segunda-feira, 6 de outubro de 2008

COMPROU, MAS NÃO LEVOU

PARTE 1-

Oi! Eu sou Benito. Benito Bardo. Tenho dezoito anos. E me sinto um pássaro negro querendo voar.

Vejo uns morangos muito vermelhos e penso no quanto eles devem estar infectados com agrotóxico. É engraçado. Quero dizer, não tem graça nenhuma, mas toda vez que penso em morangos penso em agrotóxico, o que pouco, quase nenhuma vez, penso assim quando olho para as outras frutas e legumes. Mesmo estando todos com agrotóxico.

Olho para as pessoas e tento amar alguém especial, mas isso é proibido.

Olho para as ruas e vejo candidatos políticos e suas vulgaridades. Falando dos outros. Denegrindo outros partidos. Todos se dizendo íntegros.

Uma pessoa me disse que me admira. Que somos grandes amigos. Que muito me respeita. Perguntou-me o que acho dela e do que ela faz. Disse-lhe o que penso, mas pouco nos conhecemos.

Volto a olhar para os morangos. Pego um deles. Sua casca se desfaz e um líquido vermelho se solta e salta de minha mão para o chão.

Volto a olhar para as pessoas em busca de um amor. De meu amor. Mas fui deixado só. É muito perigoso. Nosso amor exige mais força do que o normal e mais coragem do que o racional.

Volto a olhar para as ruas e vejo eleitores se limpando com os jornais que não leram. Quem ganhou? Quem vai ganhar? Se eles ganham, nós perdemos.
Vejo a avenida de meu bairro imunda, imunda, imunda, imunda, imunda, imunda, imunda, imunda, imunda, imunda, imunda, imunda, imunda, imunda, imunda. Quinze vezes imunda pela papelada que os candidatos jogaram na rua. Meu dinheiro esparramado pelas ruas. Trabalho para os varredores. Poluição para os cidadãos.
Vi uma zona de pós-guerra.

O que o mundo tem a oferecer a nós? Sei que devo ver sempre e somente o lado bom da vida, das pessoas, das coisas. E eu concordo. Mas tenho uma vontade de me entristecer vendo a vida, as pessoas, as coisas... E o que temos a oferecer ao mundo?

Eu, Benito, me sinto um pássaro negro querendo voar.
Com medo de voar.
Eu, Benito Bardo, temo virar um quarentão com medos.
Então pego papel, caneta e escrevo.
Penso. Falo. Ajo.

E o que mais me consola, é o que o atual prefeito de Ipatinga, comprou mas não levou...


PARTE 2-

- Benito! Você é cristão?
- Por quê?
- Você sabia que existem cidades em que os cultos ao ar livre são proibidos?
- ...
- Em muitas regiões não é permitido o uso de praças para realização de eventos cristãos?
- É?
- Por outro lado, são realizados nesses mesmos lugares shows “mundanos” e eventos de outras religiões não cristãs.
- ...
- Quase tão terrível que isso é o que está tramitando no Senado.
- O quê?
- Projeto de Lei 122/2006 e o substitutivo ao PL 6418/2005, que visam instituir o crime de homofobia no Brasil. Assim, não poderemos criticar as bichonas.
- Respondendo as suas perguntas e comentando as suas afirmações: Primeiro: Não! Eu não sou cristão. Tenho tanto amor a Cristo, que não posso ser cristão. Segundo: Não são proibidos cultos religiosos. Mas todos têm que ser atendidos nos momentos e lugares apropriados. Principalmente, quem que prega o Amor e a Paz Mundial. Terceiro: Como disse, todos, e não somente religiosos têm o direito aos espaços públicos. Cristo gosta de alegria e não odeia o mundo. Portanto, o que é mundano, só por ser mundano, não descontenta o Criador. E ainda, se me permite: O que você tem contra os não cristãos? Quem lhe dá o direito de julgá-los? Em que somos melhores que judeus, budistas, islâmicos e etc? Aliás, se você não sabe, Jesus não era cristão, nem seus pais. Cristãos são seus seguidores. Ele mesmo, se reparar bem na Bíblia, deixa claro sua religião (judia) e que veio para os judeus. Só depois que Ele se abriu para os outros povos. Por fim, em quarto lugar: Sou terminantemente contra toda e qualquer forma de desrespeito. Branco, negro, nipônicos, indígenas, homem, mulher, heterossexual, homossexual, bissexual, criança, jovem, adulto, idoso. Toda e qualquer pessoa é digna de respeito. Coisas, seres e fatos também devem ser respeitados.
- Benito. Você é mesmo um zero a esquerda.
- Já disse. Eu sou um zero de esquerda. Faça-me o favor. Aliás, que símbolo é esse na sua mochila? Uma suástica nazista?
- Sim! Gostou?
- Eu sou judeu.
- ...
- ...
- Você é judeu?
- Não! Mas tenho um irmão que teria sido morto pelos nazistas. Ele tem problema mental. Tenho um amigo. Sávio de Tarso, grande intelectual e pessoa maravilhosa, que teria sido morto pelos nazistas. Ele teve pólio que deixou seqüelas em seu corpo.
- Mas Hitler, teve boas idéias. Era um grande pensador.
- Idéias preconceituosas.
- Não chega a tanto e não dá para negar que suas idéias tinham qualidade.
- Uma coisa é você me dizer: Benito! Gosto de você como escritor, mas não gosto de você como ator. Isso tem um peso muito diferente do peso que se tem em “gosto de das idéias de Hitler, mas não gosto dele ter matado algumas centenas de milhares de pessoas”. Não tem como separar nesse caso. Pois suas idéias são embasadas no preconceito.

Aí ele desceu do ônibus enquanto continuei minha viagem.

E outra coisa, na segunda parte, comecei comentando o que li num panfleto do atual prefeito de Ipatinga, Sebastião Quintão, e terminei com um diálogo que tive com um rapaz.
E o que mais me anima é que o Quintão comprou o povo, mas não o levou na conversa...
Inclusive, um conhecido meu que esteve trabalhando para ele me disse que recebeu R$510,00 reais por mês durante a campanha para fazer panfletagem e outras coisas, mas que não votou nele. Feio, eu acho. Mas pior teria sido votar em quem não se acredita. Disse mais, falou que trabalhou por pura necessidade. Triste a vida de quem tem que ser arrimo e se vender... Penso.

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