar, o assunto se manteve durante o almoço. E depois também.
- Acho que Assis escreveu bem, falando da sociedade da época, mesmo sem se comprometer se reconhecendo mulato. Afinal, o que ele podia fazer? Proclamar sua origem e não ter suas obras reconhecidas por isso? É como um fumante de maconha se expor e não ter emprego por isso.
- Curioso paralelo esse o seu, Rudá. Comparar literatura com drogas.
- Não estou comparando, mas sim dizendo que a sociedade ver com maus olhos quem ela proclama diferente ou errado.
- É! Tem sua lógica. Afinal, ela permite o uso de cigarros, cerveja, jogos lotéricos, mas impede aquilo que ela não consegue usurpar imposto de renda.
Almoçados, voltamos à praça, sentamos no banco, continuamos a conversar até o vento balançar nossos cabelos e nos silenciar. Boa parte da tarde passou assim, nós dois sentados lado a lado, em silêncio olhando o canteiro.
Pela noite saímos juntos.



Ofereço aos aniversariantes
Haras Silveira, William Salgado, Laudemir Silva.
E ofereço aos meus 77 seguidores aqui no aRTISTA e aRTEIRO.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

Escrito entre 10 e 22 de outubro de 2012.

¹ PAULA, Benito di – Amigo do Sol, Amigo da Lua – http://www.cifraclub.com.br/benito-di-paula/amigo-do-sol-amigo-da-lua-19754/
² ANDRADE, Mário de – Macunaíma – 30ª edição – Belo Horizonte: Villa Rica Editoras Reunidas Ltda., 1997 – capítulo Boiúna Luna.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

BEIJO AO VENTO


 Obax anafisa.



Praça constante num lugar que não existe, do camelódromo ao Banco do Brasil. De costas para BR uma banca de revista de frente ao canteiro circular. Nele, duas touceiras de beijo rosa, abundante folhagem arroxeada e esmilinguidas palmeirinha e boldo. Na lateral direita, vastas palmeira e paineira. Na esquerda, jovens pau mulato, ipê, oiti e, quase sombreado por eles, o banco onde se passa nossa estória.
- Hoje eu quis lhe dar meu amor, mas meu coração não lhe tem valor. Quis lhe dar meu sorriso, mas minha carteira não tem muitos valores. Quis lhe dar uma flor e meu gesto lhe foi ridículo. Quis dar meu corpo, mas não lhe sou bonito.
- Obrigada pela gentileza. Eu faço programa.
- Eu posso lhe dá estabilidade... meu nome e... e...
- Poderíamos falar da estalibidade e etc. e tal, mas nunvamu perdê tempo não, bobo.
O hotelzinho na rua três pontinhos é bem nojento, mas o beijo no canteiro balança ao vento.



Ofereço aos aniversariantes.
Igino de Oliveira, Flávia Frazão, Victor L. Macedo, Aparecido M. Soares, Warlisson Rodrigues, Lucimar Inácia e Leila Cunha.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

Escrito entre 24 de setembro e 15 de outubro de 2012.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

CANÇÕES À DERIVA


Obax anafisa.


Da biblioteca pública municipal olho a faina inicial de uma segunda-feira. Trabalhadores lavam os pontos de comércio seus ou dos patrões, transeuntes se dividem entre os que sonhadores olham vitrines e os que estão a deriva. À deriva... me lembrou do “concurso” que estamos realizando na faculdade para designar a disciplina IAD (Introdução à Análise do Discurso): IADesgraça, IADiscórdia, IADeriva...
Huuum! Acho melhor voltarmos ao cronto.
Políticos distribuem santinhos. Político e santo, tão antagônicos...
A madrugada foi muito fria e a manhã está ensolarada. Nuvens brancas no céu azul flutuam na indolência que desejo e que Macunaíma¹ descreve tão bem “Ai! que preguiça”.
- Oi! Medê dinheiro pruncafezim.
- Não!
- Eu sou Camila e faço programa. Comocê chama?
- Leo!
- Leo, eu amocê.
- Quem diz isso é a pedra.
- Quero dá procê. Quero dá, quero dá, quero dá procê. Lararilará. – Camila canta.
Uma mulher varre o lixo da rua e o vento espalha o que ela ajunta. Ela varre e ele espalha. Varre e espalha. A mulher pára, pensa e muda de direção. Varre a favor do vento, que lhe ajuda a limpar.
Vejo em um livro a faina diária da vida humana. Vejo na vida humana um livro.



Ofereço com muito carinho aos aniversariantes.
Nilmar Lage, Gustavo Espeschit, Yasmine Pimenta, Andréa Silva, Luciano G. Botelho, Karla Suelen e Shirley Maclane.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

Escrito entre 01 e 08 de outubro de 2012.

Macunaíma, de Mário de Andrade, é uma rapsódia, ou seja, é uma soma de temas tirados do povo.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

TERROR NO MANGUEIRAL


Obax anafisa.

 “A vida não fica mais fácil.
É você que tem que ser forte”¹.


Terra de Ninguém.
Relato de D.
Observo duas clientes em potencial passeando. Eu as conheci quando buscava moradores para Terra de Ninguém. Ambas não sabiam quem eu era, mas sei quem são.
Período eleitoral, são tantas pessoas dispostas a se venderem. Talvez não todas. Sempre escapa alguém. Que pena. Mas o importante é que é difícil dar conta. Rsss. Não era o caso delas, por isso precisavam de um empurrãozinho... Poderiam vir a ser ótimas candidatas para trabalharem conosco.  Apresentei-me como um pesquisador da origem das pequenas cidades mineiras e que ficara sabendo delas através do escritor Benito Bardo Júnior.

Mesquita. Passeando pela praça central.
Relato de D.
- No sobrado azul, azul e branco, o pacto com o D. Ele ofertou o primogênito e por vinte e um anos enriqueceu. – Disse-me uma e outra continuou:
- Até o dia que sua mulher aceitou Jesus e quebrou o D na garrafa.
- Em sete dias ela morreu. De causas dolorosas. Mais sete dias ele morreu. De causas misteriosas. No sétimo dia morreu a Oferta.
- Um tiro no ouvido direito com a mão esquerda... E hoje, por trás dos escombros azul e branco, só a gameleira sobrou.
Rs. O “D” era, sou eu. Rs. E, diga-se de passagem, sou lindo, grandão e musculoso. O sonho de consumo de todas as mulheres e de muitos homens.

Ipatinga, entre o Centro e o bairro Novo Cruzeiro.
Relato de Benito.
Buracos de luz no mangueiral. Não procuro desvendar suas origens. O medo me segura. Medo de quê? Medo, apenas medo. O mangueiral à noite me assusta com suas sombras mal assombradas. No vislumbre da árvore algo se move. Metade da altura é sua largura. Se move na árvore. Medo me dá. Tremulo por dentro e finjo por fora. Encaro a sombra. Se quer me molestar ou se quer se esconder, não sei. Torço para nunca descobrir. Encaro e sigo em frente. A... a coisa ficou para trás. Silencio, escuro, sombra. Meu coração, enfrente! Uma ilha de luz, graças a Deus. Não! Horror! Agora eu vejo com clareza. Corra, Benito! Corra! Não, finja! Passo a passo, um de cada vez. Está acabando, estou chegando. A passarela está ali. Atrás, o silêncio e as sombras. O silêncio, as sombras e
- Que você está escrevendo? Quem é você? Quem te convidou?
Assim encerro minha escrita, interrompido perdi a inspiração. Isso sim é o terror de todo escritor.



Ofereço aos aniversariantes.
Agnaldo Bicalho, Felipe F. Nascimento, Jésus Guimarães, Fábio Sales, Mayara Ferreira, Siloene de Oliveira, Erica Fernandes, André Pôncio e Felipe Ávlis.

Ofereço também às
Maria Aparecida Dionísio de Pinho e Elizeth Duarte de Carvalho. Ambas formaram pela ULBRA (Universidade Luterana do Brasil) em Licenciatura Letras na noite de 26 de setembro de 2012. Enfrentaram reveses sem conta. Como falta de local para as aulas, tendo que, a cada encontro, se reunirem na casa de um ou de outro, ou na biblioteca municipal ou de alguma escola do município. Enfrentaram falta de computadores para o curso a distância, dificuldade de recursos financeiros para as mensalidades, entre muitos outros problemas de fórum pessoal ou acadêmico e outros. Quatorze graduandos pereceram, mas ambas foram, viram e venceram.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

Escrito entre 19 de setembro a 01 de outubro de 2012.

¹ Encontrei pregado em uma lixeira no bairro Horto em um cartazinho manuscrito. Pena que o(a) autor(a) não se identificou.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

DIÁLOGOS DAS VIDAS


Obax anafisa.



- Me larga!
-
- Eu não fiz nada!
-
- Sou mesmo, e daí?
-
- Não mexe na minha bolsa.
-
- Por que eu? Não tá comigo.
-
- Bom é seu pai que me come melhor que você.
- Estrago sua cara, vadia, nem que eu passe o resto da vida na cadeia.
Custou, mas escutei a fala do homem. Que pena. Meus cachorrinhos não percebem o conteúdo da conversa e eu não entendo o sentido de certas vidas.
Um folheto dos Testemunhas de Jeová diz que todo o sofrimento acabará em breve. Em contraponto, pensei irritado na Cals, tutora de certa disciplina da faculdade, e tomei uma decisão. Não vou me preocupar com nota nem nada. Apenas vou estudar e cumprir minhas obrigações acadêmicas, independente de qualquer resultado que ela me der. Sem entender o conteúdo de algumas vidas olho para as sombras do chorão e dos oitis na madrugada.
-Benito, Benito, Benito!
- Oi, bom dia! Já de pé, Vinícius?
- Hoje é meu aniversário. É meu aniversário. É! É! É!
- É? Quantos aninhos?
- Cinco. – Fala e mostra os dedinhos de uma das mãos.
Iluminado pelo nascer do sol que já doura o céu entro em casa com meus pensamentos no sentido da vida.



Ofereço aos aniversariantes.
Edvania Oliveira, Maria Jany, Cultura UFMG II, Rony Samiec, Sandra Câmara, Célia Galastri, Mª Luisa B. Guadamuz, Marsan Silva.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

Escrito entre 16 e 24 de setembro de 2012.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

FATOS E COSTUMES


Ofereço ao grande amigo e igualmente bom poeta Thiago Domingues.

Obax anafisa.





Não são ainda oito da manhã e algumas lojas já começaram sua faina. E até em Ipatinga pastelaria está se tornando clichê, coisa de chinês. Das cinco existentes no Centro, três são deles. Também uma costureira de camisa laranja põe linha na agulha e costura algum fato ouvindo Maria Bethânia cantar Nem Sol Nem Lua. E a agente da moda, Solange Mª Amorim, passa num longo costume azul de flores brancas e rosas. Talvez pensando em como contribuir na estética local. Talvez sem notar Ana* em uma encardida camisa branca brincar com sua massinha de modelar. Formar um aviãozinho, depois um submarino.
Esqueço-me de todos pensando que o brasileiro, não importa sua origem nem seu grau de instrução, está sempre pré-disposto a criar e a se deliciar com tudo que transmite a sensação de belo, as artes, por exemplo. É o que se percebe na alma de Álvares de Azevedo que se inspirou na dor de quem se desilude com o amor assim como no ambiente onde viveu, e é o que se sente na alma do leitor que se encanta com a organização das palavras. Azevedo parece propor – penso que sem ele saber o que fazia – uma forma do leitor se catarsear, expurgar o desengano que o destrói por dentro. Só assim, livre, estará pronto para amar de novo. É da natureza do brasileiro amar. Amar a natureza, outra pessoa, a pátria. Amar e encantar. Ser amado e se encantar. “Acordei da ilusão, a sós morrendo \ Sinto na mocidade as agonias \ Por tua causa desespero e morro... \ Leviana sem dó, por que mentias? \ ... \ É doce então das folhas no silêncio \ Penetrar o mistério da floresta \ Ou reclinado à sombra da mangueira \ Um momento dormir, sonhar um pouco!”¹.
Ana em sua imunda saia preta brinca com sua massinha de modelar marrom. Faz uma flor e coelhinho ou talvez um ursinho. E depois faz outra flor. Meus olhos se desviam para o ipê rosa e branco. Deu vontade de sentar para apreciar. Não podendo, parei por alguns segundos e me lambuzei em sua beleza. Se é para me lambrecar que seja nos ipês. Voltei mais tarde com a máquina de Eddi e me delicio com cinco pessoas que, vendo-me fotografar, pararam para observar o ipê. Outras três olhando para a árvore ainda conversaram comigo. Agradável.
Ana descalça brinca sem parar com sua massinha de modelar marrom com preto. Agora faz uma menina. Em nenhum momento percebeu o olhar fixo e de nojo das pessoas para o dejeto fedorento que tem nas mãos. Vi ali o que tinha de ver e sigo meu costume de me direcionar para fatos melhores. Lembro dos versos do meu Thiago-poeta “Sábias palavras de pés descalços \ saúdam-me timidamente. \ O esquecimento se foi em pedaços não há mais vida indiferente”² e penso sobre o meu Thiago-amigo: o que o mantém humano é escrever sobre seu primeiro objetivo na vida, que é valorizar o rei das emoções: o amor, para aprender com erros e evoluir.
Mas no fim, interesso-me apenas: O fato do ipê é suas folhas verdes em seu tronco escuro. Seu costume são suas flores.



Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

Imagem: Foto de Rubem Leite de um ipê rosa com branco na rua Diamantina, Centro Ipatinga MG.

Escrito entre 13 e 19 de setembro de 2012.

¹ AZEVEDO, Álvares de – Álvares de Azevedo: Poesia / Maria José da Trindade Negrão – 6ª edição – Rio de Janeiro: Agir, 1984. Trechos dos poemas “Por que mentias?” e “Anima Mea”.
² DOMINGUES, Thiago – Soneto Encontrado o blogue foi visitado na tarde de 18 de setembro de 2012: http://palavrasegavetas.blogspot.com.br