domingo, 2 de junho de 2019

VIDA E MORTE UMA SÓ JORNADA



Eu defendo as universidades e institutos federais.
Contra o corte de verbas e a perseguição.
Defendo as Ciências Humanas.
Pensar é um direito de todos.

O que é um morto-vivo? Como ele é?
Ter dois cargos de português, nessa sociedade cruel, que não respeita o idioma nem o professor. Opa! Faltou falar que o governo é cruel também.
(Professora Miriam).
É um médico do pronto socorro de hospital público que não descansa. É um professor que ensina nos três turnos.
(Profª. Ortencia Santos).

Abri o portão e ao fechá-lo vi no registro de água ao pé do muro uma moitinha de mato com flores roxas. No céu azul do fim da manhã havia nuvens claras adormecidas. Era um encanto.

Desci a rua para buscar meus netos. À meia distância da escola tinha uma loira sangrando, queixo pendurado, pálida e a rosnar:
- Petêêê.
A loira sangrenta, pálida, rosnava enquanto andava torta em minha direção, com os braços à frente pra me pegar.
Amedrontada, peguei na calçada uma pedra que não sabia o motivo de estar lá e bati na cabeça da mulher, bati mais uma vez, bati outra e de novo.
Ela caiu no chão, com o crânio perfurado. Virei-me para fugir a minha casa¹. Mas me recordei dos netos e fui correndo à escola.
Não vi mais nenhum morto andando e mal reparei nas pessoas.
Peguei as crianças sem cumprimentar quem quer que fosse e corremos a casa¹.
- Vó, por que estamos correndo?
- Vamos, meninos. Só correm. Vamos. Vamos.
- Que aconteceu, vó?
- Anda, menino.
- Mas vó...
- Parem de perguntar e corram.
À porta da casa¹ uma viatura à minha espera por causa da mulher que matei. – Mas será que fui eu que a matei?
Tentei explicar que era uma morta-viva, mas me olharam com... – Zombaria? Aversão? Pena? – ... pela louca que eu estava parecendo.
Subiram a rua três homens cinza, rasgados, sangrando e rosnando:
- Lula maaal...
Andavam tortos com braços à frente em direção aos policiais e a mim. Meus netos já estavam dentro de casa, como mandei.
Os policiais mandaram os zumbis pararem. – Por que será que eles sempre fazem isso nas histórias com monstros? – Aproveitei para entrar e trancar o portão.
Os policiais morreram. Dois continuaram caídos, mas um acompanhou pela rua acima os cinzentos que rosnavam:
- Boçalnato... bonziiinho.
Meia hora depois chegou minha filha – mãe dos meus netos – gritando para entrar. Com ela dentro de casa percebi seu braço ferido.
Preocupada com nossa segurança planejei matá-la. Mas era minha filha... Será que podemos desfazer-nos de parentes próximos contaminados pelo vírus cultus ex ignorantia?
Fui ao meu quarto para pensar. Olhei para Nossa Senhora de Fátima e rezei uma Ave-Maria. Olhei para Santo Antônio e rezei “Meu Santo Antônio, querido amigo, amado irmão, rogai por mim, sua discípula. Ó meu Santo Antônio, guiai-me a Deus-Pai, meu criador, assim como levou em suas mãos Jesus Menino. Ó meu Santo Antônio, guiai-me a Deus-Filho, meu Amor, meu Salvador, assim como levou em suas mãos Jesus Menino. Ó meu Santo Antônio, guiai-me ao Espírito Santo, meu eu, meu iluminador, meu Jisso, assim como levou em suas mãos Jesus Menino. Meu Santo Antônio, querido amigo, amado irmão, rogai por mim, suas discípula”.
Senti ele me dizer “pegue o livro de Rubem Leite para desfocar seu cérebro da catástrofe”. Assim fiz e sentei na cama e li: “Do alto ao meio da árvore uma pequena pluma branca baila suave. Do meio ao fim do trajeto desmaia e cai quase pesada. É a vida, é a morte. Uma só jornada.”. Saí do quarto, já decidida. Curioso... Como um livro que não fala do que passamos nos diz o que fazer? Ou será que fala em outras palavras? Bem, o que importa é que já não tinha dúvidas. Sem poder descartar-me de minha filha a prendi num cômodo.
Uma semana depois da catástrofe, numa tentativa de acabar com as mutações provocadas pelas indústrias siderúrgicas, de extração e outras de Minas Gerais. Todas elas se utilizando de novas tecnologias... Aconteceu intencionalmente o rompimento das barragens de Laranjeiras e de Forquilha.
As rádios e as tv’s noticiaram ininterruptamente uma gravação anunciando o “acidente”, mas, ao contrário dos ocorridos em Brumadinho e Mariana, que foram vicissitudes por falta de manutenções adequadas e, por isso, verdadeiros crimes ambientais e humanos; não meros acidentes. Esta foi para acobertar... Outro crime ambiental e humano. 

Depois que terminou a gravação, Fátima olhou pela janela e a lua estava quase dando seu lugar ao sol. Acessou o youtube para ver o filme “Narradores de Javé”. Quando o sol dourou as nuvens por baixo, as águas chegaram a casa¹ no momento que uma velhinha dizia: “Us nossos mortos vai viver debaixo d’água? Num pode!”².


Ofereço como presente aos aniversariantes:
Eder Rodrigues, Valdiene Gomes, Alcides Ramos, Marcelo S. Marinho e Adinagruber C. Lima.

Recomendo a leitura de:
“The End”, de António MR Martins:
Socos e Alívios”, de Girvany de Morais.
LANÇAMENTO: 19 horas do dia 12 de junho de 2019; no Salão do Livro Vale do Aço; Café Literário; Centro Cultural Usiminas.
A obra é um soco composto por minicontos problematizando reais temas sociais presentes em nossa sociedade. É também um alívio de sonhos e desejos de uma vida melhor.

Por me ajudarem, de uma forma ou de outra na definição do que é um morto vivo e em como eles são, agradeço aos professores:
Wilson Oliveira, Jeane B. Souza, Rose Simões, Mª Eliene Santos, Rodrigo Gonçalves, Ortencia Santos, Rodrigo Gonçalves, Ana Mª Daio, Dayane Soares, Silvia Santos e Profª Miriam.

¹ Diquinha de português:
Crase diante da palavra casa.
(Por me ajudarem nessa explicação, agradeço aos professores e professoras Camila Albuquerque, Nancy Reichardt, Silvia Santos, Jair Santos, Miriam, Rose Simões e Mariangela Ferreira Busuth Busuth).

Como a palavra ‘casa’ pode significar basicamente duas coisas (lar e prédio) ela tem uma regra para cada.
1) Com sentido de ‘residência; lar’ não se usa crase porque se entende que residência é substantivo que não admite artigo porque se pressupõe já está definida.
Exemplos:
“Voltarei a casa quando mamãe voltar”. = Voltarei a residência (lar) quando mamãe voltar.
Observe que ‘casa’ funciona como direção do movimento expresso pelo verbo voltar. E voltar exige a preposição ‘a’ (quem volta, volta a algum lugar: voltarei a). E ‘casa’, sendo palavra feminina, é precedida pelo artigo ‘a’. Então talvez você me pergunte: Uai! Por que então não leva crase? Porque, como foi dito acima, quando ‘casa’ é entendida como ‘residência’ já se imagina algo definido; sem necessidade de alguma coisa que a defina, como o artigo definido ‘a’. Uai!
No cronto está escrito: ... “e corremos a casa”.
Aqui também se vê ‘casa’ funcionando como direção para onde se corre. Contudo, o verbo ‘correr’ pede preposição ‘para’ ou ‘de’: corre-se da rua ou da casa e corre-se para rua ou para casa. Então a oração não recebe acento grave simplesmente porque a preposição não é ‘a’.
No cronto está escrito: “À porta da casa”. A crase existe por estar ligada ao substantivo ‘porta’, não a ‘casa’.
Resumindo: Se ‘casa’ significar ‘residência’ não recebe crase, exceto se:
Mesmo com sentido de residência, se ‘casa’ for especificada de algum modo, ou seja, tiver adjunto adnominal, há que crasear.
Exemplos:
“A proposta é que voltemos à casa de Tiago”.
No cronto está escrito: “Virei-me para fugir à minha casa”.
‘Casa’ = residência;
‘de Tiago’ = adjunto adnominal.
‘minha’ = adj. adnominal. Mas tem um facilitador aqui. Por ‘minha’ ser um pronome possessivo feminino torna-se facultativo o uso da crase. Em outras palavras, se antes de um pronome possessivo feminino tiver o encontro de pronome ‘a’ e de artigo ‘a’ coloca-se crase somente se quiser.
Veja a explicação do professor Jair Santos: ‘Quando a casa no sentido de lar, residência não vier especificada, a crase não ocorre. Exemplos: Cheguei a casa. Sem crase. Cheguei à casa de meus pais. Com crase, pois ‘de meus pais’ é um especificador’.
2) Com sentido de prédio, edifício, construção há necessidade do acento grave.
Exemplo: “Queira se dirigir à casa ao lado!”.
NILC. A Crase e a Palavra Casa. Mini Gramática. Disponível:

² CAFFÉ, Eliane. Narradores de Javé (trêiler). Disponível https://www.youtube.com/watch?v=GlaFRraqeOg . Acesso 09 Mar 2019.

Observe que interessantes explicações sobre “MORTOS-VIVOS”, dado pela professora Rose Simões:
Mortos-vivos são seres míticos e fabulosos. Trata-se de um ser que está morto e permanece morto (sem funções biológicas que mantenham ou sustentem a vida”, mas age como se ainda estivesse vivo, podendo mover-se, ter percepção ou mesmo consciência.
O exemplo mais conhecido são os zumbis. Zumbis são corpos de pessoas ou animais falecidos reanimados por meios desconhecidos (podendo ser por maldição ou encantamento) e podem ser reanimados corpos recém-falecidos ou corpos em estado avançado de decomposição. Eles são mortos que não tiveram descanso e voltam à vida num tipo de transe, ou que foram subjugados por alguma forma de encantamento. Possuem a pele apodrecida e usam roupas esfarrapadas, possuem um cheiro forte e horrível. Normalmente, perdem partes do corpo, como os dentes ou os dedos devido a sua decomposição. Perambulam sem rumo, geralmente à procura de vingança. Normalmente os zumbis são apresentados como seres desprovidos de raciocínio e inteligência, sendo totalmente instintivos ou obedecendo as ordens de quem ou o quê os tenha reanimado.
Mortos-vivos também podem ser desprovidos de corpo ou qualquer forma física, como os fantasmas, já se tratando de manifestação da alma ou espírito de um ente falecido e não sendo feito de matéria, mas da própria essência do pensamento deste, pertencendo então a planos de existência extrafísicos (não acessíveis ao plano material), mas podendo tornar-se perceptíveis de maneira objetiva (manifestando-se visível e/ou audível ou movendo objetos físicos) e, por vezes, tangível às pessoas vivas (adquirindo temporariamente propriedades físicas semelhantes a da matéria, fenômeno conhecido como materialização) ou manifestar-se de maneira subjetiva ao aparecerem em sonhos a uma pessoa ou como uma ilusão subjetiva.
Segundo o espiritismo, essa noção de espírito se refere aos espíritos desencarnados (aqueles que já não possuem um corpo) e a manifestação perceptível de um espírito desencarnado é chamada de perispírito, que, segundo adeptos dessa religião, se utilizam de uma substância fluídica chamada ectoplasma para se manifestarem.
Em muitas lendas os fantasmas são retratados em estado de transe, confusos ou sendo guiados por traumas ou desejo de vingança, mas ainda podendo manifestar-se como seres conscientes ou apenas como visões e impressões gravadas no local da morte.
Outros exemplos conhecidos são os vampiros e as múmias. Vampiros e outros seres que podem ter surgido de pessoas que morreram são tidos como mortos, mas são dotados de consciência e raciocínio de forma equivalente a pessoas vivas e por isso podem continuar controlando seus próprios corpos sem a necessidade de funções biológicas para sustenta-los, porém não são dotados de alma. São associados a forças demoníacas por se sustentarem por maldições, serem desalmados e manterem sua meia vida alimentando-se da essência dos vivos.

Divirta-se com o agradável jogo compartilhado pela professora Silvia Santos:
Morto/vivo remete a uma brincadeira homônima de infância.
Morto-vivo. Brincadeiras de crianças. Brincadeiras da infância que trabalham a coordenação e agilidade.
Vilma Medina, diretora de http://guiainfantil.com 28 de abril de 2015.
As brincadeiras da nossa infância são inesquecíveis. No Brasil, mesmo com o aparecimento das novas tecnologias e o crescente aumento de tablets e smartphones, as crianças continuam curtindo algumas brincadeiras que passam de geração em geração.
Uma dessas brincadeiras é chamada “morto-vivo”. E crianças acima de cinco anos já podem brincar. Essa brincadeira estimula a atenção, coordenação motora, agilidade, condicionamento físico, concentração e a expressão corporal. A recomendação é que participe pelo menos quatro crianças. A facilidade é que pode ser realizada em condomínios, dentro ou fora de casa, em parques ou praias.
Como brincar de “morto-vivo”:
Uma das crianças é escolhida como a líder e ficará à frente do grupo. É ela quem vai dar o comando a ser seguido pelos jogadores.
Quando o líder disser “morto” todos terão que agachar. Quando o líder disser “vivo” todos terão que dar um pulinho e ficar em pé.
Quem não cumprir ou errar o comando é eliminado, até ficar somente um participante, que será o vencedor e o próximo líder.
A velocidade em que os comandos de “vivo” ou “morto” são dados, vai definir o grau de dificuldade da brincadeira, assim como a sequência, que ficará por conta da criança líder, com o intuito de confundir e exigir mais atenção dos participantes.

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Imagens:
Registro e flores – foto do autor na manhã de 10-3-19;
Nuvens douradas por baixo – foto do autor na manhã de 10-3-19;
Rubem de chapéu – foto de Vinícius Siman.

Escrito na manhã de 09 de março de 2019 partindo de dois sonhos tidos por minha irmã (Mª Fátima W. Leite M). Trabalhado entre os dias 28 de maio e 02 de junho do mesmo ano.

domingo, 26 de maio de 2019

GOD BLESS AMERIC… DIGO, E DEUS ABENÇÕE ESSA GRANDE NAÇÃO



Eu defendo as universidades e institutos federais.
Contra o corte de verbas e a perseguição.
Defendo as Ciências Humanas.
Pensar é um direito de todos.
Inseguridad es que la propiedad privada valga más que la vida.
Ni olvido ni perdón para los asesinos de los artistas callejos.

Baixo o céu azul esbranquiçado do fim da manhã Benito olha o que ele pensa ser uma espécie de pita e, surgindo do nada, um ser das trevas mediúnicas lhe diz:
- Ouça, amigo, esta fala.

Sem esperar qualquer resposta pega o celular e põe para ele ouvir um áudio do Ministro de Justiça e Segurança Pública¹. A mensagem do Marreco de Maringá pode assim ser resumida:
Apresentou em nome do Governo Boçalnato um projeto de lei inovador e amplo contra o crime organizado, violento e contra a corrupção. Deseja que o projeto tramite com urgência regularmente no congresso para que o povo possa “veiver” em um país menos corrupto e mais seguro. “E Deus abençoe essa grande nação”.
Após ouvir, olhei para ela. Benito também. Cada um de seus olhos era um ponto de interrogação. Como ela não demonstrara compreender-lhe:
- Por gentileza, posso acessar sua internete?
- Pode, claro. – Diz reticente.
Pega o celular e acessa o vídeo B de Balbúrdia². Ela escuta apenas cinco minutos, desliga o aparelho e diz:
- Num posso achar ingraçado. Ucara tánus Estados Unidos. A gente tá aqui a mercê de linha dos tiros. Sou brasileira, com B maiúsculo.
- O humor não é para rir sem saber o porquê³. O humor é para ver; como diz Benvido Siqueira: “Se a gente não olhar a gente nem vê.”. Então há que olhar para ver.
- Eu sei uquê ele tava dizeno. Mais colocô um fundo de risos. Pra quê?
Olho seus olhos. Benito também. Parecem brilhar, mas o que há é um vazio. Benito diz-lhe:
- Boa pergunta. Só vendo o vídeo até o fim e ouvindo a fala do Gregório para saber. – Olho os olhos dela. Benito também. Vazios. – Peço sua permissão para eu poder ir-me embora.
- À vontade. 

Saímos do Parque Ipanema e paramos diante de um canteiro de flores com borboletas sobrevoando-as. Depois Benito vai ao Feirarte. Acompanho a ele. Nem no Caralivro quero saber dessa pessoa.
Na mesa do quiosque do Marcelo bebo um coquetel com caqui e escrevo em espanhol e português uma pequena série de quadras sem nenhuma ligação direta entre elas.

Em seu vestido cinza          /          En su vestido gris
Choveu-se tanto          /          Se llovió tanto
Que à nuvem cinza          /          Que a la nube gris
Uniu-se a escoar pela cidade.          /          Se unió a escurrir por la ciudad.

Sentar-me comigo          /          Sentarme conmigo
Ver minha penumbra          /          Ver mi penumbra
Abrir-me como um figo          /          Abrirme como un higo
Atravessar meu umbral.          /          Atravesar mi umbral.

A lua cresce          /          La luna crece
Cresce-te aluno.          /          Crecé alumno
O sol brilhará          /          El sol brillará
Brilha-te e te soltes.          /          Brillá y soltá.

Minha tão linda e amada bandeira          /          Mi tan linda y amada bandera
Acoberta o sangue indígena          /          Encubre la sangre indígena
Das veias roubado à madeira          /          De las venas quitadas a madera
Você não merece ação tão indigna.          /          Usted no merece acción tan indigna.

As intempéries da vida          /          Las intemperies de la vida
Buscam fazer-me resiliente          /          Buscan hacerme resiliente
Recuso pôr voz sofrida          /          Recuso poner voz sufrida
Nem me vejo penitente.          /          Ni me veo penitente.


Ofereço como presente aos aniversariantes:
Danielle Grego e Hebert Gabriel.

Ofereço como presente de boas vindas aos meus mais recentes contatos no fb:
Eraldo Maia, Carlyle Assis, Cesar P. Dezordi, Jaqueline Carla, Edilaine S. Peres, Mario Antonio, Leila Marques, Mesquita Matos e Valdiene Gomes.

¹ TVUOL. Moro Responde a Maia e Pede Urgência em Tramitação de Pacote Anticrime. Disponível:   https://www.facebook.com/UOLNoticias/videos/moro-responde-a-maia-e-pede-urg%C3%AAncia-em-tramita%C3%A7%C3%A3o-de-pacote-anticrime/2642725409074978/. Acesso 25 Mai 2019.
² GREG NEWS. B de Balbúrdia. Disponível https://www.youtube.com/watch?v=Ns6KcF2mnGo&feature=share . Acesso 25 Mai 2019.

³ Diquinha de Português – Porquê:
Esta forma representa um substantivo. Significa causa, razão, motivo.
Sendo o porquê um substantivo ele é usado quando precedido por um artigo, um numeral ou um pronome adjetivo.
“O humor não é para rir sem saber o porquê”.
“O” é artigo definido masculino e “porquê” é um substantivo que se trocado por motivo, causa ou razão o sentido não se perde: O humor não é para rir sem saber a razão.

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Imagem:
Pita – foto do autor;
Flores e borboleta – foto do autor;
Rubem – foto de Vinícius Siman.

Poemas escritos e trabalhados entre a manhã de 31 de dezembro de 2018 e 26 de maio de 2019. As quadras não têm ligação entre si; cada uma tem sua independência e força por si. A prosa foi criada e trabalhada entre os dias 25 e 26 de maio de 2019.

domingo, 19 de maio de 2019

HÁ DE SER LUZ NA AMÉRICA DO SUL



Eu defendo as universidades e institutos federais.
Contra o corte de verbas e a perseguição.
Defendo as Ciências Humanas.
Pensar é um direito de todos.
Inseguridad es que la propiedad privada valga más que la vida.
Ni olvido ni perdón para los asesinos de los artistas callejos.

Mojarrito está con decisiones tomadas, repitiendo ideas comunes sin un raciocinio real.
Primero ataca a Benito de modo suave y luego con fuerza: Usted es de otra generación. Vea la mierda que hicieron.

Nuvens brancas acinzentadas vestem o céu. Ainda na varandinha este foi o primeiro registro visual da rua. O velho e o novo descem a escada e pisam na rua onde iniciam o dialogo a vir:

- Filho, você me deixa dizer verdades incômodas? Sabe que te quero bem.
- Sim, eu sei. Diga. Truth is truth. La verdad es la verdad.
- Você diz saber cuidar-se, mas isso não se está mostrando realidade.
- Cuidarei de não levar facada nem porrada na rua.
- Isso é bom. Mas porque ir a um lugar onde essas possibilidades são probabilidades? – Responde como se não percebesse na fala do rapaz uma vontade de feri-lo através do susto. – Mas no momento quero falar sobre outra coisa. Sua saúde.
- Fala.
- Rapaz, não deveria ter parado de tomar seu remédio.
- Não confio em remédios.
- Doeu meu coração quando soube disso. Não sei se sua mãe sabe. Mas por mim não saberá porque* ela ficará mais triste que eu.
- Sou muito jovem.
- Uai! – Diz rindo: Remédio é coisa de velho?
- Cada um sabe o que faz. Prefiro morrer sem tomar remédio.
- Acho que o certo é escolha de cada um. Mas quem sabe não opta pelo descuido. Ou seja, você não sabe. Apenas escolhe sem conhecimento.
- Prefiro não confiar. Tenho que segurar a onda.
- Menino, não seja melodramático. – Dá uma leve e rápida rizada. – Con la mano en la frente “me muero”.
- I did not say that.  E ri. – No digo eso.
- Mas confiar não é questão de preferência. É questão de fatos. Você confia em mim porque já viu que não te faço mal nem te desejo mal.
- Eu sei.
- Pois é. Remédio é um pouco assim. Imagino que você não pensa “prefiro confiar em fulano que no velho”. Ou confia em mim ou não confia. E se confia é porque te mostrei meu sentimento por você.
- Confio que vou superar sadiamente o que me acontecia. Por mim mesmo, sem remédios nem médicos.
- Mojarrito, o psiquiatra disse que o remédio demora em surtir efeito. Filho, você está bebendo demasiado e isso mostra que não está em um caminho sano. Confio plenamente que seu futuro é grandioso; vai fazer a diferença no mundo. Mas não é indo pelo caminho de ‘cada vez ferir-se mais’.
- Pior é beber e tomar remédio junto.
- Pior, Mojarrito, é beber, e beber e beber. O Dr. Moreno falou que não há mal em beber ocasionalmente, mesmo com o remédio. O que não se deve é “afogar-se na bebida”. – Muda de assunto ao chegarem à Praça Primeiro de Maio: “Vamos sentar naquele banco?” e retorna. – Você pode ficar sem, se escolher adequadamente qual caminho seguirá; com quais pessoas caminhar.
- Verei.
- Veja mesmo, filho. Eu e Margarida te amamos demais. Ela é sua mãe, sua segunda mãe. Eu estou buscando ser seu segundo pai. Já me sinto assim.
- Não se preocupem.
Sorrindo: É mais fácil você se tornar River ou pior, cruzeirense, que um pai deixar de preocupar-se.
- Não se preocupem por um cara como eu.
- Como assim “por um cara como eu”? Você é excelente pessoa. Não pensar em você é... Nem sei qual palavra usar.
- Mas já tenho meus pais, Beniiiiito...
- Sei que os tem e não penso em substituí-los. O que quero é acompanhar o trabalho deles.
- Mas já acabou faz tempo.
- Mesmo sendo um marmanjo continua sendo filho. Seu Júpiter, como todo ser humano, erra. Mas penso que ele é um bom pai. Assim, não pretendo tomar o lugar dele. Isso seria impensável. – Para um momento de andar e segura o braço do garoto; como a enfatizar o que vem a seguir e depois voltam a caminhar. – Se por um lado você já está crescido e não precisar disso, por outro continua sendo querido.
- Vocês são de outra época...
- Exato, somos de outra época. O que significa que estamos vendo esse mundo se transformando, mas não transformado.
- Tá uma merda esse mundo. – Dá uma gargalhada amarga.
- Vemos o que as pessoas fazem e porque fazem.
- Tá uma merda esse mundo. – Repete com raiva nos olhos.
- Sim, é verdade. O mundo está horrível; doente. E estamos tentando mudar nossa forma de ação. Porém, não será bebendo e deixando a depressão juntar-se à ansiedade para te corroer que irá agilizar o processo de cura do mundo.
- Não.
- Não o quê?
- Vou me libertar de tudo, Benito.
- O que quer dizer com “libertar-se de tudo”?
- Não quero nem saber de depressão, e ansiedade e tal.
- Fico contente que esteja buscando livrar-se delas.
- Tô bem.
- Mas como está seu processo? Não creio que esteja vendo avanço no caminho escolhido.
- Sei lá...
- Não sabe? É bom pensar bem para entender. Sentir para fazer.
- Não, pensar já era. Quero sentir.
- Não o quê? Sentir é essencial para as artes. Mas a razão e sentimentos ocupam o mesmo cérebro. Não é uma questão de lobotomia.
- Eu penso demais. Tenho que parar.
- Dizemos no Brasil “Quando a cabeça não pensa o corpo padece”. Não, Mojarrito. Não é parar de pensar, mas de transformar seus pensamentos em frutos. Lembra que venho falando para você escrever? De trabalhar outras artes? Malabares? Estudar?
O rapaz vira o rosto para o outro lado. Mas o velho continua:
- Seus pensamentos embalados pelos sentimentos podem ser excelentes textos. Ou outras artes. Podem ser a melhoria do mundo através do trabalho que escolher. E os estudos, as leituras, os bons amigos, os pais biológicos e os do coração, um ambiente saudável são bons meios de chegar a esse fim.
Olha para o velho e diz para irem a um bar comprar água. Foram e voltaram. O jovem mantendo-se em silêncio.
- Recorda o que o Dr. Moreno te disse no primeiro dia? De não frequentar lugares sujos, de má vibração? E você me apontou um exemplo; um bar na Avenida Macapá, quase encostado na ponte que a liga ao Centro. Parece que você está frequentando lugares imundos. Não me refiro a muitos de seus amigos. Por favor, não me interprete mal. Mas muitos dos lugares que você deve estar indo e algumas das pessoas que você deve estar se encontrando são, no mínimo, tão pesados quanto G.
- Viu fotos dos lugares? A praia não é lugar imundo.
- Não vi. Vou olhá-las hoje. Mas não me refiro a praias etc. Mas a bares, pessoas e coisas assim. Onde você comprava as bebidas? São lugares de boa aparência?
- Vou ao supermercado.
- E além das aparências, como são as vibrações, as energias?
- A energia enche meu saco e quero ficar de boa.
- Há pessoas de bela aparência e alma suja.
Bebe um gole d’água. Olha a garrafa e nada vê; nem a si.
- O que é ficar de boa, Mojarrito?
Não responde.
- Porém me alegro que não esteja indo a lugares imundos. – Continua olhando a garrafa e nada vendo. – Tem procurado drogas? Por favor, não esteja. Não digo para dizer que não, mas sim que não esteja fazendo essas coisas. Se tiver, pare. Se não tiver, obrigado por fazer feliz esse de outra geração.
- Você é santo, por acaso, para me censurar?
- Sinceramente, é isso que acha de minhas palavras? De minha conduta? Sei que irritam ou algo assim, pois digo o que não quer ouvir.
Não responde e bebe um pouco mais da água.
- Mas, o que acha de minhas palavras? Verdadeiras? Falsas? Vazias? Com alguma profundidade? Valem a pena?
Não responde. Será uma lágrima nos olhos dele? Talvez não; talvez só a humidade natural das retinas.
- O que sei, Mojarrito, é que você vale o meu afeto. Não porque fez algo para isso; ou seja, não foi comprado, mas sim conquistado por ser você um bom rapaz.
De um taxi parado na Praça Primeiro de Maio, onde estão sentados e eu observando-os do alto do monumento, vem uma música. Cajuína. E a ouvir Caetano Veloso Benito se cala ao tempo da música.
Existirmos: a que será que se destina? / Pois quando tu me deste a rosa pequenina / vi que és um homem lindo e que se acaso a sina / do menino infeliz não se nos ilumina / tampouco turva-se a lágrima nordestina / apenas a matéria vida era tão fina / e éramos olhar-nos intacta retina / a cajuína cristalina em Teresina”.
- Filho, olha para mim. Quero ver seus olhos para “olharmo-nos em intacta retina”. As sementes de vida que vi em você e que você as reconhece são realidades. Incluso percebo que há mais duas a serem acrescentadas: coragem e força.
- Me faz pensar muito e é uma coisa que não quero fazer. Quero ficar com R e nada mais... ninguém mais! Só eu e ela.
Sorrindo lhe diz entendê-lo. Claro que entende. Só quem nunca nada sentiu por alguém estranharia.
- Mas você acha realmente que está deixando de pensar quando se embriaga? Realmente crê que as coisas estejam melhorando? Não creio.
O velho abre sua garrafa e bebe de sua água. Olham um aos olhos do outro.
- Embriagado, seus pensamentos se tornam mais escuros. Embriagado, seus sentimentos se tornam mais conturbados. Nesse estado, ébrio, nada se torna equilibrado. A energia, querendo ou não pensar nela, fica baixa; sua linda luz perde o brilho; seu rumo perde o foco.
- Você é velho, Benito. Esqueceu como é ser jovem.
- É possível, também por isso conversamos. Para que me relembre. – Sua única resposta está em seus olhos na garrafa. – Deixando de tomar seu remédio houve alguma melhora? Pense bem. Seja duro consigo mesmo e olha para dentro de ti. Não para essa ou outras garrafas. – Ele fecha os olhos. – Embriagado e sem remédios não deixou de pensar, não se tornou mais saudável e seus sentimentos pioraram. Saiba que estou por você. Confie em mim. Lembre-se de Margarida; lembre-se de dona Flora, sua mãe. Sinta nosso amor por você e faça coisas que nos alegrarão, ou seja, faça coisas que te beneficiarão.
- Benito, está quase na hora do ônibus chegar. Vou indo para a rodoviária.
- Vou parar de falar agora. Mas você está em meu coração; sabe disso. Há coisas que valem a pena: escrever, estudar, ensinar. E minhas palavras; atente-se a elas. Sinta as minhas palavras. Sinta-as bem.
- Benito, já estou indo para a rodoviária. Por favor, não me leve a mal, mas quero que fique aqui.
- Hasta pronto, hijo. Piense en nuestras palabras. Truth is truth.

Mojarrito segue seu caminho. Vejo como bom auspício o sol à sua frente. Benito se vai para casa, mas no meio do caminho vê uma árvore tendo no solo pequenas britas. Ele tira uma das sandálias e observa seu pé nas pedras.


Ofereço como presente aos aniversariantes:
Sinésio Bina, Beto de Faria, Filipe Boanerges, Trinity Veguin, Elísio Junior e Varlei Castro.

Recomendo a leitura de:
“Artigo Sobre a Memória em Lygia Fagundes Teles”, de Caio Riter – artigo:
“Myriam Coeli: ‘Elegia da Vida Breve’ ”, de João Antônio Bezerra Neto:
“Especial: Citações de ‘Grande Magia’ por Elizabeth Gilbert”, de Clóvis Marceloem:
“Aziago Impossível Retorno”, de António MR Martins:

Diquinha de português – Porque:
Quando escrito junto e sem acento – porque – é uma conjunção equivalente a: pois, já que, uma vez que.
Explicando com mais detalhes:
Conjunção é ‘junção com’ (juntar com). Portanto uma conjunção liga duas orações. Sendo que a segunda poderá explicar a primeira (pois); ou a segunda poderá indicar a causa da primeira (já que); ou ainda a segunda poderá apresentar a finalidade da primeira.
Nas orações “Mas por mim não saberá porque ela ficará mais triste que eu” a segunda explica o motivo de não contar para a mãe. Não indica nem causa nem finalidade; somente explica.
O que significa que, apesar de ser possível trocar ‘porque’ por ‘já que’ ou ‘para que’, ficará melhor representada se trocar pela explicação do motivo de não dizer à mãe:
 “Mas por mim não saberá porque ela ficará mais triste que eu” poderia ser escrita “Mas por mim não saberá, pois ela ficará mais triste que eu”.

 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
 Imagens:
Vestido do Céu – foto de Rubem Leite.
Pés e Pedras – foto de Rubem Leite.
Rubem dando bandeira – foto de Vinícius Siman.

Escrito entre os dias 04 e 06 de fevereiro; trabalhado entre os dias 14 e 19 de maio; tudo em 2019.